A Gênese
Allan Kardec
Parte 20
Continuamos o estudo metódico do livro “A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 36ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira, conforme tradução feita por Guillon Ribeiro.
Este estudo é publicado sempre às
quintas-feiras.
Eis as questões de hoje:
153.
Qual a explicação dada pelo Espiritismo acerca da cura da mulher hemorroíssa?
Essa mulher, que havia doze anos sofria de uma
hemorragia, sofrera muito nas mãos dos médicos e, tendo gasto todos os seus
haveres, nenhum alívio conseguira, como ouvisse falar de Jesus, veio com a
multidão atrás dele e lhe tocou as vestes, porquanto dizia: “Se eu conseguir ao
menos lhe tocar nas vestes, ficarei curada”. No mesmo instante o fluxo
sanguíneo lhe cessou e ela sentiu em seu corpo que estava curada daquela
enfermidade. De imediato, Jesus, conhecendo em si mesmo a virtude que dele
saíra, se voltou no meio da multidão e perguntou: “Quem me tocou as vestes?”
Seus discípulos lhe disseram: “Vês que a multidão te aperta de todos os lados e
perguntas quem te tocou?” Ele, porém, olhava em torno de si à procura daquela
que o tocara. A mulher, que sabia o que se passara em si, tomada de medo e
pavor, veio lançar-se-lhe aos pés e lhe declarou toda a verdade. Disse-lhe
Jesus: “Minha filha, tua fé te salvou; vai em paz e fica curada da tua
enfermidade”.
Estas palavras "conhecendo em si mesmo a virtude que
dele saíra" são significativas. Exprimem o movimento fluídico que se operara de
Jesus para a doente; ambos experimentaram a ação que acabara de produzir-se. É
de notar que o efeito não foi provocado por nenhum ato da vontade de Jesus; não
houve magnetização nem imposição das mãos. Bastou a irradiação fluídica normal
para realizar a cura. Mas, por que essa irradiação se dirigiu para aquela
mulher e não para outras pessoas, uma vez que Jesus não pensava nela e tinha a
cercá-lo a multidão? É bem simples a razão. Considerado como matéria
terapêutica, o fluido tem que atingir a matéria orgânica, a fim de repará-la;
pode então ser dirigido sobre o mal pela vontade do curador, ou atraído pelo
desejo ardente, pela confiança, numa palavra, pela fé do doente. Com relação à
corrente fluídica, o primeiro age como uma bomba calcante e o segundo como uma
bomba aspirante. Algumas vezes, é necessária a simultaneidade das duas ações;
doutras, basta uma só. O segundo caso foi o que ocorreu na circunstância de que
tratamos. Razão, pois, tinha Jesus para dizer: «Tua fé te salvou».
Compreende-se que a fé a que ele se referia não é
uma virtude mística, qual a entendem muitas pessoas, mas uma verdadeira força
atrativa, de sorte que aquele que não a possui opõe à corrente fluídica uma
força repulsiva ou, pelo menos, uma força de inércia, que paralisa a ação.
Assim sendo, também, se compreende que, apresentando-se ao curador dois doentes
da mesma enfermidade, possa um ser curado e outro não. É este um dos mais
importantes princípios da mediunidade curadora e que explica certas anomalias
aparentes, apontando-lhes uma causa muito natural. (A Gênese, cap. XV, itens 10 e 11.)
154. O
Espiritismo também promove curas?
Sim. O Espiritismo nos propicia a cura dos males
físicos, mas, sobretudo, a cura das doenças morais, e são esses os maiores
prodígios que lhe atestam a procedência. Seus mais sinceros adeptos não são os
que se sentem tocados pela observação de fenômenos extraordinários, mas os que
dele recebem a consolação para suas almas, aqueles a quem ele liberta das
torturas da dúvida, aqueles a quem levanta o ânimo no momento da aflição e os
que haurem forças na certeza que o Espiritismo lhes dá acerca do futuro e no
conhecimento de sua natureza e de seu destino. (Obra citada, cap. XV, itens 26
a 28.)
155.
Para libertar uma criança de uma possessão, Jesus disse que duas condições eram
necessárias. Quais são elas?
Referindo-se a essa criança, os discípulos
perguntaram a Jesus: “Por que não pudemos nós expulsar esse Espírito?” Jesus
respondeu: Os Espíritos desta espécie não podem ser expulsos senão pela prece e
pelo jejum, que é interpretado por autores espíritas como jejum das paixões e
não a abstinência de alimentação, tal como podemos ver em Isaías, 58:5 e 6: “O
jejum que me agrada porventura consiste em o homem mortificar-se por um dia?
Curvar a cabeça como um junco, deitar sobre o saco e a cinza? Podeis chamar
isso um jejum, um dia agradável ao Senhor? Sabeis qual é o jejum que eu
aprecio? - diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas
do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo”. (Obra
citada, cap. XV, itens 31 a 33.)
156.
Como Jesus curou a filha de Jairo?
Chegando à casa do chefe da sinagoga, Jesus viu uma
aglomeração confusa de pessoas que choravam e soltavam grandes gritos.
Entrando, disse-lhes ele: “Por que fazeis tanto alarido e por que chorais? Esta
menina não está morta, está apenas adormecida”. Em seguida, tendo feito com que
toda aquela gente saísse, o Mestre chamou o pai e a mãe da menina e os que
tinham vindo em sua companhia e entrou no lugar onde a menina se achava
deitada. Tomou-lhe a mão e disse: Talitha
cumi, isto é: Minha filha, levanta-te, eu to ordeno. No mesmo instante a
menina se levantou e se pôs a andar, pois contava doze anos, e ficaram todos
maravilhados e espantados. (Obra citada, cap. XV, itens 37 e 38.)
157.
Como se explicam as ressurreições operadas por Jesus?
É de todo provável que nos casos de ressurreição
mencionados nos evangelhos houvesse somente uma morte aparente, uma síncope,
uma letargia ou um fenômeno de catalepsia, e não a morte corpórea real, como em
relação à filha de Jairo o próprio Jesus declarou, positivamente: “Esta menina
não está morta, está apenas adormecida”.
Dado o poder fluídico que ele possuía, nada de
espantoso há em que esse fluido vivificante por ele irradiado, acionado por uma
vontade forte, houvesse reanimado os sentidos em torpor e que houvesse mesmo
feito voltar ao corpo o Espírito prestes a abandoná-lo, uma vez que o laço
perispirítico não se havia, ainda, desatado por completo. Para os homens
daquela época, que consideravam morto o indivíduo desde que deixava de
respirar, era compreensível que julgassem ter havido o fenômeno da ressurreição
em tais casos. A ressurreição de Lázaro confirma este princípio, visto que, tal
como no caso da filha de Jairo, João informa que, referindo-se ao amigo
supostamente morto, o Mestre afirmou: “Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou
despertá-lo”. (Obra citada, cap. XV, itens 37 a 40.)
158. Como
se explica a transfiguração de Jesus e que outro fato inusitado ocorreu naquele
mesmo momento?
Como sabemos, Jesus chamou Pedro, Tiago e João,
levou-os consigo a um alto monte e se transfigurou diante deles. Enquanto
orava, seu rosto pareceu inteiramente outro; suas vestes se tornaram
brilhantemente luminosas e brancas qual a neve, como não há igual na Terra. E
eles viram aparecer Elias e Moisés, que passaram a entreter palestra com Jesus.
Além desse fato inusitado, apareceu também uma nuvem que os cobriu e, dessa
nuvem, uma voz falou: “Este é meu Filho bem-amado; escutai-o”. Em seguida, olhando
para todos os lados, a ninguém mais viram, senão a Jesus, que ficara a sós com
eles.
É nas propriedades do fluido perispirítico que se
encontra a explicação da transfiguração de Jesus. A irradiação fluídica pode modificar
a aparência de um indivíduo, mas, no caso acima referido, a pureza do
perispírito de Jesus permitiu ainda que seu Espírito lhe desse excepcional
fulgor. (Obra citada, cap. XV, itens 43 e 44.)
159.
Qual o significado da figura da tentação de Jesus por Satanás?
Jesus não foi, efetivamente, arrebatado por ninguém.
O Espírito do mal nada poderia sobre a essência do bem. Ninguém diz ter visto
Jesus no cume da montanha, nem no pináculo do templo. Certamente, tal fato
teria sido de natureza a se espalhar por todos os povos. A tentação, portanto,
não constituiu um ato material e físico.
Quanto ao ato moral, será possível crer que o
Espírito das trevas pudesse dizer àquele que conhecia sua própria origem e seu
poder: “Adora-me, que te darei todos os reinos da Terra?” Desconheceria então o
demônio aquele a quem fazia tais oferecimentos? Não é provável. Além disso,
como pretender que o Messias, o Verbo de Deus encarnado, tenha estado
submetido, por algum tempo, às sugestões do demônio e que, como refere o
Evangelho de Lucas, o demônio o houvesse deixado por algum tempo, o que daria a
supor que o Cristo continuou submetido ao poder daquela entidade?
A tentação de Jesus é, pois, somente uma figura e
seria preciso ser cego para tomá-la ao pé da letra. Com essa parábola ele
apenas quis fazer que os homens compreendessem que a Humanidade se acha sujeita
a falir e que deve estar sempre em guarda contra as más inspirações a que, pela
sua natureza fraca, é impelida a ceder. (Obra citada, cap. XV, itens 52 e 53.)
160.
Como foi possível a Jesus, após a morte de seu corpo, aparecer tantas vezes a
seus discípulos?
As aparições de Jesus, após sua morte, se explicam
perfeitamente pelas leis fluídicas e pelas propriedades do perispírito e nada
de anômalo apresentam em face dos fenômenos do mesmo gênero, de que a História,
antiga e contemporânea, oferece numerosos exemplos, sem lhes faltar sequer a
tangibilidade. Se notarmos as circunstâncias em que se deram as suas diversas aparições,
nele reconheceremos, em tais ocasiões, todos os caracteres de um ser fluídico. Ele
aparece inopinadamente e do mesmo modo desaparece; uns o veem, outros não, sob
aparências que não o tornam reconhecível nem sequer aos seus discípulos;
mostra-se em recintos fechados, onde um corpo carnal não poderia penetrar; sua
própria linguagem carece da vivacidade da de um ser corpóreo; fala em tom breve
e sentencioso, peculiar aos Espíritos que se manifestam daquela maneira; todas
as suas atitudes, numa palavra, denotam alguma coisa que não é do mundo
terreno.
Sua presença causa simultaneamente surpresa e medo;
ao vê-lo, seus discípulos não lhe falam com a mesma liberdade de antes; sentem
que já não é um homem. Jesus, portanto, se mostrou com o seu corpo perispirítico,
o que explica que só tenha sido visto pelos que ele quis que o vissem. Se
estivesse com o seu corpo carnal, todos o veriam, como quando estava vivo.
Ignorando a causa originária do fenômeno das aparições, seus discípulos não se
apercebiam dessas particularidades, a que, provavelmente, não davam atenção.
Desde que viam o Senhor e o tocavam, haviam de achar que aquele era o seu corpo
ressuscitado. (Obra citada, cap. XV, itens 58 a 61.)
Observação:
Para acessar a Parte 19 deste estudo, publicada na semana
passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/11/a-genese-allan-kardec-parte-19.html
Como consultar as matérias deste blog? Se você não
conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/ZCUsF8, e verá como utilizá-lo. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário