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terça-feira, 30 de abril de 2024

 




O primeiro grande ato

 

CÍNTHIA CORTEGOSO

cinthiacortegoso@gmail.com

 

Há mais sabedoria em ausentar-se quando a própria presença não é valorizada, pois manter-se onde a emoção alheia é ausente, indiferente ou apática, decerto, é falta de amor-próprio. Nada nem ninguém terreno deve ser superior ao bem-estar particular. Não deve ser também comum sufocar-se para conseguir alguma aprovação ou caber em um espaço pequeno demais para um ser que é eterno e criado por Deus.

Certas vezes, ou por motivo terreno demais, ou por breve esquecimento da grandeza do nosso espírito, perdemo-nos ‒ mesmo que por pouco tempo ‒ tentando nos moldar onde não há espaço para nós. Ainda bem que para tudo há o despertar, há a retomada de memória da nossa verdadeira essência, há o brilho da centelha divina no nosso olhar. Quando precisamos fazer muito para conseguir um quase inexistente espaço para nos colocar e, com isso, passamos a não nos sentir bem, não há o que refletir, pois a reflexão já foi muito profunda que até o mal-estar já pôde atingir o corpo físico. Nada vale a pena quando precisamos sufocar ou simplificar o nosso ser; somos seres transcendentais e o que nos fará bem são somente pessoas ou situações que nos deem proveitosas condições de expansão.

Há muita sensibilidade em afastar-se quando o próprio valor não é reconhecido, primeiro, pois devemos ser o nosso doce pupilo; segundo, por que reivindicar algo que deve ser carinhosamente natural? E não só quanto à presença, vivência, mas, também, quanto à compreensão de nada dizer quando tudo já foi compreendido. Inúmeras vezes, apenas a observação já nos é integral para o entendimento de muitos acontecimentos, palavras, olhares e silêncios.

Quanto mais se apreende por meio da observação, mais tempo e aborrecimento são poupados, pois ter de fazer malabarismos emocionais para inserir-se onde não há correspondência, não há valor algum. A vida é inimaginavelmente grandiosa e surpreendente e, acima de tudo, tão sábia e justa, e tudo o que sentimos por nós é o que retornará à nossa vida. Então, o amor-próprio deve ser o primeiro sentimento a estar vivo em nós. Quando animamos as melhores coisas, serão estas a nos pertencer. Tudo se inicia em nós.

A maior gentileza que existe é respeitar o próprio ser, e não digo os próprios limites, pois isto, de fato, já fere o ser próprio. É sempre muito saudável e vital nutrir amor por si, porque quando este nobre sentimento é vivo, tudo mais é respeitado. E outros olhos virão à nossa vida, ouviremos novas palavras e quando, por meio de palavras amorosas e olhar sincero, o nosso coração sentir-se feliz e valorizado, certamente, o nosso ser é bem-vindo ao espaço ilimitado que nos receberá com imensurável amor, carinho e importância.

Em tempos de desenvolvimento, o que mais é necessário é o cuidado próprio. Não se tem força sobre o outro nem é o objetivo, mas podemos redefinir o nosso inteiro universo.

O primeiro grande ato é o amor-próprio.

 

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segunda-feira, 29 de abril de 2024

 


 

Dez sugestões

 

André Luiz

 

Dez sugestões para meditar, antes da crítica:

I - Colocar-nos no lugar da pessoa acusada, pesquisando no íntimo quais seriam as nossas reações nas mesmas circunstâncias.

II - Perguntar a nós mesmos o que já fizemos em favor da criatura em dificuldade para que ela não descesse de nível.

III - Reconhecer o grau de responsabilidade que nos compete no assunto em pauta.

IV - Observar o lado bom do irmão ou da irmã em lide, a fim de concluir se não temos mais razões para agradecer e louvar do que para aborrecer ou reprovar.

V - Recorrer à memória e lembrar, com sinceridade, se já conseguimos vencer qualquer grande crise moral da existência, sem o auxílio de alguém.

VI - Verificar, em sã consciência, se temos efetivamente certeza da falta pela qual são apontados o companheiro ou a companheira, em torno de quem somos convidados a emitir opinião.

VII - Deduzir, pelo estudo de nós próprios, se possuímos suficientes recursos para corrigir sem ofender.

VIII - Examinar até que ponto a criatura acusada terá agido exclusivamente por si ou sob controle e domínio de obsessores, sejam eles encarnados ou desencarnados, com interesse na perturbação do ambiente em que vivemos.

IX - Refletir na maneira pela qual estimamos ser tratados por nossos amigos quando entramos em erro.

X - Orar pelos nossos irmãos menos felizes e por nós mesmos, antes de criticar-lhes quaisquer manifestações.

 

Do livro Passos da Vida, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

 

 


 

 

 

 

 

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domingo, 28 de abril de 2024

 



Dos ensinamentos espíritas, qual o mais impactante?

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

 

Certa vez, conversando com um amigo que se iniciava nas lides espíritas, depois de longa atuação como médium em uma instituição umbandista, surgiu a seguinte questão: que tipo de informação colhida nos ensinamentos espíritas tinha sido mais impactante e relevante em nossa vida?

Tanto ele quanto nós, que já havíamos conhecido o Espiritismo na infância, expressamos naquela oportunidade o que sentíamos terem sido realmente os ensinamentos mais importantes que, até então, havíamos assimilado graças à doutrina espírita.

A reencarnação foi o primeiro ensino lembrado por ambos.

De fato, saber que já tivemos inúmeras experiências reencarnatórias, e ainda poderemos ter a oportunidade de retornar à cena, para retificar os erros do passado e construir um futuro melhor, é algo extraordinário.

A morte foi o outro tema citado a seguir e que, sem dúvida, não poderia ser esquecido. Ter perfeita compreensão de que a morte não existe, ou seja, é ocorrência que afeta apenas nosso corpo, mas em nada interrompe o curso de nossa vida, é algo extremamente esclarecedor e consolador.

Consolador porque nos mostra que a vida continua em outros planos e que é possível, sim, reencontrar os seres queridos que um dia tiveram grande importância em nossa vida.

Não nos referimos aqui somente aos nossos pais, nossos irmãos, nossos tios ou avós, mas também a pessoas como nossas professoras do curso primário, os mestres que nos orientaram ao longo dos anos, os colegas de trabalho que lidaram lado a lado conosco nos mais diferentes momentos da vida.

Imaginemos o reencontro com nosso pai e nossa mãe. Ela desencarnou quando tínhamos somente 5 anos de idade; ele desencarnou mais tarde, quando havíamos comemorado 31 anos poucos meses antes.

Quanta coisa rolou, quantos fatos, quantos trabalhos realizamos depois que eles partiram!

É claro – sabemos perfeitamente – que a partida de alguém, que de repente desaparece do plano físico, não significa que ele esteja ausente, nem que ignore os passos que tomamos ao longo dos anos. A respeito disso, num recado enviado por meio de um médium conhecido, nossa mãe disse certa vez que – caso ainda estivesse reencarnada – só poderia ver os filhos ocasionalmente, certamente uma vez por ano, se tanto. Contudo, como pessoa liberta das amarras do corpo material, ela nos visitava a todos com frequência e sabia perfeitamente de nossas necessidades e carências, diligenciando, como sempre fez quando encarnada, para que o socorro possível ou necessário se fizesse.

Referimo-nos neste momento a apenas dois temas – a reencarnação e a imortalidade da alma –, os quais integram os chamados princípios fundamentais do Espiritismo. A doutrina espírita nos fala, no entanto, de muitos outros assuntos de igual importância, que pretendemos examinar oportunamente neste mesmo espaço.

 

 

 

 

 

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sábado, 27 de abril de 2024

 



Zeca e o homem do banco

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com


 

Meu amigo Zeca é um rapaz atlético, que gosta de malhar e correr. Morador de um apartamento numa das quadras da Asa Norte, em Brasília, todo dia sai para correr ou exercitar-se na academia situada em frente do bloco de sua residência.

Em dois desses dias, encontrara um senhor mal vestido e sentado no banco de pedra que fica ao lado do bloco em que Zeca mora. No primeiro dia, ao passar por esse homem, meu amigo o cumprimentara e ele respondera com um olhar vazio, parecendo contemplar o céu azul de Brasília.

— Bom dia, senhor! Dissera Zeca animadamente.

— Bom dia, meu jovem. Respondera o maltrapilho, que parecia embriagado.

Zeca costuma ler, refletir e divulgar as mensagens do Evangelho. Não, ele não é evangélico, nem católico. É espírita.

Então, também lê, reflete e divulga a mensagem espírita à luz do Evangelho de Jesus. Acrescenta a isso o estudo das obras de Allan Kardec e do maior brasileiro de todos os tempos: o médium e espírita cristão Chico Xavier, além das obras de outro grande médium que ainda se encontra entre nós: Divaldo Franco, entre outras obras.

Zeca disse-me que se tem esforçado para pôr em prática os ensinamentos sublimes dessas obras. Simples assim. Não pretende aureolar-se com a luminosidade dos santos, pois sabe que cometeu e ainda comete muitos erros no relacionamento familiar e social, mas atento à frase de Allan Kardec de que o verdadeiro espírita é também verdadeiro cristão, esforça-se em praticar o que aprende nos estudos que realiza.

Pois bem, no segundo dia em que passou pelo homem do banco, percebeu que ele parecia estar carente de auxílio, pelo seu olhar tímido ao lhe responder ao cumprimento.

— Bom dia, senhor! voltou a cumprimentá-lo Zeca.

— Bom dia, meu jovem. Respondeu-lhe o homem do banco.

Zeca penalizou-se dele, mas estava com uniforme de corrida e, além de não possuir nenhum trocado consigo, nada lhe fora pedido, como da vez anterior.

Foi então que Zeca, ao se afastar, ouviu do homem do banco um tímido pedido:

— Não me leve a mal, mas o senhor teria umas roupas usadas e um par de calçado para me dar?

Surpreso com o pedido, mas sem poder atendê-lo de imediato, Zeca prometeu que na volta da corrida o atenderia.

Ao retornar do exercício, nosso amigo não mais viu o pedinte. Dizem que caridade tardia não é caridade, mas, atento à promessa que fizera, Zeca subiu para seu apartamento, tomou banho, vestiu uma roupa limpa, perfumou-se, buscou algumas roupas em bom estado, um par de tênis, pôs tudo isso num saco, e voltou a procurar o homem do banco, que ali não estava.

Então perguntou a Eurípedes, o porteiro do seu prédio, se este vira Jesus, que era o nome do homem do banco.

— Eu vi Jesus ainda há pouco. Talvez o senhor o encontre nas redondezas, seu Zeca. Respondeu-lhe Eurípedes.

Zeca saiu com a sacola na mão, deu uma volta pela quadra e — oh! surpresa — eis que se deparou com Jesus, bastante sujo e com uma garrafa de cachaça na mão. 

Ao receber de Zeca o saco com as roupas e calçado, além de uns trocados, Jesus perguntou-lhe, emocionado:

— Posso dar-lhe um abraço?

— Pois não, respondeu Zeca. E este mesmo o abraçou.

Em seguida, afastou-se e... nunca mais viu Jesus.

 

Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 

 

 

 

 

 

 

 

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sexta-feira, 26 de abril de 2024

 



Comunicações mediúnicas entre vivos

 

Ernesto Bozzano

 

Parte 12

 

Damos prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires e publicado pela Edicel.

Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para leitura.

Este estudo será publicado sempre às sextas-feiras.

 

Questões preliminares

 

A. Os fatos apoiam a tese de que nas manifestações mediúnicas entre vivos ocorre, de fato, uma conversa entre duas personalidades espirituais subconscientes? 

B. Que diz Bozzano sobre a outra explicação, que não admite a conversa, mas sim a coleta de certas informações por meio de uma clarividência telepática especial do sensitivo?

C. Nas comunicações entre vivos, o comunicante encarnado, vendo depois a mensagem psicografada pelo médium, costuma lembrar-se de tê-la escrito?

 

Texto para leitura

 

170. Como vimos, é fato positivamente verificado que, nas manifestações mediúnicas de vivos, trata-se de uma conversa entre duas personalidades espirituais subconscientes. Segue-se daí que as mesmas manifestações se transformam em provas decisivas de identificação pessoal dos vivos comunicantes, provas que, por sua vez, confirmam também, respectivamente, as manifestações análogas pelas quais se obtêm provas de identificação pessoal dos mortos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

171. Supondo-se, entretanto, como o fantasiam os opositores da hipótese espírita, que, nas comunicações mediúnicas entre vivos, os médiuns extraem das subconsciências destes as notícias que fornecem sobre a sua vida particular, deveriam ser interpretadas, de modo análogo, as provas em favor da identidade dos mortos, considerando-as um noticiário de fatos privados, surrupiados pelos médiuns às subconsciências dos vivos que conheceram o morto que se diz presente, tal coisa tornaria mais difícil a demonstração rigorosamente científica das provas de identificação espírita. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

172. Note-se que digo “mais difícil” somente e não teoricamente impossível, como pretendem alguns opositores. E digo assim porque tal demonstração se apoia solidamente em algumas modalidades de manifestação mais do que suficientes para distinguir as comunicações dos vivos daquelas dos mortos, como o demonstraremos nas conclusões. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

173. De qualquer maneira, repito que a hipótese de uma clarividência telepática especial, que possa selecionar à distância em alguma subconsciência alheia as notícias necessárias aos médiuns com a insulsa finalidade de se mistificar a si mesmo e aos outros, é puramente fantástica e cientificamente insustentável, por isso que destituída de qualquer fundamento na prática. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

174. Se quisessem explicar, com essa hipótese, os casos de identificação pessoal dos mortos, dever-se-ia pressupor que os médiuns conseguem selecionar nas subconsciências alheias coisinhas insignificantes, ocorridas, algumas vezes, mais de um século antes, sucedidas, não com a própria pessoa examinada pelo médium e sim com outras pessoas dele conhecidas. E isto mesmo quando o vivo em exame já esqueceu completamente e há muitos anos as ninharias em questão, o que o médium descobriria, selecionaria e surrupiaria igualmente da subconsciência de tal pessoa. Francamente, nada disto é sensato e parece incrível que tenhamos de levá-lo a sério, porque se encontram eminentes cientistas que acolhem, favoravelmente, tais fantasias. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

175. Passando a outras experiências com a mesma sensitiva, menciono aqui a narrativa de uma visita a Windsor, feita pela Srta. Summers, transmitida mediunicamente a Stead, do qual se achava a 250 milhas de distância. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

176. Em 15 de outubro de 1893, pôs-se diante da mesa, dirigindo o pensamento para a sua “correspondente espiritual”. Sua mão começou então a escrever o seguinte:

“Faz um dia esplêndido. Parti da estação de Paddington pelo trem de 1:15. Cheguei a Windsor, visitei o castelo, gozamos da vista desde o terraço e passamos logo a visitar a capela de São Jorge. Tinha desejado fazê-lo detidamente, porém, por falta de tempo, passei para o parque, em busca do seu célebre carvalho, sem chegar a encontrá-lo. Gamos saíam de todos os lados. Errei pelo bosque, encontrando um velho carvalho, mas não era o que procurava. Gastei três xelins de trem, meia coroa em comida, seis pence de telegrama e ônibus, num total de cinco xelins e dez pence.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

177. William Stead, muito oportunamente, observa:

“Tais informações se verificaram exatas: a hora da saída do trem, a sucessão dos fatos, os gastos, tudo exceto a soma, em que se enganou. Curioso esse erro de soma, frequente nas comunicações entre vivos e mortos, erro que provavelmente não depende de interferências subconscientes, senão de um mau cálculo da personalidade normal da Srta. Summers, acolhido pela personalidade subconsciente.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

178. Citarei ainda um exemplo tomado das experiências com a Srta. Summers, que servirá para convalidar quanto se disse sobre a sinceridade, sem reservas, com que as personalidades subconscientes confiam a um terceiro os seus casos mais delicados. Em 20 de setembro de 1893, Stead, como de costume, dirigiu seu pensamento à Srta. Summers, pedindo notícias. Imediatamente sua mão escreveu o seguinte:

“Hoje, para mim, é um dia de tristes ilusões. Em paga do meu trabalho recebi uma quantia bem inferior à que esperava, de modo que passo por dificuldades econômicas. Não lhe quis dizer nada, pois sabia que me daria o que me faz falta, mas não o quero. Entre outras coisas, devo três libras ao senhorio, mas logo lhe pagarei.

Eu lhe disse:

– Mandar-lhe-ei o que lhe faz falta.

– Não, não o aceitarei. Devolverei a quantia, pois não quero ser uma colaboradora mercenária.

No dia seguinte, enviei à casa da Srta. Summers uma pessoa de toda a minha confiança, a qual me confirmou tudo o que havia sido escrito mediunicamente. Aconteceu, porém, que quando a Srta. Summer soube que eu me havia inteirado de suas dificuldades econômicas, teve um grande desgosto.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

179. Pelo caso exposto, vê-se que nas experiências em exame não pode tratar-se de clarividência telepática, mas de verdadeiro diálogo entre duas personalidades subconscientes. Observe-se que, quando Stead disse: “Mandar-lhe-ei o que lhe faz falta”, a Srta. Summers respondeu: “Não, não o aceitarei”, resposta que implica uma ação dialogada no presente, e de nenhuma forma uma seleção de recordações latentes na subconsciência alheia. E, como o diálogo se mostrou verídico, não é o caso de invocar a hipótese das chamadas “novelas subliminais” ou subconscientes. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

180. O caso que segue se deu entre Stead e seu próprio filho, quando se achava no Reno, em viagem de recreio. Escreve o pai:

“Meu filho levava consigo uma Kodak e, como com frequência acontece, ficou sem chapas, de maneira que nos escreveu pedindo-as. Fi-las enviar e, quando já haviam transcorrido os dias necessários para o seu recebimento, interroguei-o mediunicamente, respondendo ele que as esperava com impaciência, pois não haviam chegado. Pedi informações e disseram-me que as chapas tinham sido enviadas. Porém, dois dias após, meu filho escreveu por minha mão: ‘Por que não me remete as chapas?’ Informei-me mais uma vez e soube mais uma vez que as chapas tinham sido expedidas havia já uma semana. Deduzi que minha mão estava sendo influenciada por interferências subconscientes e não quis provocar novos ditados de meu filho. Quando, porém, voltei para casa, soube com espanto que as chapas não tinham chegado ao seu destino e que as duas perguntas impacientes ditadas, em seu nome, pela minha mão em Wimbledon, correspondiam exatamente ao estado de ânimo de meu filho, quando se encontrava em Boppart.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

181. No caso exposto, e do ponto de vista da autenticidade das comunicações mediúnicas entre vivos, é interessante a circunstância de que Stead tinha a certeza de que as chapas fotográficas já haviam sido expedidas, certeza esta irreconciliável com a hipótese de uma mistificação subconsciente, pois em tal caso o pai devia ter-se sugestionado no sentido da própria certeza e provocar uma resposta conforme a mesma e, ao contrário, como a realidade era outra, a resposta do filho vinha de acordo com a realidade, a qual confirma que realmente existia o diálogo mediúnico. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

182. O episódio seguinte se deu com uma pessoa que ignorava o fato de William Stead fazer experiências de comunicação mediúnica entre vivos, não havendo com a mesma laços especiais de família ou de simpatia. Escreve ele:

“Poder-se-ia objetar que meu filho ou a Srta. Summers sabiam que eu tencionava fazê-los escrever com a minha mão, porém não se pode dizer o mesmo no caso seguinte, em que se trata de uma senhora estranha e com a qual eu só havia falado uma vez.

Há alguns meses eu me achava em Redcar, no norte da Inglaterra, e fui à estação esperar a referida senhora, colaboradora da Review of Reviews, que me havia escrito informando que chegaria ali pelas três da tarde.

Eu era hóspede de meu irmão, cuja casa se encontrava a uns dez minutos da estação. Quando faltavam cerca de vinte minutos para as três, pensei que, com a expressão “ali pelas três da tarde”, aquela senhora queria significar algum tempo antes da hora indicada e, como não tinha no momento um guia de horário das estradas de ferro, dirigi meu pensamento para a senhora, pedindo que me informasse, por intermédio de minha mão, a hora precisa da chegada do trem. É preciso notar que era a primeira vez que eu tentava a experiência com ela, e a resposta veio logo, dizendo que o trem chegaria às três menos dez. Não havia tempo a perder, porém, antes de sair de casa, quis saber em que estação se achava ela naquele momento. Minha mão escreveu:

– Neste momento o trem entra na curva antes da estação de Redcar. Dentro de um minuto chegaremos.

Perguntei ainda:

– Por que tanto atraso?

– Não sei por quê. Deteve-se muito na estação de Middlesbourough.

Guardei o papel e fui para a plataforma; o trem aparecia. Quando a senhora desceu, perguntei-lhe:

– Por que tanto atraso?

– Ignoro o motivo. O trem se deteve muito na estação de Middlesborough – respondeu-me.

Então eu lhe dei o papel para ler. Ela confirmou tudo o que eu havia escrito, acrescentando que não tinha nenhuma lembrança de ter sido interrogada telepaticamente por mim, nem de haver respondido.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

183. No episódio narrado fica bem clara a autenticidade do fenômeno de comunicação entre vivos, como também de se haver desenrolado uma conversa verdadeira e própria, entre duas personalidades espirituais subconscientes. O episódio torna oportuna uma discussão ulterior para esclarecimento do asserto de que, quando uma pessoa entra em relação psíquica e conversa mediúnica com outra pessoa distante, deve necessariamente cair em sonolência notória ou disfarçada. De fato, no caso em apreço, nota-se que a amiga de William Stead teve de responder às suas perguntas em dois tempos diversos e que em ambas as vezes o fez imediatamente. Surgem, portanto, os seguintes quesitos: “É lícito admitir-se essa rapidez na passagem do estado normal à condição de inconsciência e vice-versa?” Parece que sim. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

184. Durante a conferência de Stead em The London Spiritualist Alliance, foram formulados tais quesitos, e o Rev. G. W. Allen narrou, a propósito, o seguinte incidente pessoal que tende a demonstrar essa possibilidade:

“Tinham de extrair-me dois dentes molares e fui aconselhado a submeter-me à ação do clorofórmio. Eu me achava em estado de convalescença de grave enfermidade e sob a suspeita de que, em tal estado de saúde, o clorofórmio me faria mal, tornava-me um tanto hesitante. Quando começaram a aplicar-me o anestésico, fui tomado de um grande pânico e tirei a máscara, exclamando: ‘Não aguento, não quero tomá-lo’. O médico que me estava cloroformizando disse-me: ‘Fez muitíssimo mal em retirar a máscara, porque estava a ponto de adormecer. Experimente de novo e lhe garanto que tudo correrá bem’. Igualmente, a enfermeira, por sua vez, também me animava e por isso me decidi a submeter-me à prova, mesmo com o risco de sucumbir. Ajustaram-me de novo a máscara e respirei profundamente algumas vezes, depois levantei-me de um salto e sentei-me no leito, exclamando: ‘É inútil tentar a prova. Não posso adormecer’. O doutor disse-me: ‘Faça o favor de lavar a boca com esta solução’. Perguntei-lhe: ‘Por quê?’ Acrescentou ele: ‘Porque já lhe extraímos os dentes!’ Pois bem, eu teria jurado por qualquer tribunal de justiça que não havia perdido a consciência um só momento. E, ao contrário, tinha ficado inconsciente o tempo preciso para me extraírem dois dentes. Assim sendo, não é perfeitamente admissível que se possa realmente passar a outra condição de existência por um tempo mais ou menos curto, sem disso conservar recordação alguma?” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) (Continua no próximo número.)

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Os fatos apoiam a tese de que nas manifestações mediúnicas entre vivos ocorre, de fato, uma conversa entre duas personalidades espirituais subconscientes? 

Claro. Bozzano apresenta neste livro inúmeros casos, todos comprovados, nos quais é evidente que em um número enorme de fenômenos a conversa gira em torno de assuntos ou ocorrências atuais, e não sobre fatos registrados no passado. William Stead contribuiu de forma notável com suas experiências para a comprovação dessa tese. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

B. Que diz Bozzano sobre a outra explicação, que não admite a conversa, mas sim a coleta de certas informações por meio de uma clarividência telepática especial do sensitivo?

Bozzano afirma que tal explicação é puramente fantástica e cientificamente insustentável, porque destituída de qualquer fundamento na prática, ou seja, ela não se apoia em fatos, como os exemplos mostrados neste livro comprovam de forma cabal. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

C. Nas comunicações entre vivos, o comunicante encarnado, vendo depois a mensagem psicografada pelo médium, costuma lembrar-se de tê-la escrito?

Muitos fatos descritos nesta obra mostram que não. Ele confirma o que está escrito, as informações que ali estão grafadas, mas não se recorda de haver escrito a mensagem. Pelo menos, na maioria dos casos. É como ocorre nos sonhos, cujo conteúdo nem sempre lembramos, porque se dão durante o sono corpóreo, e não no estado de vigília. O caso que se passou com William Stead em Redcar, no norte da Inglaterra, quando ele foi recepcionar uma senhora, colaboradora da Review of Reviews, mostra exatamente isso. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 11 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui:  https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/04/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos.html

 

 

 

 

 


 

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