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sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

 



O Espiritismo perante a Ciência

 

Gabriel Delanne

 

Parte 40

 

Continuamos o estudo do clássico O Espiritismo perante a Ciência, de Gabriel Delanne, conforme tradução da obra francesa Le Spiritisme devant la Science.

Nosso objetivo é que este estudo possa servir para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. Qual é a distinção entre um fenômeno sonoro e um som musical?

B. Em que consiste a mediunidade tiptológica?

C. Como o Espiritismo explica o fenômeno da mesa que se move?

 

Texto para leitura

 

898. Quando o barômetro sobe, a pressão no tímpano aumenta; quando desce, a pressão diminui. Suponhamos que a pressão do ar cresça ou diminua, repentinamente, em um quarto de minuto, e, nesse curto espaço de tempo, o mercúrio se eleve de muitos milímetros, para cair, em seguida, com a mesma rapidez. Percebemos a mudança? Não; mas se a variação barométrica for de 5 a 10 centímetros, em meio minuto, grande número de pessoas a perceberiam. Aliás, esta afirmação não é teórica, ela é confirmada pela observação. Os que descem em uma campânula hidráulica experimentam sensação idêntica à que teriam, se o barômetro, por uma causa desconhecida, subisse, em meio minuto, de 10 a 15 centímetros. Temos, pois, a sensação da pressão atmosférica, mas nosso órgão não é delicado o bastante para permitir-nos perceber as variações entre o máximo e o mínimo do barômetro.

899. Quando se desce em uma campânula hidráulica, a mão não sente as alterações da pressão atmosférica; é de outra forma que isso se revela à nossa sensibilidade. Atrás do tímpano do ouvido existe uma cavidade cheia de ar. Uma pressão mais forte dum lado que do outro dessa membrana, produz uma sensação desagradável, que pode mesmo, numa descida brusca, produzir-lhe a ruptura. Ouvir, portanto, um som, é perceber as mudanças súbitas de pressão sobre o tímpano, pressão que se exerce em curto lapso de tempo, e com força assaz moderada, para não determinar lesão ou ruptura, mas que é suficiente para transmitir uma sensação muito nítida ao nervo auditivo.

900. Se pudéssemos perceber pelo ouvido uma alta barométrica de um milímetro, em um dia, essa variação seria um som. Mas como nosso ouvido não é bastante delicado para isso, não podemos dizer que essa mudança seja um som. Se a diferença de pressão sobreviesse bruscamente e, por exemplo, o barômetro variasse de um milímetro em 1/100 de segundo, nós a ouviríamos, porque essa variação repentina da pressão atmosférica produziria um som análogo ao do choque de nossas duas mãos.

901. Qual a distinção entre um fenômeno sonoro e um som musical? O som musical é uma alteração regular e periódica de pressão, um aumento e uma diminuição alternativos de pressão atmosférica, bastante rápidos para serem percebidos como som, e reproduzindo-se por períodos, com perfeita regularidade. Algumas vezes, os ruídos e os sons musicais se confundem. A duração, a irregularidade, os períodos mal separados têm por efeito produzir dissonâncias complicadas, que um ouvido não exercitado não compreenderá e tomará por um ruído.

902. O sentido da vista poderia ser comparado ao do ouvido, sendo ambos causados por variações rápidas de pressão. Sabe-se com que celeridade se devem produzir as alternâncias entre a pressão máxima e a mínima, para dar o som de uma nota musical. Se o barômetro variar uma vez em um minuto, não perceberemos essa variação como nota musical; mas, se por uma ação mecânica do ar, a pressão mudar mais rapidamente, essa alteração, que o mercúrio não pode indicar com rapidez, o ouvido a perceberá; se o período reproduzir-se 20, 30, 40, 50 vezes por segundo, ouvir-se-á uma nota grave; se acelerar, a nota elevar-se-á gradualmente, tornar-se-á cada vez mais aguda; se atingir a 256 períodos por segundo, teremos uma nota que corresponde ao dó grave de tenor.

903. Daí resulta que a palavra, sendo uma sucessão de sons, é produzida por variações de pressão atmosférica, determinadas pelas diferenças de volume da garganta e da boca, durante a emissão da voz. Mas se os Espíritos não têm garganta, o que fazem para produzir sons? Aqui ainda a ciência nos põe no caminho das explicações.

904. O ilustre inventor do telefone, Graham Bell, diz que, fazendo-se cair um raio luminoso intermitente sobre um corpo sólido, poder-se-á perceber um som. Tyndall atribui esse som à ação do calor sobre o corpo, e pensou que ele resultasse de mudanças alternadas de volumes, devidas a variações da temperatura. Se assim fosse, os gases e os vapores, dotados de poder absorvente, deviam dar sons muito fortes e a intensidade do som deveria fornecer o meio de medir o poder absorvente.

905. Foi o que se verificou pela experiência. Está, portanto, demonstrado hoje que se podem obter sons variados, desde os mais agudos até os mais graves, fazendo agir raios caloríficos sobre certos vapores. Ora, sabemos que, por sua vontade, os Espíritos agem sobre os fluidos e já podemos imaginar por que forma podem produzir ruídos e palavras articuladas. Em vez de expelir o ar pela garganta, projetam sobre certos fluidos jatos caloríficos, e as vibrações desses fluidos produzem os sons que o médium percebe.

906. É evidente que essas palavras não têm necessidade de ser pronunciadas com a força que empregamos; o ouvido, no estado especial determinado pela mediunidade, é um instrumento extremamente delicado, que apanha as mais ligeiras alterações de pressão. Mesmo em estado normal, o ouvido é suscetível de grande sensibilidade.

907. Uma experiência recente nos dá prova disso. Podem-se fazer transmissões telefônicas sem receptor. Há bem pouco tempo Giltay, por meio de modificações introduzidas na construção do aparelho, chegou a dispensar completamente qualquer condensador. Duas pessoas seguram, cada uma com uma das mãos, um cabo; uma delas aplica sua mão enluvada sobre o ouvido da outra e esta última ouve sair dessa mão as palavras pronunciadas sobre o transmissor microfônico. Giltay explicou esse fato dizendo que a mão e o ouvido constituem as armaduras de um condensador, de que a luva representa a substância isolante. A experiência pode fazer-se de maneira ainda mais original; é como ela foi executada nas sessões da Sociedade de Física. Os dois experimentadores seguram os cabos como precedentemente e aplicam suas mãos livres sobre os ouvidos de uma terceira pessoa. Nessas condições, esta ouve falar as mãos como se elas tivessem receptores ordinários.

908. O estado atual da ciência não permite esclarecer este modo de transmissão da palavra. Esta é uma nova questão a juntar aos pontos obscuros que a telefonia encerra. Tudo o que até agora se pode concluir é que o ouvido é um instrumento de incomparável delicadeza e de fina sensibilidade, pois que percebe vibrações em que a energia utilizada é de extrema fraqueza. Isto nos ajuda a compreender como o médium audiente ouve a voz dos Espíritos, apesar de estes não poderem pronunciar as palavras e fazer vibrar os fluidos com a mesma intensidade que nós, os encarnados.

909. Não podemos furtar-nos a um legítimo sentimento de admiração ante as descobertas maravilhosas da ciência moderna; somos mormente exaltados com essas pesquisas, pois elas nos permitem compreender a ação dos Espíritos sobre os encarnados e enquadrar dentro das leis naturais fenômenos erradamente considerados sobrenaturais. O progresso afirma-se cada vez mais e podemos dizer que a posteridade ficará espantada das coisas que temos ignorado.

910. Passemos agora o examinar o fenômeno conhecido como tiptologia. A mediunidade tiptológica é a faculdade que permite obter, por meio de um objeto qualquer, mesa ou outro, comunicações inteligentes, ou por efeito de deslocamento, ou por pancadas no interior do objeto de que se serve.

911. A explicação desses fatos é muito simples no caso das pancadas. Graham Bell no-la indicou precedentemente. Quando o Espírito quer produzir um ruído na mesa, por meio do fluido nervoso do médium e do seu fluido perispiritual, ele forma uma coluna fluídica que lança sobre a superfície da mesa. Ora, sabemos que um raio calorífico que incide de modo intermitente sobre uma substância sólida, aí provoca sons; da mesma forma se poderá compreender a ação espiritual dos Espíritos na produção de pancadas.

912. Examinemos agora o caso em que a mesa se desloca sob as mãos do médium para executar movimentos variados. É natural supor, quando se sabe que os Espíritos podem materializar-se, que eles levantem o móvel e o façam deslocarem-se como nós. Não é assim que as coisas se passam e os próprios Espíritos nos vieram explicar como operam.

913. Eis o que, a respeito, ensina Allan Kardec: “Quando a mesa se move sob as vossas mãos, o Espírito evocado combina parte do fluido universal com o que desprende o médium, satura com ele a mesa, que é assim penetrada de uma vida fictícia. Preparada a mesa, o Espírito a impele e a move sob a influência do seu próprio fluido, que desprende por sua vontade. Quando a massa que quer pôr em movimento é muito pesada, ele chama em seu auxílio Espíritos nas mesmas condições, e combinando seus fluidos, chegam ao resultado desejado.”

914. Para que a ação se produza, é preciso, pois, que a mesa, de alguma sorte, seja animalizada. Os fluidos necessários são fornecidos pelo Espírito e pelo médium, porque este é o reservatório do fluido vital, indispensável para animar a mesa. Já sabendo como o Espírito manipula os fluidos, essa questão nada mais tem de obscuro para nós. A ação é, aliás, semelhante à que produzimos todos os dias. Quando desejamos fazer mover um de nossos membros, o braço, por exemplo, o Espírito é, antes de tudo, obrigado a querer; a vibração dessa vontade se transmite ao fluido nervoso e o braço executa o movimento prescrito por nossa alma. Se por uma causa qualquer o fluido nervoso não circular mais nos nervos que terminam nessa parte do corpo, a ação não poderá exercitar-se.

915. No caso das manifestações tiptológicas, o Espírito está ligado à mesa por um cordão fluídico, que faz o papel do sistema nervoso, no homem; ambos servem para transmitir a vontade. É claro que os fatos serão tanto mais acentuados quanto mais forte for o Espírito, e os ditados inteligentes estão em relação com o grau de adiantamento da alma que se comunica e com sua aptidão para servir-se dos fluidos.

916. Esses reparos permitem-nos responder aos incrédulos que se espantam quando uma mesa se move e nem sempre lhes pode responder às interrogações. Podemos comparar o Espírito que age em uma mesa a um indivíduo que opera num manipulador do telégrafo de Morse. Se esse operador não aprendeu o alfabeto convencional de que se serve, enviará sinais ininteligíveis, mas se for versado na arte de telegrafar, o receptor registrará frases perfeitamente claras. Não nos admiremos, portanto, que um Espírito seja inábil a manifestar-se, às primeiras vezes que o evocam, e temos notado que essa inaptidão cessa muito rapidamente, quando o mesmo Espírito é chamado muitas vezes. É preciso que o desencarnado aprenda a maneira de operar, e nisso, como em tudo, é preciso certo tempo.

917. O que dizemos para a mediunidade tiptológica aplica-se indistintamente a todo gênero de manifestações de Espíritos. Vê-se que tudo é simples e compreensível em nossa maneira de interpretar os fatos. Sem ter ido tão longe como nós, na teoria, Crookes estudou os fenômenos sob o ponto de vista material e, na espécie, chegou à certeza absoluta.

918. Não podendo reproduzir, in extenso, a descrição de suas pesquisas, contentar-nos-emos com os seguintes reparos finais:

“Estas experiências deixam fora de dúvida as conclusões a que cheguei, em precedente memória, a saber: a existência de uma força associada, de maneira ainda inexplicável, ao organismo humano, e pela qual um acréscimo de peso pode ser levado a corpos sólidos, sem contato efetivo. No caso de Home, esse poder varia enormemente, não só de semana em semana, mas igualmente de uma hora para outra; em algumas ocasiões essa força não pode ser acusada pelos meus aparelhos durante 1 hora ou mesmo mais e depois repentinamente ela reaparece com grande energia. Ela pode agir a certa distância de Home, mas é mais poderosa perto dele.

Na firme convicção em que estava de que um gênero de força não poderia manifestar-se, sem o dispêndio correspondente de outro gênero de força, em vão procurei, durante muito tempo, a natureza da força ou do poder empregado para produzir esses resultados. Mas agora que já observei melhor o Sr. Home, creio descobrir o que essa força física emprega para desenvolver-se. Servindo-me dos termos força vital, energia nervosa, sei que emprego vocábulos que, para muitos investigadores, têm significações diferentes; mas, depois de ser testemunha do penoso estado de prostração nervosa, em que algumas dessas experiências deixaram Home, depois de o ter visto em estado de desfalecimento quase completo, estendido no chão, pálido e sem voz, não duvido que a emissão da força psíquica seja acompanhada de um esgotamento correspondente da força vital.”

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Qual é a distinção entre um fenômeno sonoro e um som musical?

O som musical é uma alteração regular e periódica de pressão, um aumento e uma diminuição alternativos de pressão atmosférica, bastante rápidos para serem percebidos como som, e reproduzindo-se por períodos, com perfeita regularidade. Algumas vezes, os ruídos e os sons musicais se confundem. A duração, a irregularidade, os períodos mal separados têm por efeito produzir dissonâncias complicadas, que um ouvido não exercitado não compreenderá e tomará por um ruído. (O Espiritismo perante a ciência, Quinta Parte, Cap. III – Médiuns videntes e médiuns auditivos.)

B. Em que consiste a mediunidade tiptológica?

A mediunidade tiptológica é a faculdade que permite obter, por meio de um objeto qualquer, mesa ou outro, comunicações inteligentes, ou por efeito de deslocamento, ou por pancadas no interior do objeto de que se serve. (Obra citada, Quinta Parte, Cap. III – Médiuns videntes e médiuns auditivos.)

C. Como o Espiritismo explica o fenômeno da mesa que se move?

Segundo Allan Kardec, para uma mesa mover-se sem contato de um encarnado, o Espírito evocado combina parte do fluido universal com o fluido que o médium desprende, satura com ele a mesa, que é assim penetrada de uma vida fictícia. Preparada a mesa, o Espírito a impele e a move sob a influência do seu próprio fluido, que desprende por sua vontade. Quando a massa que quer pôr em movimento é muito pesada, ele chama em seu auxílio Espíritos nas mesmas condições, e combinando seus fluidos, chegam ao resultado desejado. Para que a ação se produza, é preciso, pois, que a mesa, de alguma sorte, seja animalizada. (Obra citada, Quinta Parte, Cap. III – Médiuns videntes e médiuns auditivos.)

                                                                                         

Observação:

Para acessar a parte 39 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/12/o-espiritismo-perante-ciencia-gabriel_11.html

 

 

 

 

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