A Evolução
Anímica
Gabriel Delanne
Parte 15
Damos prosseguimento ao estudo do clássico A Evolução Anímica, de Gabriel Delanne, conforme a 8ª edição da tradução de Manoel Quintão, publicada pela Federação Espírita Brasileira.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. O Espírito reencarna onde quer?
B. Por que muitos obsidiados são tidos muitas vezes como
loucos?
C. É difícil distinguir a loucura da obsessão?
Texto para
leitura
155. Os Espíritos não reencarnam
onde desejam. No mundo sideral há leis tão ou mais rigorosas do que as que
regem o nosso mundo. As afinidades perispiríticas e as leis magnéticas do
pensamento e da vontade representam, no feito, um grande papel. Os Espíritos
errantes que não compreendem as grandes leis da evolução são propensos a
reencarnar na Terra, objetivando dar livre curso às paixões que não podem
satisfazer no espaço. Se isso lhes fosse permitido, assediariam as classes
ricas, tomariam os ambientes que chamamos privilegiados. Falta-lhes, porém, a
correspondência fluídica com esses encarnados e, por isso, lhes é vedado o
acesso a esses ambientes. Pertencemos a uma certa categoria de Espíritos que,
mais ou menos no mesmo ritmo, procuram conjugar a sua evolução ajudando uns aos
outros. Através das vidas sucessivas, podemos escalar todas as posições sociais
e prestar-nos mútuo socorro. (Págs. 205 e 206)
156. Da mesma maneira que existem
famílias que honram as artes, existem famílias outras nas quais os vícios constituem
o traço característico. Dr. Morel refere a história de uma família dos Vosges,
na qual o bisavô alcoólatra sucumbira ao próprio vício. O avô, assaltado pela
mesma paixão do álcool, morreu maníaco. Ele teve um filho mais sóbrio, que não
escapou, porém, da hipocondria, com tendências homicidas, e um neto que acabou,
por sua vez, atingido pela idiotia. Assim, na primeira geração, excessos
alcoólicos. Na segunda, embriaguez hereditária. Na terceira, diátese
hipocondríaca. Na quarta, estupidez e possível extinção da prole. (Pág.
206)
157. Muitas vezes – explica
Delanne – é como prova que o Espírito encarna nessas famílias, por querer
adquirir forças para domar a matéria. O sr. Trélat conta o caso de uma senhora
morigerada e econômica que era assaltada por crises dipsomaníacas
irresistíveis. A mãe e uma tia dela eram também alcoólatras. (Pág. 206)
158. Casos há, admite Delanne, em
que o crime e a loucura são hereditários. Outro fato, verificado pelos Drs.
Férus e Lélut, é ser a loucura muito mais frequente nos criminosos do que nos
outros homens. Grande é o número de criminosos cujos ascendentes deram mostras
de loucura. Está nesse número o célebre Verger, que matou o arcebispo de Paris.
A mãe e um irmão de Verger morreram loucos – da loucura do suicídio. (Págs. 206
e 207)
159. A loucura – A loucura
propriamente dita faz-se acompanhar sempre de um estado mórbido dos órgãos, que
se traduz, as mais das vezes, por uma lesão. A alienação será, pois, uma
enfermidade física quanto à sua causa, embora mental quanto à maioria dos seus
efeitos. Pode a loucura transmitir-se por via hereditária, mas às vezes se
transforma, quando manifesta nos descendentes. Nada é tão comum como ver a
loucura degenerar em suicídio, ou o suicídio degenerar em loucura, alcoolismo,
hipocondria. (Pág. 207)
160. Há famílias cujos membros,
com raras exceções, são acometidos de loucura, na mesma idade. Mas é preciso
assinalar, no entanto, que muitos desses casos, atribuídos a enfermidades do
cérebro, são produzidos pela ação de Espíritos desencarnados. A obsessão
apresenta, amiúde, todos os sintomas da legítima loucura. Em casos assim, não é
do corpo, mas da alma que importa cuidar. Dirigindo-nos ao Espírito obsessor,
podemos conseguir, algumas vezes, fazê-lo abandonar a presa. A bibliografia
espírita menciona algumas curas deste gênero. (Pág. 208)
161. Se nos dermos ao cuidado de
observar um grande número de fatos chamados alucinatórios, facilmente
concluiremos que muitas vezes não passam de simples vidência mediúnica. As
visões de Carlos IX, citadas por Sully, levam-nos a crer que em torno do
sanguinário rei reuniam-se muitos Espíritos para clamar vingança. Abercombie
cita o caso de um vidente que não sabia diferenciar se as pessoas que via eram
entidades reais ou fantasmas. (Págs. 208 e 209)
162. Quando o corpo não goza saúde
perfeita, isto é, quando as relações normais entre alma e corpo se perturbam, a
força vital pode exteriorizar-se parcialmente, dando azo a que Espíritos
malévolos tirem partido disso. Importa, pois, nesses casos peculiares, cuidar
simultaneamente do corpo e da alma. E a cura será tanto mais rápida quanto melhor
conhecermos a natureza do mal. (Pág. 210)
163. A obsessão –
Reportando-se diretamente à obra de Kardec, que Delanne aconselha devamos
consultar sempre que nos depararmos com enfermidades desta espécie, ele
disserta sobre a obsessão e a loucura. Eis, de forma resumida, os pontos
principais contidos nesse estudo:
I – Há que fazer rigorosas
distinções entre a obsessão, a fascinação, a possessão e a loucura propriamente
dita, que compreende a alucinação, a monomania, a mania, a demência e a
idiotia.
II – Entre a obsessão e a
subjugação integral há várias gradações que, agravando-se com o tempo, podem
produzir verdadeiras lesões cerebrais.
III – A subjugação ou a obsessão
simples não são, a bem dizer, um estado consciencial. Trata-se simplesmente da
intermissão e imposição de um Espírito a comunicar-se, a impedir que outros o
façam, ou a substituir os evocados. O médium tem, pois, nesses casos a noção do
que se passa.
IV – Na fascinação, o fenômeno se
acentua e as consequências tornam-se mais graves. O médium não se julga
ludibriado, mas não goza do seu livre-arbítrio e só obedece às injunções do
Espírito: é a hipnotização espiritual a exercer-se.
V – Às vezes são vários os
Espíritos que se agregam para atormentar a vítima, de modo que, simplesmente
obsidiada no começo, ela acaba realmente louca. Aos que não compreendem que os
Espíritos possam empregar seu tempo para torturar os encarnados, basta lançar
os olhos à Gazeta dos Tribunais e verificar quanta baixeza a Humanidade é capaz
de praticar.
VI – Os Espíritos atrasados
alimentam as paixões mais ignóbeis, sobretudo a da vingança, se puderem
identificar na carne um ser que lhes tenha feito mal.
VII – Muitos obsidiados são
tratados como loucos porque se atribui à alucinação o que de fato não passa de
sugestão espiritual incoercível. Quando vemos uma pessoa hipnotizada rir,
chorar, executar passivamente os atos mais extravagantes, compreendemos que a
atuação do Espírito obsessor é substancialmente idêntica à do hipnotizador
humano sobre o seu paciente. A única diferença é que, na obsessão, a vontade
operante tanto pode ser de um como de alguns agentes invisíveis e inacessíveis
aos processos correntes de que dispõe a Medicina. (Págs. 211 a 213)
164. Depois de relatar o caso da
Senhorita M..., extraído da obra de Brierre de Boismont, Delanne explica que a
anulação da vontade diante da sugestão dos Espíritos prende-se à fraqueza do
sistema nervoso, e é fácil reproduzi-la artificial e transitoriamente com um
indivíduo hipnotizável. Os obsidiados podem comparar-se, portanto, com os
sonâmbulos em vigília que, embora sofrendo a ação do magnetizador, mantêm
consciência do seu estado. Um caso tirado da obra de Charles Richet mostra como
as coisas se passam no caso dos sonâmbulos. (Pág. 213 a 217)
165. O Espiritismo oferece, desse
modo, uma explicação lógica de certos estados da alma averbados de loucura e
que, absolutamente, nada têm de comum com as falsas percepções e com as
perturbações cerebrais, porque se prendem a uma certa ação análoga à da
sugestão hipnótica, cuja causa há que procurar no mundo espiritual. O que torna
difícil distinguir a loucura da obsessão é que os sentidos são suscetíveis de
alucinação consequente a desordens do sistema nervoso, independente de uma
intervenção externa e ostensiva. É preciso, portanto, grande prática e muito
discernimento para reconhecer a origem do mal. (N.R..: Delanne foi muito feliz
ao escrever essas palavras, porque o Dr. Célio Trujilo Costa, médico-psiquiatra
e conhecido estudioso do Espiritismo, diretor clínico do Hospital Espírita de
Psiquiatria Bom Retiro, entende que só uma meticulosa observação pode levar o
especialista a distinguir uma crise obsessiva de um surto de esquizofrenia.)
(Pág. 217) (Continua no próximo número.)
Respostas às
questões preliminares
A. O Espírito reencarna onde quer?
Não. No mundo sideral há leis tão ou mais rigorosas do que
as que regem o nosso mundo. As afinidades perispiríticas e as leis magnéticas
do pensamento e da vontade representam, no feito, um grande papel. (A
Evolução Anímica, pp. 205 e 206.)
B. Por que muitos obsidiados são tidos muitas vezes como
loucos?
A subjugação ou a obsessão simples não são, a bem dizer, um
estado consciencial. Trata-se simplesmente da intermissão e imposição de um
Espírito a comunicar-se, a impedir que outros o façam, ou a substituir os
evocados. Muitos obsidiados são tratados como loucos porque se atribui à
alucinação o que de fato não passa de sugestão espiritual incoercível. Quando
vemos uma pessoa hipnotizada rir, chorar, executar passivamente os atos mais
extravagantes, compreendemos que a atuação do Espírito obsessor é
substancialmente idêntica à do hipnotizador humano sobre o seu paciente. A
única diferença é que, na obsessão, a vontade operante tanto pode ser de um
como de alguns agentes invisíveis e inacessíveis aos processos correntes de que
dispõe a Medicina. (Obra citada, pp. 211 a 213.)
C. É difícil distinguir a loucura da obsessão?
Sim. O motivo disso é que os sentidos são suscetíveis de
alucinação consequente a desordens do sistema nervoso, independente de uma
intervenção externa e ostensiva. É preciso, portanto, grande prática e muito
discernimento para reconhecer a origem do mal. (Obra citada, pág. 217.)
Observação:
Para acessar a Parte 14 deste estudo, publicada na
semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/11/blog-post_18.html
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