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quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

 



A Gênese

 

Allan Kardec

 

Parte 21

 

Continuamos o estudo metódico do livro “A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 36ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira, conforme tradução feita por Guillon Ribeiro.

Este estudo é publicado sempre às quintas-feiras.

Eis as questões de hoje:

 

161. Qual foi, segundo Kardec, o maior milagre operado por Jesus?

O maior milagre que Jesus operou, e que verdadeiramente atesta a sua superioridade, foi a revolução que seus ensinos produziram no mundo, malgrado a exiguidade dos seus meios de ação. Com efeito, Jesus, obscuro, pobre, nascido na mais humilde condição, no seio de um povo pequenino, quase ignorado e sem preponderância política, artística ou literária, apenas durante três anos prega a sua doutrina; em todo esse curto espaço de tempo é desatendido e perseguido pelos seus concidadãos; vê-se obrigado a fugir para não ser lapidado; é traído por um de seus apóstolos, renegado por outro, abandonado por todos no momento em que cai nas mãos de seus inimigos. Só fazia o bem e isso não o punha ao abrigo da malevolência, que dos próprios serviços que ele prestava tirava motivos para o acusar.

Nada escreveu; entretanto, ajudado por alguns homens tão obscuros quanto ele, sua palavra bastou para regenerar o mundo; sua doutrina matou o paganismo onipotente e se tornou o facho da civilização. Tinha contra si tudo o que causa o malogro das obras dos homens, razão por que dizemos que o triunfo alcançado pela sua doutrina foi o maior dos seus milagres, ao mesmo tempo que prova ser divina a sua missão. Se, em vez de princípios sociais e regeneradores, fundados sobre o futuro espiritual do homem, ele apenas houvesse legado à posteridade alguns fatos maravilhosos, talvez hoje mal o conhecessem de nome. (A Gênese, cap. XV, item 63.)

162. Jesus teve um corpo carnal ou foi um agênere?

Jesus teve, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a existência.

A estada de Jesus na Terra apresenta dois períodos: o que precedeu e o que se seguiu à sua morte. No primeiro, desde o momento da concepção até o nascimento, tudo se passa, pelo que respeita à sua mãe, como nas condições ordinárias da vida. Desde o seu nascimento até a sua morte, tudo, em seus atos, em sua linguagem e nas diversas circunstâncias da sua vida, revela os caracteres inequívocos da corporeidade. São acidentais os fenômenos de ordem psíquica que nele se produzem e nada têm de anômalos, pois que se explicam pelas propriedades do perispírito e se dão, em graus diferentes, noutros indivíduos.

Depois de sua morte, ao contrário, tudo nele revela o ser fluídico. É tão marcada a diferença entre os dois estados, que não podem ser assimilados. O corpo carnal tem as propriedades inerentes à matéria propriamente dita, propriedades que diferem essencialmente das dos fluidos etéreos; naquela, a desorganização se opera pela ruptura da coesão molecular. Ao penetrar no corpo material, um instrumento cortante lhe divide os tecidos; se os órgãos essenciais à vida são atacados, cessa-lhes o funcionamento e sobrevém a morte do corpo.

Não existindo nos corpos fluídicos essa coesão, a vida aí já não repousa no jogo de órgãos especiais e não se podem produzir desordens análogas àquelas. Um instrumento cortante ou outro qualquer penetra num corpo fluídico como se penetrasse numa massa de vapor, sem lhe ocasionar qualquer lesão. Tal a razão por que não podem morrer os corpos dessa espécie e por que os seres fluídicos, designados pelo nome de agêneres, não podem ser mortos.

Após o suplício de Jesus, seu corpo se conservou inerte e sem vida; foi sepultado como o são de ordinário os corpos e todos o puderam ver e tocar. Após a sua ressurreição, quando quis deixar a Terra, não morreu de novo; seu corpo se elevou, desvaneceu e desapareceu, sem deixar qualquer vestígio, prova evidente de que aquele corpo era de natureza diversa da do que pereceu na cruz; donde forçoso é concluir que, se foi possível que Jesus morresse, é que carnal era o seu corpo. (Obra citada, cap. XV, itens 64 e 65.)

163. Que considerações de ordem moral levaram Allan Kardec a defender a tese de que Jesus teve mesmo um corpo físico? 

Se as condições de Jesus, durante a sua vida, fossem as dos seres fluídicos, ele não teria experimentado nem a dor, nem as necessidades do corpo. Supor que assim haja sido é tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que escolhera, como exemplo de resignação. Se tudo nele fosse aparente, todos os atos de sua vida, a reiterada predição de sua morte, a cena dolorosa do Jardim das Oliveiras, sua prece a Deus para que lhe afastasse dos lábios o cálice de amarguras, sua paixão, sua agonia, tudo, até o último brado, no momento de entregar o Espírito, não teria passado de vão simulacro, para enganar com relação à sua natureza e fazer crer num sacrifício ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem honesto e, com mais forte razão, indigna de um ser tão elevado. (Obra citada, cap. XV, item 66.)

164. Como se explica o pressentimento que algumas pessoas têm acerca dos acontecimentos futuros? 

Como o homem tem de concorrer para o progresso geral e como certos acontecimentos devem resultar da sua cooperação, pode convir que, em casos especiais, ele pressinta esses acontecimentos, a fim de lhes preparar o encaminhamento e de estar pronto a agir, em chegando a ocasião. Por isso é que Deus, às vezes, permite que se levante uma ponta do véu, mas sempre com fim útil, nunca para satisfação de vã curiosidade.  Tal missão pode, pois, ser conferida, não a todos os Espíritos, porquanto muitos há que do futuro não conhecem mais do que os homens, mas a alguns Espíritos bastante adiantados para desempenhá-la. Ademais, as revelações dessa espécie são sempre feitas espontaneamente e jamais, ou, pelo menos, muito raramente, em resposta a uma pergunta direta. (Obra citada, cap. XVI, itens 1 a 5.)

165. As percepções dos Espíritos quanto ao passado e ao futuro dependem de qual fator?

A extensão das faculdades perceptivas dos Espíritos depende da efetiva elevação deles. Essa faculdade é inerente ao seu estado de espiritualização, ou, se o preferirem, de desmaterialização. Quer isto dizer que a espiritualização produz um efeito que se pode comparar, se bem muito imperfeitamente, ao da visão de conjunto que tem o homem colocado sobre a montanha.

Esta comparação objetiva simplesmente mostrar que acontecimentos pertencentes ainda, para uns, ao futuro, estão para outros no presente e podem assim ser preditos, o que não implica que o efeito se produza de igual maneira. Portanto, para gozar dessa percepção, não precisa o Espírito transportar-se a um ponto qualquer do espaço. Pode possuí-la em toda a sua plenitude aquele que na Terra se acha ao nosso lado, tanto quanto se achasse a mil léguas de distância, ao passo que nós nada vemos além do nosso horizonte visual. (Obra citada, cap. XVI, itens 7 a 10.)

166. A reencarnação do Espírito amortece suas percepções espirituais?

Sim. A reencarnação amortece-a, sem, contudo, a anular completamente, porque a alma não fica encerrada no corpo como numa caixa. O ser reencarnado a possui, embora sempre em grau menor do que quando se acha completamente desprendido; é o que confere a certos homens um poder de penetração que a outros falece inteiramente, maior agudeza de visão moral e compreensão mais fácil das coisas extramateriais. (Obra citada, cap. XVI, itens 8 a 10.)

167. Os obstáculos opostos à expansão do Espiritismo chegarão a deter sua marcha?

Não. Com relação ao futuro do Espiritismo, os Espíritos são unânimes em afirmar o seu triunfo, a despeito dos obstáculos que lhe criem. Fácil lhes é essa previsão, porque a sua propagação é obra pessoal deles. Concorrendo para o movimento, ou dirigindo-o, eles naturalmente sabem o que devem fazer. (Obra citada, cap. XVI, item 11.)

168. Se o futuro pode ser conhecido, isso significa que os acontecimentos da vida já se encontram predeterminados?

Não. As mais das vezes, os acontecimentos vulgares da vida privada são consequência da maneira de proceder de cada um, de modo que se pode dizer que cada um é o artífice do seu próprio futuro, futuro esse que jamais se encontra sujeito a uma cega fatalidade.

Os acontecimentos que envolvem interesses gerais da Humanidade têm a regulá-los a Providência. Quando uma coisa está nos desígnios de Deus, ela se cumpre a despeito de tudo, ou por um meio, ou por outro. Os homens concorrem para que ela se execute; nenhum, porém, é indispensável, pois, do contrário, Deus estaria à mercê de suas criaturas. Se faltar aquele a quem incumba a missão de a executar, outro será dela encarregado. Não há missão fatal; o homem tem sempre a liberdade de cumprir ou não a que lhe foi confiada e que ele voluntariamente aceitou.

Pode, portanto, ser certo o resultado final de um acontecimento, por se achar este nos desígnios de Deus. Como, porém, quase sempre os pormenores e o modo de execução se encontram subordinados às circunstâncias e ao livre-arbítrio dos homens, podem ser eventuais as sendas e os meios. Está nas possibilidades dos Espíritos prevenir-nos do conjunto, se convier que sejamos avisados; mas, para determinarem lugar e data, fora necessário que conhecessem previamente a decisão que tomará esse ou aquele indivíduo. Ora, se essa decisão ainda não estiver na sua mente, poderá apressar ou demorar a realização do fato, modificar os meios secundários de ação, embora o mesmo resultado chegue sempre a produzir-se. É assim, por exemplo, que, pelo conjunto das circunstâncias, podem os Espíritos prever que uma guerra se acha mais ou menos próxima ou que é inevitável, sem, contudo, poderem predizer o dia em que começará, nem os incidentes pormenorizados que possam ser modificados pela vontade dos homens. (Obra citada, cap. XVI, itens 12 a 15.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 20 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/12/blog-post_02.html

 

 

 

 

 

 

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