Fatos Espíritas
William Crookes
Parte 2
Damos prosseguimento nesta edição ao estudo metódico e sequencial do clássico Fatos Espíritas, de William Crookes, obra publicada em 1874, cujo título no original inglês é Researches in the phenomena of the spiritualism.
Nosso propósito é que este estudo
sirva para o leitor como uma forma de iniciação ao estudo dos chamados
Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas
encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. A que antagonismo se refere William Crookes quando
atesta sua convicção a propósito da realidade dos fenômenos por ele observados?
B. Quanto tempo Crookes dedicou às pesquisas dos fenômenos
espíritas?
C. A escuridão é condição essencial à produção dos
fenômenos espíritas?
Texto para
leitura
20. Fenômenos espíritas observados por William Crookes – "Assim como um
viajante que explora um país longínquo, cujas maravilhas não fossem até então
conhecidas senão por notícias e contos de caráter vago e pouco exato, assim,
desde quatro anos, procedo assiduamente a pesquisas em uma região das ciências
naturais que oferece ao homem de ciência um solo quase virgem." É assim – neste
e nos relatos seguintes – que William Crookes expõe os fatos
espíritas por ele observados ao longo de quatro anos.
21. Do mesmo modo que o viajante
percebe, nos fenômenos naturais de que pode ser testemunha, a ação das forças
governadas por leis naturais, onde outros não veem senão a intervenção
caprichosa de deuses ofendidos, assim me esforcei por esboçar a operação das
leis e das forças da natureza onde outros não têm visto mais que a ação de
seres sobrenaturais, sem dependência de qualquer lei e sem obediência a
qualquer força senão a da sua livre vontade.
22. O viajante, nas suas excursões
longínquas, depende inteiramente da boa vontade e da proteção dos chefes e dos
que exercem a medicina no meio das tribos entre as quais para; igualmente, nas
minhas pesquisas, não somente recebi em grau assinalado o auxílio dos que
possuíam os poderes especiais, que eu procurava examinar, mas ainda contraí
sólidas e sérias amizades com muitos homens, reputados diretores de opinião, e
deles recebi a hospitalidade.
23. Como o viajante envia a seu país,
quando acha ocasião para isso, uma narração concisa dos seus progressos,
narração que é recebida muitas vezes com a incredulidade ou a zombaria, porque
necessariamente essa narração não tem nenhuma ligação com tudo o que lhe pôde
dar origem; também, em duas ocasiões, reuni e publiquei fatos que me pareciam
admiráveis e precisos, mas tendo deixado de descrever as suas fases preliminares
– o que teria sido necessário para conduzir o espírito público à apreciação do
fenômeno e para mostrar que ele se ligava a outros fatos observados –, esses
fatos também não somente encontraram a incredulidade, mas ainda deram origem a
muitas apreciações malévolas.
24. Enfim, como o viajante que, tendo
terminado as suas explorações, volta aos seus antigos colaboradores e reúne
todas as suas notas, classifica-as e as põe em ordem a fim de dar ao público
uma narração encadeada, chegando ao termo dessa investigação, classifiquei e
reuni todas as minhas observações espalhadas, para apresentá-las ao público sob
a forma de um volume.
25. Os diversos fenômenos que venho
atestar são tão extraordinários e tão inteiramente opostos aos mais enraizados
pontos do credo científico – entre outros a universal e invariável ação da
força de gravitação –, que mesmo agora, recordando-me dos detalhes de que fui
testemunha, há antagonismo em meu espírito entre minha razão, que diz ser isso
cientificamente impossível, e o testemunho de meus sentidos da vista e do tato,
testemunho corroborado pelos sentidos de todas as pessoas presentes – que me
dizem não serem testemunhos mentirosos, visto que eles depõem contra as minhas
ideias preconcebidas.
26. Supor que uma espécie de loucura
ou de ilusão vem dominar subitamente um grupo de pessoas inteligentes e
sensatas, que estão de acordo sobre as menores particularidades e detalhes dos
fatos de que são testemunhas, parece-me mais incrível do que os próprios fatos
que eles atestam.
27. O assunto é muito mais difícil e
mais vasto do que parece. Há cerca de quatro anos tive a intenção de consagrar
um ou dois meses somente ao trabalho de certificar-me se certos fatos
maravilhosos, dos quais eu tinha ouvido falar, poderiam sustentar a prova de um
exame rigoroso. Mas, tendo logo chegado à mesma conclusão, como todo
pesquisador imparcial, isto é, que “havia alguma coisa aí”, não podia mais, eu,
estudante das leis da natureza, recusar-me a continuar nessas pesquisas,
qualquer que fosse o ponto a que elas me pudessem conduzir. Foi assim que
alguns meses se tornaram em alguns anos e, se eu pudesse dispor de todo o meu
tempo, é possível que as experiências ainda prosseguissem.
28. Outros assuntos, porém, de
interesse científico e prático reclamam agora a minha atenção; e como não posso
consagrar a tais pesquisas o tempo que seria preciso e que mereceriam; como
tenho plena confiança que daqui a alguns anos os homens de ciência estudarão
esse assunto; como as ocasiões que possuo não são tão propícias quanto o era há
algum tempo, porque então o Sr. Daniel Home gozava boa saúde, a Srta. Kate Fox
(agora a Sra. Jencken) não estava absorvida pelas suas ocupações domésticas e
maternas; por todos esses motivos, vejo-me obrigado a suspender, neste momento,
as minhas investigações.
29. Para obter franco acesso junto às
pessoas plenamente dotadas da faculdade sobre as quais se baseiam as minhas
experiências, era preciso um crédito maior do que aquele de que um investigador
científico pode dispor.
30. Para os seus adeptos mais
convencidos, o Espiritismo é uma religião. Os médiuns, em muitos casos, membros
da família, são guardados com grande cuidado, o que só com dificuldade um
estranho compreenderia. Crendo seriamente e conscienciosamente na verdade de certas
doutrinas que repousam sobre o que se lhes afigura como manifestações
miraculosas, esses adeptos parecem acreditar que a presença de um investigador
científico é uma profanação do santuário.
31. Por favor pessoal, fui admitido
mais de uma vez a assistir a reuniões que ofereciam antes o aspecto de uma
cerimônia religiosa do que de uma sessão de Espiritismo. Mas ser admitido, por
favor, uma ou duas vezes, como um estranho teria sido autorizado a assistir aos
mistérios d'Elêusis, ou um pagão a contemplar o santo dos santos, não é o meio
de confirmar os fatos e descobrir-lhes as leis. Satisfazer a curiosidade é bem
diferente do proceder a uma busca sistemática. Quanto a mim, procuro sempre a
verdade.
32. Em algumas ocasiões me permitiram,
é certo, fazer verificações e impor condições; mas somente uma ou duas vezes me
foi possível fazer sair a sacerdotisa do seu santuário e, em minha própria
casa, rodeado de amigos, aproveitar a ocasião de pôr à prova os fenômenos dos
quais fui testemunha em outros lugares, em condições menos concludentes.
33. Seguindo o plano que adotei em
outras circunstâncias – plano que, embora contrariando muito as ideias
preconcebidas de certos críticos, me parecia, por boas razões, aceitável aos
leitores do Quartely Journal of Science –,
tinha eu a intenção de apresentar os resultados de meu trabalho sob a forma de
um ou dois artigos para esse jornal. Mas, revendo as minhas notas, achei tal
riqueza de fatos, tal superabundância de provas, tão esmagadora massa de
testemunhos, que, para as pôr todas em ordem, era preciso encher vários números
do Quartely. É mister, pois, que
atualmente me limite a dar um esboço dos meus trabalhos, reservando para outra
ocasião as provas e os detalhes mais amplos.
34. O meu fim principal será, pois,
fazer conhecer a série das manifestações que se produziram em minha casa, em
presença de testemunhas dignas de fé e sob as condições dos mais severos exames
que pude imaginar. Ademais, cada fato que observei é corroborado por pessoas
independentes, que o observaram em outros tempos e em outros lugares. Ver-se-á
que todos esses fatos têm o caráter mais surpreendente e que parecem
inteiramente inconciliáveis com todas as teorias conhecidas da ciência moderna.
35. Tendo-me assegurado da sua
realidade, seria uma covardia moral negar-lhes o meu testemunho, só porque as
minhas publicações precedentes foram ridicularizadas por críticos e outras
pessoas que nada em absoluto conheciam do assunto e que supunham ter bastante
critério para ver e julgar por si mesmas se esses fenômenos eram ou não
verdadeiros.
36. Direi simplesmente tudo o que vi e
o que me foi provado por experiências repetidas e verificadas, e tenho ainda
necessidade de que me demonstrem não ser razoável esforçar-se uma pessoa por
descobrir as causas de fenômenos inexplicados.
37. Primeiro que tudo devo retificar
um ou dois erros que se acham implantados profundamente no espírito público.
Um, o de ser a escuridão essencial à produção dos fenômenos. Isso não é exato.
Exceto alguns casos nos quais a escuridão tem sido uma condição indispensável,
como, por exemplo, nos fenômenos de aparições luminosas e em alguns outros,
tudo o que narro produziu-se à luz.
38. Nos poucos casos em que os
fenômenos descritos foram produzidos na escuridão, tive muito cuidado de os
mencionar; ademais, quando alguma razão particular exigia a extinção da luz, os
resultados que se manifestaram estiveram em condições de controle tão perfeitos
que a supressão de um dos nossos sentidos não pôde realmente enfraquecer a
prova fornecida.
Respostas às
questões preliminares
A. A que antagonismo se refere William Crookes quando
atesta sua convicção a propósito da realidade dos fenômenos por ele observados?
Segundo Crookes, os diversos fenômenos
que pôde presenciar são tão extraordinários e tão inteiramente opostos aos mais
enraizados pontos do credo científico, que, ao recordar-se dos detalhes de que
fora testemunha, havia um antagonismo em seu espírito entre a razão, que dizia
ser isso cientificamente impossível, e o testemunho de seus sentidos da vista e
do tato, testemunho corroborado pelos sentidos de todas as pessoas presentes,
circunstância que lhe diz não serem testemunhos mentirosos, visto que depõem
contra suas próprias ideias preconcebidas. (Fatos
Espíritas – Fenômenos espíritas
observados por William Crookes.)
B. Quanto tempo Crookes dedicou às pesquisas dos fenômenos
espíritas?
Cerca de quatro anos, embora a ideia
inicial fosse consagrar ao trabalho um ou dois meses somente. Tendo, porém,
chegado à conclusão, como todo pesquisador imparcial, de que havia alguma coisa
ali, não pôde recusar-se a continuar nessas pesquisas, qualquer que fosse o
ponto a que elas pudessem conduzi-lo. Foi assim que alguns meses se tornaram em
alguns anos e, se ele pudesse dispor de mais tempo, é possível que as
experiências ainda prosseguissem. (Obra citada – Fenômenos espíritas observados
por William Crookes.)
C. A escuridão é condição essencial à produção dos
fenômenos espíritas?
Não. A escuridão não é essencial à
produção dos fenômenos, exceto em alguns casos, como, por exemplo, nos
fenômenos de aparições luminosas. Mas, nos poucos casos em que os fenômenos
descritos foram produzidos na escuridão, teve ele o cuidado de assegurar que as
condições de controle fossem rigorosas, para que a supressão de um dos sentidos
– a visão – não viesse enfraquecer a prova fornecida. (Obra citada – Fenômenos
espíritas observados por William Crookes.)
Observação:
Para acessar a 1ª Parte deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/05/fatos-espiritas-william-crookes-parte-1.html
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