domingo, 29 de janeiro de 2023

 



Por que destruir faz parte da lei natural?

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

De Londrina-PR

 

Existem leis naturais – as chamadas leis da vida – que são, à primeira vista, incompreensíveis. A lei de destruição é uma delas, porque é difícil entender por que o Criador estabeleceu que a vida dos seres que ele criou dependa da destruição de outros seres por ele também criados.

Para a pessoa que enxerga apenas a matéria e limita sua visão à vida presente, isso parece, sem dúvida, uma imperfeição na obra da Criação. É que, em geral, os homens julgam a perfeição de Deus pelo seu ponto de vista, e sua própria opinião constitui a medida de sua sabedoria. Imaginam, então, que Deus não poderia fazer melhor do que eles próprios o fariam. Como sua vista limitada não lhes permite julgar o conjunto, é-lhes muito difícil compreender que de um mal aparente pode resultar um bem real.

O conhecimento do princípio espiritual e da grande lei de unidade, que constitui a harmonia da Criação, é a chave que pode dar ao homem a compreensão desse mistério e mostrar-lhe a sabedoria providencial e a harmonia onde não enxergava, antes, senão uma anomalia e uma contradição.

São várias as utilidades decorrentes da lei de destruição.

A primeira utilidade que dela decorre – utilidade de natureza puramente física – é esta: os corpos orgânicos não se mantêm senão por meio de matérias orgânicas, que são as únicas que contêm os elementos nutritivos necessários à sua transformação. Como os corpos, que são os instrumentos da ação do princípio inteligente, têm necessidade de serem incessantemente renovados, a Providência os faz servir para a sua manutenção mútua. É por isso que o corpo se nutre do corpo, mas a alma não se nutre da alma, porque ela não é destruída nem alterada quando ocorre a morte corpórea, apenas se despoja do seu envoltório corporal.

Uma segunda utilidade decorrente da lei de destruição é a necessidade que tem o ser espiritual de desenvolver-se. A luta é necessária a esse desenvolvimento, porque é na luta que ele exercita suas faculdades. O ser animal que ataca o outro em busca do alimento e o ser que se defende para conservar a vida usam de habilidade e inteligência, aumentando, por conseguinte, suas forças intelectuais. Um dos dois sucumbe, mas, em realidade, que é que o mais forte ou mais destro tirou ao outro? A vestimenta carnal, nada mais. Posteriormente, o ser espiritual – que jamais morre – tomará outra, porque – é bom lembrarmos – a alma dos homens ou dos animais é imortal.

Nos seres inferiores da criação, naqueles a quem ainda falta o senso moral, a luta tem por móvel unicamente a satisfação de uma necessidade material. Ora, uma das mais imperiosas dessas necessidades é a de alimentar-se, para assegurar a própria sobrevivência. Eles lutam, pois, unicamente para viver, ou seja, para fazer ou defender uma presa, visto que nenhum móvel mais elevado os estimula. É nesse período que a alma se elabora e se ensaia para a vida.

Uma terceira utilidade da lei de destruição é que, ao se destruírem uns aos outros, pela necessidade de alimentar-se, os seres infra-humanos mantêm o equilíbrio na reprodução, impedindo-a de tornar-se excessiva, e concorrem, além disso, com seus despojos, para uma infinidade de aplicações úteis à Humanidade.

Examinando a questão apenas do ponto de vista do comportamento do homem, aprendemos com a Doutrina Espírita que a matança de animais, bárbara sem dúvida, foi, ainda é e será por algum tempo necessária na Terra; contudo, à medida que os terrícolas se depuram, sobrepondo o espírito à matéria, a utilização de alimentação carnívora passa a ser cada vez menor, até desaparecer definitivamente, como já se verifica nos mundos mais adiantados que a Terra.

A necessidade de destruição guarda, pois, proporção com o estado mais ou menos material dos mundos. E cessa quando o físico e o moral se acham mais depurados. Muito diversas são, pois, as condições de existência nos mundos mais adiantados que a Terra.

De acordo com os ensinamentos espíritas, o homem só é escusado de responsabilidade nessa destruição na medida em que age para prover ao seu sustento ou garantir sua segurança. Fora disso, quando, por exemplo, se empenha em caçadas pelo simples prazer de matar, terá de prestar contas a Deus pelos abusos cometidos, os quais revelam inegavelmente a predominância nele dos maus instintos.

Toda destruição que excede os limites da necessidade constitui uma violação da lei de Deus e será, por esse motivo, severamente punida.

 

 

 

 

 

 

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