Semeadura e colheita
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Vigiemos e oremos, pois somos vigiados
por uma multidão de espíritos.1
O Espírito Manoel Philomeno de Miranda,
que ditou ao médium e tribuno espírita Divaldo Pereira Franco dezessete obras,
explica-nos que faz parte de uma equipe socorrista, no plano espiritual, em
geral, dirigida pelo grande apóstolo do Espiritismo, Bezerra de Menezes. Nessas
obras, Philomeno de Miranda aborda a influência nefasta dos inimigos
desencarnados sobre nossas mentes. Essa interferência ocorre quando, misturando
seus pensamentos com os nossos, esses Espíritos, denominados obsessores,
provocam uma espécie de curto-circuito cerebral em suas vítimas que, muitas
vezes, sem se darem conta, são levadas a atitudes anormais.
O desequilíbrio pode ser desencadeado
por algum ato grave que tenhamos cometido, em prejuízo de alguém e de nós
mesmos, que altera nosso estado de consciência. Como nem sempre somos capazes
de diferençar os próprios pensamentos dos de nossos inimigos desencarnados,
interferidos nos nossos, se não nos defendermos com “vigilância e oração”
recomendadas pelo Cristo, o processo, inicialmente sutil, agrava-se com o tempo
e pode mesmo causar-nos distúrbios mentais graves.
Adilton Pugliese, organizador, ampliou
seus estudos de todas as obras de Philomeno de Miranda e republicou, com a
aprovação de Divaldo Franco, o livro intitulado Obsessão: instalação e cura. Neste, encontramos roteiro muito útil
para o estudo dessa nefasta influência na vida de grande número de pessoas em
todos os tempos. Seu conteúdo é baseado em narrações de fatos reais, que
desenvolvem o contido no pentateuco kardequiano sobre os diversos tipos de
obsessão e o que fazer para sua profilaxia e tratamento.
Em todas as obras de Allan Kardec e na
sua Revista Espírita, existe rico
material sobre o assunto, agora desenvolvido com exemplos vivos desse que é
considerado um verdadeiro “flagício social” por Miranda e, antes, pelo próprio
Codificador do Espiritismo.
Na obra organizada por Adilton, lemos
relatos dos casos que, se não identificados em tempo hábil, levam as pessoas
obsidiadas à verdadeira loucura. Os obsessores usam técnicas refinadas,
baseadas na identificação das falhas da personalidade comprometida em sua
individualidade espiritual, e atuam implacavelmente sobre suas consciências,
não lhes dando tréguas. Daí ser necessário que nos conheçamos bem, a fim de não
cairmos nessas armadilhas.
Não nos esqueçamos de que, na Terra, o
único ser humano plenamente identificado com Deus foi Jesus. E não alimentemos
pensamentos deprimentes pelas faltas cometidas. Antes, aprendamos com elas a
não mais errar.
Todos nós erramos e ainda vamos cometer
muitos erros. Lembremo-nos, entretanto, desta frase do apóstolo Pedro: “O amor
cobre a multidão de pecados” (I Pedro, 4:8). Principalmente quando jovens (e
agora a juventude alcança a casa quarentenária), cometemos algumas falhas de
observação, erros de avaliação e injustiças com as pessoas. Não podemos, porém,
sentar em cima da falta e dali não mais sair. O modo de reparar um mal é
substituí-lo por boas ações, pelo pedido sincero de perdão e pelo propósito de
não mais incidirmos no erro.
Uma das formas de observarmos as
tristes consequências de pessoas que não se perdoaram é a visita a esses tristes
lares em que não só o faltoso como sua própria família expiam suas faltas
passadas, não corrigidas a tempo. Então, ao reencarnarem, plasmam corpos
deformados. Em Santo Antônio do Descoberto, visitamos algumas famílias que nos
demonstram quanto temos a agradecer a Deus por termos um corpo perfeito e a
oportunidade de reparar em tempo alguns erros da mocidade e mesmo da idade
madura. Pois, como dizia o apóstolo Paulo, somos ainda mais propensos ao mal do
que ao bem, mesmo já sendo adeptos deste.
Um jovem, atualmente internado com
infecção generalizada, há cerca de vinte anos, foi acometido de paralisia
física e cerebral, e vegeta em cima de modesta cama. Até os dezessete anos de
idade era um rapaz saudável. Na última semana, soubemos que seu pai também foi
internado. Este, além de sofrer do mal de
lázaro, também contraiu câncer
prostático.
Outro jovem, muito forte da cintura
para cima, tem as pernas atrofiadas e o cérebro lesado, sendo encontrado sempre
sentado sobre modesto sofá do lar de sua resignada e forte mãe, ironicamente,
conhecida como dona Chagas. Esse jovem é quase cego e não fala. No mesmo lar,
outro rapaz, aparentemente saudável, está quase cego. Também visitamos a casa
duma jovem que sofre de paralisia cerebral congênita. Com o corpo magro e retorcido,
está sempre estirada em sua cama. Em geral, profundamente adormecida.
Precisamos aproveitar a oportunidade
que Deus nos deu e trabalhar em nós o sentimento de piedade para com nós mesmos
e para com todos aqueles nossos irmãos, do presente e do passado, aos quais,
independentemente do que eles sintam por nós, precisamos amar e servir com
todas as forças de nossa alma.
A começar dos que o Senhor colocou em
nossa casa. Daí a necessidade de um tratamento espiritual, quando o assédio dos
obsessores se torna implacável e nefasto ao nosso equilíbrio mental. O que não
dispensa a orientação e medicação do psiquiatra.
E, agindo de acordo com a recomendação
paulina, certamente estaremos livres de maiores complicações, quando optarmos
pelo amor incondicional: “Não desanimemos na prática do bem, pois, se não
desfalecermos, a seu tempo colheremos” (Gálatas, 6:9).
[1] PAULO. Bíblia de Jerusalém (Hebreus, 12:1, 2).
“Portanto, também nós, com tal nuvem de testemunhas ao nosso redor, rejeitando
todo fardo e o pecado que nos envolve, corramos com perseverança para o certame
que nos é proposto, com os olhos fixos naquele que é o iniciador e consumador
da fé, Jesus [...]”.
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