Revista Espírita de 1863
Allan Kardec
Parte 7
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1863, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de
1863 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a
dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do estudo,
que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. O que é preciso
para afastarmos os maus Espíritos?
B. Por que o
Espiritismo agrada tanto às pessoas que o conhecem?
C. A prece feita em
intenção daquele que faleceu produz resultado?
Texto para leitura
62. Kardec refere
ainda, baseado em relato do Dr. Chiara, que certa vez houve na igreja, onde os
doentes tinham sido reunidos, um tumulto horrível. As mulheres caíram em crise
ao mesmo tempo, derrubando e quebrando os bancos da igreja e rolando pelo chão,
de mistura com homens e crianças, que tentavam contê-las. A seguir, elas
proferiram juras horríveis e incríveis, interpelando os sacerdotes em termos
bastante injuriosos. Foi aí que cessaram as cerimônias públicas de exorcismo,
que passou a ser feito no domicílio das pessoas, sem quaisquer resultados, até
que a prática foi encerrada de vez. (P. 138)
63. Resultado diverso
se obteve em Moscou, onde na mesma ocasião os habitantes de uma aldeia foram
também atingidos por um mal em tudo semelhante ao de Morzine – as mesmas
crises, as mesmas convulsões, as mesmas blasfêmias, as mesmas injúrias contra
os padres e a mesma impotência de exorcistas e médicos. Conta o Sr. A... que um
de seus tios, o Sr. R..., de Moscou, poderoso magnetizador e homem de bem por
excelência, de coração muito piedoso, tendo visitado aqueles infelizes, parava
as convulsões mais violentas pela simples imposição das mãos, acompanhada de
fervorosa prece. Repetindo o ato, ele acabou curando quase todos radicalmente.
(P. 138)
64. É preciso que o
agente da cura tenha o coração piedoso, contribuindo para que os que sofrem o
mal se elevem moralmente, pois este é o mais seguro meio de neutralizar a
influência dos maus Espíritos e de prevenir a volta do que se passou, porquanto
os maus Espíritos só se dirigem àqueles a quem sabem poder dominar e não
àqueles a quem a superioridade moral – não dizemos intelectual – encouraça
contra os ataques. (P. 139)
65. Kardec conclui o
artigo advertindo que ninguém creia na virtude de talismãs, amuletos, signos ou
palavras para afastar os maus Espíritos. A pureza de coração e de intenção, o
amor de Deus e do próximo, eis o melhor talismã. (P. 139)
66. Segundo São Luís,
guia da Sociedade Espírita de Paris, os possessos de Morzine estavam realmente
sob a influência de Espíritos atraídos para aquela região por causas que um dia
seriam conhecidas. “Se todos os homens fossem bons, diz São Luís, os maus
Espíritos deles se afastariam porque não poderiam induzi-los ao mal. A presença
dos homens de bem os faz fugir; a dos homens viciosos os atrai, ao passo que se
dá o contrário com os bons Espíritos.” (P. 140)
67. Com o título
“Algumas refutações”, Kardec refere-se às prédicas que estavam se
intensificando, à época, com o objetivo de denegrir a doutrina espírita e
desmoralizar seus partidários. O conteúdo dos ataques – afirma o Codificador –
é geralmente o mesmo. Parte do clero considerava o Espiritismo uma mistura de
horrores que só a loucura poderia justificar. Kardec alinha, em seu artigo,
algumas das objeções feitas e lhes dá a resposta cabível. (PP. 140 a 145)
68. Eis alguns dos
pontos que merecem destaque nos comentários de Kardec:
I) O Espiritismo
também reconhece como profanação chamar os mortos levianamente, por motivos
fúteis e, sobretudo, para fazer disto profissão lucrativa.
II) Se a crença nas
penas eternas alimentadas pela Igreja constitui um freio poderoso, por que a
humanidade chegou ao ponto em que se encontra, onde as prevaricações, os
vícios, a corrupção e as guerras parecem jamais ter fim?
III) Se a Igreja
julga sua segurança comprometida com o ataque a essa crença, é o caso de
lamentá-la por repousar sobre uma base tão frágil, porquanto, se tem ela um
verme roedor, esse verme é o dogma das penas eternas.
IV) Os grupos e
sociedades espíritas na França não abrem as portas ao público para pregar sua
doutrina aos transeuntes. O Espiritismo se prega por si mesmo e pela força das
coisas.
V) O Espiritismo
agrada às pessoas porque não se impõe e por causa de sua doçura, das
consolações que proporciona, da fé inabalável que propicia.
VI) A doutrina
espírita se apoia em fatos irrecusáveis que desafiam toda negação: eis o
segredo de sua tão rápida propagação. (PP. 140 a 145)
69. Falando sobre sua
desencarnação, o Espírito de Philibert Viennois relata:
I) A viagem da morte
é um sono para o justo; a ruptura é natural; mas, ao primeiro despertar, que
admiração! Como tudo é novo, esplêndido, maravilhoso!
II) Os Espíritos que
ele amava e amigos de precedentes encarnações acolheram-no e abriram-lhe as
portas da existência verdadeira. Na sequência, Viennois disse que a prece que
Kardec fez em sua intenção comovera muitos Espíritos levianos e incrédulos que
estavam presentes à reunião, e serviria para o seu adiantamento. A prece
proferida por Kardec foi transcrita em seguida à comunicação. (PP. 145 a 148)
70. Num sermão
pregado contra o Espiritismo, o orador, pensando com isso dar um golpe mortal
nas ideias espíritas, relatou que, três semanas atrás, uma senhora que perdera
o marido foi procurada por um médium. Este ofereceu-se para obter uma mensagem
do falecido, que, valendo-se da escrita, contou à esposa que não tinha sido
digno de entrar no repouso dos bem-aventurados e por isso se viu obrigado a
reencarnar imediatamente para expiar seus pecados. Adivinhem onde? A um
quilômetro dali, na propriedade de um moleiro, na pessoa de um jumentinho. A
mulher foi e comprou o animal, instalando-o devidamente num cômodo especial de
sua casa. (PP. 148 e 149)
71. Kardec, após
relatar a anedota, diz que o orador demonstrou que critica o que não conhece,
visto que o Espiritismo ensina, sem equívoco, que o Espírito não pode animar o
corpo de um animal e vice-versa. (P. 149)
Respostas às questões propostas
A. O que é preciso
para afastarmos os maus Espíritos?
Os maus Espíritos só
se dirigem àqueles a quem sabem poder dominar e não àqueles a quem a
superioridade moral – não dizemos intelectual – encouraça contra os ataques.
Ninguém creia na virtude de talismãs, amuletos, signos ou palavras para afastar
os maus Espíritos. A pureza de coração e de intenção, o amor de Deus e do
próximo, eis o melhor talismã. (Revista Espírita de 1863, p. 139.)
B. Por que o
Espiritismo agrada tanto às pessoas que o conhecem?
Segundo Kardec, o
Espiritismo agrada às pessoas porque não se impõe e por causa de sua doçura,
das consolações que proporciona, da fé inabalável que propicia. (Obra citada,
págs. 140 a 145.)
C. A prece feita em intenção daquele que faleceu produz
resultado?
Sim, a prece é sempre útil. Segundo relato do Espírito de
Philibert Viennois, a prece que Kardec fez em sua intenção comovera muitos
Espíritos levianos e incrédulos que estavam presentes à reunião, e serviria
para o seu adiantamento. (Obra citada, pp. 145 a 148.)
Observação:
Para
acessar a Parte 6 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/06/revista-espirita-de-1863-allan-kardec.html
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