sábado, 8 de julho de 2023

 



Obrigatório ler

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

 

Há alguns anos, estivemos em Portugal. País maravilhoso! Lá, observamos, por onde passamos, extrema limpeza nas ruas e tratamento altamente atencioso aos turistas. Também encantadora é sua escultura de castelos medievais, de escolas e de catedrais, assim como nos encanta sua literatura.

Qual ocorre em qualquer país, em especial no Brasil que tanto amamos, algumas curiosidades linguísticas observadas lá são motivo de riso. Então, com licença da estimada comunidade portuguesa, reproduzo abaixo o conteúdo lido por mim em cartaz colocado em espaço vazio ao lado duma loja:    

 

Proibido estacionar.

Obrigatório ler.

   

Houve um tempo em que Machado de Assis recomendou aos jovens não serem tão açodados na elaboração de seus textos, o que se aplica, no caso citado, aos cartazes, mesmo que sejam criativos. Lembrei-me agora de ter lido uma frase de Allan Kardec sobre a formação intelecto-moral dum sábio. Dizia ele que, para se produzir um médico medíocre, são necessários alguns anos de estudos compenetrados, mas para se formar um sábio é preciso dedicar três quartas partes da existência ao conhecimento (O Livro dos Espíritos, introd., item 13).

Logicamente, Kardec não baseou seu exemplo em quem tenha curta existência, salvo raras exceções, mas na pessoa que alcance algumas décadas de vida. Fazendo-se as contas, se morresse aos 60 anos, o sábio necessitaria de 45 anos de estudos aplicados.

Recomendo-lhe também, alma querida, as considerações machadianas sobre a pureza da linguagem. Estão na sua crônica intitulada A língua. O problema é muito sério, em especial para os copidesques.

Suponhamos que uma obra para revisão e avaliação crítica tivesse duzentas páginas, cada página tivesse 30 linhas e cada linha, setenta toques digitais em média. Calculei o total de 420.000 toques.

Por aí se vê a dureza do trabalho do copidesque. Além das ideias, ele igualmente precisa estar atento à forma. E ai do revisor que, desses 420.000 toques, deixar passar erros em 0,1% deles, o que dá 420 toques e 60 palavras, com média de sete toques cada uma. Mas essas 60 palavras estão escondidas entre outras 60 mil...

O copidesque precisa ver, naqueles milhares de termos, se eles não se repetem, em cada frase, se estão concordes gramaticalmente e se expressam, com objetividade, clareza, singeleza, pensamento criativo, alma sensível, senso de humor, originalidade...

Há algum tempo, estive revisando uma cópia de obra tão mal digitada que, logo de início, me deparei com a seguinte frase: "Triste vi meti pai morrendo na bigorna". Sem entender nada, conferi com o texto original, cuja frase correta era a seguinte: "Triste, vi meu pai morrendo na bigorna". Era o relato de um filho ao contemplar, junto de sua mãe, o pai morto em acidente de trabalho.

Se até para copiar os outros, alguns redatores têm dificuldade, quanto mais duro é o que eles escrevem precipitadamente. No domínio linguístico e literário, é preciso esforço persistente para se obter sucesso, como em tudo na vida.

Como disse Thomas Edison: "O gênio se faz com 99% de transpiração e 1% de inspiração". O bom escritor também...

   

Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 

 

 



 

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