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domingo, 15 de maio de 2022

 



Há remédio para insensatez?

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

De Londrina-PR

 

Quem tem o hábito de navegar pela internet certamente se lembra de um texto que, anos atrás, circulou pela Web com o título “Amostras da insensatez”, que mostrou a todos nós, com exemplos diversos, como a invigilância e a ausência de bom senso têm dado azo a bobagens divulgadas no Brasil em nome do Espiritismo.

Previsões e revelações bombásticas, dietas para emagrecer, casamento em centro espírita, reencarnação no mundo espiritual, vacina espiritual contra a gripe suína, registro de uma nova pomada – Pomada Esperança – recomendada por seu autor para o tratamento de matéria fluídica infecciosa acumulada por elementos vivos de magia, e por aí vai.

Existe remédio para isso?

Remédio, para ser sincero, não sabemos se existe, mas há medidas preventivas que poderiam pelo menos evitar que esse mal se alastre.

A principal delas é não permitir que o Espiritismo perca seu caráter de ciência. Cabe-nos, a propósito, lembrar aqui o que Herculano Pires escreveu acerca do chamado método kardequiano, que nos permitiu surgisse no mundo a codificação da doutrina espírita, que o avanço dos anos cada vez mais confirma e reafirma, sem nela produzir o mais leve arranhão.

Herculano sintetizou em 4 pontos o método adotado por Kardec:

1º - Escolha de colaboradores mediúnicos insuspeitos, do ponto de vista moral, da pureza das faculdades e da assistência espiritual.

Allan Kardec submetia as respostas anteriormente obtidas ao crivo de outros Espíritos, por meio de médiuns diferentes. É devido a isso que ele trabalhou com inúmeros médiuns – Caroline e Julie Baudin, Japhet, Aline, Ermance Dufaux, sra. Schmidt, sr. Crozet, dentre muitos outros –, não se fiando apenas nesse ou naquele medianeiro para firmar suas conclusões.

2º - Análise rigorosa das comunicações e seu confronto com as verdades científicas demonstradas, pondo-se de lado tudo aquilo que não pudesse ser logicamente justificado.

Kardec escreveu em “O Livro dos Médiuns” (cap. 24, item 266) que "não existe uma comunicação má que possa resistir a uma crítica rigorosa". E, na mesma obra, consignou a conhecida orientação de Erasto: “Mais vale repelir dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa” (LM, cap. 20, item 230).

3º - Controle dos Espíritos comunicantes, em face da coerência de suas comunicações e do teor de sua linguagem.

4º - Consenso universal, isto é, concordância entre as várias comunicações recebidas por médiuns diferentes, ao mesmo tempo e em diversos lugares, sobre o mesmo assunto.

A "Revista Espírita", que Kardec redigiu e publicou de janeiro de 1858 a março de 1869, foi fundamental para isso. “O Livro dos Espíritos” surgiu inicialmente, em 18/4/1857, com 501 questões. Na segunda edição, ocorrida em março de 1860, já eram 1.019 questões. É que, graças à “Revista”, Kardec constituiu-se num centro que recebia mensagens e comunicações de todos os cantos, inclusive do Brasil.

Com efeito, ele escreveria em 1864, no item II da Introdução d’ “O Evangelho segundo o Espiritismo":

 

"A única garantia séria do ensinamento dos Espíritos está na concordância que existe entre as revelações feitas espontaneamente, por intermédio de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares."

 

*

 

Trazemos à lembrança as informações acima para dizer aos nossos colegas espíritas e também aos nossos leitores quão importante seria para o movimento espírita a observância do método kardequiano em nossas atividades, porque somente isso poderá evitar que novos exemplos de insensatez surjam em nosso meio.

O princípio da verificação da universalidade do ensino, por exemplo, deveria nortear os passos de todos nós que usamos a tribuna ou escrevemos para revistas e jornais. Se isso fosse seguido, toda teoria nova e assim os modismos ficariam esperando o momento certo para serem tratados ou descartados.

E seria ótimo se o mesmo cuidado tivéssemos com os livros de determinados médiuns que disseminam em nosso meio informações estranhas e duvidosas, que seguramente seriam evitadas caso o método kardequiano fosse levado realmente a sério pelos espiritistas daqui e de fora.

 

 

 

 

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