Por que
destruir faz parte da lei natural?
ASTOLFO
O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De
Londrina-PR
Existem leis naturais – as chamadas
leis da vida – que são, à primeira vista, incompreensíveis. A lei de destruição
é uma delas, porque é difícil entender por que o Criador estabeleceu que a vida
dos seres que ele criou dependa da destruição de outros seres por ele também
criados.
Para a pessoa que enxerga apenas a
matéria e limita sua visão à vida presente, isso parece, sem dúvida, uma
imperfeição na obra da Criação. É que, em geral, os homens julgam a perfeição
de Deus pelo seu ponto de vista, e sua própria opinião constitui a medida de
sua sabedoria. Imaginam, então, que Deus não poderia fazer melhor do que eles
próprios o fariam. Como sua vista limitada não lhes permite julgar o conjunto,
é-lhes muito difícil compreender que de um mal aparente pode resultar um bem
real.
O conhecimento do princípio espiritual
e da grande lei de unidade, que constitui a harmonia da Criação, é a chave que
pode dar ao homem a compreensão desse mistério e mostrar-lhe a sabedoria
providencial e a harmonia onde não enxergava, antes, senão uma anomalia e uma
contradição.
São várias as utilidades decorrentes
da lei de destruição.
A primeira utilidade que dela decorre –
utilidade de natureza puramente física – é esta: os corpos orgânicos não se
mantêm senão por meio de matérias orgânicas, que são as únicas que contêm os
elementos nutritivos necessários à sua transformação. Como os corpos, que são
os instrumentos da ação do princípio inteligente, têm necessidade de serem
incessantemente renovados, a Providência os faz servir para a sua manutenção
mútua. É por isso que o corpo se nutre do corpo, mas a alma não se nutre da
alma, porque ela não é destruída nem alterada quando ocorre a morte corpórea,
apenas se despoja do seu envoltório corporal.
Uma segunda utilidade decorrente da
lei de destruição é a necessidade que tem o ser espiritual de desenvolver-se. A
luta é necessária a esse desenvolvimento, porque é na luta que ele exercita
suas faculdades. O ser animal que ataca o outro em busca do alimento e o ser
que se defende para conservar a vida usam de habilidade e inteligência,
aumentando, por conseguinte, suas forças intelectuais. Um dos dois sucumbe,
mas, em realidade, que é que o mais forte ou mais destro tirou ao outro? A
vestimenta carnal, nada mais. Posteriormente, o ser espiritual – que jamais
morre – tomará outra, porque – é bom lembrarmos – a alma dos homens ou dos
animais é imortal.
Nos seres inferiores da criação,
naqueles a quem ainda falta o senso moral, a luta tem por móvel unicamente a
satisfação de uma necessidade material. Ora, uma das mais imperiosas dessas
necessidades é a de alimentar-se, para assegurar a própria sobrevivência. Eles
lutam, pois, unicamente para viver, ou seja, para fazer ou defender uma presa,
visto que nenhum móvel mais elevado os estimula. É nesse período que a alma se
elabora e se ensaia para a vida.
Uma terceira utilidade da lei de
destruição é que, ao se destruírem uns aos outros, pela necessidade de
alimentar-se, os seres infra-humanos mantêm o equilíbrio na reprodução,
impedindo-a de tornar-se excessiva, e concorrem, além disso, com seus despojos,
para uma infinidade de aplicações úteis à Humanidade.
Examinando a questão apenas do ponto
de vista do comportamento do homem, aprendemos com a Doutrina Espírita que a
matança de animais, bárbara sem dúvida, foi, ainda é e será por algum tempo
necessária na Terra; contudo, à medida que os terrícolas se depuram, sobrepondo
o espírito à matéria, a utilização de alimentação carnívora passa a ser cada
vez menor, até desaparecer definitivamente, como já se verifica nos mundos mais
adiantados que a Terra.
A necessidade de destruição guarda,
pois, proporção com o estado mais ou menos material dos mundos. E cessa quando
o físico e o moral se acham mais depurados. Muito diversas são, pois, as
condições de existência nos mundos mais adiantados que a Terra.
De acordo com os ensinamentos
espíritas, o homem só é escusado de responsabilidade nessa destruição na medida
em que age para prover ao seu sustento ou garantir sua segurança. Fora disso,
quando, por exemplo, se empenha em caçadas pelo simples prazer de matar, terá
de prestar contas a Deus pelos abusos cometidos, os quais revelam inegavelmente
a predominância nele dos maus instintos.
Toda destruição que excede os limites
da necessidade constitui uma violação da lei de Deus e será, por esse motivo,
severamente punida.
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