A Gênese
Allan Kardec
Parte 1
Iniciamos hoje o estudo metódico do livro “A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, com base na 36ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira, conforme tradução feita por Guillon Ribeiro.
Este estudo será publicado sempre às
quintas-feiras.
Eis as questões de hoje:
1. Qual o caráter
essencial da doutrina espírita?
Generalidade e concordância no ensino, esse o caráter essencial da
doutrina, a condição mesma da sua existência, donde resulta que todo princípio
que ainda não haja recebido a consagração do controle da generalidade não pode
ser considerado parte integrante dessa mesma doutrina. Será uma simples opinião
isolada, da qual não pode o Espiritismo assumir a responsabilidade. Essa
coletividade concordante da opinião dos Espíritos, passada, ademais, pelo
critério da lógica, é que constitui a força da doutrina espírita e lhe assegura
a perpetuidade. Para que ela mudasse, seria preciso que a universalidade dos
Espíritos mudasse de opinião e viesse um dia dizer o contrário do que dissera.
Pois que ela tem sua fonte de origem no ensino dos Espíritos, para que
sucumbisse seria necessário que os Espíritos deixassem de existir. É também
isso que fará que prevaleça sobre todos os sistemas pessoais cujas raízes não
se encontrem por toda parte. (A Gênese,
Introdução.)
2. Qual o sentido da
palavra revelação?
Revelar, do latim revelare,
cuja raiz é velum, véu, significa
literalmente sair de sob o véu e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma
coisa secreta ou desconhecida. Em sua acepção vulgar e genérica, essa palavra
se emprega a respeito de qualquer coisa ignota que é divulgada, de qualquer
ideia nova que nos põe ao corrente do que não sabíamos. Deste ponto de vista,
todas as ciências que nos fazem conhecer os mistérios da Natureza são
revelações e pode dizer-se que há para a Humanidade uma revelação incessante. A
Astronomia revelou o mundo astral, que não conhecíamos; a Geologia revelou a
formação da Terra; a Química, a lei das afinidades; a Fisiologia, as funções do
organismo etc. Copérnico, Galileu, Newton, Laplace, Lavoisier foram
reveladores. A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a
verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um
fato e, por consequência, não existe revelação. (Obra citada, cap. I, itens 2 e
3.)
3. Que características
apresentam os homens de gênio e donde eles vêm?
Os homens de gênio denotam, ao nascer, faculdades transcendentes e alguns
conhecimentos inatos que com pouco trabalho desenvolvem. Onde, porém,
adquiriram esses conhecimentos que não puderam aprender durante a vida? A única
solução racional do problema está na preexistência da alma e na pluralidade das
existências. O homem de gênio é um Espírito que tem vivido mais tempo; que, por
conseguinte, adquiriu e progrediu mais do que aqueles que estão menos
adiantados. Encarnando, traz o que sabe e, como sabe muito mais do que os
outros e não precisa aprender, é chamado homem de gênio. Mas seu saber é fruto
de um trabalho anterior e não resultado de um privilégio. Antes de renascer,
era ele, pois, Espírito adiantado: reencarna para fazer que os outros
aproveitem do que já sabe, ou para adquirir mais do que possui. (Obra citada,
cap. I, itens 5 e 6.)
4. Que é revelação no
sentido especial da fé religiosa?
No sentido especial da fé religiosa, a revelação diz respeito mais às
coisas espirituais que o homem não pode descobrir por meio da inteligência, nem
com o auxílio dos sentidos e cujo conhecimento lhe é dado por Deus ou seus
mensageiros, quer por meio da palavra direta, quer pela inspiração. Nesse caso,
a revelação é sempre feita a homens predispostos, designados sob o nome de
profetas ou messias, isto é, enviados ou missionários incumbidos de
transmiti-la aos homens. (Obra citada, cap. I, itens 7 e 8.)
5. As revelações podem
emanar diretamente de Deus?
Diz Kardec que não temos condições de responder, nem afirmativamente, nem
negativamente, a esta questão. O fato não é radicalmente impossível, mas nada
nos dá dele uma prova certa. O que não padece dúvida é que os Espíritos mais
próximos de Deus pela perfeição se imbuem do seu pensamento e podem
transmiti-lo. Quanto aos reveladores encarnados, segundo a ordem hierárquica a
que pertencem e o grau a que chegaram de saber, esses podem tirar dos seus
próprios conhecimentos as instruções que ministram, ou recebê-las de Espíritos
mais elevados, até mesmo dos mensageiros diretos de Deus, os quais, falando em
nome de Deus, têm sido às vezes tomados pelo próprio Deus. (Obra citada, cap.
I, itens 9 e 10.)
6. Qual o caráter da
revelação espírita?
A revelação espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da
revelação divina e da revelação científica. Participa da primeira porque foi
providencial o seu aparecimento e não o resultado da iniciativa do homem, visto
que os pontos fundamentais da doutrina provêm do ensino que deram os Espíritos
encarregados por Deus de esclarecer os homens acerca de coisas que eles
ignoravam. Participa da segunda, por não ser esse ensino privilégio de
indivíduo algum, mas ministrado a todos do mesmo modo, e porque os que o
transmitem e os que o recebem não são seres passivos, dispensados do trabalho
da observação e da pesquisa. Segundo Kardec, a doutrina não foi ditada
completa, nem imposta à crença cega, mas sim deduzida – pelo trabalho do homem
– da observação dos fatos que os Espíritos lhe põem sob os olhos e das
instruções que lhe dão, instruções que ele estuda, comenta, compara, a fim de
tirar ele próprio as ilações e aplicações. Resumindo, o que caracteriza a
revelação espírita é ser divina sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo
sua elaboração fruto do trabalho do homem. (Obra citada, cap. I, itens 12 e
13.)
7. Como foi elaborada a
doutrina espírita?
Como meio de elaboração, o Espiritismo procedeu da mesma forma que as
ciências positivas, aplicando o método experimental. Fatos novos se
apresentavam que não podiam ser explicados pelas leis conhecidas; ele os
observou, comparou, analisou e, remontando dos efeitos às causas, chegou à lei
que os rege; depois, deduziu-lhes as consequências e buscou suas aplicações.
Não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não apresentou como
hipóteses a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a
reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina. Concluiu pela existência
dos Espíritos quando essa existência ressaltou evidente da observação dos
fatos, procedendo de igual maneira quanto aos outros princípios. Não foram os
fatos que vieram a posteriori confirmar a teoria: a teoria é que veio
subsequentemente explicar e resumir os fatos.
Eis um exemplo: Ocorre no mundo dos Espíritos um fato muito singular, de
que seguramente ninguém houvera suspeitado: o de haver Espíritos que não se
consideram mortos. Pois bem, os Espíritos superiores, que conhecem
perfeitamente esse fato, não vieram dizer antecipadamente: «Há Espíritos que
julgam viver ainda a vida terrestre, que conservam seus gostos, costumes e
instintos». Eles provocaram a manifestação de Espíritos dessa categoria para
que os observássemos. Tendo-se visto Espíritos incertos quanto ao seu estado ou
afirmando ainda serem deste mundo, julgando-se aplicados às suas ocupações
ordinárias, deduziu-se a regra. A multiplicidade de fatos análogos demonstrou
que o caso não era excepcional, que constituía uma das fases da vida espírita.
Pôde-se então estudar todas as variedades e as causas de tão singular ilusão, e
verificar que tal situação é, sobretudo, própria de Espíritos pouco adiantados
moralmente e peculiar a certos gêneros de morte, mas sempre temporária, podendo
durar horas, dias, semanas, meses e anos. Foi assim que a teoria nasceu da
observação. O mesmo se deu com relação a todos os outros princípios da
doutrina. (Obra citada, cap. I, itens 14 e 15. Veja ainda os itens 49, 50, 51 e
52.)
8. Pode-se dizer que o
Espiritismo é consequência direta da doutrina cristã?
Segundo Allan Kardec, sim. Partindo das próprias palavras do Cristo, como
este partiu das de Moisés, o Espiritismo é consequência direta da sua doutrina.
À ideia vaga da vida futura acrescenta a revelação da existência do mundo
invisível que nos rodeia e povoa o espaço, e com isso torna precisa a crença,
dá-lhe um corpo, uma consistência e uma realidade à ideia. Define os laços que
unem a alma ao corpo e levanta o véu que ocultava aos homens os mistérios do
nascimento e da morte. Pelo Espiritismo, o homem sabe donde vem, para onde vai,
por que está na Terra, por que sofre temporariamente e vê por toda parte a
justiça de Deus. (Obra citada, cap. I, itens 20 a 23. Veja também o item 30.)
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