O Além e a
Sobrevivência do Ser
Léon Denis
Parte 8
Damos sequência ao estudo do clássico O Além e a Sobrevivência do Ser, de autoria de Léon Denis, com base na 8ª edição publicada em português pela Federação Espírita Brasileira.
Nosso propósito é que este estudo
sirva para o leitor como uma forma de iniciação ao estudo dos chamados
Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas
encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Que disse sobre a tragédia do Titanic
o Espírito de William Stead, que foi também uma das vítimas do conhecido
naufrágio?
B. Na visão de William Stead, quem
mais sofreu com o afundamento do Titanic?
C. Extasiados com a maravilhosa beleza
da vida espiritual, os Espíritos tendem a esquecer seus amigos encarnados na
Terra?
Texto para
leitura
97. Léon Denis refere-se, na
sequência, às mensagens que primam pela elevação do pensamento, das quais
inseriu nesta obra algumas até então inéditas.
98. Eis a primeira, transmitida pelo
publicista inglês William Thomas Stead no dia 21 de maio de 1912, a Mme. Hervy,
em um grupo de Paris. Stead foi uma das vítimas do naufrágio do Titanic. Disse
ele:
“Caros amigos, uma sombra feliz vem
até vós. Desconhecendo-lhe a pessoa, não lhe ignorais, entretanto, o nome, nem
a morte trágica no naufrágio do Titanic. Sou Stead. Amigos comuns, entre os
quais a duquesa de P..., me trouxeram aqui para que me manifestasse por
intermédio de Mme. Hervy, sua amiga. Talvez vos cause admiração que meus
Espíritos familiares não me tenham avisado da fatalidade que pesava sobre o
Titanic. É que nada pode prevalecer contra o destino, quando irremediável, e eu
devia morrer sem que a nenhuma potência humana ou espiritual fosse possível
retardar a minha derradeira hora. A agonia do Titanic teve alguma coisa de
horrível, mas também de sublime. Houve desesperos loucos e manifestações
covardes e brutais do egoísmo humano. Mas, quantos, por outro lado, medindo
toda a extensão da coragem, se sentiram maiores diante da morte, mais nobres e
mais santos, mais perto de Deus! Saber que se vai morrer na plenitude da vida,
na exuberância da força, pela ação dessas potências da Natureza, indomadas sob
a aparência da submissão; morrer ao cintilar das estrelas impassíveis; morrer
na calma fúnebre do mar gelado, em meio de uma solidão infinita, que angústia
para a pobre criatura humana! E que apelo desvairado ela dirige a esse Deus,
cujo poder repentinamente descobre!... Oh! as preces daquela noite, as preces,
os desprendimentos, as consciências a se iluminarem por súbitos relâmpagos e a
fé a se elevar nos corações por entre as harmonias do belo cântico: ‘Mais perto
de ti, meu Deus!’ Agonia de centenas de seres, sim, mas agonia que para muitos
era a aurora de um novo dia. Há, para os que viveram, pensaram, sofreram, como
também para os que muito gozaram das falazes alegrias que a fortuna dispensa às
suas vítimas, um alívio interior e como que um arroubo de esperança, ao
reconhecerem que dentro de alguns instantes tudo estará acabado. A alma freme
na carne e a subjuga, malgrado os sobressaltos inconscientes da animalidade. E
quantos dentre nós, proferindo as palavras do cântico: ‘Mais perto de ti, meu
Deus!’ se sentiram bem perto do Ser inefável que nos envolve com a sua
onipotente serenidade! Pelo que me toca, vi, cheio de estranha doçura, aproximar-se
a morte, sentindo-me amparado pelos meus amigos invisíveis, penetrado de um
misterioso magnetismo que galvanizava os que iam morrer e que tirava à morte
todo o horror. Os que morreram sofreram pouco, menos do que os que
sobreviveram. Os escolhidos já estavam a meio no mundo espiritual, onde em tudo
rebrilha uma vida etérea. A maior amargura não era a deles, mas a dos que,
presos à matéria, enchiam os barcos de socorro, que os levavam para continuarem
nesse mundo a peregrinação da dor, de que ainda se não haviam libertado.” – W.
Stead.
99. Mais duas mensagens foram obtidas
por meio da escrita mediúnica, em março e abril de 1912. A primeira é assinada
por Loyson:
“Prezada Senhora, obrigado pelo
serviço que me prestastes, obrigado por me terdes ajudado a sair da perturbação
que se segue à morte, obrigado por me haverdes posto em contacto com almas tão
nobres, tão puras, que sonham com o triunfo do verdadeiro Cristo e com o da
prática da sua doutrina no seio de uma Humanidade corroída pela febre malsã do
materialismo e pelo surto dessas doutrinas de uma filosofia nebulosa, que,
pretendendo criar super-homens, desconhecem o homem. O materialismo de um lado
e, de outro, as nefastas doutrinas que hão exaltado o eu em detrimento do nós e
o indivíduo à custa da coletividade humana, da qual não o podem separar,
criaram uma amoralidade geral, uma degeneração da consciência, que as velhas
fórmulas religiosas são incapazes de deter. Oh! muito teremos que fazer, nós os
missionários do Cristo novo, e não nos faltará trabalho na vinha do Senhor;
mas, que alegria para o apóstolo é sentir que sua missão se precisa e se
dilata, ver que a morte, longe de imobilizar o homem sob a lápide do sepulcro,
lhe aumenta, estende, amplifica as faculdades, que a liberta das dúvidas, das
hesitações, dos falsos escrúpulos que lhe turbavam a consciência! Minha vida
passada não foi mais do que a baça crisálida em que minha alma se transformou,
pelas provações e dores, em maravilhosa borboleta. Oh! alegria imensa que faz
regurgitar o coração!, alegria que arrebata a alma como que num arranco
desordenado, para arrojá-la, palpitante de reconhecimento, aos pés do Criador
Celeste, que tão generosamente paga o resgate do pecador! Não, meus irmãos,
imersos nas trevas da prisão terrestre, não podeis conceber a felicidade da
libertação terrena. Sentir o engrandecimento da capacidade de conhecer e
aprender, que já fez do homem o senhor do universo material; sentir que, com a
inteligência e a compreensão, crescem todas as possibilidades de ação; sentir
que o coração se depura e conhecer, enfim, a verdadeira amizade e o verdadeiro
amor na comunhão íntima dos seres, que, por intransponíveis barreiras, os
pesados invólucros materiais separam, são coisas que se não podem exprimir por
palavras e impossível me é fazer-vos experimentar a plenitude de vida que
sucede ao sono terrestre; pois que, na Terra, o homem se assemelha à semente
enterrada no solo, gérmen obscuro, noção que prepara o desabrochar futuro, mas
que não está, por isso, menos enredado nos liames da matéria. Obrigado, ainda
uma vez, Senhora, por terdes apressado o meu despertar, por me terdes granjeado
tantos e tão elevados amigos, tão dignos e tão compenetrados da palavra do
Cristo; obrigado por me terdes feito entrar nesta falange que conta os
Lacordaire, os Didon, os Bersier, falange que desempenha a missão divina da
renovação do ideal do Cristo. Aqui está, pois, de novo o ardente, o fervoroso
apóstolo que conhecestes, minha querida e fiel irmã (o Espírito se dirige neste
ponto a uma das pessoas presentes), dispondo de maior clarividência e de mais
inteligência das coisas, com a esperança viva de poder mais tarde e mais
perfeitamente retomar a tarefa que tentou levar a cabo nesse mundo e que
deixou, ah! tão imperfeita. Foi o vosso pensamento que me atraiu para junto da
vossa médium. Obrigado, portanto, a vós também. Deixo-vos, meus amigos,
possuído de uma alegria pura e santa, alegria que ultrapassa todas as alegrias
da Terra, todas as harmonias terrestres, como o canto do rouxinol sobreleva e
abafa o chilrear da toutinegra. Obrigado ainda; o apóstolo ganhou novamente
confiança na sua missão divina e ei-lo de novo pronto a combater pelo triunfo
do Espírito do Cristo.” – Loyson.
100. A outra mensagem, abaixo
transcrita, é assinada por Eduardo Petit:
“A vida espiritual, de maravilhosa
beleza, não faz esquecer os nossos amigos terrenos. Por felizes que sejamos,
por indizíveis que sejam os gozos que nos embriagam, sempre e sem cessar somos
atraídos para o lugar onde transcorreu a nossa última existência, para todos
aqueles a quem nos unem os laços de uma afeição fraterna, para junto de vós,
enfim, ó bem-amados. Sim, pensamos em vós, mesmo das alturas mais inacessíveis
a que se possa elevar o pensamento! Vimos até onde estais para vos repetir, num
eco distante, que deveis esperar e amar acima de tudo, por muito rude, por
muito árida que seja a vida. A esperança e o amor vertem, na existência, a
linfa do esquecimento. Dão a coragem, a vontade forte que nos permitem arrostar
de ânimo sereno a tempestade. Mas, venha a calma após a borrasca, venha a hora
do repouso benéfico e sentireis que nas vossas veias circula a eterna
felicidade celeste, que Deus espalha sem medida pelos pobres humanos. O tempo,
às vezes, vos parece bem longo. De nós esperais as menores comunicações com
impaciência e também com uma espécie de curiosidade, e cheios de vaga esperança
de que elas vos venham revelar alguma coisa do mistério dos mundos. A
Providência, porém, sabe que as revelações não seriam compreendidas. Não! A
hora ainda não soou! As frases que vos possamos transmitir ficarão sendo, por
enquanto, meras frases; exortações à prática do bem, certamente! Cumpre
orientar para o melhor as pobres almas sofredoras. Pela doçura, pela bondade,
deveis chamar ao vosso seio os irmãos incrédulos. E podeis também, pela
caridade, fazer-lhes entrever a meta sublime para a qual deve tender a vida. A
vida continua, bem o sabeis. Só muda a forma. Todavia, não muda demasiado
rápido, porquanto, durante largo tempo, nos conservamos terrestres. Quiséramos
poder exprimir-vos tudo o que o infinito nos dá a contemplar. Mas, ah!, a
linguagem humana é pobre, suas palavras são duras, agudas, pesadas como a
matéria, ao passo que seriam precisas palavras leves e suaves, de uma suavidade
toda especial, capazes de exprimirem os sons e as cores. A atmosfera que vos
envolve é por demais espessa para permitir que percebais, ainda que pouco, toda
a harmonia que reina nos planos superiores do Universo. Ah! que esplendores aí
se desdobram! E que consolação, que grande recompensa aos nossos males é esta
vida, esta embriaguez de todos os instantes! Continuamos a ocupar-nos das almas
errantes, mas a fonte de amor em que nos dessedentamos é tão viva e tão
abundante, que basta para nos deixar entrever destinos inda mais gloriosos. A
ascensão prossegue, sem nunca parar. Subir ainda, subir sempre, sem jamais
atingi-lo, para o foco da perfeição, para a Causa suprema que nos deve
absorver, conservando-nos a personalidade própria. O amor, qualquer que seja o
mundo em que se esteja, é a força, o eixo das esferas que gravitam em suas
órbitas. Na natureza, nos infinitamente pequenos, é o amor, antes de tudo, que
guia o instinto. No homem, na sociedade inteira, é o amor que forma as
simpatias, que torna possíveis as relações dos humanos entre si. Seja qual for
a expressão sob a qual o queiram deformar, seja qual for o nome com que o
ridiculizem, se analisardes um pouco, encontrareis sempre o amor, o amor mais ou
menos purificado, que existe em todo ser. Ele é o centro, a causa. Reina no
lar. É sobre suas fiadas que se constrói a família, a família que perpetua, no
tempo e no espaço, a longa série dos séculos, marcando o progresso das
humanidades. E é também o amor que rege as amizades sólidas. Constituís uma
força poderosa, quando as mesmas ideias, o mesmo ardente desejo do bem vos
animam. A força fluídica que vos cerca é considerável, e se, de sua
resistência, o granito vos pode dar ideias, o cristal, em cujas facetas se vem
irisar a luz, poderá fazer-vos perceber-lhe a incomparável pureza. Desde o
menor até o maior, amai; e, em vossos corações, em vossas almas, correrá a
fonte de vida. Sim, é necessário amar ainda, amar sempre, ensinando,
continuando a propagar, em toda a sua grandeza, a filosofia que encerra o
porquê dos destinos humanos. Trabalhai a terra; deixai que nela entre a relha
do poderoso arado do amor e, um dia, as messes louras germinarão ao sol
radiante do futuro. Propagai sem descanso. Propagai amando.” – Eduardo Petit.
Morto a 15 de setembro de 1910, em Paris.
Respostas às questões preliminares
A. Que disse sobre a tragédia do Titanic o Espírito de
William Stead, que foi também uma das vítimas do conhecido naufrágio?
A mensagem de William Stead foi
transmitida no dia 21 de maio de 1912 a Mme. Hervy, em um grupo de Paris.
Segundo ele, a agonia do Titanic teve alguma coisa de horrível, mas também de
sublime. Houve desesperos loucos e manifestações covardes e brutais do egoísmo
humano. Mas, quantos, por outro lado, medindo toda a extensão da coragem, se
sentiram maiores diante da morte, mais nobres e mais santos, mais perto de
Deus! Agonia de centenas de seres, sim, mas agonia que para muitos era a aurora
de um novo dia. (O Além e a Sobrevivência
do Ser.)
B. Na visão de William Stead, quem mais sofreu com o
afundamento do Titanic?
Em sua mensagem William Stead diz que
os que morreram com o naufrágio sofreram, sim, mas pouco, menos do que os que
sobreviveram. É que eles, os escolhidos, já estavam a meio no mundo espiritual,
onde em tudo rebrilha uma vida etérea. A maior amargura, pois, não era a deles,
mas a dos que, presos à matéria, enchiam os barcos de socorro, que os levavam
para continuarem neste mundo a peregrinação da dor, de que ainda não se haviam
libertado. (Obra citada.)
C. Extasiados com a maravilhosa beleza da vida espiritual,
os Espíritos tendem a esquecer seus amigos encarnados na Terra?
De modo nenhum. A vida espiritual, de
maravilhosa beleza, não os faz esquecer seus amigos terrenos. Por felizes que
sejam, por indizíveis que sejam os gozos que os embriaguem, sempre e sem cessar
são eles atraídos para o lugar onde transcorreu sua última existência e para
todos aqueles a quem os unem os laços de uma afeição fraterna. Eles vão até
onde se encontram seus afetos, para repetir, num eco distante, que devemos
esperar e amar acima de tudo, por muito rude, por muito árida que seja a vida.
(Obra citada.)
Observação:
Para acessar a Parte 7 deste estudo,
publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/03/o-alem-e-asobrevivencia-do-ser-leon.html
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