O Céu e o Inferno
Allan Kardec
Parte 3
Continuamos o estudo metódico do livro “O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 1ª edição da tradução de João Teixeira de Paula publicada pela Lake.
Este estudo será publicado sempre às
quintas-feiras.
Caso o leitor queira ter em mãos o
texto consolidado dos estudos relativos à presente obra, para acompanhar, pari
passu, o presente estudo, basta clicar em http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/estudosespiritas/principal.html#ALLAN
e, em seguida, no verbete "O Céu e o Inferno”.
Eis as questões de hoje:
17. Quando surgiu o
purgatório na teologia católica e o que ele compreende exatamente?
O purgatório foi admitido pela Igreja no ano de 593. Trata-se de um dogma
mais racional e mais conforme com a justiça de Deus que o inferno, porque
estabelece penas menos rigorosas e resgatáveis para as faltas de gravidade
mediana. Na concepção católica, o purgatório seria um inferno menos tenebroso,
visto que as almas aí também ardem, embora em fogo mais brando. As almas do
purgatório não se livram dele por efeito do seu adiantamento, mas em virtude
das preces que se dizem ou que se mandam dizer em sua intenção, do que se
originaram muitos abusos, visto que as preces pagas transformaram o purgatório
em mina mais rendosa que o inferno. Como sabemos, o purgatório deu origem ao
comércio escandaloso das indulgências, por intermédio das quais se vende a
entrada para o céu. Esse abuso foi a causa primária da Reforma, o que levou
Lutero a rejeitá-lo. (O Céu e o Inferno,
Primeira Parte, cap. V, itens 1 a 3.)
18. Qual é a causa das
misérias terrenas, segundo o Espiritismo?
As misérias terrenas decorrem necessariamente das imperfeições da alma,
pois se esta fosse perfeita não cometeria faltas nem teria de sofrer-lhes as
consequências. O homem que na Terra fosse em absoluto sóbrio e moderado, por
exemplo, não padeceria enfermidades oriundas de excessos. O mais das vezes ele
é desgraçado por sua própria culpa; contudo, se é imperfeito, é porque já o era
antes de vir à Terra, expiando não somente faltas atuais, mas faltas anteriores
não resgatadas. Repara, então, em uma vida de provações o que a outrem fez
sofrer em anterior existência. As vicissitudes que experimenta são, por sua
vez, uma correção temporária e uma advertência quanto às imperfeições que lhe
cumpre eliminar de si, a fim de evitar outros males e progredir para o bem.
(Obra citada, Primeira Parte, cap. V, itens 3 e 4.)
19. A duração da
expiação do Espírito culpado é eterna?
Não. O prazo da expiação está subordinado ao melhoramento do culpado. O
Espiritismo não nega, antes confirma, a penalidade futura. O que ele destrói é
o inferno localizado com suas fornalhas e penas irremissíveis. Seja qual for a
duração do castigo, na vida espiritual ou na Terra, onde quer que se verifique,
ela tem sempre um termo, próximo ou remoto. (Obra citada, Primeira Parte, cap.
V, itens 7 e 8.)
20. O Espiritismo nega a
existência do purgatório?
Não o nega, e diz mais: que nele nos achamos, pois é em um planeta como a
Terra – de provas e expiações – que expiamos os equívocos, os erros e os males
que cometemos. Segundo o Espiritismo, não há para o Espírito mais que duas
alternativas, a saber: punição temporária e proporcional à culpa, e recompensa
graduada segundo o mérito. Repele o Espiritismo a terceira alternativa: a
eterna condenação. A palavra purgatório sugere a ideia de um lugar circunscrito:
eis por que mais naturalmente se aplica à Terra do que ao Espaço infinito onde
erram os Espíritos sofredores, e tanto mais quanto a natureza da expiação
terrena tem os caracteres da verdadeira expiação. (Obra citada, Primeira Parte, cap. V, itens 8
a 10.)
21. De onde se originou
a crença na eternidade das penas futuras?
Quanto mais próximo do estado primitivo, mais material é o homem e isso
tem influência na sua concepção a respeito do Criador. Um Deus manso e cordato
não poderia ser Deus, porque sem meios com que se fazer obedecer. A vingança
implacável e os castigos terríveis e eternos nada tinham, pois, de incompatível
com a ideia que se fazia de Deus e não lhes repugnavam à razão. Ora, como eram
pessoas implacáveis nos seus ressentimentos, cruéis para com os inimigos e
inexoráveis para os vencidos, Deus, que lhes era superior, deveria ser ainda
mais terrível.
Para tais homens eram, pois, necessárias crenças religiosas assimiladas à
sua natureza rústica, uma vez que uma religião toda espiritual, toda amor e
caridade, não poderia aliar-se à brutalidade de seus costumes e paixões. Não
devemos, assim, censurar Moisés e sua legislação draconiana, nem o fato de nos
ter apresentado um Deus vingativo, visto que a época assim o exigia. A crença
na eternidade das penas foi, em face disso, mera consequência das condições em
que tal doutrina passou a ser ensinada. (Obra citada, Primeira Parte, cap. VI,
itens 2, 3 e 20.)
22. Qual o principal
argumento dos que defendem o dogma das penas eternas e como o Espiritismo o
refuta?
O principal argumento invocado em seu favor: "É doutrina sancionada
entre os homens que a gravidade da ofensa é proporcionada à qualidade do
ofendido. O crime de lesa-majestade, por exemplo, o atentado à pessoa de um
soberano, sendo considerado mais grave do que o fora em relação a qualquer
súdito, é, por isso mesmo, mais severamente punido. E sendo Deus muito mais que
um soberano, pois é infinito, deve ser infinita a ofensa a Ele, como infinito o
respectivo castigo, isto é, eterno”.
A refutação a tal argumento baseia-se nos próprios atributos de Deus:
eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente justo e bom, infinito em
todas as perfeições. Ora, um ser infinitamente bom e justo não pode ter a menor
parcela de maldade. Admitindo-se que uma ofensa temporária à Divindade pudesse
ser infinita, Deus, vingando-se por um castigo infinito, seria logo
infinitamente vingativo; e sendo Deus infinitamente vingativo não pode ser
infinitamente bom e misericordioso, visto como um destes atributos exclui o
outro. Se não for infinitamente bom não é perfeito; e não sendo perfeito deixa
de ser Deus. Se Deus é inexorável para o culpado que se arrepende, não é
misericordioso; e se não é misericordioso, deixa de ser infinitamente bom.
E por que daria Deus aos homens uma lei de perdão, se Ele próprio não
perdoasse? Resultaria daí que o homem que perdoa aos seus inimigos e lhes
retribui o mal com o bem seria melhor que Deus, surdo ao arrependimento dos que
o ofendem, negando-lhes por todo o sempre o mais ligeiro carinho. (Obra citada,
Primeira Parte, cap. VI, itens 10, 12, 15, 16 e 17.)
23. Se o Espírito pode
progredir, o progresso é lei natural. O dogma da eternidade das penas é
compatível com a lei do progresso?
Não. O dogma da eternidade das penas é irracional e incompatível com a
lei do progresso. (Obra citada, Primeira Parte, cap. VI, itens 17, 18 e 19.)
24. A carne é fraca, ou
a alma é que é fraca?
A expressão a carne é fraca diz respeito à fragilidade dos homens, isto
é, aos Espíritos quando encarnados, sujeitos a todas as influências possíveis,
sob as quais muitos sucumbem. A carne só é fraca porque o Espírito é fraco, o
que inverte a questão, visto que deixa ao ser pensante, e não ao seu envoltório
físico, a responsabilidade por todos os seus atos. A carne, destituída de
pensamento e vontade, não pode prevalecer jamais sobre o Espírito, que é o ser
que pensa e obra. (Obra citada, Primeira Parte, cap. VII, parte inicial.)
Observação: Para acessar
a 2ª Parte deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/04/blog-post_08.html
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