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sábado, 1 de outubro de 2022

 



A vida é curta... para quem ama

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília, DF


Salve, alma irmã!

Vez ou outra, lembra-nos este ditado popular: “A vida só é dura para quem é mole”. Também por vezes me lembro duma mensagem de amigo correspondente espírita, nos anos oitenta, por cartas e cartões postais, o qual, após eu lhe haver enviado carta com lamentações sobre meus problemas de saúde, respondeu-me solidário, mas anexou à sua correspondência mensagem psicografada, cuja frase inicial dizia o seguinte: “Problemas, quem não os tem?”

Nunca mais me queixei da vida pessoal com ninguém.

Como eu disse na última crônica, setembro é dedicado à prevenção e posvenção ao suicídio, assunto com o qual sempre me preocupei, devido às nossas provas e expiações que, por vezes, nos trazem muita dor. Mas quando pensamos acabar com a vida física, imaginando acabar também com a dor do corpo ou da alma, incorremos em terrível engano.

Como auxiliar essas pessoas, assim como seus familiares, amigos e colegas? Começando pela conversa. Levando-lhes as informações espíritas que não encontrarão nos tratados de psicologia e de psiquiatria, mas também proporcionando-lhes tratamento para seu sofrimento, que as levou à depressão. Dizendo-lhes que sofrer é comum a todos nós, mas o que fazemos com esse sofrimento é o que nos levará a suportá-lo e, para tanto, o convívio com a oração, o conhecimento da revelação espírita e a prática da caridade são muito importantes.

Importa-nos conhecer a estrutura do espírito, na vida física e na espiritual, para sabermos que a extinção do corpo material recrudesce o sofrimento da alma. O Espiritismo veio trazer-nos essa certeza, que Allan Kardec registrou n’O Livro dos Espíritos, questão 135-a; também n’O Evangelho Segundo o Espiritismo; n’O Céu e o Inferno, n’O Livro dos Médiuns e na Revista Espírita dos anos 1858 a 1868.

É muito importante, também, conhecer os corpos do espírito, na matéria e fora dela: na matéria, somos alma, perispírito e corpo orgânico. Fora da matéria, a alma passa a identificar o próprio espírito, que se manifesta pelo perispírito, seu corpo “semimaterial”, fluídico ou etéreo. Esse corpo espiritual, que Kardec chama perispírito, normalmente invisível para nós, é que dá forma ao corpo físico. Não temos, portanto, apenas o corpo físico, pois também temos o corpo espiritual. Paulo já o sabia, ao afirmar: “Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual” (1 Coríntios, 15:44).

E quem sente a dor, o corpo ou a alma?

Enquanto no corpo, temos os nervos e o cérebro, que registram a dor física. E a dor moral? Não seria uma sensação apenas da alma? E será matando o corpo que acabaremos com a dor moral? Os espíritos demonstram-nos que não. Pelo contrário, a agravamos, embora cada caso seja submetido à misericórdia divina e tratado de acordo com todas as causas e circunstâncias que levaram ao ato de tirar a própria existência física, pois a vida não cessa jamais.

Na Revista Espírita de março de 1866, temos um estudo de Kardec, intitulado Introdução ao estudo dos fluidos espirituais, que nos fornece uma visão ampla das propriedades do perispírito e sua função. Kardec comenta ali que, enquanto “[...] as observações da ciência não vão além da matéria tangível”, os espíritos demonstram-nos que “[...] a alma é revestida de um envoltório ou corpo fluídico, que dela faz, depois da morte do corpo material, como antes, um ser distinto, circunscrito e individual”. Logo adiante, o Codificador do Espiritismo diz que: “[...] Durante a vida, o fluido perispiritual identifica-se com o corpo, penetrando todas as suas partes; com a morte, dele se desprende; privado da vida, o corpo se dissolve, mas o perispírito, sempre unido à alma, isto é, ao princípio vivificante, não perece; apenas a alma, em vez de dois envoltórios, conserva somente um: o mais leve, o que está mais em harmonia com o seu estado espiritual”.

Decorre do exposto, e baseados na grande quantidade de obras mediúnicas sobre o assunto, que é fundamental conhecer essa verdade comprovada pelo Espiritismo para que orientemos toda pessoa que tenha tendência ao suicídio, a fim de que ela saiba que matar o corpo não matará a dor, seja ela física ou moral, mas a agravará. Haja vista que é no perispírito que são registrados todos os fenômenos captados pelos nervos e transmitidos ao cérebro. Isso porque o perispírito é o corpo indestrutível do espírito, esteja ele encarnado ou não.

A afirmativa de que “o suicida quer se livrar da dor e não da vida”, que os louváveis esforços da psiquiatria, da psicologia e da medicina moderna nos trazem à reflexão, não é falsa, entretanto é importante saber que o extermínio do corpo mais grosseiro apenas trará mais sofrimento ao espírito liberto da matéria, mas indelevelmente ligado ao corpo fluídico, cujas sensações são imensamente mais intensas que no corpo orgânico.

Assisti a duas palestras interessantes sobre o suicídio: a primeira foi com o Dr. Humberto Correa, da Universidade Federal de Minas Gerais; a segunda foi pelo YouTube, com a Dr.ª Karina Okajima Fukumitsu. O Dr. Humberto também falou sobre a posvenção, quando afirmou que “a ajuda começa pela conversa” e acrescentou que jamais devemos culpar a pessoa com tendência suicida, mas acolhê-la, ouvi-la, ajudá-la, sugerir-lhe o apoio da religião. A Dr.ª Karina, entre outras reflexões, igualmente, lembrou-nos sobre a importância da posvenção. Falou-nos sobre “a coragem de ser imperfeitos”, que devemos ter, além de reforçar algo que consta em sua obra: “Você não é qualquer um, você é transcendência”. Citou ainda algumas frases de autoajuda, como: “dignidade de viver: a delícia de ser quem é”; sofrer é “condição existencial”; “sofrimento que não é acolhido cria perturbações maiores” e ainda, algo muito importante lido nas doutrinas dos grandes sábios e de Jesus: “o ter se torna a falência do ser”.

Nessa última frase, além dos bens materiais, enxerguei as paixões humanas pelo poder, pela posse doutrem e mesmo pelo próprio reconhecimento alheio ao que fazemos, o que nos lembra a frase de Jesus Cristo: “Não saiba a vossa mão esquerda o que fizer a vossa mão direita” (Mateus, 6:1- 4). Outra, importantíssima é: “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação” (Mateus, 26:41). Ocupemos nossa mente no trabalho elevado e já estaremos orando.

Pelos conhecimentos espirituais que mencionamos acima, sobre o perispírito, o Espiritismo exerce profunda compreensão sobre nossa natureza espiritual, que complementa o que as religiões cristãs, principalmente, conhecem sobre o assunto. Nesse sentido, muitas pessoas poderão livrar-se dessa tendência, pois agora saberão que matar o corpo não é livrar-se da dor, mas agravá-la e perturbar-se por tempo indeterminado no plano espiritual. Ainda não conhecemos, aliada a essa revelação, outra força mais poderosa que a do amor. Não esse amor que exige ser amado, mas o amor renúncia, o amor devotamento, o amor perdão. Aquele que tudo faz para que o próximo seja feliz, sinônimo de caridade.

Àqueles que ficaram órfãos do suicida, ou seja, pais, irmãos, filhos, amigos etc., chamados por Karina de “sobreviventes”, ainda que nada mais possam fazer para trazer novamente à vida o ser querido que partiu, esses mesmos conhecimentos sobre a composição do ser humano em alma, perispírito e corpo físico muito ajudarão a encontrar, na vida física, o sentido existencial. Voltaremos a encontrá-los... Saber disso é fundamental para nosso melhor entendimento do que cita Paulo em 1 Coríntios, 13:1- 13 sobre a fé, a esperança e o amor.  

Pela prática do amor a Deus e ao próximo, a mais elevada virtude, chegaremos, brevemente, ao dia determinado pelo Alto para o regresso à vida espiritual, preexistente e subsistente a esta, com a alegria de viver. Pois a vida é curta... para quem ama.

 

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