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domingo, 18 de abril de 2021

 



Afinal, quem somos?

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

De Londrina-PR

 

A sociedade terrena encontra-se mergulhada numa situação muito difícil. Não nos referimos aqui tão somente às mortes e aos efeitos econômicos nefastos decorrentes da pandemia da Covid-19, que se apresenta como um fator agravante de algo que já não estava bem.

Com efeito, mesmo antes da pandemia os órgãos de comunicação nos mostravam multidões morrendo à míngua em diversos países do planeta, milhares de famílias vitimadas por flagelos naturais inúmeros, crianças sem lar e sem abrigo, jovens partindo do mundo após um aborto malsucedido, políticos flagrados com o dinheiro da corrupção, números crescentes de violência contra crianças e mulheres, bem como a eterna e insolúvel luta entre traficantes e polícia... e por aí afora.

Se acrescentarmos a isso as tribulações pessoais, veremos mais: o drama dos milhões que se encontram desempregados, os jovens que buscam nas drogas ou no suicídio a solução para os seus dilemas e a falência moral da sociedade contemporânea, que engendra o crime, a violência, a corrupção e o desespero, até mesmo em um país rico como o nosso, onde a população, em sua imensa maioria, se intitula adepta dos ensinamentos de Jesus.

Afinal, quem somos?

Como Allan Kardec escreveu certa vez, se a Humanidade fosse considerada somente pelo ângulo da vida no planeta Terra, poder-se-ia concluir que a espécie humana triste coisa é. Seria como se analisássemos a população de uma grande cidade levando-se em conta somente os enfermos de um hospital ou os detentos de uma penitenciária. Ocorre que a população de uma cidade não se resume aos que vivem nos referidos locais, mas é, sim, a soma de todos os elementos que a compõem: os enfermos, os criminosos, as pessoas sadias, os pobres, os ricos, os idosos, os jovens e as crianças.

Da mesma maneira que em uma penitenciária não se encontra toda a população de uma cidade, a Humanidade não se acha inteiramente na Terra. Os Espíritos do Senhor não pertencem exclusivamente ao nosso orbe. Existem muitas moradas na casa do Pai, conforme Jesus fez questão de revelar. E todas elas são necessárias para que alcancemos a meta a que estamos destinados, ou seja, a perfeição relativa que é possível ao ser humano atingir.

No planeta em que vivemos ocorre o que muitos chamam de estranho paradoxo. O avanço científico extraordinário dos últimos cem anos coincidiu com a eclosão de duas guerras mundiais e com o estado de alerta permanente dos povos que temeram por muito tempo, com razão, o advento de uma terceira grande guerra, que certamente seria a última.

A contradição apontada por alguns é, porém, falsa, porque o planeta sempre esteve envolto em guerras, que têm, infelizmente, marcado a história dos povos.

Como o progresso científico verificado no globo não foi acompanhado de um equivalente progresso moral, tem-se a impressão de que se verifica na Terra um processo de involução ou retrocesso, quando o que ocorre é, efetivamente, uma revolução, derivada dos séculos de tortura, perseguições, exploração e morte. E a finalidade dessa revolução é limpar o terreno para as futuras gerações comprometidas com a paz e a justiça social. Nesse sentido, devemos ter sempre em mente estas palavras de Jesus: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra”. (Cf. Mateus 5:5.)

Nunca será demais repetir que a morte e a reencarnação estabelecem um sistema de trocas entre o plano material e o plano espiritual. A morte leva daqui, todos os dias, as gerações acumpliciadas com a velha ordem. A reencarnação traz de novo à cena os seres que, havendo por aqui passado inúmeras vezes, retornam com novas ideias e ânimo redobrado no sentido de estabelecer o reino de Deus na Terra.

É necessário, contudo, que as ideias materialistas, fortalecidas pelo materialismo dos que se intitulam cristãos, não concorram para o efeito contrário, que seria a destruição em vez da preservação desta morada acolhedora que dá o alimento e o amparo a todos os que a buscam com espírito de tolerância, trabalho e solidariedade.

O estado de fome e penúria em que vivem muitos povos é um fenômeno antes moral que econômico, visto que ninguém ignora que os recursos aplicados na arte da guerra são mais que suficientes para erradicar a miséria e implantar as escolas de que o mundo carece.

Obviamente, não devemos chegar ao ponto de somente mirar as coisas do céu, porque em tudo o meio termo é sinônimo de bom senso. Mas não deixemos que a visão estreita da vida, esse materialismo desenfreado que nos consome, aniquile as possibilidades imensas que se encontram à nossa disposição para o nosso crescimento no rumo do infinito, o qual nos aguarda a todos, queiramos ou não, seja qual for a concepção que tenhamos da vida, a cor da nossa pele ou a crença que ostentamos.

 

 

 

 

 

 

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