Os poetas "mortos" estão vivos
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Estive
pensando sobre o que escrever e encontrei em minha modesta estante de livros
espíritas a inspiração para escrever esta crônica. Ela está na obra de
Lamartine Palhano Júnior e Dalva Silva Souza: A imortalidade dos poetas
"mortos".
A
obra é tese que foi aprovada para publicação pela Fundação Espírito-Santense de
Pesquisa Espírita. Sua "contribuição ao estudo da sobrevivência da alma
após a morte", assim como a possibilidade da "comunicabilidade dos
Espíritos com o mundo corpóreo",
é "evidente", de acordo com o que é informado por essa instituição na
folha de rosto do livro.
Os
sonetos atribuídos ao Espírito Cruz e Sousa, já publicados por mim em análises
passadas, estão contidos nas páginas 155 a 170 do livro. Todos eles foram
psicografados por oito médiuns: Chico Xavier, Waldo Vieira, Dolores Bacelar,
Ismael Gomes Braga, Porto Carreiro Neto, Hernani T. Sant'Ana, Gilberto Campista
Guarino e Dora Incontri. Sucinta biografia desses médiuns, que atesta sua
idoneidade moral e altíssima formação intelectual, é colocada antes de cada
produção mediúnica.
Revendo
a obra, percebo que o estudo
feito pelo prof. dr. Palhano Júnior e pela professora Dalva, ambos com
destacada atuação no magistério e em instituições espíritas, é digno de ser
lido e discutido no ensino da literatura, quando se trata de estudar a
literatura espírita, nas instituições religiosas e científico-culturais.
Além
de Cruz e Sousa, a obra contém produções poéticas de alguns espíritos de
nacionalidade brasileira e portuguesa. Alguns são pouco conhecidos e outros têm
renome internacional, tais como: Antero de Quental, Augusto dos Anjos, Castro
Alves, João de Deus e Olavo Bilac.
Como
bem esclarecem os organizadores da obra, os estilos individuais, com suas
particularidades a identificarem a autoria dos poemas, estão neles manifestos. Como não poderia deixar de ser,
também podemos identificar nos poemas as características próprias do estilo de
época. Os autores fazem uma análise lúcida e bem fundamentada da obra, tanto da
teoria espírita quanto da não espírita.
Pelo
seu estilo inconfundível, concluo com a citação de um poema atribuído ao
Espírito Augusto dos Anjos, recebido pela
médium Dolores Bacelar. Entretanto, ainda se encontram no livro sonetos desse
poeta psicografados por Chico Xavier, Waldo Vieira, Jorge Rizzini, Hernani
Sant'Ana, Gilberto Campista Guarino e Dora Incontri. Vamos ao soneto
transmitido a Bacelar por Augusto dos Anjos:
Fui
Fui
o absconso ser de alma escravizada
Aos
distúrbios mentais da hipocondria,
Que
desde a espermatose, a embriogenia,
Sentia
a ânsia da carne já tarada.
Que
ao devolver o escasso corpo ao nada,
Resto
podre de nata idiopatia,
Viu
que a Flama da vida persistia
Independente
da carne estagnada.
Que
essa Flama aspirando à Luz sidérea,
Desce
à lama, à carne deletéria,
Sofre
o espasmo da morte transitória.
Para
do Eu extirpar todo o excremento,
E
após divinizado o Sentimento,
Atingir
a Perfeição, o Céu, a Glória.
Para
quem, como eu, que gosto de escrever soneto, mas conheço a dificuldade de criar
um poema de estrutura fixa perfeita, qual ocorre neste, é impressionante o que
acontece. A não ser que a pessoa haja preparado antes e decorado o soneto
acima, o que não é o caso de Dolores Bacelar e demais médiuns citados, é
impossível que, em poucos minutos, por vezes segundos, alguém produza algo
assim. Creio mesmo que, em vida, o próprio Augusto dos Anjos não conseguiria
tal proeza.
O
soneto foi psicografado à vista de várias pessoas presentes, na Cabana de
Canagé, Rio de Janeiro, em 16 de abril de 1953.
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