O Livro dos Médiuns
Allan Kardec
Parte 11
Continuamos o estudo metódico de “O
Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec, segunda das obras que compõem o Pentateuco
Kardequiano, cuja primeira edição foi publicada em 1861.
Este estudo é publicado sempre às
quintas-feiras.
Eis as questões de hoje:
81. Se um médium possui
várias aptidões mediúnicas, qual deve cultivar?
É raro que a faculdade de um médium seja rigorosamente circunscrita num
só gênero; o médium poderá ter, pois, várias aptidões, mas há sempre uma
predominante e é esta que ele deve esforçar-se por cultivar, se ela é útil.
Constitui grave erro querer forçar de qualquer forma o desenvolvimento de uma
faculdade que não se possui; é preciso desenvolver aquelas das quais se
reconhecem os germens, até que, evidenciando-se a faculdade predominante,
deverá o médium aplicar-se a ela de um modo especial. Limitando-se à sua
especialidade, o médium pode tornar-se excelente intérprete e obter grandes e
belas coisas, ao passo que, ocupando-se de tudo, não obterá nada de bom. (O Livro dos Médiuns, item 198.)
82. Que precauções deve
o médium tomar para uma boa educação mediúnica?
É um ponto indiscutível: sem as devidas precauções pode perder-se o fruto
das mais belas faculdades. A primeira medida consiste em se colocar o médium,
com uma fé sincera, sob a proteção de Deus, pedindo-lhe a assistência de um
Espírito guardião. Este é sempre bom, enquanto que os Espíritos familiares
podem ser levianos ou mesmo maus. A segunda precaução é aplicar-se em
reconhecer, por todos os indícios que a experiência fornece, a natureza dos
primeiros Espíritos que se comunicam e dos quais é sempre prudente desconfiar.
Se estes indícios forem suspeitos, é preciso fazer um apelo fervoroso ao
Espírito guardião e repelir com todas as forças o mau Espírito, provando-lhe
que não se é dele joguete, a fim de o desencorajar. O estudo prévio da teoria é
indispensável, se se quer evitar os inconvenientes inseparáveis da
inexperiência; a tal respeito, deve o médium examinar com redobrada atenção os
capítulos sobre Obsessão e Identidade dos Espíritos de O Livro dos Médiuns. Além da linguagem, podemos tomar como provas
infalíveis da inferioridade dos Espíritos todos os sinais, figuras, emblemas
inúteis ou pueris e toda escrita esquisita, irregular, torcida a propósito, de
tamanho exagerado, ou afetando formas ridículas e inusitadas. Uma vez
desenvolvida a faculdade, é essencial que o médium não a transforme em abuso;
assim, é necessário servir-se dela apenas nos momentos oportunos e não a cada
instante. Não estando os bons Espíritos constantemente às suas ordens, corre o
médium o risco de ser iludido por Espíritos mistificadores. Deve-se, portanto,
determinar para esse efeito dias e horas certas, porque então o médium terá
disposições mais concentradas e os Espíritos que quiserem vir achar-se-ão
prevenidos. (Obra citada, itens 211 e 217.)
83. Que é psicografia?
É o nome que se dá à comunicação espírita por meio da escrita, que pode ocorrer
direta ou indiretamente, mas sempre com a intervenção de um médium. De todos os
meios de comunicação, a escrita manual é o mais simples, o mais cômodo e,
sobretudo, o mais completo. Além disso, é a faculdade mais susceptível de se
desenvolver pelo exercício. (Obra citada, itens 152 a 156, e 178.)
84. Que vem a ser
psicografia indireta?
Chamamos psicografia indireta à escrita assim obtida, por oposição à
psicografia direta ou manual obtida pelo próprio médium. O fenômeno se passa da
seguinte forma: o Espírito estranho que se comunica age sobre o médium; este,
sob essa influência, dirige maquinalmente o braço e a mão para escrever; a mão
age sobre a cestinha, e a cestinha, sobre o lápis. Assim, não é a cestinha que
se torna inteligente; ela é um instrumento dirigido por uma inteligência e não
é mais, na verdade, do que um porta-lápis, um apêndice da mão, um intermediário
entre a mão e o lápis. Neste processo, o meio mais cômodo imaginado pelos
homens foi a chamada cestinha de bico, na qual um lápis era fixado. Mais tarde,
suprimiu-se esse apêndice e o médium passou a escrever tomando o lápis diretamente
à mão. Por ser o meio mais simples e o mais cômodo, dado que não exige nenhum
preparo material anterior, a escrita manual, também chamada involuntária ou
automática, é a forma usual adotada pelos médiuns psicógrafos dos tempos
modernos. (Obra citada, itens 154 e 157.)
85. Qual é o verdadeiro
ponto de partida para o entendimento do Espiritismo?
Crê-se geralmente que para convencer alguém é bastante mostrar fatos;
contudo a experiência demonstra que isto nem sempre é o melhor método, porque
se veem frequentemente pessoas a quem os fatos mais patentes não convencem de
modo nenhum. Ora, no Espiritismo a questão do Espírito é secundária e
consecutiva; este não é o ponto de partida e precisamente aí está o erro no
qual se cai muitas vezes diante de certas pessoas. Não sendo os Espíritos outra
coisa senão as almas dos homens, o verdadeiro ponto de partida é, assim, a
existência da alma. De fato, como pode o materialista admitir que existam seres
fora do mundo material, quando crê que ele mesmo não é mais que matéria? Como
poderá crer em Espíritos fora dele, se não acreditar ter um em si? Em vão
acumular-se-ão provas diante de seus olhos: ele contestará todas, porque não
admite o princípio.
Todo ensino metódico deve partir do conhecido para o desconhecido. Para o
materialista o conhecido é a matéria; parti, pois, da matéria e esforçai-vos
antes de tudo, fazendo-o observar, em convencê-lo de que nele há alguma coisa
que escapa às leis da matéria. Em uma palavra, antes de torná-lo espírita,
tratai de torná-lo espiritualista. Antes, pois, de empreender convencer um
incrédulo, mesmo pelos fatos, convém assegurar-se de sua opinião com relação à
alma, isto é, se crê em sua existência, em sua sobrevivência ao corpo, em sua
individualidade depois da morte. Se sua resposta for negativa, será trabalho
perdido falar-lhe de Espíritos. (Obra citada, itens 18 e 19.)
86. Que dizer dos que
atribuem ao diabo as manifestações espíritas?
Ao tempo de Jesus o clero também dizia que as curas e os chamados
milagres produzidos pelo Mestre eram "coisa" do demônio. Aqueles que
espalham tais ideias não sabem a responsabilidade que assumem: elas podem
matar! Com efeito, o perigo não é só para a pessoa, mas também para aqueles que
a cercam e que podem ser aterrorizados pelo pensamento de que sua casa é um
abrigo de demônios. Foi esta crença que causou tantos atos de atrocidades nos
tempos da ignorância. Conhecemos os acidentes que o medo pode causar e
seríamos, certamente, menos imprudentes se conhecêssemos todos os casos de
loucura e de epilepsia que têm sua origem nos contos de lobisomem e
bichos-papões. A Doutrina Espírita, esclarecendo-nos sobre a verdadeira causa
de todos estes fenômenos, desfere a essa teoria o golpe de misericórdia. Não
existem demônios: longe, pois, de cultivar tal pensamento sombrio, devemos, e é
este um dever de moralidade e de humanidade, combatê-lo onde ele existir. (Obra
citada, item 162.)
87. Quais são as
diversas modalidades de médiuns psicógrafos?
Sem considerar aqui a categoria dos médiuns inspirados, que é uma
variedade da mediunidade intuitiva, os médiuns psicógrafos podem ser mecânicos,
intuitivos ou semimecânicos.
O que caracteriza o médium mecânico é o fato de o Espírito agir
diretamente sobre sua mão, completamente independente da vontade do médium. A
mão escreve sem interrupção e só para quando o Espírito termina a comunicação.
O médium mecânico não tem a menor consciência do que escreve: é isso que deu
origem ao nome da faculdade – mediunidade mecânica ou passiva. Esta modalidade
é preciosa, visto que não deixa dúvidas sobre a independência do pensamento de
quem escreve.
O médium intuitivo recebe o pensamento do Espírito comunicante e o
transmite pela escrita. Nesta situação, o médium tem consciência do que
escreve, conquanto não seja fruto do seu próprio pensamento. O papel do médium mecânico
é o de uma máquina; o intuitivo age como o faria um intermediário ou intérprete
e sabe que as ideias não são preconcebidas e surgem à medida que são
registradas no papel. Frequentemente o pensamento formulado é contrário ao seu
e pode estar fora dos seus conhecimentos e de sua capacidade.
O médium semimecânico sente o impulso dado à sua mão sem que o queira,
mas ao mesmo tempo tem consciência do que escreve à medida que as palavras se
formam. Participa, assim, um pouco das duas modalidades examinadas. Os médiuns
semimecânicos formam o maior número da categoria dos psicógrafos. (Obra citada,
itens 179 a 181.)
88. Quais são os
Espíritos que produzem os fenômenos de efeitos físicos?
Os Espíritos que produzem estas espécies de manifestações são sempre
Espíritos inferiores que não estão ainda inteiramente libertos da influência
material. Contudo, tais fenômenos, embora executados por entidades inferiores,
são frequentemente provocados por Espíritos de uma ordem mais elevada, com o
fito de convencer os homens da existência de seres incorpóreos e de uma
potência superior a eles. (Obra citada, itens 74 e 91.)
Observação:
Para acessar a Parte 10 deste estudo, publicada na semana passada,
clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/08/o-livro-dos-mediuns-allan-kardec-parte_20.html
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