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sábado, 29 de fevereiro de 2020


O que somos: kardecistas ou espíritas?

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Segundo meu irmão espírita R., no "meio espírita" existe uma confusão sobre o que seja Espiritismo e Kardecismo, pois este último termo designa os adeptos dos ensinos de Allan Kardec, enquanto o anterior se refere à Doutrina dos Espíritos superiores, cujos adeptos são os espíritas. R. deduz que, nas obras codificadas por Kardec, há posições deste, como também há a dos Espíritos superiores, que "destoam indubitavelmente". Daí, conclui haver, sim, Kardecismo e Espiritismo...
Em seguida, cita o exemplo da questão 540 d'O Livro dos Espíritos (LE), primeira obra espírita publicada por Kardec. Aqui, diz, os Espíritos superiores afirmam que a evolução espiritual ocorre do átomo ao arcanjo, mas Kardec, em seus comentários à questão 613 da obra citada, alega que "a questão da evolução espiritual do homem está nos segredos de Deus".
Permita-me discordar de você, meu caro irmão. Kardec refere-se, nos comentários à questão 613, sobre "o ponto de partida do Espírito" e não à questão de nossa evolução espiritual. Os próprios Espíritos superiores já o haviam esclarecido sobre esse assunto, quando disseram que "[...] no homem, a inteligência passou por uma elaboração que a coloca acima da que existe no animal" (questão 606-a do LE). E, na questão 607-b, afirmam que "o ponto de partida da primeira encarnação humana" é iniciado, em geral, "em mundos ainda mais inferiores à Terra", embora possa acontecer que o homem, excepcionalmente, "desde o seu início humano, esteja apto a viver na Terra".
Como na questão 608 somos informados de que mal nos lembramos de nossas "primeiras existências humanas", e na questão 610 é dito que o homem é, de fato, "um ser à parte, visto possuir faculdades que o distinguem de todos os outros e ter outro destino", foi ao "o ponto de partida do Espírito", esquecido no tempo, como foi dito na questão 609, que Kardec quis referir- se, em nosso modesto entendimento. Em que momento isso ocorre é o que o Codificador diz que está nos desígnios de Deus.
Kardec jamais se enganou em seus comentários ao que os Espíritos superiores nos transmitiram? Isso não se pode afirmar. Não vem ao caso aqui citar os pontos em que ele mesmo reconheceu ter-se enganado. Outros, ele não teve tempo de aprofundar melhor, mas também não vale a pena citar neste espaço quais, para não criar polêmicas totalmente contrárias ao espírito de tolerância recomendado por ele e pelos Espíritos superiores.
Divergências à parte, concordo com o que R. me disse ter sido afirmado pelo tribuno espírita de nossa mais alta estima e consideração, Divaldo Pereira Franco: "Não somos kardecistas, e sim espíritas". Isso, porém, em nada diminui o mérito de Allan Kardec, e muito menos o de outros missionários da revelação dos Espíritos. O que precisamos, antes de mais nada, é ser espíritas cristãos, ou seja, adeptos da Doutrina Espírita à luz da Boa Nova trazida à Terra por aquele que o Espírito Emmanuel denominou "Luz do Mundo", o Cristo de Deus, "Caminho, Verdade e Vida". Esse é o verdadeiro espírita...
                                                                         




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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020



A morte e os seus mistérios

Ernesto Bozzano

Parte 22

Continuamos o estudo do clássico A morte e os seus mistérios, de Ernesto Bozzano, conforme tradução de Francisco Klörs Werneck. O estudo foi aqui dividido em 24 partes. Nossa expectativa é que ele sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de: a) questões preliminares; b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

Questões preliminares

A. O caso XVI apresenta, além da visão panorâmica dos episódios passados, um fato inteiramente novo. Que fato é esse?
B. Os fatos de visão panorâmica, no tocante aos desencarnados, verificam-se em que momento?
C. Que descrição fez do plano espiritual o escritor George Elliot?

Texto para leitura

335. Caso XVI - Num opúsculo intitulado How I became a Spiritualist (Como me tornei espiritualista), James Smith, conhecido escritor espírita, conta como ele foi progressivamente levado a se interessar pelas experiências mediúnicas. Certa noite, ele deixou-se convencer a assistir a uma sessão espírita em que se manifestou seu próprio irmão, falecido anos atrás.
336. Ele assim relatou o episódio: "O médium, mergulhado em profundo sono, volta-se para mim e diz: - Ao seu lado está um jovem extremamente parecido consigo. Ele se mostra a mim como se saído da água e afirma ser seu irmão. Quando tomou posse do médium, o recém-vindo descreveu sua morte por afogamento, acrescentando que, no momento supremo, passaram diante de seus olhos, em traços rápidos e como que em panorama, os acontecimentos de sua vida inteira, seguidos de outro panorama, onde se delinearam todas as circunstâncias, não ainda vividas, do resto dessa mesma existência, tal como deveria desenrolar-se caso ele houvesse escapado à morte e continuado a viver até o termo natural de sua vida terrena".
337. A última afirmativa do Espírito comunicante quer dizer que na "visão espiritual" desfilaram, em panorama, os acontecimentos do resto de sua existência, a mesma que deveria realizar-se caso não sucedesse o acidente fatal e ocasional de morte por asfixia. A sua natureza sugere considerações novas e interessantes sobre o tema do livre-arbítrio, do destino e da fatalidade, considerações que Bozzano se absteve de formular, em vista da insuficiência do equilíbrio das bases sobre as quais se apoiam.
338. Contudo, do ponto de vista da abstração filosófica – que permite dela nos afastarmos, à vontade, no campo das ideias – tal indício de uma nova concepção do ser, em relação ao fatalismo, merece, segundo ele, ser considerado em face dos horizontes inexplorados que permitem ao pensador entrever.
339. Caso XVII - A Srta. Lillian Whiting, conhecida autora em assuntos espíritas, relata, na Light, interessante sessão realizada por uma de suas amigas com a Senhora Keeler, médium com quem o Dr. Hodgson realizou longa série de experiências. A essa amiga se manifestou uma entidade desencarnada pouco antes, a quem ela perguntou quais haviam sido suas primeiras impressões no mundo espiritual.
340. São as seguintes as palavras da Srta. Whiting: "A entidade se lembra de ter atravessado um período de longa inconsciência. Depois do que despertou subitamente ao som de uma voz que conhecia, ao que se seguiu música paradisíaca, tudo tão surpreendente de maneira a não poder ela compreender como essa música e voz se fizessem ouvir no seu aposento. Então, ela viu surgir uma árvore de luz que, gradualmente, se tornara resplandecente. A seguir, apareceram-lhe rostos de numerosas pessoas queridas, gente falecida havia muitos anos. Diante de tal espetáculo, foi tomada de surpresa e, quase apavorada, se perguntava o que podia ter acontecido e qual o significado de tudo isso. De repente, foi-lhe revelado que acabara de passar pela transformação a que as vivos chamam morte.”
341. Nesse momento, a relatora reproduz as palavras exatas da entidade, que se exprimiu da seguinte forma: "Num relâmpago, tudo o que eu fizera durante a vida e tudo o que eu realmente havia sido me foram mostrados em panorama perfeitamente igual ao que se espera na hora do Juízo, porque, realmente, na visão que sucessivamente se desenrolava diante de mim, nos êxitos e insucessos de minha vida, eu avaliava exatamente o Bem e o Mal que estavam contidos nela."
342. Neste caso, a "visão panorâmica" não se produziu na ocasião da morte, mas já na vida espiritual, depois do período de inconsciência ou de sono. E o desenrolar da visão está descrita pela entidade como a "hora do Juízo", hora em que a significação intrínseca moral e real das ações praticadas na existência terrena se revela inexoravelmente e é desvendada ao protagonista desencarnado.
343. Observa Bozzano que todos estes detalhes estão de acordo com as doutrinas das escolas ocultistas no que se refere à distinção estabelecida entre a "visão panorâmica'' que se produz na iminência da morte e a que se produz já na existência espiritual. A primeira é uma síntese recapitulativa; a segunda tem o caráter de "julgamento com a sua sanção", que se desenrola automaticamente em virtude da natureza intrínseca do Espírito e que é o prelúdio de seu destino, ou "gravitação" do Espírito para a esfera a que está destinado; isto se produz unicamente pela aplicação do princípio que governa o universo físico e psíquico: a lei das afinidades.
344. Caso XVIII – Este caso foi colhido nos Proceedings of the S. P. R. Sabe-se que, em certas sessões em que operava como médium a Sra. Piper, manifestou-se uma entidade que afirmou ser o conhecido escritor inglês George Elliot. Assim, na sessão de 5 de março de 1897, Elliot descreve ao Dr. Hodgson o seu despertar no mundo dos Espíritos: "Experimentei, repentinamente, a mais bela a mais indescritível sensação de liberdade a que se possa aspirar. Reconheci que os ideais de minha vida haviam sido literalmente grosseiros em confronto com os verdadeiros ideais. Apenas separado do corpo, que sempre fora um enigma para mim, tive a prova de ter-me sempre enganado em minhas suposições. Pouco depois desse momento, surgiram ao meu Espírito, e num relâmpago, as recordações de minha vida inteira. Cada palavra, cada pensamento, que passara pelo meu cérebro, cada ato de minha existência, desfilaram diante de mim como em maravilhoso panorama. Nada mais extraordinário do que meu despertar no ambiente espiritual, onde os aromas balsâmicos são de natureza indescritível e ultrapassam, em suavidade, os poderes da compreensão humana. Jamais vivente algum poderá formar concepção remota desta verdade. É simplesmente impossível sugerir uma pálida ideia desta existência maravilhosa e torná-la acessível à mente dos encarnados. Para compreendê-la, seria preciso conhecê-la. Durante minha vida, frequentemente me absorvi em profundas meditações e deixava meu pensamento rumar para o fantástico, presumindo que algo deveria existir para lá do sepulcro, mas eu não conseguia formular uma ideia... Aqui, como já vos disse, tive uma visão de minha vida inteira e recordei-me de todos os pensamentos que surgiram fugidiamente em meu Espírito... Em seguida, fui presa pelo tormento dos remorsos que, contudo, não duraram muito tempo..., talvez a duração de alguns de vossos dias. Decorrido esse tempo, senti-me invadido por uma sensação de extrema felicidade como igual eu não havia nunca experimentado durante minha existência terrena. Nada mais perturbava a minha alma. Senti-me livre, exultante! E entoei um hino de amor, compreendendo que, também eu, constituía uma partícula integrante do amor universal!"
345. Novamente, neste caso, a experiência da "visão panorâmica" produziu-se depois da crise da morte e, também nesta circunstância, manifestou-se o "tormento dos remorsos", em seguida ao desenrolar da visão.
346. No texto intitulado “Conclusões”, Bozzano diz que pelos fatos apresentados seu objetivo foi demonstrar o valor teórico de que se revestem os fenômenos da "visão panorâmica", valor que permanecera até então mal compreendido, pois que fisiologistas e psicólogos sempre fizeram alusão a essa categoria de fatos, concedendo-lhe, porém, significação estritamente limitada à pesquisa dos automatismos subconscientes de natureza psicofisiológica.
347. No entanto, os fenômenos em questão, juntamente com seus análogos, porém muito menos sugestivos, da "hipermnésia" e da "criptestesia", concorrem para demonstrar, de maneira cientificamente resolutiva, a existência, na subconsciência humana, de uma "memória sintética", perfeita e indelével, susceptível de emergir, em toda a sua plenitude, em raras ocasiões, que, em regra geral, são determinadas pela iminência do perigo de morte. Esta última característica deveria levar os homens de ciência a serem mais reservados nas suas fórmulas explicativas, quando procurarem esclarecer o problema.
348. Tudo tendia para demonstrar que as faculdades supranormais subconscientes eram faculdades espirituais sensório-psíquicas, existindo em estado latente na subconsciência humana. Em face disso, dever-se-ia presumir que acontecia o mesmo com a "memória sintética", que evidentemente aí existe em estado latente, aguardando o momento de emergir e de se manifestar no ambiente espiritual.
349. Semelhantes induções, rigorosamente lógicas, trouxeram à luz um outro problema. Se era assim como foi dito, se a "memória sintética" devia ser considerada como uma reserva mnemônica perfeita, destinada a sobreviver à morte do corpo, neste caso, ela não podia residir nos centros corticais, bem como as faculdades supranormais subconscientes não podiam ser – como não eram – função do órgão cerebral.
350. Isto, para as faculdades supranormais subconscientes, era fácil de demonstrar, visto que elas eram independentes da lei de seleção natural e emergiam em razão inversa da atividade da consciência normal. Sobre este ponto, e para a "memória sintética", tal indução era menos evidente, ainda que, entretanto, o fato mesmo de sua existência subconsciente, em condições perfeitas e permanentes, devesse levar racionalmente a julgar a que a "memória sintética" devia ser função de alguma coisa permanente.
351. Com efeito, psicólogos e filósofos não haviam deixado de o observar e, há pouco, o Dr. Geley havia escrito a respeito: "Para que esta recordação seja vivificada, é preciso, com toda evidência, que ela esteja ligada a alguma coisa de permanente. A criptomnésia, como a criptopsiquia, demonstra a insuficiência absoluta da concepção organocêntrica".
352. Isto é rigorosamente verdadeiro e é impossível aos contraditores refutar tal afirmativa, solidamente fundada nos fatos, afirmativa que me lembra a experiência de "autoscopia" sonambúlica do Dr. Sollier, já citada por Bozzano em sua monografia sobre os "Fenômenos de bilocação", pois que ela se mostra admiravelmente de acordo com a afirmação do Dr. Geley, assim como com os ensinos das escolas ocultistas, que situam a sede das faculdades sensório-psíquicas no "corpo astral".

Respostas às questões preliminares

A. O caso XVI apresenta, além da visão panorâmica dos episódios passados, um fato inteiramente novo. Que fato é esse?
O Espírito comunicante disse que passaram diante dos seus olhos, em traços rápidos e como que em panorama, os acontecimentos de sua vida inteira, seguidos de outro panorama, onde se delinearam todas as circunstâncias, não ainda vividas, do resto dessa mesma existência, tal como deveria desenrolar-se caso ele houvesse escapado à morte e continuado a viver até o termo natural de sua vida terrena. (A morte e os seus mistérios. Casos de "visão panorâmica". 3ª categoria: Caso XVI.)
B. Os fatos de visão panorâmica, no tocante aos desencarnados, verificam-se em que momento?
A experiência comprova que a "visão panorâmica" pode produzir-se por ocasião da morte ou na vida espiritual, antes ou depois do período de inconsciência ou de sono. (Obra citada. Casos de "visão panorâmica". 3ª categoria: Caso XVII.)
C. Que descrição fez do plano espiritual o escritor George Elliot?
Segundo ele mesmo disse, foi extraordinário seu despertar no ambiente espiritual, onde os aromas balsâmicos são de natureza indescritível e ultrapassam, em suavidade, os poderes da compreensão humana. “Jamais vivente algum poderá formar concepção remota desta verdade. É simplesmente impossível sugerir uma pálida ideia desta existência maravilhosa e torná-la acessível à mente dos encarnados”, eis as palavras por ele ditas. (Obra citada. Casos de "visão panorâmica". 3ª Categoria: Caso XVIII.)

Observação:
Para acessar a Parte 21 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/02/a-morte-e-osseus-misterios-ernesto_21.html




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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020



O Livro dos Espíritos

Allan Kardec

Estamos fazendo neste espaço – sob a forma dialogada – o estudo dos oito principais livros do Codificador do Espiritismo. Serão ao todo 1.120 questões objetivas distribuídas em 140 partes, cada qual com oito perguntas e respostas.
Os textos são publicados neste blog sempre às quintas-feiras.
Continuamos hoje o estudo da principal obra espírita – O Livro dos Espíritos –, cuja publicação inicial ocorreu em 18 de abril de 1857.

Parte 10

73. Qual a causa das simpatias e antipatias terrenas? 
A simpatia nem sempre tem por princípio um anterior conhecimento. Dois Espíritos que se ligam bem naturalmente se procuram um ao outro, sem que se tenham conhecido como homens. Entre os seres pensantes há ligações que ainda não conhecemos. O magnetismo é o piloto dessa ciência, que mais tarde compreenderemos melhor. A antipatia pode derivar da diversidade no modo de pensar. Um Espírito mau antipatiza com quem quer que o possa julgar e desmascarar. Ao ver pela primeira vez uma pessoa, logo sabe que vai ser censurado. Seu afastamento dessa pessoa se transforma em ódio, em inveja e lhe inspira o desejo de praticar o mal. O bom Espírito sente repulsão pelo mau, por saber que este o não compreenderá e porque díspares dos dele são seus sentimentos. (O Livro dos Espíritos, questões 386 a 391.)
74. Por que o Espírito reencarnado perde a lembrança do seu passado? 
O homem não pode nem deve saber tudo. Deus assim o quer em sua sabedoria. Sem o véu que lhe oculta certas coisas, a pessoa ficaria ofuscada, como quem, sem transição, saísse do escuro para o claro. Esquecido de seu passado, o homem é mais senhor de si. (Obra citada, questões 392, 393 e 395.)
75. Por quais indícios podemos saber o gênero de nossa existência anterior? 
O indício mais seguro quanto a isso são nossas tendências instintivas. Não conhecemos os atos que praticamos no passado, mas podemos saber qual o gênero das faltas cometidas e qual o cunho predominante do nosso caráter pelas tendências que nos caracterizam o ser. A natureza das vicissitudes e das provas que sofremos também nos podem esclarecer acerca do que fomos e do que fizemos, do mesmo modo que neste mundo julgamos dos atos de um culpado pelo castigo que lhe inflige a lei. Assim, o orgulhoso será castigado no seu orgulho, mediante a humilhação de uma existência subalterna; o mau rico e o avarento, pela miséria; o que foi cruel para os outros, pelas crueldades que sofrerá; o tirano, pela escravidão; o mau filho, pela ingratidão de seus filhos; o preguiçoso, por um trabalho forçado etc. (Obra citada, questão 399, seguida dos comentários de Kardec.)
76. Que acontece durante o sono? A alma também repousa como o corpo? 
Durante o sono, a alma não repousa como o corpo. O Espírito jamais está inativo. Durante esse estado afrouxam-se os laços que o prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele se lança pelo espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos. Podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono pelos sonhos. (Obra citada, questões 401, 402 e 407.)
77. É necessário o sono completo para a emancipação do Espírito?
Não; basta que os sentidos entrem em torpor para que o Espírito recobre sua liberdade. Para se emancipar, ele se aproveita de todos os instantes de trégua que o corpo lhe concede. Desde que haja prostração das forças vitais, o Espírito se desprende, tornando-se tanto mais livre quanto mais fraco for o corpo. (Obra citada, questões 407 a 409.)
78. Duas pessoas que se conhecem podem visitar-se durante o sono? 
Sim, e muitas pessoas que julgam não se conhecerem costumam reunir-se e falar-se. É tão habitual o fato de irmos encontrar-nos, durante o sono, com amigos e parentes, com os que conhecemos e que nos podem ser úteis, que quase todas as noites fazemos essas visitas. (Obra citada, questões 414, 415 e 416.)
79. Qual é a causa de uma mesma ideia surgir ao mesmo tempo em muitos lugares diferentes? 
São Espíritos simpáticos que se comunicam e veem reciprocamente seus pensamentos respectivos. Há, entre os Espíritos que se encontram, uma comunicação de pensamento, que dá causa a que duas pessoas se vejam e compreendam sem precisarem dos sinais ostensivos da linguagem. Poder-se-ia dizer que falam entre si a linguagem dos Espíritos. O fato é, aliás, comum durante o chamado sono corpóreo. (Obra citada, questões 419, 420 e 421.)
80. Como duas pessoas podem comunicar-se a distância? 
O Espírito não se acha encerrado no corpo como numa caixa; ele irradia por todos os lados. Segue-se que pode comunicar-se com outros Espíritos, mesmo em estado de vigília, se bem que mais dificilmente. (Obra citada, questões 420 e 421.)


Observação:
Para acessar a Parte 9 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/02/o-livro-dos-espiritos-allan-kardec_20.html




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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020


Missionários da Luz

André Luiz

Estamos publicando neste espaço – sob a forma dialogada – o estudo de onze livros escritos por André Luiz, integrantes da chamada Série Nosso Lar. Serão ao todo 960 questões objetivas distribuídas em 120 partes, cada qual com oito perguntas e respostas.
Os textos são publicados neste blog sempre às quartas-feiras.
Damos prosseguimento hoje ao estudo do livro Missionários da Luz, obra psicografada pelo médium Chico Xavier.

Parte 9

65. Qual é a necessidade da doutrinação de Espíritos por parte dos encarnados?
A doutrinação realizada pelos encarnados não é, segundo Alexandre, um recurso imprescindível, porque existem na esfera espiritual inúmeros agrupamentos dedicados exclusivamente a esse gênero de auxílio. Em certos casos, porém, a cooperação do magnetismo humano pode influir mais intensamente em benefício dos desencarnados que se encontrem cativos das zonas de sensação, na Crosta. Assim, quando é possível e útil, os Espíritos se valem do concurso de médiuns e doutrinadores encarnados, não só para facilitar a solução desejada, mas também para proporcionar ensinamentos vivos aos companheiros envolvidos na carne, despertando-lhes o coração para a espiritualidade. (Missionários da Luz, cap. 17, pp. 278 a 280.)
66. Onde o erro dos ministros religiosos que se desviam?
Seu erro, que deriva de suas imperfeições morais, advém do fato de darem sentido literal aos ensinamentos da fé, de estimarem os interesses imediatos, de buscarem as honrarias humanas e, por fim, de se furtarem à lei do testemunho próprio, no campo das virtudes edificantes. Por causa disso, a maioria não pondera na exemplificação do Mestre Divino e cerra os olhos e ouvidos aos sacrifícios apostólicos. (Obra citada, cap. 17, pp. 281 a 284.)
67. De onde vêm os recursos plásticos utilizados na sessão de doutrinação dos Espíritos e qual é a sua finalidade?
As forças mentais – vigorosos recursos plásticos – são emitidas pelos médiuns e demais componentes da reunião. Esse material é utilizado pelos benfeitores espirituais para se tornarem visíveis aos irmãos perturbados e aflitos ou para materializar provisoriamente certas imagens ou quadros, indispensáveis ao reavivamento da emotividade e da confiança nas almas infelizes. (Obra citada, cap. 17, págs. 289 a 296.)
68. Que efeito teve sobre Marinho a presença de sua mãe na reunião mediúnica?
A presença materna produziu salutares efeitos naquele coração exasperado e desiludido. O ex-padre não poderia ser arrebatado das sombras para a luz somente em virtude do amor da mãe, mas, ao receber o auxílio fraterno dos Espíritos, poderia agora utilizar esses elementos novos para colocar-se no caminho da vida mais alta. (Obra citada, cap. 17, pp. 293 a 294.)
69. Como conceituar corretamente obsidiados e obsessores?
O obsidiado é quase sempre um enfermo, representando uma legião de doentes invisíveis ao olhar humano e constitui, em todas as circunstâncias, um caso especial, exigindo muita atenção, prudência e carinho. Obsidiado e obsessor são duas almas que vêm de muito longe, extremamente ligadas nas perturbações que lhes são peculiares. Por isso, os que lidam nessas tarefas deveriam ser comedidos nas promessas de melhoras imediatas, no campo físico, e de modo nenhum deveriam formular julgamento prematuro em cada caso, porquanto é muito difícil identificar a verdadeira vítima, com a visão circunscrita do corpo terrestre. (Obra citada, cap. 18, pp. 297 e 298.)
70. Por que o esforço próprio é essencial à desobsessão?
A razão disso é que o obsidiado, além de enfermo, quase sempre é também uma criatura repleta de torturantes problemas espirituais. Se lhe falta vontade firme para a autoeducação, para a disciplina de si mesmo, é quase certo que prolongará sua condição dolorosa além da morte. Se o obsidiado está satisfeito na posição de desequilíbrio, há que esperar o término de sua cegueira, a redução da rebeldia que lhe é própria ou o afastamento da ignorância que lhe oculta a compreensão da verdade. Ante obstáculos dessa ordem, os Espíritos nada podem fazer, senão semear o bem para colheita no futuro, sem nenhuma expectativa de proveito imediato. O enfermo que mobiliza todos os recursos de que dispõe no campo da prece, do autodomínio, da meditação, entra, embora devagarinho, em contato com a corrente auxiliadora formada pelos benfeitores espirituais, ao passo que os demais permanecem na impassibilidade dos que abandonam a luta edificante. (Obra citada, cap. 18, pp. 299 a 300.)
71. Por que o perdão é necessário à harmonia dos litigantes?
Dois são os motivos da necessidade do perdão. O primeiro: a vingança agrava os crimes cometidos e é preciso esquecer todo o mal para restabelecer a felicidade perdida. O segundo motivo: quem abriga pensamentos de ódio não pode atingir as melhoras que deseja, visto que a cólera perseverante constitui estado permanente de destruição. (Obra citada, cap. 18, pp. 300 a 303.)
72. Quais são, segundo a descrição de André Luiz, os efeitos da possessão?
Perseguida desde a infância por tenazes adversários do passado, uma pobre mulher tinha o corpo transformado em habitação do seu perseguidor mais cruel, que lhe ocupava o organismo desde o crânio até os pés, impondo-lhe tremendas reações em todos os centros de energia celular. Fios tenuíssimos, porém vigorosos, uniam-nos ambos. No entanto, enquanto o obsessor parecia bem lúcido, ela revelava angústia e inconsciência, gritando sem cessar: - Salvem-me do demônio! salvem-me do demônio! oh! meu Deus, quando terminará meu suplício? (Obra citada, cap. 18, pp. 307 a 309.)


Observação:
Para acessar a Parte 8 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/02/missionarios-daluz-andre-luiz-estamos_19.html





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terça-feira, 25 de fevereiro de 2020



Basta um recolhimento para ouvir o próprio coração

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

Fui procurar tão longinquamente algo que em mim está: a paz. E no decorrer de todo caminho percorrido, de tudo o que vi, aprendi que é preciso dispensar os sentimentos desnecessários, todos aqueles contrários ao amor. Há de se compreender que dois seres não podem ocupar o mesmo espaço. Tal qual o sentimento, pois onde uma versão está não caberá a outra.
E na companhia da simplicidade, dos sorrisos puros das singelas e tão ricas pessoas, ao longo do caminho, fui deixando os pensamentos, palavras, emoções que não eram mais compatíveis com o esforçado objetivo de meu coração. Assimilar a diferença entre a riqueza humana e a espiritual, sem dúvida, é a primeira estrada para o portal que o espírito anseia.
Menos matéria, mais amor. Era o que em vários exemplos aquelas pessoas me ensinavam. Eram moradores de vilas muito próximas a um braço de uma das puras florestas, cuja água correndo, límpida, era o som mais encantador que meus ouvidos até agora ouviram. Borboletas livres e coloridas pareciam professoras a ensinarem. Como é nobre a vida! Agradecia, todos os minutos, tamanho despertamento. A calma e a paciência eram notáveis naqueles lindos espíritos, pois muito sutil, era neles, a materialidade. O contrário.
Fui buscar o que já possuo, porém, de certa forma, talvez pouco hábil ainda. E tão lindamente aprendi que sabemos, sim, o que alimenta o corpo e o espírito e todas as características compreendidas nas duas ocasiões. Não só a paz, mas todos os bons sentimentos existem no coração, eles estão quietos, mas latentes. Necessitam que o seu oposto ceda lugar para a sua forma positiva.
A simplicidade amorosa ensina que podemos conhecer os meios benéficos que tão ricamente alegram o nosso ser.
E assim como Deus está em nós, é essencial o empenho de querermos viver mais o amor em vez das dores já sentidas.
 
Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/




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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020



Pego e pegado são exemplos de verbo – o verbo pegar – com duplo particípio.
Há inúmeros verbos com igual propriedade, como os que abaixo relacionamos, para que o leitor, caso se interesse pelo tema, indique o duplo particípio de cada um deles:
1. Cozer.
2. Conhecer.
3. Cativar.
4. Situar.
5. Benzer.
6. Devolver.
7. Dissolver.
8. Nascer.
9. Sorver.
10. Digerir.
Eis as respostas:
1. Cozer: cozido e cozinhado.
2. Conhecer: conhecido e cógnito.
3. Cativar: cativado e cativo.
4. Situar: situado e sito.
5. Benzer: benzido e bento.
6. Devolver: devolvido e devoluto.
7. Dissolver: dissolvido e dissoluto.
8. Nascer: nascido e nato.
9. Sorver: sorvido e sorto.
10. Digerir: digerido e digesto.





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domingo, 23 de fevereiro de 2020



A vida futura na visão do Espiritismo

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De Londrina-PR

Jesus foi o grande iniciador dos ensinamentos acerca da vida futura, que constituem o eixo de sua doutrina, mas coube ao Espiritismo desenvolver esses estudos e mostrar o íntimo relacionamento que existe entre o mundo espiritual e o mundo em que nós, encarnados, vivemos.
Com o advento do Espiritismo, a alma deixou de ser uma abstração. Os Espíritos possuem um corpo etéreo que lhes serve de veículo. A vida futura é a continuação da vida terrena, mas em melhores condições, observado o preceito que manda dar a cada um segundo o seu merecimento. O mundo espiritual encontra-se ao redor de nós. Os que nele habitam – os seres desencarnados – influem em nossos pensamentos e atos e, de certa maneira, dirigem-nos na senda da vida com suas sugestões e seus conselhos.
Em face destas informações que nos foram trazidas pelo Espiritismo, qual o sentido da existência terrena?
Antes de mais nada, é preciso compreendamos que a vida espiritual é isenta das ilusões e das fantasias peculiares ao plano em que nos encontramos. A vida corpórea, ao contrário, apresenta-nos atrativos que constituem, bastas vezes, sérios óbices ao progresso espiritual. Assim é que a posse da riqueza pode excitar em muitas pessoas as paixões e o orgulho, e as altas posições sociais podem levar aos abusos da autoridade, concorrendo para os desastres morais que apenas mais tarde, na vida espiritual, apresentarão às pessoas sua verdadeira dimensão.
Progresso constante em conhecimento e em moralidade, eis a meta dos Espíritos, para a qual a experiência corpórea constitui fator decisivo.
Se compreendermos o mundo material como sendo uma escola e a existência corpórea como uma bolsa de estudo, tudo se torna mais claro. Findo o curso, o Espírito retorna ao seu verdadeiro mundo, onde entrevê as experiências vividas e elabora os planos para o futuro.
Tendo isso em mente, pode-se imaginar quanto de vazio representam as existências voltadas exclusivamente para os gozos materiais! Como sabemos, existem pessoas que fazem de seus dias uma permanente agitação social. Festas, jantares, jogos, prazeres de toda ordem constituem sua única preocupação. A existência terrestre se lhes afigura como um processo de curtição a que se apegam com todo o vigor, ignorando que somos Espíritos temporariamente revestidos de um corpo físico para um objetivo relevante, que tem tudo a ver com o nosso progresso espiritual e o melhoramento do mundo em que vivemos.
Os depoimentos daqueles que partiram para o Além são um alerta para nós – e devemos isso, de forma exaustiva, ao Espiritismo, que nos escancara a possibilidade do contato com os nossos mortos queridos, enquanto outros segmentos religiosos o abafam ou proíbem.
Sempre que ouvirmos alguém falar sobre a vida futura que nos aguarda além-túmulo, lembremo-nos da conhecida Parábola dos Talentos, narrada por Jesus, que nos ensina que Deus pedirá estrita conta da aplicação dada por nós aos recursos que nos foram prodigalizados na romagem terrena, quando, então, muitos dos que agora riem chorarão e lamentarão amargamente as oportunidades perdidas.



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