quinta-feira, 27 de agosto de 2020



O Livro dos Médiuns

Allan Kardec

Parte 11

Continuamos o estudo metódico de “O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec, segunda das obras que compõem o Pentateuco Kardequiano, cuja primeira edição foi publicada em 1861.
Este estudo é publicado sempre às quintas-feiras.
Eis as questões de hoje:

81. Se um médium possui várias aptidões mediúnicas, qual deve cultivar?
É raro que a faculdade de um médium seja rigorosamente circunscrita num só gênero; o médium poderá ter, pois, várias aptidões, mas há sempre uma predominante e é esta que ele deve esforçar-se por cultivar, se ela é útil. Constitui grave erro querer forçar de qualquer forma o desenvolvimento de uma faculdade que não se possui; é preciso desenvolver aquelas das quais se reconhecem os germens, até que, evidenciando-se a faculdade predominante, deverá o médium aplicar-se a ela de um modo especial. Limitando-se à sua especialidade, o médium pode tornar-se excelente intérprete e obter grandes e belas coisas, ao passo que, ocupando-se de tudo, não obterá nada de bom. (O Livro dos Médiuns, item 198.)
82. Que precauções deve o médium tomar para uma boa educação mediúnica?
É um ponto indiscutível: sem as devidas precauções pode perder-se o fruto das mais belas faculdades. A primeira medida consiste em se colocar o médium, com uma fé sincera, sob a proteção de Deus, pedindo-lhe a assistência de um Espírito guardião. Este é sempre bom, enquanto que os Espíritos familiares podem ser levianos ou mesmo maus. A segunda precaução é aplicar-se em reconhecer, por todos os indícios que a experiência fornece, a natureza dos primeiros Espíritos que se comunicam e dos quais é sempre prudente desconfiar. Se estes indícios forem suspeitos, é preciso fazer um apelo fervoroso ao Espírito guardião e repelir com todas as forças o mau Espírito, provando-lhe que não se é dele joguete, a fim de o desencorajar. O estudo prévio da teoria é indispensável, se se quer evitar os inconvenientes inseparáveis da inexperiência; a tal respeito, deve o médium examinar com redobrada atenção os capítulos sobre Obsessão e Identidade dos Espíritos de O Livro dos Médiuns. Além da linguagem, podemos tomar como provas infalíveis da inferioridade dos Espíritos todos os sinais, figuras, emblemas inúteis ou pueris e toda escrita esquisita, irregular, torcida a propósito, de tamanho exagerado, ou afetando formas ridículas e inusitadas. Uma vez desenvolvida a faculdade, é essencial que o médium não a transforme em abuso; assim, é necessário servir-se dela apenas nos momentos oportunos e não a cada instante. Não estando os bons Espíritos constantemente às suas ordens, corre o médium o risco de ser iludido por Espíritos mistificadores. Deve-se, portanto, determinar para esse efeito dias e horas certas, porque então o médium terá disposições mais concentradas e os Espíritos que quiserem vir achar-se-ão prevenidos. (Obra citada, itens 211 e 217.)
83. Que é psicografia?
É o nome que se dá à comunicação espírita por meio da escrita, que pode ocorrer direta ou indiretamente, mas sempre com a intervenção de um médium. De todos os meios de comunicação, a escrita manual é o mais simples, o mais cômodo e, sobretudo, o mais completo. Além disso, é a faculdade mais susceptível de se desenvolver pelo exercício. (Obra citada, itens 152 a 156, e 178.)
84. Que vem a ser psicografia indireta?
Chamamos psicografia indireta à escrita assim obtida, por oposição à psicografia direta ou manual obtida pelo próprio médium. O fenômeno se passa da seguinte forma: o Espírito estranho que se comunica age sobre o médium; este, sob essa influência, dirige maquinalmente o braço e a mão para escrever; a mão age sobre a cestinha, e a cestinha, sobre o lápis. Assim, não é a cestinha que se torna inteligente; ela é um instrumento dirigido por uma inteligência e não é mais, na verdade, do que um porta-lápis, um apêndice da mão, um intermediário entre a mão e o lápis. Neste processo, o meio mais cômodo imaginado pelos homens foi a chamada cestinha de bico, na qual um lápis era fixado. Mais tarde, suprimiu-se esse apêndice e o médium passou a escrever tomando o lápis diretamente à mão. Por ser o meio mais simples e o mais cômodo, dado que não exige nenhum preparo material anterior, a escrita manual, também chamada involuntária ou automática, é a forma usual adotada pelos médiuns psicógrafos dos tempos modernos. (Obra citada, itens 154 e 157.)
85. Qual é o verdadeiro ponto de partida para o entendimento do Espiritismo?
Crê-se geralmente que para convencer alguém é bastante mostrar fatos; contudo a experiência demonstra que isto nem sempre é o melhor método, porque se veem frequentemente pessoas a quem os fatos mais patentes não convencem de modo nenhum. Ora, no Espiritismo a questão do Espírito é secundária e consecutiva; este não é o ponto de partida e precisamente aí está o erro no qual se cai muitas vezes diante de certas pessoas. Não sendo os Espíritos outra coisa senão as almas dos homens, o verdadeiro ponto de partida é, assim, a existência da alma. De fato, como pode o materialista admitir que existam seres fora do mundo material, quando crê que ele mesmo não é mais que matéria? Como poderá crer em Espíritos fora dele, se não acreditar ter um em si? Em vão acumular-se-ão provas diante de seus olhos: ele contestará todas, porque não admite o princípio.
Todo ensino metódico deve partir do conhecido para o desconhecido. Para o materialista o conhecido é a matéria; parti, pois, da matéria e esforçai-vos antes de tudo, fazendo-o observar, em convencê-lo de que nele há alguma coisa que escapa às leis da matéria. Em uma palavra, antes de torná-lo espírita, tratai de torná-lo espiritualista. Antes, pois, de empreender convencer um incrédulo, mesmo pelos fatos, convém assegurar-se de sua opinião com relação à alma, isto é, se crê em sua existência, em sua sobrevivência ao corpo, em sua individualidade depois da morte. Se sua resposta for negativa, será trabalho perdido falar-lhe de Espíritos. (Obra citada, itens 18 e 19.)
86. Que dizer dos que atribuem ao diabo as manifestações espíritas?
Ao tempo de Jesus o clero também dizia que as curas e os chamados milagres produzidos pelo Mestre eram "coisa" do demônio. Aqueles que espalham tais ideias não sabem a responsabilidade que assumem: elas podem matar! Com efeito, o perigo não é só para a pessoa, mas também para aqueles que a cercam e que podem ser aterrorizados pelo pensamento de que sua casa é um abrigo de demônios. Foi esta crença que causou tantos atos de atrocidades nos tempos da ignorância. Conhecemos os acidentes que o medo pode causar e seríamos, certamente, menos imprudentes se conhecêssemos todos os casos de loucura e de epilepsia que têm sua origem nos contos de lobisomem e bichos-papões. A Doutrina Espírita, esclarecendo-nos sobre a verdadeira causa de todos estes fenômenos, desfere a essa teoria o golpe de misericórdia. Não existem demônios: longe, pois, de cultivar tal pensamento sombrio, devemos, e é este um dever de moralidade e de humanidade, combatê-lo onde ele existir. (Obra citada, item 162.)
87. Quais são as diversas modalidades de médiuns psicógrafos?
Sem considerar aqui a categoria dos médiuns inspirados, que é uma variedade da mediunidade intuitiva, os médiuns psicógrafos podem ser mecânicos, intuitivos ou semimecânicos.
O que caracteriza o médium mecânico é o fato de o Espírito agir diretamente sobre sua mão, completamente independente da vontade do médium. A mão escreve sem interrupção e só para quando o Espírito termina a comunicação. O médium mecânico não tem a menor consciência do que escreve: é isso que deu origem ao nome da faculdade – mediunidade mecânica ou passiva. Esta modalidade é preciosa, visto que não deixa dúvidas sobre a independência do pensamento de quem escreve.
O médium intuitivo recebe o pensamento do Espírito comunicante e o transmite pela escrita. Nesta situação, o médium tem consciência do que escreve, conquanto não seja fruto do seu próprio pensamento. O papel do médium mecânico é o de uma máquina; o intuitivo age como o faria um intermediário ou intérprete e sabe que as ideias não são preconcebidas e surgem à medida que são registradas no papel. Frequentemente o pensamento formulado é contrário ao seu e pode estar fora dos seus conhecimentos e de sua capacidade.
O médium semimecânico sente o impulso dado à sua mão sem que o queira, mas ao mesmo tempo tem consciência do que escreve à medida que as palavras se formam. Participa, assim, um pouco das duas modalidades examinadas. Os médiuns semimecânicos formam o maior número da categoria dos psicógrafos. (Obra citada, itens 179 a 181.)
88. Quais são os Espíritos que produzem os fenômenos de efeitos físicos?
Os Espíritos que produzem estas espécies de manifestações são sempre Espíritos inferiores que não estão ainda inteiramente libertos da influência material. Contudo, tais fenômenos, embora executados por entidades inferiores, são frequentemente provocados por Espíritos de uma ordem mais elevada, com o fito de convencer os homens da existência de seres incorpóreos e de uma potência superior a eles. (Obra citada, itens 74 e 91.)

Observação:
Para acessar a Parte 10 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/08/o-livro-dos-mediuns-allan-kardec-parte_20.html



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