O Além e a
Sobrevivência do Ser
Léon Denis
Parte 7
Damos sequência ao estudo do clássico O Além e a Sobrevivência do Ser, de autoria de Léon Denis, com base na 8ª edição publicada em português pela Federação Espírita Brasileira.
Nosso propósito é que este estudo
sirva para o leitor como uma forma de iniciação ao estudo dos chamados
Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas
encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. O fenômeno relatado pelo Sr.
Montorgueil, no qual o fantasma materializado se desprendeu de suas mãos e
desapareceu, ocorreu realmente ou foi fruto de uma mera alucinação?
B. A ocorrência relatada pelo Sr.
Montorgueil poderia ter causado danos ao médium?
C. Que tipos de Espíritos provocam as
manifestações bulhentas que se dão nas chamadas casas mal-assombradas?
Texto para
leitura
84. Continuando sua narrativa a
propósito de um caso de aparição materializada, o Sr. Montorgueil acrescentou:
“Meu adversário desaparecera. Teria eu
sido o joguete de uma alucinação? Existia prova do contrário: ficara-me na mão,
arrancado da do fantasma, o pano com que me esfregara o rosto. Era o fichu(1)
de uma moça que o escultor trouxera em sua companhia.
Devo salientar que no momento em que a
luz se acendeu de novo e que a mão se desvaneceu, o músico (o médium) caiu de
costas sobre o sofá, soltando um grito, e ficou prostrado, como que aniquilado
por muitos minutos. Posteriormente refleti muitas vezes sobre esse fato.
Procurei verificar se não fôramos todos, eu e meus companheiros, mistificados.
Nada apurei que confirmasse esta suposição. Um argumento aos meus olhos
sobreleva a todos os outros: um ser a quem eu tivesse preso pelo pulso e
subjugado com o braço teria podido escapar-se sem barulho, sem queda, sem
colisão? Desafio a quem quer que seja que o consiga...”.
85. É de notar o contrachoque
experimentado pelo médium. Em outras circunstâncias o fato poderia ser-lhe de
terríveis consequências. Mme. d’Espérance, por efeito de uma aventura da mesma
natureza, ficou gravemente enferma durante muitos anos. Daí toda a conveniência
em não trabalhar senão com pessoas cuja lealdade se conheça, incapazes de, por
estúpidas e inúteis agressões, ferir os médiuns.
86. Às materializações e aparições de
Espíritos, já o vimos, se opõem dificuldades que, forçosamente, lhes limitam o
número. O mesmo não se dá com certos fenômenos de ordem física e de natureza
muito variada, os quais se propagam e se multiplicam cada vez mais em torno de
nós.
87. Vamos examinar sucintamente esses
fatos na sua ordem progressiva, do ponto de vista do interesse que apresentam e
da certeza que deles resulta no tocante à vida livre do Espírito.
88. Em primeira linha vem o fenômeno,
tão vulgarizado hoje, das casas assombradas. São habitações frequentadas por
Espíritos de ordem inferior, que se entregam a manifestações ruidosas.
Pancadas, sons de toda espécie, desde os mais fracos até os mais fortes, abalam
os assoalhos, os móveis, as paredes, até mesmo o ar. A louça é tirada do lugar
e quebrada; pedras são jogadas de fora para dentro de aposentos.
89. Os jornais frequentemente trazem a
descrição de fenômenos deste gênero. Mal cessam em um ponto, se reproduzem
noutros, quer na França, quer no estrangeiro, despertando a atenção pública. Em
alguns lugares hão durado meses inteiros, sem que os mais hábeis policiais
tenham logrado descobrir uma causa humana para as manifestações.
90. Eis o testemunho que o célebre
Lombroso deu a respeito desses fenômenos, em texto publicado na Lettura:
“Os casos de habitações
mal-assombradas observados na ausência de médiuns, habitações em que, durante
anos, se produzem aparições ou ruídos, que coincidem com a narração de mortes
trágicas, militam em favor da ação dos mortos. Trata-se muitas vezes de casas
desabitadas onde tais fenômenos se dão não raro no curso de muitas gerações e
até por séculos.”
91. O Dr. Maxwell, advogado geral na
Corte de Apelação de Bordéus, descobriu sentenças de diversos parlamentos, no
século XVIII, rescindindo contratos de aluguel por causa de assombramentos.
92. O Journal des Débats, em seu número de agosto de 1912, relata o
seguinte:
“O Sr. J. Deuterlander possui em
Chicago, 3.375, South Dakley Avenue, uma casa de aluguel. A comissão
encarregada de lançar o imposto predial entendeu dever taxar esse importante
imóvel tomando por base um aluguel de 12 mil dólares. O Senhor Deuterlander
protestou. Longe de lhe dar lucros, a casa só lhe dava aborrecimentos.
Encontrava as maiores dificuldades para alugá-la em consequência de ser
visitada por almas do outro mundo. Uma senhora ainda jovem lá morrera em
condições misteriosas, provavelmente assassinada, e desde então os outros
locatários são constantemente despertados por gemidos e gritos. Cansados de
suportar esse incômodo, entraram a abandonar o prédio uns após outros. Tal a
razão por que o Sr. Deuterlander pedia uma diminuição da taxa. A comissão,
depois de examinar o caso, deferiu-lhe o pedido, decidindo reduzir de 12 mil
para 8 mil dólares a base para a taxação do imóvel. E assim ficou também
oficialmente reconhecida a existência dos fantasmas.”
93. Lembremos ainda os dois casos de
assombramento verificados em Florença e em Nápoles e que inseri na minha obra No Invisível (capítulo XVI). Os
tribunais, depois de ouvirem numerosas testemunhas, proferiram sentenças nas
quais reconhecem a realidade dos fatos e concluem pela rescisão de contratos de
arrendamento.
94. Todos esses fenômenos devemo-los a
entidades de ínfima ordem, pois os Espíritos elevados não são os únicos que se
manifestam. Aos Espíritos, de qualquer ordem que sejam, agrada entrar em
relação com os homens, desde que encontrem meios. Daí a necessidade de
distinguir-se nas manifestações do Além o que vem do alto do que vem de baixo,
o que emana dos Espíritos de luz do que é produzido por Espíritos atrasados.
95. Há almas de todos os caracteres e
de todos os graus de elevação. Em derredor de nós há mesmo número muito maior
das de condição inferior do que das de condição elevada. Aquelas são as
produtoras dos fenômenos físicos, das manifestações bulhentas, de tudo quanto é
vulgar, manifestações úteis, entretanto, pois que nos trazem o conhecimento de
todo um mundo esquecido.
96. Em minhas obras trato longamente
dos casos de escrita mediúnica e de escrita direta. As mensagens obtidas por
esses processos denotam grande variedade de estilo e são de valor sensivelmente
desigual. Muitas só encerram banalidades; outras, porém, são notáveis pela
beleza da forma e elevação do pensamento.
(1) Fichu [do fr. fichu.]: triângulo
de tecido leve usado pelas mulheres para cobrir os ombros ou a cabeça.
Respostas às questões preliminares
A. O fenômeno relatado pelo Sr. Montorgueil, no qual o
fantasma materializado se desprendeu de suas mãos e desapareceu, ocorreu
realmente ou foi fruto de uma mera alucinação?
Sim, ocorreu realmente, tanto que o "fantasma" desapareceu, mas
ficara nas mãos do depoente o pano com que o Espírito lhe esfregara o rosto.
Deve-se salientar que no momento em que a luz se acendeu e a mão do fantasma se
desvaneceu, o médium caiu de costas sobre o sofá, soltando um grito, e ficou
prostrado, como que aniquilado por muitos minutos. (O Além e a Sobrevivência do Ser.)
B. A ocorrência relatada pelo Sr. Montorgueil poderia ter
causado danos ao médium?
Claro. Deve ter sido enorme o
contrachoque experimentado pelo médium, o qual poderia, em outras
circunstâncias, ser-lhe de terríveis consequências. Mme. d’Espérance, por
efeito de uma aventura da mesma natureza, ficou gravemente enferma durante
muitos anos. Daí toda a conveniência em não trabalhar senão com pessoas cuja
lealdade se conheça, incapazes de, por estúpidas e inúteis agressões, ferir os
médiuns. (Obra citada.)
C. Que tipos de Espíritos provocam as manifestações
bulhentas que se dão nas chamadas casas mal-assombradas?
Esses fenômenos são produzidos por
Espíritos de ínfima ordem. Há almas de todos os caracteres e de todos os graus
de elevação. Em derredor de nós há mesmo número muito maior das de condição inferior.
São elas que produzem, geralmente, os fenômenos físicos, as manifestações
bulhentas e tudo quanto é vulgar, manifestações que, no entanto, são úteis,
pois que nos trazem o conhecimento de todo um mundo esquecido. (Obra citada.)
Observação:
Para acessar a Parte 6 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/02/o-alem-e-asobrevivencia-do-ser-leon_26.html
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