Revista Espírita de 1865
Allan Kardec
Parte 1
Iniciamos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1865, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo será baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de
1865 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a
dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do estudo,
que será apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Que ensinamento
nos trouxe o caso Valentine Laurent?
B. A existência do
corpo espiritual era conhecida antes de Kardec?
C. Em que consistia a
doutrina da metempsicose?
Texto para leitura
1. Para evidenciar o
crescimento do Movimento Espírita em 1864, Kardec enumera os diversos órgãos de
divulgação espírita nascidos naquele ano em Paris, em Bordéus, em Toulouse e em
Bruxelas, e assegura que esse crescimento fora assinalado também pelo aumento
do número de grupos e sociedades espíritas que se formaram em diversas
localidades onde não os havia, quer no estrangeiro, quer na França. (Págs. 1 a
3.)
2. A Revista publica
o relato da cura de uma jovem obsidiada de Marmande. O autor da notícia é o Sr.
Dombre, que informa o leitor sobre as crises convulsivas experimentadas por
Valentine Laurent, de 13 anos. Essas crises, além de se repetirem várias vezes
por dia, eram de tal violência que cinco homens tinham dificuldade de mantê-la
na cama. Tratava-se de um caso obsessivo dos mais graves, produzido pelo
Espírito de Germaine, que se revelou em 16/9/1864. (Págs. 4 a 8.)
3. Valentine era
sensível ao tratamento recebido do Sr. Dombre por meio da imposição de mãos,
mas, tão logo ele se afastava, voltavam as crises. (Págs. 9 a 12.)
4. Depois de um longo
tratamento e de hábeis instruções transmitidas a Germaine, o Espírito que
perturbava Valentine, o processo obsessivo chegou ao fim e tudo se explicou.
(Págs.12 a 17.)
5. Germaine,
arrependida, pediu perdão à menina e disse que agora se sentia outra pessoa,
porquanto a prece que derramaram sobre seu Espírito tornara sua alma mais limpa
e extinguira sua sede de vingança. No dia seguinte, a conselho dos guias
espirituais, o Sr. Dombre fez com que Valentine adormecesse todos os dias pelo sono
magnético, de modo a livrar-se completamente da ação dos maus fluidos que a
tinham envolvido e, ao mesmo tempo, fortificar o seu organismo. É que, desde a
libertação, a jovem experimentava mal-estar, incômodos do estômago, pequenos
abalos nervosos, consequências do processo obsessivo. (Págs. 17 e 18.)
6. À margem do caso,
Kardec indaga: “Para que teria servido o magnetismo se a causa tivesse
subsistido?” Era preciso primeiro destruir a causa, antes de atacar os efeitos,
ou, pelo menos, agir sobre ambos simultaneamente, esclarece o Codificador,
mostrando que o magnetismo, por si só, é incapaz de curar as obsessões graves.
(Pág. 18.)
7. A Revista
transcreve o diálogo travado no ano de 1862 entre o Sr. Rul, membro da
Sociedade Espírita de Paris, e o Espírito de um jovem surdo-mudo de 12 a 13
anos, ainda encarnado. Na conversa o jovem disse que nascera assim como
expiação de seus crimes no passado: ele fora parricida. (Págs. 19 e 20.)
8. Reportando-se ao
livro “Aparição real de minha mulher após sua morte”, de 1804, em que o dr.
Carlos Woetzel descreve a aparição da própria esposa, que se lhe mostrou de
vestido branco, com o mesmo aspecto que tinha antes de morrer, Kardec informa
que, na descrição feita pelo dr. Woetzel a respeito do corpo etéreo apresentado
pela mulher, só faltou a palavra perispírito e acrescenta que, segundo o Sr.
Pezzani, o conhecimento do corpo espiritual remonta à mais alta antiguidade e
que apenas o nome de perispírito é moderno. (Págs. 21 e 22.)
9. São Paulo
refere-se com clareza à existência do corpo espiritual em sua 1ª Epístola aos
Coríntios, cap. 15, versículo 44. Woetzel o descobriu apenas pela força do
raciocínio. O Espiritismo, tendo-o estudado nos numerosos fatos que observou,
descreveu-lhe as propriedades e deduziu as leis de sua formação e de suas
manifestações. (Pág. 22.)
10. A propósito do
caso conhecido como o “ovo de Saumur”, sobre cuja casca viam-se, em relevo,
claramente desenhados, objetos de santidade e inscrições, Kardec adverte –
depois de afirmar que fatos como esse nenhuma relação têm com o Espiritismo –
que os espíritas não são tão crédulos quanto o dizem. “Desde que um fenômeno
insólito se apresente, eles procuram antes de tudo a explicação no mundo
tangível, e não misturam os Espíritos em tudo quanto é extraordinário, porque
sabem em que limites e segundo que leis sua ação se exerce.” (Págs. 22 a 24.)
11. A Revista noticia
o lançamento do livro “A Pluralidade das Existências da Alma”, de André
Pezzani, advogado na Corte Imperial de Lyon, na qual o autor demonstra que a
doutrina da metempsicose animal é posterior à doutrina da pluralidade das
existências humanas, ou reencarnação, e apenas uma derivação alterada desta.
(Págs. 24 e 25.)
12. A encarnação nos
animais foi ensinada ao vulgo como um freio às paixões. Encarnar em animais era
uma espécie de punição, criada com o objetivo de espantar as pessoas,
evitando-se assim que cultivassem vícios ou violassem as leis do Estado. Com
base nessa proposta, atribuída a Timeu de Locres, que fora mestre de Platão, as
almas dos homens tímidos reencarnariam em corpos de mulheres expostas ao
desprezo e às injúrias; as almas dos assassinos voltariam em corpos de animais
ferozes; a dos impudicos, em corpos de porcos e javalis. (Pág. 25.)
Respostas às questões propostas
A. Que ensinamento
nos trouxe o caso Valentine Laurent?
Esse caso mostrou que
o magnetismo, por si só, é incapaz de curar as obsessões graves, sendo
necessário, no tratamento da obsessão, atacar a causa, antes de atacar os
efeitos, ou, pelo menos, agir sobre ambos simultaneamente. (Revista Espírita
de 1865, pp. 17 e 18.)
B. A existência do
corpo espiritual era conhecida antes de Kardec?
Segundo Kardec, o
conhecimento do corpo espiritual remonta à mais alta antiguidade e apenas o
nome de perispírito é moderno. Paulo de Tarso, como sabemos, referiu-se com
clareza à existência do corpo espiritual em sua 1ª Epístola aos Coríntios, cap.
15, versículo 44. (Obra citada, pp. 21 e 22.)
C. Em que consistia a
doutrina da metempsicose?
A doutrina da
metempsicose surgiu, segundo André Pezzani, posteriormente à doutrina da
pluralidade das existências humanas e foi ensinada ao vulgo como um freio às
paixões. Encarnar em animais era uma espécie de punição, criada com o objetivo
de espantar as pessoas, evitando-se assim que cultivassem vícios ou violassem
as leis do Estado. Com base nessa proposta, atribuída a Timeu de Locres, as
almas dos homens tímidos reencarnariam em corpos de mulheres expostas ao
desprezo e às injúrias; as almas dos assassinos voltariam em corpos de animais
ferozes; a dos impudicos, em corpos de porcos e javalis. (Obra citada, pp. 24 e
25.)
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