O Espiritismo perante a Ciência
Gabriel Delanne
Parte 40
Continuamos o estudo do clássico O Espiritismo perante a Ciência, de
Gabriel Delanne, conforme tradução da obra francesa Le Spiritisme devant la Science.
Nosso objetivo é que este estudo possa
servir para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do
Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas
encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Qual é a distinção entre um
fenômeno sonoro e um som musical?
B. Em que consiste a mediunidade
tiptológica?
C. Como o Espiritismo explica o
fenômeno da mesa que se move?
Texto para leitura
898. Quando o barômetro sobe, a
pressão no tímpano aumenta; quando desce, a pressão diminui. Suponhamos que a
pressão do ar cresça ou diminua, repentinamente, em um quarto de minuto, e,
nesse curto espaço de tempo, o mercúrio se eleve de muitos milímetros, para
cair, em seguida, com a mesma rapidez. Percebemos a mudança? Não; mas se a
variação barométrica for de 5 a 10 centímetros, em meio minuto, grande número
de pessoas a perceberiam. Aliás, esta afirmação não é teórica, ela é confirmada
pela observação. Os que descem em uma campânula hidráulica experimentam
sensação idêntica à que teriam, se o barômetro, por uma causa desconhecida,
subisse, em meio minuto, de 10 a 15 centímetros. Temos, pois, a sensação da
pressão atmosférica, mas nosso órgão não é delicado o bastante para
permitir-nos perceber as variações entre o máximo e o mínimo do barômetro.
899. Quando se desce em uma campânula
hidráulica, a mão não sente as alterações da pressão atmosférica; é de outra
forma que isso se revela à nossa sensibilidade. Atrás do tímpano do ouvido
existe uma cavidade cheia de ar. Uma pressão mais forte dum lado que do outro
dessa membrana, produz uma sensação desagradável, que pode mesmo, numa descida
brusca, produzir-lhe a ruptura. Ouvir, portanto, um som, é perceber as mudanças
súbitas de pressão sobre o tímpano, pressão que se exerce em curto lapso de
tempo, e com força assaz moderada, para não determinar lesão ou ruptura, mas
que é suficiente para transmitir uma sensação muito nítida ao nervo auditivo.
900. Se pudéssemos perceber pelo
ouvido uma alta barométrica de um milímetro, em um dia, essa variação seria um
som. Mas como nosso ouvido não é bastante delicado para isso, não podemos dizer
que essa mudança seja um som. Se a diferença de pressão sobreviesse bruscamente
e, por exemplo, o barômetro variasse de um milímetro em 1/100 de segundo, nós a
ouviríamos, porque essa variação repentina da pressão atmosférica produziria um
som análogo ao do choque de nossas duas mãos.
901. Qual a distinção entre um
fenômeno sonoro e um som musical? O som musical é uma alteração regular e
periódica de pressão, um aumento e uma diminuição alternativos de pressão
atmosférica, bastante rápidos para serem percebidos como som, e reproduzindo-se
por períodos, com perfeita regularidade. Algumas vezes, os ruídos e os sons
musicais se confundem. A duração, a irregularidade, os períodos mal separados
têm por efeito produzir dissonâncias complicadas, que um ouvido não exercitado
não compreenderá e tomará por um ruído.
902. O sentido da vista poderia ser
comparado ao do ouvido, sendo ambos causados por variações rápidas de pressão.
Sabe-se com que celeridade se devem produzir as alternâncias entre a pressão
máxima e a mínima, para dar o som de uma nota musical. Se o barômetro variar
uma vez em um minuto, não perceberemos essa variação como nota musical; mas, se
por uma ação mecânica do ar, a pressão mudar mais rapidamente, essa alteração,
que o mercúrio não pode indicar com rapidez, o ouvido a perceberá; se o período
reproduzir-se 20, 30, 40, 50 vezes por segundo, ouvir-se-á uma nota grave; se
acelerar, a nota elevar-se-á gradualmente, tornar-se-á cada vez mais aguda; se
atingir a 256 períodos por segundo, teremos uma nota que corresponde ao dó
grave de tenor.
903. Daí resulta que a palavra, sendo
uma sucessão de sons, é produzida por variações de pressão atmosférica,
determinadas pelas diferenças de volume da garganta e da boca, durante a
emissão da voz. Mas se os Espíritos não têm garganta, o que fazem para produzir
sons? Aqui ainda a ciência nos põe no caminho das explicações.
904. O ilustre inventor do telefone,
Graham Bell, diz que, fazendo-se cair um raio luminoso intermitente sobre um
corpo sólido, poder-se-á perceber um som. Tyndall atribui esse som à ação do
calor sobre o corpo, e pensou que ele resultasse de mudanças alternadas de
volumes, devidas a variações da temperatura. Se assim fosse, os gases e os
vapores, dotados de poder absorvente, deviam dar sons muito fortes e a
intensidade do som deveria fornecer o meio de medir o poder absorvente.
905. Foi o que se verificou pela
experiência. Está, portanto, demonstrado hoje que se podem obter sons variados,
desde os mais agudos até os mais graves, fazendo agir raios caloríficos sobre
certos vapores. Ora, sabemos que, por sua vontade, os Espíritos agem sobre os
fluidos e já podemos imaginar por que forma podem produzir ruídos e palavras
articuladas. Em vez de expelir o ar pela garganta, projetam sobre certos
fluidos jatos caloríficos, e as vibrações desses fluidos produzem os sons que o
médium percebe.
906. É evidente que essas palavras não
têm necessidade de ser pronunciadas com a força que empregamos; o ouvido, no
estado especial determinado pela mediunidade, é um instrumento extremamente
delicado, que apanha as mais ligeiras alterações de pressão. Mesmo em estado
normal, o ouvido é suscetível de grande sensibilidade.
907. Uma experiência recente nos dá
prova disso. Podem-se fazer transmissões telefônicas sem receptor. Há bem pouco
tempo Giltay, por meio de modificações introduzidas na construção do aparelho,
chegou a dispensar completamente qualquer condensador. Duas pessoas seguram,
cada uma com uma das mãos, um cabo; uma delas aplica sua mão enluvada sobre o
ouvido da outra e esta última ouve sair dessa mão as palavras pronunciadas
sobre o transmissor microfônico. Giltay explicou esse fato dizendo que a mão e
o ouvido constituem as armaduras de um condensador, de que a luva representa a
substância isolante. A experiência pode fazer-se de maneira ainda mais
original; é como ela foi executada nas sessões da Sociedade de Física. Os dois
experimentadores seguram os cabos como precedentemente e aplicam suas mãos
livres sobre os ouvidos de uma terceira pessoa. Nessas condições, esta ouve
falar as mãos como se elas tivessem receptores ordinários.
908. O estado atual da ciência não
permite esclarecer este modo de transmissão da palavra. Esta é uma nova questão
a juntar aos pontos obscuros que a telefonia encerra. Tudo o que até agora se
pode concluir é que o ouvido é um instrumento de incomparável delicadeza e de
fina sensibilidade, pois que percebe vibrações em que a energia utilizada é de
extrema fraqueza. Isto nos ajuda a compreender como o médium audiente ouve a
voz dos Espíritos, apesar de estes não poderem pronunciar as palavras e fazer
vibrar os fluidos com a mesma intensidade que nós, os encarnados.
909. Não podemos furtar-nos a um
legítimo sentimento de admiração ante as descobertas maravilhosas da ciência
moderna; somos mormente exaltados com essas pesquisas, pois elas nos permitem
compreender a ação dos Espíritos sobre os encarnados e enquadrar dentro das
leis naturais fenômenos erradamente considerados sobrenaturais. O progresso
afirma-se cada vez mais e podemos dizer que a posteridade ficará espantada das
coisas que temos ignorado.
910. Passemos agora o examinar o
fenômeno conhecido como tiptologia. A mediunidade tiptológica é a faculdade que
permite obter, por meio de um objeto qualquer, mesa ou outro, comunicações
inteligentes, ou por efeito de deslocamento, ou por pancadas no interior do
objeto de que se serve.
911. A explicação desses fatos é muito
simples no caso das pancadas. Graham Bell no-la indicou precedentemente. Quando
o Espírito quer produzir um ruído na mesa, por meio do fluido nervoso do médium
e do seu fluido perispiritual, ele forma uma coluna fluídica que lança sobre a
superfície da mesa. Ora, sabemos que um raio calorífico que incide de modo
intermitente sobre uma substância sólida, aí provoca sons; da mesma forma se
poderá compreender a ação espiritual dos Espíritos na produção de pancadas.
912. Examinemos agora o caso em que a
mesa se desloca sob as mãos do médium para executar movimentos variados. É
natural supor, quando se sabe que os Espíritos podem materializar-se, que eles
levantem o móvel e o façam deslocarem-se como nós. Não é assim que as coisas se
passam e os próprios Espíritos nos vieram explicar como operam.
913. Eis o que, a respeito, ensina
Allan Kardec: “Quando a mesa se move sob as vossas mãos, o Espírito evocado
combina parte do fluido universal com o que desprende o médium, satura com ele
a mesa, que é assim penetrada de uma vida fictícia. Preparada a mesa, o
Espírito a impele e a move sob a influência do seu próprio fluido, que
desprende por sua vontade. Quando a massa que quer pôr em movimento é muito
pesada, ele chama em seu auxílio Espíritos nas mesmas condições, e combinando
seus fluidos, chegam ao resultado desejado.”
914. Para que a ação se produza, é
preciso, pois, que a mesa, de alguma sorte, seja animalizada. Os fluidos
necessários são fornecidos pelo Espírito e pelo médium, porque este é o
reservatório do fluido vital, indispensável para animar a mesa. Já sabendo como
o Espírito manipula os fluidos, essa questão nada mais tem de obscuro para nós.
A ação é, aliás, semelhante à que produzimos todos os dias. Quando desejamos fazer
mover um de nossos membros, o braço, por exemplo, o Espírito é, antes de tudo,
obrigado a querer; a vibração dessa vontade se transmite ao fluido nervoso e o
braço executa o movimento prescrito por nossa alma. Se por uma causa qualquer o
fluido nervoso não circular mais nos nervos que terminam nessa parte do corpo,
a ação não poderá exercitar-se.
915. No caso das manifestações
tiptológicas, o Espírito está ligado à mesa por um cordão fluídico, que faz o
papel do sistema nervoso, no homem; ambos servem para transmitir a vontade. É
claro que os fatos serão tanto mais acentuados quanto mais forte for o
Espírito, e os ditados inteligentes estão em relação com o grau de adiantamento
da alma que se comunica e com sua aptidão para servir-se dos fluidos.
916. Esses reparos permitem-nos
responder aos incrédulos que se espantam quando uma mesa se move e nem sempre
lhes pode responder às interrogações. Podemos comparar o Espírito que age em
uma mesa a um indivíduo que opera num manipulador do telégrafo de Morse. Se esse
operador não aprendeu o alfabeto convencional de que se serve, enviará sinais
ininteligíveis, mas se for versado na arte de telegrafar, o receptor registrará
frases perfeitamente claras. Não nos admiremos, portanto, que um Espírito seja
inábil a manifestar-se, às primeiras vezes que o evocam, e temos notado que
essa inaptidão cessa muito rapidamente, quando o mesmo Espírito é chamado
muitas vezes. É preciso que o desencarnado aprenda a maneira de operar, e
nisso, como em tudo, é preciso certo tempo.
917. O que dizemos para a mediunidade
tiptológica aplica-se indistintamente a todo gênero de manifestações de
Espíritos. Vê-se que tudo é simples e compreensível em nossa maneira de
interpretar os fatos. Sem ter ido tão longe como nós, na teoria, Crookes estudou
os fenômenos sob o ponto de vista material e, na espécie, chegou à certeza
absoluta.
918. Não podendo reproduzir, in
extenso, a descrição de suas pesquisas, contentar-nos-emos com os seguintes
reparos finais:
“Estas experiências deixam fora de
dúvida as conclusões a que cheguei, em precedente memória, a saber: a
existência de uma força associada, de maneira ainda inexplicável, ao organismo
humano, e pela qual um acréscimo de peso pode ser levado a corpos sólidos, sem
contato efetivo. No caso de Home, esse poder varia enormemente, não só de
semana em semana, mas igualmente de uma hora para outra; em algumas ocasiões
essa força não pode ser acusada pelos meus aparelhos durante 1 hora ou mesmo
mais e depois repentinamente ela reaparece com grande energia. Ela pode agir a
certa distância de Home, mas é mais poderosa perto dele.
Na firme convicção em que estava de
que um gênero de força não poderia manifestar-se, sem o dispêndio
correspondente de outro gênero de força, em vão procurei, durante muito tempo,
a natureza da força ou do poder empregado para produzir esses resultados. Mas
agora que já observei melhor o Sr. Home, creio descobrir o que essa força
física emprega para desenvolver-se. Servindo-me dos termos força vital, energia
nervosa, sei que emprego vocábulos que, para muitos investigadores, têm
significações diferentes; mas, depois de ser testemunha do penoso estado de
prostração nervosa, em que algumas dessas experiências deixaram Home, depois de
o ter visto em estado de desfalecimento quase completo, estendido no chão,
pálido e sem voz, não duvido que a emissão da força psíquica seja acompanhada
de um esgotamento correspondente da força vital.”
Respostas às questões preliminares
A. Qual é a distinção entre um fenômeno sonoro e um som
musical?
O som musical é uma alteração regular
e periódica de pressão, um aumento e uma diminuição alternativos de pressão
atmosférica, bastante rápidos para serem percebidos como som, e reproduzindo-se
por períodos, com perfeita regularidade. Algumas vezes, os ruídos e os sons
musicais se confundem. A duração, a irregularidade, os períodos mal separados
têm por efeito produzir dissonâncias complicadas, que um ouvido não exercitado
não compreenderá e tomará por um ruído. (O
Espiritismo perante a ciência, Quinta Parte, Cap. III – Médiuns videntes e
médiuns auditivos.)
B. Em que consiste a mediunidade tiptológica?
A mediunidade tiptológica é a
faculdade que permite obter, por meio de um objeto qualquer, mesa ou outro,
comunicações inteligentes, ou por efeito de deslocamento, ou por pancadas no
interior do objeto de que se serve. (Obra citada, Quinta Parte, Cap. III –
Médiuns videntes e médiuns auditivos.)
C. Como o Espiritismo explica o fenômeno da mesa que se
move?
Segundo Allan Kardec, para uma mesa
mover-se sem contato de um encarnado, o Espírito evocado combina parte do
fluido universal com o fluido que o médium desprende, satura com ele a mesa,
que é assim penetrada de uma vida fictícia. Preparada a mesa, o Espírito a
impele e a move sob a influência do seu próprio fluido, que desprende por sua
vontade. Quando a massa que quer pôr em movimento é muito pesada, ele chama em
seu auxílio Espíritos nas mesmas condições, e combinando seus fluidos, chegam
ao resultado desejado. Para que a ação se produza, é preciso, pois, que a mesa,
de alguma sorte, seja animalizada. (Obra citada, Quinta Parte, Cap. III –
Médiuns videntes e médiuns auditivos.)
Observação:
Para acessar a parte 39 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/12/o-espiritismo-perante-ciencia-gabriel_11.html
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