quinta-feira, 15 de julho de 2021

 



A Gênese

 

Allan Kardec

 

Parte 1

 

Iniciamos hoje o estudo metódico do livro “A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, com base na 36ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira, conforme tradução feita por Guillon Ribeiro.

Este estudo será publicado sempre às quintas-feiras.

Eis as questões de hoje:

 

1. Qual o caráter essencial da doutrina espírita? 

Generalidade e concordância no ensino, esse o caráter essencial da doutrina, a condição mesma da sua existência, donde resulta que todo princípio que ainda não haja recebido a consagração do controle da generalidade não pode ser considerado parte integrante dessa mesma doutrina. Será uma simples opinião isolada, da qual não pode o Espiritismo assumir a responsabilidade. Essa coletividade concordante da opinião dos Espíritos, passada, ademais, pelo critério da lógica, é que constitui a força da doutrina espírita e lhe assegura a perpetuidade. Para que ela mudasse, seria preciso que a universalidade dos Espíritos mudasse de opinião e viesse um dia dizer o contrário do que dissera. Pois que ela tem sua fonte de origem no ensino dos Espíritos, para que sucumbisse seria necessário que os Espíritos deixassem de existir. É também isso que fará que prevaleça sobre todos os sistemas pessoais cujas raízes não se encontrem por toda parte. (A Gênese, Introdução.)

2. Qual o sentido da palavra revelação?

Revelar, do latim revelare, cuja raiz é velum, véu, significa literalmente sair de sob o véu e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. Em sua acepção vulgar e genérica, essa palavra se emprega a respeito de qualquer coisa ignota que é divulgada, de qualquer ideia nova que nos põe ao corrente do que não sabíamos. Deste ponto de vista, todas as ciências que nos fazem conhecer os mistérios da Natureza são revelações e pode dizer-se que há para a Humanidade uma revelação incessante. A Astronomia revelou o mundo astral, que não conhecíamos; a Geologia revelou a formação da Terra; a Química, a lei das afinidades; a Fisiologia, as funções do organismo etc. Copérnico, Galileu, Newton, Laplace, Lavoisier foram reveladores. A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um fato e, por consequência, não existe revelação. (Obra citada, cap. I, itens 2 e 3.)

3. Que características apresentam os homens de gênio e donde eles vêm?

Os homens de gênio denotam, ao nascer, faculdades transcendentes e alguns conhecimentos inatos que com pouco trabalho desenvolvem. Onde, porém, adquiriram esses conhecimentos que não puderam aprender durante a vida? A única solução racional do problema está na preexistência da alma e na pluralidade das existências. O homem de gênio é um Espírito que tem vivido mais tempo; que, por conseguinte, adquiriu e progrediu mais do que aqueles que estão menos adiantados. Encarnando, traz o que sabe e, como sabe muito mais do que os outros e não precisa aprender, é chamado homem de gênio. Mas seu saber é fruto de um trabalho anterior e não resultado de um privilégio. Antes de renascer, era ele, pois, Espírito adiantado: reencarna para fazer que os outros aproveitem do que já sabe, ou para adquirir mais do que possui. (Obra citada, cap. I, itens 5 e 6.)

4. Que é revelação no sentido especial da fé religiosa? 

No sentido especial da fé religiosa, a revelação diz respeito mais às coisas espirituais que o homem não pode descobrir por meio da inteligência, nem com o auxílio dos sentidos e cujo conhecimento lhe é dado por Deus ou seus mensageiros, quer por meio da palavra direta, quer pela inspiração. Nesse caso, a revelação é sempre feita a homens predispostos, designados sob o nome de profetas ou messias, isto é, enviados ou missionários incumbidos de transmiti-la aos homens. (Obra citada, cap. I, itens 7 e 8.)

5. As revelações podem emanar diretamente de Deus? 

Diz Kardec que não temos condições de responder, nem afirmativamente, nem negativamente, a esta questão. O fato não é radicalmente impossível, mas nada nos dá dele uma prova certa. O que não padece dúvida é que os Espíritos mais próximos de Deus pela perfeição se imbuem do seu pensamento e podem transmiti-lo. Quanto aos reveladores encarnados, segundo a ordem hierárquica a que pertencem e o grau a que chegaram de saber, esses podem tirar dos seus próprios conhecimentos as instruções que ministram, ou recebê-las de Espíritos mais elevados, até mesmo dos mensageiros diretos de Deus, os quais, falando em nome de Deus, têm sido às vezes tomados pelo próprio Deus. (Obra citada, cap. I, itens 9 e 10.)

6. Qual o caráter da revelação espírita? 

A revelação espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica. Participa da primeira porque foi providencial o seu aparecimento e não o resultado da iniciativa do homem, visto que os pontos fundamentais da doutrina provêm do ensino que deram os Espíritos encarregados por Deus de esclarecer os homens acerca de coisas que eles ignoravam. Participa da segunda, por não ser esse ensino privilégio de indivíduo algum, mas ministrado a todos do mesmo modo, e porque os que o transmitem e os que o recebem não são seres passivos, dispensados do trabalho da observação e da pesquisa. Segundo Kardec, a doutrina não foi ditada completa, nem imposta à crença cega, mas sim deduzida – pelo trabalho do homem – da observação dos fatos que os Espíritos lhe põem sob os olhos e das instruções que lhe dão, instruções que ele estuda, comenta, compara, a fim de tirar ele próprio as ilações e aplicações. Resumindo, o que caracteriza a revelação espírita é ser divina sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo sua elaboração fruto do trabalho do homem. (Obra citada, cap. I, itens 12 e 13.)

7. Como foi elaborada a doutrina espírita? 

Como meio de elaboração, o Espiritismo procedeu da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental. Fatos novos se apresentavam que não podiam ser explicados pelas leis conhecidas; ele os observou, comparou, analisou e, remontando dos efeitos às causas, chegou à lei que os rege; depois, deduziu-lhes as consequências e buscou suas aplicações. Não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não apresentou como hipóteses a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina. Concluiu pela existência dos Espíritos quando essa existência ressaltou evidente da observação dos fatos, procedendo de igual maneira quanto aos outros princípios. Não foram os fatos que vieram a posteriori confirmar a teoria: a teoria é que veio subsequentemente explicar e resumir os fatos.

Eis um exemplo: Ocorre no mundo dos Espíritos um fato muito singular, de que seguramente ninguém houvera suspeitado: o de haver Espíritos que não se consideram mortos. Pois bem, os Espíritos superiores, que conhecem perfeitamente esse fato, não vieram dizer antecipadamente: «Há Espíritos que julgam viver ainda a vida terrestre, que conservam seus gostos, costumes e instintos». Eles provocaram a manifestação de Espíritos dessa categoria para que os observássemos. Tendo-se visto Espíritos incertos quanto ao seu estado ou afirmando ainda serem deste mundo, julgando-se aplicados às suas ocupações ordinárias, deduziu-se a regra. A multiplicidade de fatos análogos demonstrou que o caso não era excepcional, que constituía uma das fases da vida espírita. Pôde-se então estudar todas as variedades e as causas de tão singular ilusão, e verificar que tal situação é, sobretudo, própria de Espíritos pouco adiantados moralmente e peculiar a certos gêneros de morte, mas sempre temporária, podendo durar horas, dias, semanas, meses e anos. Foi assim que a teoria nasceu da observação. O mesmo se deu com relação a todos os outros princípios da doutrina. (Obra citada, cap. I, itens 14 e 15. Veja ainda os itens 49, 50, 51 e 52.)

8. Pode-se dizer que o Espiritismo é consequência direta da doutrina cristã?

Segundo Allan Kardec, sim. Partindo das próprias palavras do Cristo, como este partiu das de Moisés, o Espiritismo é consequência direta da sua doutrina. À ideia vaga da vida futura acrescenta a revelação da existência do mundo invisível que nos rodeia e povoa o espaço, e com isso torna precisa a crença, dá-lhe um corpo, uma consistência e uma realidade à ideia. Define os laços que unem a alma ao corpo e levanta o véu que ocultava aos homens os mistérios do nascimento e da morte. Pelo Espiritismo, o homem sabe donde vem, para onde vai, por que está na Terra, por que sofre temporariamente e vê por toda parte a justiça de Deus. (Obra citada, cap. I, itens 20 a 23. Veja também o item 30.)

 

 

 

 

 

Como consultar as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/ZCUsF8, e verá como utilizá-lo.

 

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário