CINCO-MARIAS
Educar para a tolerância
EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
O resultado mais sublime da educação é a tolerância. Helen Keller
Ninguém nasce intolerante. No entanto, condicionados por uma cultura que
(ainda) estimula a guerra no lugar da paz, muitas vezes ignoramos pequenos
conflitos norteados pela violência – e que ocorrem diariamente nos vários lares
espalhados pelo mundo.
Maria Montessori tinha consciência de que todas as guerras derivam de
uma primeira, entre o adulto e a criança, e que se desenrola teimosamente no
lar ou na escola.
A tolerância (ou a intolerância) é assimilada
primeiramente na infância: pai, mãe, professores e os demais adultos que
fazem parte do cotidiano da criança são guias fecundos para a construção de
hábitos e crenças, respondendo pelo aprendizado dos valores relacionados à
cultura da paz, principal elo com uma existência sadia e feliz.
Pessoas pacíficas e tolerantes incorporaram, desde cedo, a importância
de exercitar a colaboração e de respeitar os demais – mesmo aqueles que não
pensam como nós pensamos, que não gostam das coisas que nós gostamos.
A questão-chave para educar um ser humano inclinado à tolerância está
implicada com o esforço de transmitir-lhe, desde a tenra idade, valores morais
que são observados diariamente no ambiente doméstico, que precisa ser
tranquilo, que necessita ser norteado pelos traços da amabilidade, coerência,
comunicação, sem olvidar o respeito pelas diferenças – não são os próprios
membros de uma família distintos em seus gostos e preferências?
Tudo começa em casa. É importante que o filho ou a filha cresça
observando que os conflitos se resolvem através do diálogo amistoso, do uso de
palavras ponderadas, e não de um convívio familiar rude, inflexível, violento.
A maioria dos eventos ocorridos na infância se perde no tempo. Mas o
amor dos nossos pais, a maneira paciente como eles nos trataram cotidianamente,
a atitude benevolente da professora, a amizade do colega de classe, a
experiência da tolerância treinada com a família e a escola, tudo isso
permanece conosco, permeando nosso modo de ser, nossos relacionamentos,
esperanças e biografias.
O que é essencial transmitir à criança?
À medida que a infância é a fase dedicada à construção do caráter, como
pais, professores, ou adultos que convivem com uma criança, todos nós devemos
transmitir-lhe, com amor e perseverança, lições comprometidas com a tolerância
– virtude indispensável à existência criativa e pacífica.
Notinhas
Qual é o significado de tolerância? A resposta está no artigo 1º, item
1.1, da Declaração de Princípio sobre Tolerância, da Unesco,
aprovada em 16 de novembro de 1995, incorporada à Cultura de Paz:
“A tolerância é o respeito, a aceitação e apreço da riqueza e da diversidade
das culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras
de exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento, a
abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de pensamento, de consciência
e de crença. A tolerância é a harmonia na diferença. Não só é um dever de ordem
ética; é igualmente uma necessidade política e jurídica. A tolerância é uma
virtude que torna a paz possível e contribui para substituir uma cultura de
guerra por uma cultura de paz.”
Há ações simples que motivam o aprendizado da tolerância: procure,
dentro de casa e fora de casa, ser exemplo de tolerância e empatia; conte à
criança histórias ou situações de tolerância, narrando a ela casos simples em
que as pessoas tratam o diferente de forma respeitosa,
tranquila; incentive a criança a refletir sobre pessoas que maltratam outras só
porque elas pensam diferente, pois esse exercício crítico traz à
tona a importância da flexibilidade e da atitude solidária e harmoniosa no
convívio social.
*
Esta seção, cuja estreia neste blog ocorreu no dia 6 de janeiro deste
ano, traz sempre textos dedicados à infância, seus cuidados, sua educação. O
título – Cinco-marias – é uma alusão a um conhecido brinquedo
que integra um conjunto de brincadeiras e
atividades lúdicas conceituadas como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta
floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em
Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto
Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim
Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).
Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em
Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), está concluindo em São Paulo a
formação em Psicanálise.
Ministra cursos e palestras sobre educação ambiental
em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.
Seu contato no Instagram é @eugeniapickina
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