quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

 



A Gênese

 

Allan Kardec

 

Parte 20

 

Continuamos o estudo metódico do livro “A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 36ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira, conforme tradução feita por Guillon Ribeiro.

Este estudo é publicado sempre às quintas-feiras.

Eis as questões de hoje:

 

153. Qual a explicação dada pelo Espiritismo acerca da cura da mulher hemorroíssa?

Essa mulher, que havia doze anos sofria de uma hemorragia, sofrera muito nas mãos dos médicos e, tendo gasto todos os seus haveres, nenhum alívio conseguira, como ouvisse falar de Jesus, veio com a multidão atrás dele e lhe tocou as vestes, porquanto dizia: “Se eu conseguir ao menos lhe tocar nas vestes, ficarei curada”. No mesmo instante o fluxo sanguíneo lhe cessou e ela sentiu em seu corpo que estava curada daquela enfermidade. De imediato, Jesus, conhecendo em si mesmo a virtude que dele saíra, se voltou no meio da multidão e perguntou: “Quem me tocou as vestes?” Seus discípulos lhe disseram: “Vês que a multidão te aperta de todos os lados e perguntas quem te tocou?” Ele, porém, olhava em torno de si à procura daquela que o tocara. A mulher, que sabia o que se passara em si, tomada de medo e pavor, veio lançar-se-lhe aos pés e lhe declarou toda a verdade. Disse-lhe Jesus: “Minha filha, tua fé te salvou; vai em paz e fica curada da tua enfermidade”.

Estas palavras "conhecendo em si mesmo a virtude que dele saíra" são significativas. Exprimem o movimento fluídico que se operara de Jesus para a doente; ambos experimentaram a ação que acabara de produzir-se. É de notar que o efeito não foi provocado por nenhum ato da vontade de Jesus; não houve magnetização nem imposição das mãos. Bastou a irradiação fluídica normal para realizar a cura. Mas, por que essa irradiação se dirigiu para aquela mulher e não para outras pessoas, uma vez que Jesus não pensava nela e tinha a cercá-lo a multidão? É bem simples a razão. Considerado como matéria terapêutica, o fluido tem que atingir a matéria orgânica, a fim de repará-la; pode então ser dirigido sobre o mal pela vontade do curador, ou atraído pelo desejo ardente, pela confiança, numa palavra, pela fé do doente. Com relação à corrente fluídica, o primeiro age como uma bomba calcante e o segundo como uma bomba aspirante. Algumas vezes, é necessária a simultaneidade das duas ações; doutras, basta uma só. O segundo caso foi o que ocorreu na circunstância de que tratamos. Razão, pois, tinha Jesus para dizer: «Tua fé te salvou».

Compreende-se que a fé a que ele se referia não é uma virtude mística, qual a entendem muitas pessoas, mas uma verdadeira força atrativa, de sorte que aquele que não a possui opõe à corrente fluídica uma força repulsiva ou, pelo menos, uma força de inércia, que paralisa a ação. Assim sendo, também, se compreende que, apresentando-se ao curador dois doentes da mesma enfermidade, possa um ser curado e outro não. É este um dos mais importantes princípios da mediunidade curadora e que explica certas anomalias aparentes, apontando-lhes uma causa muito natural. (A Gênese, cap. XV, itens 10 e 11.)

154. O Espiritismo também promove curas?

Sim. O Espiritismo nos propicia a cura dos males físicos, mas, sobretudo, a cura das doenças morais, e são esses os maiores prodígios que lhe atestam a procedência. Seus mais sinceros adeptos não são os que se sentem tocados pela observação de fenômenos extraordinários, mas os que dele recebem a consolação para suas almas, aqueles a quem ele liberta das torturas da dúvida, aqueles a quem levanta o ânimo no momento da aflição e os que haurem forças na certeza que o Espiritismo lhes dá acerca do futuro e no conhecimento de sua natureza e de seu destino. (Obra citada, cap. XV, itens 26 a 28.)

155. Para libertar uma criança de uma possessão, Jesus disse que duas condições eram necessárias. Quais são elas? 

Referindo-se a essa criança, os discípulos perguntaram a Jesus: “Por que não pudemos nós expulsar esse Espírito?” Jesus respondeu: Os Espíritos desta espécie não podem ser expulsos senão pela prece e pelo jejum, que é interpretado por autores espíritas como jejum das paixões e não a abstinência de alimentação, tal como podemos ver em Isaías, 58:5 e 6: “O jejum que me agrada porventura consiste em o homem mortificar-se por um dia? Curvar a cabeça como um junco, deitar sobre o saco e a cinza? Podeis chamar isso um jejum, um dia agradável ao Senhor? Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? - diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo”. (Obra citada, cap. XV, itens 31 a 33.)

156. Como Jesus curou a filha de Jairo? 

Chegando à casa do chefe da sinagoga, Jesus viu uma aglomeração confusa de pessoas que choravam e soltavam grandes gritos. Entrando, disse-lhes ele: “Por que fazeis tanto alarido e por que chorais? Esta menina não está morta, está apenas adormecida”. Em seguida, tendo feito com que toda aquela gente saísse, o Mestre chamou o pai e a mãe da menina e os que tinham vindo em sua companhia e entrou no lugar onde a menina se achava deitada. Tomou-lhe a mão e disse: Talitha cumi, isto é: Minha filha, levanta-te, eu to ordeno. No mesmo instante a menina se levantou e se pôs a andar, pois contava doze anos, e ficaram todos maravilhados e espantados. (Obra citada, cap. XV, itens 37 e 38.)

157. Como se explicam as ressurreições operadas por Jesus? 

É de todo provável que nos casos de ressurreição mencionados nos evangelhos houvesse somente uma morte aparente, uma síncope, uma letargia ou um fenômeno de catalepsia, e não a morte corpórea real, como em relação à filha de Jairo o próprio Jesus declarou, positivamente: “Esta menina não está morta, está apenas adormecida”.

Dado o poder fluídico que ele possuía, nada de espantoso há em que esse fluido vivificante por ele irradiado, acionado por uma vontade forte, houvesse reanimado os sentidos em torpor e que houvesse mesmo feito voltar ao corpo o Espírito prestes a abandoná-lo, uma vez que o laço perispirítico não se havia, ainda, desatado por completo. Para os homens daquela época, que consideravam morto o indivíduo desde que deixava de respirar, era compreensível que julgassem ter havido o fenômeno da ressurreição em tais casos. A ressurreição de Lázaro confirma este princípio, visto que, tal como no caso da filha de Jairo, João informa que, referindo-se ao amigo supostamente morto, o Mestre afirmou: “Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo”. (Obra citada, cap. XV, itens 37 a 40.)

158. Como se explica a transfiguração de Jesus e que outro fato inusitado ocorreu naquele mesmo momento?

Como sabemos, Jesus chamou Pedro, Tiago e João, levou-os consigo a um alto monte e se transfigurou diante deles. Enquanto orava, seu rosto pareceu inteiramente outro; suas vestes se tornaram brilhantemente luminosas e brancas qual a neve, como não há igual na Terra. E eles viram aparecer Elias e Moisés, que passaram a entreter palestra com Jesus. Além desse fato inusitado, apareceu também uma nuvem que os cobriu e, dessa nuvem, uma voz falou: “Este é meu Filho bem-amado; escutai-o”. Em seguida, olhando para todos os lados, a ninguém mais viram, senão a Jesus, que ficara a sós com eles.

É nas propriedades do fluido perispirítico que se encontra a explicação da transfiguração de Jesus. A irradiação fluídica pode modificar a aparência de um indivíduo, mas, no caso acima referido, a pureza do perispírito de Jesus permitiu ainda que seu Espírito lhe desse excepcional fulgor. (Obra citada, cap. XV, itens 43 e 44.)

159. Qual o significado da figura da tentação de Jesus por Satanás?

Jesus não foi, efetivamente, arrebatado por ninguém. O Espírito do mal nada poderia sobre a essência do bem. Ninguém diz ter visto Jesus no cume da montanha, nem no pináculo do templo. Certamente, tal fato teria sido de natureza a se espalhar por todos os povos. A tentação, portanto, não constituiu um ato material e físico.

Quanto ao ato moral, será possível crer que o Espírito das trevas pudesse dizer àquele que conhecia sua própria origem e seu poder: “Adora-me, que te darei todos os reinos da Terra?” Desconheceria então o demônio aquele a quem fazia tais oferecimentos? Não é provável. Além disso, como pretender que o Messias, o Verbo de Deus encarnado, tenha estado submetido, por algum tempo, às sugestões do demônio e que, como refere o Evangelho de Lucas, o demônio o houvesse deixado por algum tempo, o que daria a supor que o Cristo continuou submetido ao poder daquela entidade?

A tentação de Jesus é, pois, somente uma figura e seria preciso ser cego para tomá-la ao pé da letra. Com essa parábola ele apenas quis fazer que os homens compreendessem que a Humanidade se acha sujeita a falir e que deve estar sempre em guarda contra as más inspirações a que, pela sua natureza fraca, é impelida a ceder. (Obra citada, cap. XV, itens 52 e 53.)

160. Como foi possível a Jesus, após a morte de seu corpo, aparecer tantas vezes a seus discípulos?

As aparições de Jesus, após sua morte, se explicam perfeitamente pelas leis fluídicas e pelas propriedades do perispírito e nada de anômalo apresentam em face dos fenômenos do mesmo gênero, de que a História, antiga e contemporânea, oferece numerosos exemplos, sem lhes faltar sequer a tangibilidade. Se notarmos as circunstâncias em que se deram as suas diversas aparições, nele reconheceremos, em tais ocasiões, todos os caracteres de um ser fluídico. Ele aparece inopinadamente e do mesmo modo desaparece; uns o veem, outros não, sob aparências que não o tornam reconhecível nem sequer aos seus discípulos; mostra-se em recintos fechados, onde um corpo carnal não poderia penetrar; sua própria linguagem carece da vivacidade da de um ser corpóreo; fala em tom breve e sentencioso, peculiar aos Espíritos que se manifestam daquela maneira; todas as suas atitudes, numa palavra, denotam alguma coisa que não é do mundo terreno.

Sua presença causa simultaneamente surpresa e medo; ao vê-lo, seus discípulos não lhe falam com a mesma liberdade de antes; sentem que já não é um homem. Jesus, portanto, se mostrou com o seu corpo perispirítico, o que explica que só tenha sido visto pelos que ele quis que o vissem. Se estivesse com o seu corpo carnal, todos o veriam, como quando estava vivo. Ignorando a causa originária do fenômeno das aparições, seus discípulos não se apercebiam dessas particularidades, a que, provavelmente, não davam atenção. Desde que viam o Senhor e o tocavam, haviam de achar que aquele era o seu corpo ressuscitado. (Obra citada, cap. XV, itens 58 a 61.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 19 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/11/a-genese-allan-kardec-parte-19.html

 

 

 

 

 

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