quinta-feira, 8 de abril de 2021

 



O Céu e o Inferno

 

Allan Kardec

 

Parte 2

 

Continuamos o estudo metódico do livro “O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 1ª edição da tradução de João Teixeira de Paula publicada pela Lake.

Este estudo será publicado sempre às quintas-feiras.

Caso o leitor queira ter em mãos o texto consolidado dos estudos relativos à presente obra, para acompanhar, pari passu, o presente estudo, basta clicar em http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/estudosespiritas/principal.html#ALLAN e, em seguida, no verbete "O Céu e o Inferno”.

Eis as questões de hoje:

 

9. Existe, segundo a Doutrina Espírita, um lugar chamado céu? 

Não. A felicidade está na razão direta do progresso realizado, de sorte que, de dois Espíritos, um pode não ser tão feliz quanto o outro, unicamente por não possuir o mesmo adiantamento intelectual e moral, sem que por isso precisem estar, cada qual, em lugar distinto. Ainda que juntos, pode um estar em trevas, enquanto que tudo resplandece para o outro, tal como um cego e um vidente que se dão as mãos: este percebe a luz da qual aquele não recebe a mínima impressão. Sendo a felicidade dos Espíritos inerente às suas qualidades, haurem-na eles em toda parte em que se encontram, seja à superfície da Terra, no meio dos encarnados, ou no Espaço. (O Céu e o Inferno, Primeira Parte, cap. III, itens 6 e 18.)

10. De qual fator dependem o progresso e a felicidade dos Espíritos? 

O progresso dos Espíritos é fruto do seu próprio trabalho; mas, como eles são livres, trabalham no seu adiantamento com maior ou menor atividade, com mais ou menos negligência, segundo sua vontade, acelerando ou retardando o progresso e, por conseguinte, a própria felicidade. Enquanto uns avançam rapidamente, entorpecem-se outros, quais poltrões, nas fileiras inferiores. São eles, pois, os próprios autores da sua situação, feliz ou desgraçada, conforme esta frase do Cristo: A cada um segundo as suas obras. (Obra citada, Primeira Parte, cap. III, itens 6 e 7.)

11. Qual a necessidade da reencarnação para o progresso dos Espíritos? 

A reencarnação é necessária ao progresso moral e intelectual do Espírito. Ao progresso intelectual, pela atividade obrigatória do trabalho; ao progresso moral, pela necessidade recíproca que têm os Espíritos de relacionar-se uns com os outros. A vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades. A bondade, a maldade, a doçura, a violência, a benevolência, a caridade, o egoísmo, a avareza, o orgulho, a humildade, a sinceridade, a franqueza, a lealdade, a má-fé, a hipocrisia, em uma palavra, tudo o que constitui o homem de bem ou o perverso tem por móvel, por alvo e por estímulo as relações do homem com os seus semelhantes. Para o homem que vivesse insulado não haveria vícios nem virtudes. (Obra citada, Primeira Parte, cap. III, itens 8 a 10.)

12. Onde se dá a reencarnação dos Espíritos? 

A reencarnação pode dar-se na Terra ou em outros mundos. Há entre os mundos alguns mais adiantados onde a existência se exerce em condições menos penosas que na Terra, física e moralmente, mas onde também só são admitidos Espíritos chegados a um grau de perfeição relativo ao estado desses mundos. (Obra citada, Primeira Parte, cap. III, item 11.)

13. Como é descrito o inferno pela teologia católica? 

O inferno católico teve por modelo o inferno pagão e apresenta com este numerosas analogias. Ambos têm o fogo material por base de tormentos, como símbolo dos sofrimentos mais atrozes. Mas, coisa singular! os cristãos exageraram em muitos pontos o inferno dos pagãos. Exemplo disso são as caldeiras ferventes cujos tampos os anjos levantam para ver as contorções dos supliciados, enquanto Deus, sem piedade alguma, ouve-lhes os gemidos por toda a eternidade. Os católicos têm, como os pagãos, o seu rei dos infernos - Satã - com a diferença, porém, de que Plutão se limitava a governar o sombrio império, que lhe coubera em partilha, sem ser mau; retinha em seus domínios os que haviam praticado o mal, porque essa era a sua missão, mas não induzia os homens ao pecado para desfrutar e tripudiar dos seus sofrimentos. Satã, porém, recruta vítimas por toda parte e regozija-se ao atormentá-las com uma legião de demônios armados de forcados a revolvê-las no fogo. Quanto à localização do inferno, alguns doutores o têm colocado nas entranhas mesmas do nosso globo; outros não sabemos em que planeta, sem que o problema se haja resolvido por qualquer concílio. (1) (Obra citada, Primeira Parte, cap. IV, itens 3 a 5, 11 e 12.)

14. Segundo a Igreja, as crianças falecidas em tenra idade iriam para o limbo. Que significa essa palavra? 

As crianças falecidas em tenra idade, como não fizeram mal algum, não poderiam ser condenadas ao fogo eterno. Mas, também, não tendo feito bem, não lhes assiste direito à felicidade suprema. Ficariam, então, no limbo, diz-nos a Igreja, numa situação jamais definida, na qual, se não sofrem, também não gozam da bem-aventurança. A natureza do limbo, contudo, não foi jamais definida. (2) (Obra citada, Primeira Parte, cap. IV, itens 7 e 8.)

15. Segundo a descrição da teologia católica, Deus produz dois milagres para tornar ainda mais terríveis os sofrimentos dos condenados ao inferno. Que milagres são esses? 

O primeiro milagre seria a ressurreição dos corpos, algo inimaginável sobretudo quando o corpo do indivíduo que morreu se tenha dissolvido com o decurso do tempo. O segundo milagre é dar a esses corpos mortais a virtude de subsistirem sem se dissolverem numa fornalha, onde se volatilizariam os próprios metais. (Obra citada, Primeira Parte, cap. IV, item 13.)

16. O inferno católico excede o inferno pagão. Quais as suas diferenças? 

Além das observações já mencionadas, no inferno pagão não se vê o requinte das torturas que constituem o fundo do inferno admitido pela Igreja. Juízes inflexíveis, porém justos, proferem a sentença, sempre proporcional ao delito, ao passo que no império de Satã são todos confundidos nas mesmas torturas, com a materialidade por base, e banida toda e qualquer equidade. No inferno católico, as sentenças não são proporcionais à gravidade do pecado cometido, mas, sim, iguais para todos os que nele se encontrem. (Obra citada, Primeira Parte, cap. IV, itens 9 a 15.)


(1) Em 4 de agosto de 1999, o papa João Paulo II declarou ao L'Osservatore Romano que "o inferno está a indicar, mais do que um lugar, a situação em que se vai encontrar quem de maneira livre e definitiva se afasta de Deus, fonte de vida e de alegria", uma ideia próxima do que ensina o Espiritismo.

(2) Recentemente a Igreja Católica tornou sem efeito todas as disposições que se referiam ao limbo, por entender que Deus tem meios invisíveis, não comunicados aos homens, para salvar todas as crianças, mesmo as que morrem sem o batismo.

 

 

Observação: Para acessar a 1ª Parte deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/04/blog-post.html

 

 

 

 

 

 

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