A Evolução
Anímica
Gabriel Delanne
Parte 14
Damos prosseguimento ao estudo do clássico A Evolução Anímica, de Gabriel Delanne, conforme a 8ª edição da tradução de Manoel Quintão, publicada pela Federação Espírita Brasileira.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Pode um Espírito ao reencarnar ter cerceada a
manifestação de sua capacidade intelectual em sua plenitude?
B. Por que tal fato se dá?
C. Uma vez que se admite a hereditariedade fisiológica,
haverá também uma hereditariedade psicológica?
Texto para
leitura
144. As aquisições do passado
permanecem latentes, não se destroem, e são elas que fazem o substrato do
Espírito, isso que denominamos o caráter, a marca própria de cada qual, assim
como os seus pendores cada vez mais amplos para as ciências, as artes, as
letras, as indústrias etc. Essa base é fundamental, tanto que se inculcarmos a
um Espírito menos evoluído, ou insuficientemente evoluído, conhecimentos muito
superiores ao seu estado mental inconsciente, pode parecer-nos que ele os
assimila; a verdade, porém, é que apenas dormitarão nele e acabarão logo
esquecidos. (Págs. 192 e 193)
145. Todos nós revelamos aptidões
desde o berço. A criança traz consigo aptidões intelectuais e vícios ou paixões
que jazem latentes no seu invólucro perispiritual, para aflorarem depois, sob o
influxo das circunstâncias contingentes da vida terrena. Quanto mais velha for
a alma, quanto mais tempo houver vivido na Terra, maior será sua bagagem
inconsciente e menores esforços lhe caberá fazer para ressuscitar seus antigos
conhecimentos. Daí, o profundo sentido e a absoluta justiça do apotegma de
Platão: “Aprender é recordar”. (Págs.
194 e 195)
146. Assim se explicam as aptidões
extraordinárias e precoces para as artes e as ciências que tornaram famosos
indivíduos como Pico de la Mirandola, Pascal e Mozart. Por outro lado, pode
dar-se fenômeno inverso, quando as leis da hereditariedade põem entraves ao
indivíduo, de maneira que, durante a existência corporal, lhe fique cerceada a
manifestação da inteligência em toda a sua amplitude e fulgurância. (Pág. 195)
147. Como vivemos na Terra muitas
vezes, é preciso desenvolver, em cada vez, virtudes como a humildade, cuja
aquisição se torna quase incompatível com um intelectualismo brilhante. O
Espírito escolhe, então, um invólucro refratário que lhe impede as mais altas
expressões da atividade intelectual e, durante uma etapa terrena, poderá
consagrar-se a tarefas mais humildes, imprescindíveis ao seu progresso
espiritual. Importante notar que a alma nem sempre pode dar ao corpo físico a
forma que ela desejaria, uma vez que o invólucro corporal é construído mediante
as leis da fecundação, e a hereditariedade individual dos genitores,
transmitida pela força vital, opõe-se ao poder plástico da alma. (Pág. 197)
148. A hereditariedade – A
hereditariedade é uma lei biológica mediante a qual todos os seres viventes
procuram repetir-se nos seus descendentes. A ciência contemporânea não pode
oferecer, para o estudo desse assunto, senão hipóteses. Destas, a mais recente
e mais bem elaborada é a de Darwin no seu livro “A variação dos animais e das
plantas”, cujos traços gerais se encontram em “Princípios de Biologia”, de
Herbert Spencer. Chama-se Pangênese. (Págs. 197 e 198)
149. Eis de forma resumida os
elementos constitutivos dessa teoria: I – O organismo é composto de células;
cada célula tem vida própria e possui as propriedades fundamentais da vida, a
saber: nutrição, evolução e reprodução. II – Esse elemento anatômico representa
no organismo o mesmo papel do indivíduo no Estado, isto é, goza de tal ou qual independência
e participa do corpo social. III – Os organismos inferiores possuem um grande
poder de reprodução. Algumas plantas gozam também dessa propriedade em alto
grau. IV – A Begonia phylomaniaca pode reproduzir-se simplesmente por meio de
uma partícula mínima de suas folhas, de modo que uma só folha pode dar origem a
uma centena de plantas. Isso significa que a célula original, destacando-se da
planta-mãe, leva consigo não apenas a capacidade reprodutiva, mas a multiplica
e distribui por todas as células reproduzidas, sem diminuição da energia
própria, durante gerações inumeráveis. V – Para explicar essa potencialidade de
reprodução, Darwin propõe a teoria pangenética, segundo a qual em todo
organismo cada átomo, ou unidade componente, se reproduz por si mesmo. (Págs.
198 e 199)
150. A teoria pangenética é
transcrita parcialmente, em seguida, por Delanne, antes de examinar a questão
da hereditariedade fisiológica, que atuaria não só na conformação interna, como
na estrutura externa. Desse modo, o albinismo, o raquitismo, a manqueira e
todas as anomalias orgânicas podem ser transmitidas na procriação, mas isso nem
sempre se dá. Ora, a transmissão hereditária não se faz de modo absoluto,
porque a força vital do recém-vindo deriva de dois fatores que se modificam
reciprocamente e também do fato de o perispírito do reencarnante prestar-se,
mais ou menos, a essas modificações.
(Págs. 199 a 203)
151. A hereditariedade
psicológica – Admitida a hereditariedade fisiológica, haverá também uma
hereditariedade psicológica? Delanne responde assim a tal pergunta: “Não”, se
por isso entendermos a transmissão das faculdades intelectuais em si mesmas;
“Sim”, se quisermos com isso dizer transmissão dos órgãos necessários à
manifestação do pensamento. Não é raro vermos numa família filhos que em nada
se parecem com os pais, quer física, quer intelectual, quer moralmente. A
História mostra-nos, a cada passo, filhos de homens notáveis que foram
verdadeiras antíteses das virtudes e talentos paternos. Péricles teve dois
filhos cretinos. Aristipo engendrou o infame Lisímaco. De Tucídides proveio
Milésias. Sófocles, Temístocles e Sócrates tiveram filhos degenerados. (Págs.
203 e 204)
152. A história contemporânea é
todo um quadro de filhos nada comparáveis aos pais. Nos domínios da ciência
temos visto surgir gênios em meios rústicos ou de pais ignorantes, como Bacon,
Comte, Copérnico, Descartes, Kant, Kepler, Spinoza, atestados vivos de que a
genialidade não é hereditária. (Pág. 204)
153. As faculdades sensoriais e os
hábitos corporais podem, no entanto, transmitir-se hereditariamente, tais como
a percepção, a memória, a imaginação, que podem, muitas vezes, encontrar-se
numa mesma família. Há numerosos casos de pintores, músicos e estadistas em que
as aptidões parecem comunicar-se de pais a filhos. Temos de considerar, porém,
em primeiro lugar, a função – que pertence à alma – e depois o órgão material,
que lhe serve à manifestação. Para que lhe seja possível evidenciar suas
faculdades em toda a plenitude, a alma precisa de um organismo material em
perfeita correlação com o seu desenvolvimento intelectual. (Pág. 204)
154. Vimos anteriormente que o
perispírito é a condição fluídica do mecanismo de atuação da alma sobre o
corpo. É racional, pois, admitir que a alma, desejosa de reencarnar, procure na
Terra genitores cujo valor intelectual e, por conseguinte, a sua constituição
física tenham com ela maior afinidade, assegurando-se desse modo, dentro das
leis mesmas da hereditariedade, um corpo propício ao desenvolvimento das suas
aspirações. Nada a estranhar, portanto, que um músico prefira a paternidade de
um maestro à de um pedreiro. (Pág. 205) (Continua no próximo número.)
Respostas às
questões preliminares
A. Pode um Espírito ao reencarnar ter cerceada a
manifestação de sua capacidade intelectual em sua plenitude?
Sim. Assim como há Espíritos reencarnados que apresentam
aptidões extraordinárias e precoces para as artes e as ciências, como no caso
de Pascal e Mozart, pode dar-se fenômeno inverso, quando as leis da
hereditariedade põem entraves ao indivíduo, de maneira que, durante a
existência corporal, lhe fique cerceada a manifestação da inteligência em toda
a sua amplitude e fulgurância. (A Evolução Anímica, pp. 194 e 195.)
B. Por que tal fato se dá?
Como vivemos na Terra muitas vezes, é preciso desenvolver,
em cada vez, virtudes como a humildade, cuja aquisição se torna quase
incompatível com um intelectualismo brilhante. O Espírito escolhe, então, um invólucro
refratário que lhe impede as mais altas expressões da atividade intelectual e,
durante uma etapa terrena, poderá consagrar-se a tarefas mais humildes,
imprescindíveis ao seu progresso espiritual. (Obra citada, pág. 197.)
C. Uma vez que se admite a hereditariedade fisiológica,
haverá também uma hereditariedade psicológica?
Delanne responde deste modo a tal pergunta: “Não”, se por
isso entendermos a transmissão das faculdades intelectuais em si mesmas, e
“Sim”, se quisermos com isso dizer transmissão dos órgãos necessários à
manifestação do pensamento. Não é raro vermos numa família filhos que em nada
se parecem com os pais, quer física, quer intelectual, quer moralmente. A
História mostra-nos, a cada passo, filhos de homens notáveis que foram verdadeiras
antíteses das virtudes e talentos paternos. Péricles teve dois filhos cretinos.
Aristipo engendrou o infame Lisímaco. De Tucídides proveio Milésias. Sófocles,
Temístocles e Sócrates tiveram filhos degenerados. A história contemporânea
apresenta-nos também todo um quadro de filhos nada comparáveis aos pais. Nos
domínios da ciência temos visto surgir gênios em meios rústicos ou de pais
ignorantes, como Bacon, Comte, Copérnico, Descartes, Kant, Kepler, Spinoza,
atestados vivos de que a genialidade não é hereditária. (Obra citada, pp. 203 e 204.)
Observação:
Para acessar a Parte 13 deste estudo, publicada na
semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/11/blog-post_11.html
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