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sábado, 3 de julho de 2021



 Os poetas "mortos" estão vivos

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília-DF

           

Estive pensando sobre o que escrever e encontrei em minha modesta estante de livros espíritas a inspiração para escrever esta crônica. Ela está na obra de Lamartine Palhano Júnior e Dalva Silva Souza: A imortalidade dos poetas "mortos".

A obra é tese que foi aprovada para publicação pela Fundação Espírito-Santense de Pesquisa Espírita. Sua "contribuição ao estudo da sobrevivência da alma após a morte", assim como a possibilidade da "comunicabilidade dos Espíritos com o mundo corpóreo", é "evidente", de acordo com o que é informado por essa instituição na folha de rosto do livro.

Os sonetos atribuídos ao Espírito Cruz e Sousa, já publicados por mim em análises passadas, estão contidos nas páginas 155 a 170 do livro. Todos eles foram psicografados por oito médiuns: Chico Xavier, Waldo Vieira, Dolores Bacelar, Ismael Gomes Braga, Porto Carreiro Neto, Hernani T. Sant'Ana, Gilberto Campista Guarino e Dora Incontri. Sucinta biografia desses médiuns, que atesta sua idoneidade moral e altíssima formação intelectual, é colocada antes de cada produção mediúnica.

Revendo a obra, percebo que o estudo feito pelo prof. dr. Palhano Júnior e pela professora Dalva, ambos com destacada atuação no magistério e em instituições espíritas, é digno de ser lido e discutido no ensino da literatura, quando se trata de estudar a literatura espírita, nas instituições religiosas e científico-culturais.

Além de Cruz e Sousa, a obra contém produções poéticas de alguns espíritos de nacionalidade brasileira e portuguesa. Alguns são pouco conhecidos e outros têm renome internacional, tais como: Antero de Quental, Augusto dos Anjos, Castro Alves, João de Deus e Olavo Bilac.

Como bem esclarecem os organizadores da obra, os estilos individuais, com suas particularidades a identificarem a autoria dos poemas, estão neles manifestos. Como não poderia deixar de ser, também podemos identificar nos poemas as características próprias do estilo de época. Os autores fazem uma análise lúcida e bem fundamentada da obra, tanto da teoria espírita quanto da não espírita.

Pelo seu estilo inconfundível, concluo com a citação de um poema atribuído ao Espírito Augusto dos Anjos, recebido pela médium Dolores Bacelar. Entretanto, ainda se encontram no livro sonetos desse poeta psicografados por Chico Xavier, Waldo Vieira, Jorge Rizzini, Hernani Sant'Ana, Gilberto Campista Guarino e Dora Incontri. Vamos ao soneto transmitido a Bacelar por Augusto dos Anjos:

 

Fui


Fui o absconso ser de alma escravizada

Aos distúrbios mentais da hipocondria,

Que desde a espermatose, a embriogenia,

Sentia a ânsia da carne já tarada.

 

Que ao devolver o escasso corpo ao nada,

Resto podre de nata idiopatia,

Viu que a Flama da vida persistia

Independente da carne estagnada.

 

Que essa Flama aspirando à Luz sidérea,

Desce à lama, à carne deletéria,

Sofre o espasmo da morte transitória.

 

Para do Eu extirpar todo o excremento,

E após divinizado o Sentimento,

Atingir a Perfeição, o Céu, a Glória.

 

Para quem, como eu, que gosto de escrever soneto, mas conheço a dificuldade de criar um poema de estrutura fixa perfeita, qual ocorre neste, é impressionante o que acontece. A não ser que a pessoa haja preparado antes e decorado o soneto acima, o que não é o caso de Dolores Bacelar e demais médiuns citados, é impossível que, em poucos minutos, por vezes segundos, alguém produza algo assim. Creio mesmo que, em vida, o próprio Augusto dos Anjos não conseguiria tal proeza.

O soneto foi psicografado à vista de várias pessoas presentes, na Cabana de Canagé, Rio de Janeiro, em 16 de abril de 1953.

 

Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 

 

 

 

 

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