Revista Espírita de 1863
Allan Kardec
Parte 5
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1863, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de
1863 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a
dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do estudo,
que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Qual é a
finalidade essencial do Espiritismo?
B. O Espírito pode,
entre uma existência e outra, passar de uma posição brilhante a outra humilde e
miserável?
C. Podemos dizer, com
base no Espiritismo, que o homem é o artífice de seu próprio destino?
Texto para leitura
42. Em sessão
realizada em 13/2/1863, a Sociedade Espírita de Paris decidiu, por unanimidade,
não tomar conhecimento de um pedido oriundo de Tonnay-Charente, no qual
o missivista dirige oito questões diretamente ao Espírito de Jesus, filho de
Deus. As perguntas versavam sobre vários dogmas da Igreja. A publicação dessa
decisão na Revista objetiva mostrar a todos a inutilidade de dirigir no futuro
perguntas sobre semelhantes assuntos. (PP. 81 e 82)
43. A respeito do
caso, a Sociedade Espírita de Paris lembra ao autor da carta que o fim
essencial do Espiritismo é a destruição das ideias materialistas e o melhoramento
moral do homem e que, por isso, ele não se ocupa absolutamente de discutir os
dogmas particulares de cada culto, deixando sua apreciação à consciência de
cada um. Esclarece, ainda, a Sociedade:
I) O dever dos
verdadeiros espíritas é, antes de tudo, aplicar-se ao combate à incredulidade e
ao egoísmo, que são as verdadeiras chagas da humanidade, e a fazer prevalecer,
tanto pelo exemplo quanto pela teoria, o sentimento de caridade, que deve ser a
base de toda religião racional.
II) As questões de
fundo devem passar à frente das questões de forma.
III) As questões de
fundo são as que têm por objeto tornar os homens melhores, visto que todo
progresso social não pode ser senão consequência do melhoramento das massas.
IV) Querer agir de
outra forma é começar o edifício pelo telhado, esquecido dos alicerces; é
semear antes de preparar o terreno. (PP. 82 a 84)
44. François-Simon
Louvet, que se suicidou em 22/7/1857 no Havre, descreve em comunicação
espontânea, recebida em 12/2/1863, seus padecimentos em consequência de seu
gesto impensado. Como revela a mensagem, uma das aflições enfrentadas pelo
suicida era ver-se sempre caindo da torre - da qual se jogara - e indo
quebrar-se nas pedras, tal como ocorrera efetivamente seis anos antes, conforme
noticiado pelo Journal du Havre de 23 de julho de 1857. (PP. 84 a 86)
45. A Revista
transcreve a comunicação que foi dada em Paris pelo Espírito de Clara Rivier,
desencarnada aos dez anos de idade, quatro meses antes. Enferma desde a idade
de quatro anos, Clara foi um exemplo notável de resignação diante da dor. “Não
temo a morte - dizia ela - porque depois me está reservada uma vida feliz.” Na
comunicação, Clara explicou que fora seu anjo da guarda quem a confortou
durante toda a enfermidade e, como os seus pais enfrentavam na ocasião um
ligeiro processo obsessivo, ela acrescentou:
I) A obsessão
terminará quando chegar o momento necessário.
II) A prece e a fé
dão grande força para dominar a obsessão.
III) A obsessão e a
subjugação são, na verdade, provas para quem as sofre, mas também um caminho
aberto a novas convicções.
IV) É preciso
aproximar as distâncias pela caridade, introduzindo o pobre em casa,
encorajando-o e levantando-o, sem o humilhar. “Tende - concluiu Clara,
dirigindo-se aos pais - resignação, caridade, amor aos semelhantes e um dia
sereis felizes.” (PP. 86 a 89)
46. Da mensagem de
Clara Rivier, Kardec destacou dois pontos:
I) a informação de
que, de uma existência a outra, o Espírito pode passar de uma posição social
brilhante a outra humilde e miserável, expiando dessa forma o abuso dos dons
que Deus lhe concedera; e,
II) a revelação de
que Deus castiga os povos como castiga os indivíduos. Assim, se todos
praticassem a lei da caridade, não haveria mais guerras, nem grandes misérias,
nem calamidades no mundo. (P. 90)
47. O Courrier du
Bas-Rhin de 3/1/1863 revelou que em Boston, Estados Unidos, o Sr. William
Mumbler havia descoberto, sem querer, a fotografia de pessoas falecidas. A
primeira foto obtida pelo Sr. Mumbler foi do Espírito de uma prima. Kardec
aconselha, porém, acolher tal notícia com prudente reserva, porque os
americanos são mestres também na arte de inventar patranhas. Além disso, o
Codificador cita o fato ocorrido com um jovem lorde inglês, apaixonado pela
arte fotográfica, que pensou haver obtido a fotografia de uma irmã falecida, e,
no entanto, tal ideia não passou de um equívoco. (N.R.: O tema fotografia de
Espíritos é tratado com minúcias por Gabriel Delanne em seu livro O Fenômeno
Espírita, pp. 149 a 163. A cautela de Kardec é procedente e o processo
movido contra o fotógrafo Buguet em 1875 comprova que todo cuidado é pouco
quando lidamos com fatos supostamente atribuídos a Espíritos.) (PP. 90 a 92)
48. O Sr. bispo de
Argel publicou, para a quaresma de 1863, uma instrução pastoral dedicada ao
Espiritismo, em que acusa o demônio de ditar a filósofos ilustres essas
doutrinas malsãs que pregam a existência de dois princípios iguais, o bem e o
mal, o materialismo, o ceticismo, o fatalismo, a metempsicose, a magia e a
evocação dos Espíritos. O documento da Igreja foi publicado no jornal Akbar,
de Argel, em 10/2/1863. Ao dar a notícia, o jornal argelino lembrou ao leitor
que os que gostam, em todo litígio, de ouvir as duas partes, podiam tirar suas
dúvidas lendo “O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns”, do Sr. Allan
Kardec, os quais se encontravam à venda em todas as livrarias de Argel. (PP. 92
e 93)
49. Na seção de
poesias, a Revista traz dois poemas de origem mediúnica: “Por que lamentar-se?”
e “Mãe e filho”. No primeiro, o poeta desencarnado diz que Deus fez do homem o
artífice de seu próprio destino e afirma que o caminho que conduz ao bem requer
esforço seguido e trabalho constante, completa vigilância e atenta pesquisa, o
instinto frenado e a razão operante. “Trabalha, luta, ora e o céu estará em
ti”, eis como se encerra o poema. (PP. 94 e 95)
50. O segundo poema
fala de uma mãe que perdeu o filho em tenra idade e explica por que o fato se
deu. É que, num passado distante, ela fizera morrer o filho que ia dar à luz e
agora, arrependida, fora castigada em circunstâncias parecidas com a que deu
origem à sua falta. (PP. 96 e 97)
51. A edição de abril
é aberta com mais um artigo de Kardec - o quarto - sobre os possessos de
Morzine. Como já vimos, o Sr. Constant atribuía os fatos à constituição
raquítica dos habitantes e à insalubridade da região, bem como à má qualidade e
à insuficiência da alimentação. O Sr. Arthaud, médico em Lyon, foi a Morzine e
declarou exatamente o contrário: a constituição dos habitantes era boa e havia
ali apenas um caso de epilepsia e um de imbecilidade. Kardec reproduz outro
relatório que também discorda do diagnóstico feito pelo Sr. Constant e, entre
diversos reparos à conclusão deste último, diz que, se o Sr. Constant estivesse
certo, o efeito observado seria endêmico e não epidêmico. Os primeiros sintomas
da epidemia de Morzine - lembra Kardec - se verificaram em março de 1857 em
apenas duas meninas adolescentes. Em novembro seguinte o número de doentes era
de 27, e em 1861 atingiu o máximo de cento e vinte, assemelhando-se muito ao
episódio que acometeu a Judeia, ao tempo do Cristo. (N.R.: Epidemia: doença que
surge rápida e acomete simultaneamente grande número de pessoas. Endemia:
doença que existe constantemente em determinado lugar.) (PP. 99 a 105)
Respostas às questões propostas
A. Qual é a
finalidade essencial do Espiritismo?
A finalidade
essencial do Espiritismo é a destruição das ideias materialistas e o
melhoramento moral do homem, o que explica por que ele não se ocupa
absolutamente de discutir os dogmas particulares de cada culto, deixando sua
apreciação à consciência de cada um. (Revista Espírita de 1863, pp. 82 e
83.)
B. O Espírito pode,
entre uma existência e outra, passar de uma posição brilhante a outra humilde e
miserável?
Sim, como está dito
na mensagem de Clara Rivier, publicada na Revista, em que Kardec destacou dois pontos:
1º - a informação de que, de uma existência a outra, o Espírito pode passar de
uma posição social brilhante a outra humilde e miserável, expiando dessa forma
o abuso dos dons que Deus lhe concedera; e 2º - a revelação de que Deus castiga
os povos como castiga os indivíduos. Desse modo, se todos praticassem a lei da
caridade, não haveria mais guerras, nem grandes misérias, nem calamidades no
mundo. (Obra citada, pág. 90.)
C. Podemos dizer, com base no Espiritismo, que o homem é o
artífice de seu próprio destino?
Evidentemente. Deus fez do homem o artífice de seu
próprio destino, razão pela qual o caminho que conduz ao bem requer esforço
seguido e trabalho constante, completa vigilância e atenta pesquisa, instinto
frenado e razão operante. “Trabalha, luta, ora e o céu estará em ti”,
eis as palavras de um lindo poema publicado na revista. (Obra citada, pp. 94 e
95.)
Observação:
Para
acessar a Parte 4 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/05/revista-espirita-de-1863-allan-kardec_01595472367.html
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