JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Há alguns anos, estivemos em Portugal. País maravilhoso! Lá,
observamos, por onde passamos, extrema limpeza nas ruas e tratamento altamente atencioso
aos turistas. Também encantadora é sua escultura de castelos medievais, de
escolas e de catedrais, assim como nos encanta sua literatura.
Qual ocorre em qualquer país, em especial no Brasil que tanto amamos, algumas curiosidades linguísticas observadas lá são motivo de riso. Então, com licença da estimada comunidade portuguesa, reproduzo abaixo o conteúdo lido por mim em cartaz colocado em espaço vazio ao lado duma loja:
Proibido
estacionar. Obrigatório ler. |
Houve um tempo em que Machado de Assis recomendou aos jovens não serem tão açodados na elaboração de seus textos, o que se aplica, no caso citado, aos cartazes, mesmo que sejam criativos. Lembrei-me agora de ter lido uma frase de Allan Kardec sobre a formação intelecto-moral dum sábio. Dizia ele que, para se produzir um médico medíocre, são necessários alguns anos de estudos compenetrados, mas para se formar um sábio é preciso dedicar três quartas partes da existência ao conhecimento (O Livro dos Espíritos, introd., item 13).
Logicamente, Kardec não baseou seu exemplo em quem tenha curta
existência, salvo raras exceções, mas na pessoa que alcance algumas décadas de
vida. Fazendo-se as contas, se morresse aos 60 anos, o sábio necessitaria de 45
anos de estudos aplicados.
Recomendo-lhe também, alma querida, as considerações
machadianas sobre a pureza da linguagem. Estão na sua crônica intitulada A língua. O problema é muito sério, em
especial para os copidesques.
Suponhamos que uma obra para revisão e avaliação crítica
tivesse duzentas páginas, cada página tivesse 30 linhas e cada linha, setenta
toques digitais em média. Calculei o total de 420.000 toques.
Por aí se vê a dureza do trabalho do copidesque. Além das
ideias, ele igualmente precisa estar atento à forma. E ai do revisor que, desses
420.000 toques, deixar passar erros em 0,1% deles, o que dá 420 toques e 60
palavras, com média de sete toques cada uma. Mas essas 60 palavras estão escondidas
entre outras 60 mil...
O copidesque precisa ver, naqueles milhares de termos, se eles
não se repetem, em cada frase, se estão concordes gramaticalmente e se
expressam, com objetividade, clareza, singeleza, pensamento criativo, alma
sensível, senso de humor, originalidade...
Há algum tempo, estive revisando uma cópia de obra tão mal
digitada que, logo de início, me deparei com a seguinte frase: "Triste vi
meti pai morrendo na bigorna". Sem entender nada, conferi com o texto
original, cuja frase correta era a seguinte: "Triste, vi meu pai morrendo
na bigorna". Era o relato de um filho ao contemplar, junto de sua mãe, o
pai morto em acidente de trabalho.
Se até para copiar os outros, alguns redatores têm
dificuldade, quanto mais duro é o que eles escrevem precipitadamente. No
domínio linguístico e literário, é preciso esforço persistente para se obter
sucesso, como em tudo na vida.
Como disse Thomas Edison: "O gênio se faz com 99% de
transpiração e 1% de inspiração". O bom escritor também...
Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com
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