Revista Espírita de 1863
Allan Kardec
Parte 8
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1863, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de
1863 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a
dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do estudo,
que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Como proceder
diante dos ataques de nossos adversários?
B. Deve-se publicar
inconsideradamente tudo quanto venha dos Espíritos?
C. A encarnação dos
Espíritos é uma necessidade ou tão somente um castigo?
Texto para leitura
72. Da cidade de
Midi, um dos correspondentes da Revista refere como a cruzada contra o
Espiritismo estava sendo dirigida. Num grupo da cidade, onde se discutiam pró e
contra as ideias espíritas, um dos assistentes disse que o Codificador não
contava em sua Revista todas as tribulações e mistificações que experimentava.
E afirmou que em setembro do ano passado, numa reunião de cerca de trinta
pessoas, em casa do Sr. Kardec, todos os assistentes foram mimoseados a
cacetadas pelos Espíritos. (P. 150)
73. Respondendo à
carta, Kardec desmentiu de modo formal o suposto episódio e acrescentou que no
mês de setembro de 1862 ele estava em viagem pelo interior da França, tendo-se
ausentado de Paris desde o final de agosto até o dia 20 de outubro. (PP. 150 e
151)
74. A propósito do
assunto, Kardec adverte que ninguém deve pensar que a guerra movida contra o
Espiritismo tenha chegado ao apogeu. Quer dizer: viria ainda coisa mais pesada
e grosseira. Em face disso, anotou o Codificador:
I) Os verdadeiros
espíritas, diante dos ataques recebidos, devem distinguir-se pela moderação,
deixando aos antagonistas o triste privilégio das injúrias.
II) É dever de todo
bom espírita esclarecer os que o procuram de boa-fé, mas é inútil discutir com
antagonistas de má fé ou ideia preconcebida.
III) As questões
pessoais apagam-se ante a grandeza do objetivo e o conjunto do movimento
irresistível que se opera nas ideias. Pouco importa, assim, que este ou aquele
seja contra o Espiritismo, quando se sabe que ninguém tem o poder de impedir a
realização dos fatos.
IV) É preciso
continuar a semear a ideia, espalhando-a pela doçura e pela persuasão e
deixando aos nossos antagonistas o monopólio da violência e da acrimônia a que
só se recorre quando a pessoa não é bastante forte pelo raciocínio. (PP. 152 e
153)
75. Focalizando o
grande número de comunicações mediúnicas que lhe eram enviadas de todas as
partes, Kardec valeu-se dos números para mostrar que nem toda mensagem de
origem espiritual merece ser veiculada pela imprensa. Diz ele que em 3.600
mensagens recebidas existiam mais de 3.000 de moralidade irreprochável e
excelentes como fundo, mas somente 300 (dez por cento delas) serviriam à
publicidade, das quais apenas 100 apresentariam um mérito inconteste. A análise
do Codificador leva a uma conclusão óbvia: não se deve publicar
inconsideradamente tudo quanto venha dos Espíritos, se quisermos atingir o
objetivo a que nos propomos. (PP. 153 a 155)
76. O mesmo
raciocínio se aplica aos trabalhos dos encarnados: de 30 artigos que ele
examinou, não mais de seis (vinte por cento) mereceriam ser publicados. “No
mundo invisível como na Terra, não faltam escritores - assevera Kardec -, mas
os bons são raros.” Sua conclusão é que todas as precauções são poucas para
evitar as publicações lamentáveis. Em tais casos - acrescenta o Codificador -
mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa. (PP. 155 e
156)
77. Viennois
(Espírito) explica, respondendo a Kardec, por que há Espíritos incrédulos no
mundo espiritual. É que a morte não modifica de repente as opiniões dos que
partem: sua incredulidade geralmente os acompanha. (PP. 156 e 157)
78. O caso de
Espíritos materialistas no mundo espiritual é explicado por Erasto, que lembra
que todos os corpos, sólidos ou fluídicos, pertencem à substância material. Os
que em vida só admitem um princípio na natureza – a matéria, muitas vezes não
percebem, após a morte, esse princípio único, absoluto, como cegos ante as
coisas espirituais. (P. 158)
79. O número de junho
é aberto com um artigo de Kardec intitulado “Do princípio da não retrogradação
do Espírito”, em que é desenvolvida com clareza a tese espírita de que os
Espíritos não retrogradam, no sentido de que nada perdem do progresso
realizado. Eles podem ficar momentaneamente estacionários, mas, se bons, não
podem tornar-se maus, verificando-se o mesmo no tocante à sabedoria. O que pode
ser modificado é a situação material, a condição social ou econômica da
existência. (PP. 163)
80. Kardec analisa
também, no mesmo artigo, a tese de que os Espíritos não teriam sido criados
para se encarnarem. A encarnação não seria senão o resultado de sua falta. O
Espiritismo afirma o contrário, ou seja, que a encarnação é uma necessidade
para o progresso do Espírito e do próprio planeta em que ele vive. Outro ponto
interessante comentado por Kardec é a situação do Espírito em sua origem. Sendo
ele criado simples e ignorante, ao buscar o caminho do mal não haveria uma
retrogradação? Kardec diz que não, porquanto só existe queda na passagem de um
estado relativamente bom a um pior, o que não ocorre no caso, visto que, criado
simples e ignorante, o Espírito se encontra num estado de nulidade moral e
intelectual como a criança que acaba de nascer. (PP. 164 a 166)
81. A Revista traz um
artigo contendo a refutação de Kardec aos ataques ao Espiritismo contidos numa
brochura assinada pela Rev. Pe. Nampon, da Companhia de Jesus. Elaborada com
base em dois sermões que o padre proferiu na igreja de São João Batista, em
presença do cardeal-arcebispo de Lyon, a brochura não traz novidades, mas se
apresenta eivada de erros cometidos deliberadamente por seu autor na menção de
certos trechos das obras de Kardec. (PP. 167 a 173)
Respostas às questões propostas
A. Como proceder
diante dos ataques de nossos adversários?
Os verdadeiros
espíritas, diante dos ataques recebidos, devem distinguir-se pela moderação,
deixando aos antagonistas o triste privilégio das injúrias. É dever de todo bom
espírita esclarecer os que o procuram de boa-fé, mas é inútil discutir com
antagonistas de má fé ou ideia preconcebida. Pouco importa, assim, que este ou
aquele seja contra o Espiritismo, quando se sabe que ninguém tem o poder de
impedir a realização dos fatos. (Revista Espírita de 1863, pp. 152 e
153.)
B. Deve-se publicar
inconsideradamente tudo quanto venha dos Espíritos?
Não. Focalizando o
grande número de comunicações mediúnicas que lhe eram enviadas de todas as
partes, Kardec valeu-se dos números para mostrar que nem toda mensagem de
origem espiritual merece ser veiculada pela imprensa. Diz ele que em 3.600
mensagens recebidas existiam mais de 3.000 de moralidade irreprochável e
excelentes como fundo, mas somente 300 (dez por cento delas) serviriam à
publicidade, das quais apenas 100 apresentariam um mérito inconteste. A análise
do Codificador leva a uma conclusão óbvia: não se deve publicar
inconsideradamente tudo quanto venha dos Espíritos, se quisermos atingir o
objetivo a que nos propomos. (Obra citada, págs. 153 a 155.)
C. A encarnação dos
Espíritos é uma necessidade ou tão somente um castigo?
Segundo o
Espiritismo, a encarnação é uma necessidade para o progresso do Espírito e do
próprio planeta em que ele vive. Nada tem ela a ver com castigo ou punição de
uma falta cometida, como creem alguns. (N. do R.: Essa concepção de castigo
é um dos pontos centrais da obra de Roustaing, que colide assim, em mais este
ponto, com a Doutrina Espírita.) (Obra citada, pp. 164 a 166.)
Observação:
Para
acessar a Parte 7 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/06/revista-espirita-de-1863-allan-kardec_02141943660.html
Como consultar as matérias deste blog? Se você não
conhece a estrutura deste blog, clique em Espiritismo Século XXI e verá como
utilizá-lo e os vários recursos que ele nos propicia. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário