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quarta-feira, 21 de junho de 2023

 



Revista Espírita de 1863

 

Allan Kardec

 

Parte 8

 

Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1863, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

A coleção do ano de 1863 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.

Cada parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. Como proceder diante dos ataques de nossos adversários?

B. Deve-se publicar inconsideradamente tudo quanto venha dos Espíritos?

C. A encarnação dos Espíritos é uma necessidade ou tão somente um castigo?

 

Texto para leitura

 

72. Da cidade de Midi, um dos correspondentes da Revista refere como a cruzada contra o Espiritismo estava sendo dirigida. Num grupo da cidade, onde se discutiam pró e contra as ideias espíritas, um dos assistentes disse que o Codificador não contava em sua Revista todas as tribulações e mistificações que experimentava. E afirmou que em setembro do ano passado, numa reunião de cerca de trinta pessoas, em casa do Sr. Kardec, todos os assistentes foram mimoseados a cacetadas pelos Espíritos. (P. 150)

73. Respondendo à carta, Kardec desmentiu de modo formal o suposto episódio e acrescentou que no mês de setembro de 1862 ele estava em viagem pelo interior da França, tendo-se ausentado de Paris desde o final de agosto até o dia 20 de outubro. (PP. 150 e 151)

74. A propósito do assunto, Kardec adverte que ninguém deve pensar que a guerra movida contra o Espiritismo tenha chegado ao apogeu. Quer dizer: viria ainda coisa mais pesada e grosseira. Em face disso, anotou o Codificador:

I) Os verdadeiros espíritas, diante dos ataques recebidos, devem distinguir-se pela moderação, deixando aos antagonistas o triste privilégio das injúrias.

II) É dever de todo bom espírita esclarecer os que o procuram de boa-fé, mas é inútil discutir com antagonistas de má fé ou ideia preconcebida.

III) As questões pessoais apagam-se ante a grandeza do objetivo e o conjunto do movimento irresistível que se opera nas ideias. Pouco importa, assim, que este ou aquele seja contra o Espiritismo, quando se sabe que ninguém tem o poder de impedir a realização dos fatos.

IV) É preciso continuar a semear a ideia, espalhando-a pela doçura e pela persuasão e deixando aos nossos antagonistas o monopólio da violência e da acrimônia a que só se recorre quando a pessoa não é bastante forte pelo raciocínio. (PP. 152 e 153)

75. Focalizando o grande número de comunicações mediúnicas que lhe eram enviadas de todas as partes, Kardec valeu-se dos números para mostrar que nem toda mensagem de origem espiritual merece ser veiculada pela imprensa. Diz ele que em 3.600 mensagens recebidas existiam mais de 3.000 de moralidade irreprochável e excelentes como fundo, mas somente 300 (dez por cento delas) serviriam à publicidade, das quais apenas 100 apresentariam um mérito inconteste. A análise do Codificador leva a uma conclusão óbvia: não se deve publicar inconsideradamente tudo quanto venha dos Espíritos, se quisermos atingir o objetivo a que nos propomos. (PP. 153 a 155)

76. O mesmo raciocínio se aplica aos trabalhos dos encarnados: de 30 artigos que ele examinou, não mais de seis (vinte por cento) mereceriam ser publicados. “No mundo invisível como na Terra, não faltam escritores - assevera Kardec -, mas os bons são raros.” Sua conclusão é que todas as precauções são poucas para evitar as publicações lamentáveis. Em tais casos - acrescenta o Codificador - mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa. (PP. 155 e 156)

77. Viennois (Espírito) explica, respondendo a Kardec, por que há Espíritos incrédulos no mundo espiritual. É que a morte não modifica de repente as opiniões dos que partem: sua incredulidade geralmente os acompanha. (PP. 156 e 157)

78. O caso de Espíritos materialistas no mundo espiritual é explicado por Erasto, que lembra que todos os corpos, sólidos ou fluídicos, pertencem à substância material. Os que em vida só admitem um princípio na natureza – a matéria, muitas vezes não percebem, após a morte, esse princípio único, absoluto, como cegos ante as coisas espirituais. (P. 158)

79. O número de junho é aberto com um artigo de Kardec intitulado “Do princípio da não retrogradação do Espírito”, em que é desenvolvida com clareza a tese espírita de que os Espíritos não retrogradam, no sentido de que nada perdem do progresso realizado. Eles podem ficar momentaneamente estacionários, mas, se bons, não podem tornar-se maus, verificando-se o mesmo no tocante à sabedoria. O que pode ser modificado é a situação material, a condição social ou econômica da existência. (PP. 163)

80. Kardec analisa também, no mesmo artigo, a tese de que os Espíritos não teriam sido criados para se encarnarem. A encarnação não seria senão o resultado de sua falta. O Espiritismo afirma o contrário, ou seja, que a encarnação é uma necessidade para o progresso do Espírito e do próprio planeta em que ele vive. Outro ponto interessante comentado por Kardec é a situação do Espírito em sua origem. Sendo ele criado simples e ignorante, ao buscar o caminho do mal não haveria uma retrogradação? Kardec diz que não, porquanto só existe queda na passagem de um estado relativamente bom a um pior, o que não ocorre no caso, visto que, criado simples e ignorante, o Espírito se encontra num estado de nulidade moral e intelectual como a criança que acaba de nascer. (PP. 164 a 166)

81. A Revista traz um artigo contendo a refutação de Kardec aos ataques ao Espiritismo contidos numa brochura assinada pela Rev. Pe. Nampon, da Companhia de Jesus. Elaborada com base em dois sermões que o padre proferiu na igreja de São João Batista, em presença do cardeal-arcebispo de Lyon, a brochura não traz novidades, mas se apresenta eivada de erros cometidos deliberadamente por seu autor na menção de certos trechos das obras de Kardec. (PP. 167 a 173)

 

Respostas às questões propostas

 

A. Como proceder diante dos ataques de nossos adversários?

Os verdadeiros espíritas, diante dos ataques recebidos, devem distinguir-se pela moderação, deixando aos antagonistas o triste privilégio das injúrias. É dever de todo bom espírita esclarecer os que o procuram de boa-fé, mas é inútil discutir com antagonistas de má fé ou ideia preconcebida. Pouco importa, assim, que este ou aquele seja contra o Espiritismo, quando se sabe que ninguém tem o poder de impedir a realização dos fatos. (Revista Espírita de 1863, pp. 152 e 153.) 

B. Deve-se publicar inconsideradamente tudo quanto venha dos Espíritos?

Não. Focalizando o grande número de comunicações mediúnicas que lhe eram enviadas de todas as partes, Kardec valeu-se dos números para mostrar que nem toda mensagem de origem espiritual merece ser veiculada pela imprensa. Diz ele que em 3.600 mensagens recebidas existiam mais de 3.000 de moralidade irreprochável e excelentes como fundo, mas somente 300 (dez por cento delas) serviriam à publicidade, das quais apenas 100 apresentariam um mérito inconteste. A análise do Codificador leva a uma conclusão óbvia: não se deve publicar inconsideradamente tudo quanto venha dos Espíritos, se quisermos atingir o objetivo a que nos propomos. (Obra citada, págs. 153 a 155.)

C. A encarnação dos Espíritos é uma necessidade ou tão somente um castigo?

Segundo o Espiritismo, a encarnação é uma necessidade para o progresso do Espírito e do próprio planeta em que ele vive. Nada tem ela a ver com castigo ou punição de uma falta cometida, como creem alguns. (N. do R.: Essa concepção de castigo é um dos pontos centrais da obra de Roustaing, que colide assim, em mais este ponto, com a Doutrina Espírita.) (Obra citada, pp. 164 a 166.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 7 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/06/revista-espirita-de-1863-allan-kardec_02141943660.html

 

 

 



 

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