No Invisível
Léon Denis
Parte 26
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial do clássico No Invisível, de Léon Denis, cujo título no original francês é Dans l'Invisible.
Nossa expectativa é que este estudo sirva para o leitor
como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Os fenômenos de efeitos
físicos produzem convicções duradouras?
B. Em que consiste a escrita
direta?
C. Quem nos tempos modernos foi o
pioneiro nesse tipo de fenômeno?
Texto para
leitura
705. Após a partida da Sra. De Girardin, Victor Hugo
continuou esses misteriosos exercícios e os consignou em muitos cadernos, que o
Sr. Camille Flammarion pôde compulsar, dos quais publicou alguns fragmentos em
“Annales Politiques et Littéraires”, de 7 de maio de 1899. Nele lemos o
seguinte: “A Sra. Victor Hugo e seu filho François reuniam-se quase sempre em
torno da mesa. Vacquerie e alguns outros não se aproximavam senão
alternativamente; Hugo jamais. Ele desempenhava o papel de secretário, escrevendo,
à parte, em folhas de papel os ditados da mesa. Esta, consultada, anunciava,
geralmente, a presença de poetas, autores dramáticos e outras personagens
célebres, como Molière, Shakespeare, Galileu, etc. Na maioria das vezes, porém,
quando interrogados, em lugar do nome que se esperava, a mesa soletrava o de um
ser imaginário, como este, por exemplo, que reaparecia com frequência: “a
Sombra do Sepulcro”.
706. Um dia, os Espíritos pediram que os interrogassem em
verso. Victor Hugo declarou que não sabia improvisar como repentista e pediu
que fosse adiada a sessão. No dia seguinte, tendo Molière ditado seu nome, o
autor de “La Légende des Siècles” recitou alguns versos. Esperou-se algum
tempo, mas não foi Molière quem respondeu. Foi a “Sombra do Sepulcro”, e, em
verdade, ninguém pode ler sua resposta sem ficar maravilhado de sua irônica
imponência. A lição fora ríspida e, indignado com a conduta dos Espíritos,
Victor Hugo largou o caderno e abandonou a sala.
707. As comunicações ditadas pela mesa, em Jersey – conclui
o Sr. Flammarion – apresentam uma grande elevação de pensamento e esplêndida
linguagem. O autor das “Contemplações” acreditou sempre que nelas havia uma
entidade exterior, independente dele, às vezes mesmo hostil, que com ele
discutia e o chamava à ordem. E, entretanto, examinando-se esses três cadernos,
força é reconhecer que ali está Victor Hugo, algumas vezes mesmo o Victor Hugo
sublime.
708. A respeito do fato, segundo Flammarion, existiriam
duas hipóteses: ou uma ação inconsciente do Espírito de Victor Hugo, de um ou
de alguns dos assistentes, ou a presença de um Espírito independente. Contudo,
não nos é possível partilhar dessa hesitação. Os versos da “Sombra do Sepulcro”
não são o produto de Victor Hugo, pois que ele antecipadamente declara “não
saber improvisar” e zanga-se com a resposta altaneira e espontânea do Espírito.
Se não é admissível que tivesse ele querido a si mesmo infligir uma lição, o
respeito que lhe votavam ainda menos permite atribuir essa intenção às pessoas
que o cercavam. Além disso – assegura-se – ele jamais estava ao pé da mesa.
709. Quanto à linguagem, não esqueçamos que os Espíritos
não a empregam entre si, mas se comunicam simplesmente pelo pensamento. Eles
não se utilizam da linguagem articulada senão em relação conosco e sempre na
forma que nos é habitual. Não admira que um Espírito de grande elevação, como
parece o interlocutor de Victor Hugo, tenha querido falar ao poeta em sua
própria linguagem. Qualquer outro estilo teria ficado abaixo das circunstâncias
e do meio.
710. Os fenômenos da mesa têm trazido numerosas adesões ao
Espiritismo. A mesa que se ergue e se move, com ou sem contacto, e dita frases
imprevistas, impressiona os cépticos, abala a incredulidade. Mas as convicções
não se firmam e consolidam senão quando o fenômeno reveste um caráter
inteligente e fornece provas de identidade. Sem isso, a primeira impressão não
tarda a dissipar-se, e chega-se a explicar o fato por qualquer outra coisa que
não a intervenção dos Espíritos.
711. Os fatos puramente físicos são impotentes para
produzir convicções duradouras. O próprio professor Charles Richet o reconhece.
Ele presenciou em Milão, Roma e Paris manifestações muito significativas;
subscreveu relatórios concludentes; mas, a breve trecho, pela força do hábito,
reincide em suas hesitações de antanho.
712. Diz ele em seu discurso proferido em 1899, na
Sociedade Inglesa de Investigações Psíquicas: “Nossa convicção, isto é, a dos
homens que observaram, deveria servir para convencer os outros; ao contrário,
porém, é a convicção negativa dos que nada viram, e nada deveriam dizer, que
enfraquece e chega a destruir a nossa.”
713. Vimos, pelos casos mencionados, que a mesa pode
tornar-se o instrumento de Espíritos eminentes, mas esses casos são bem raros.
Na maioria das vezes são almas de fraca inteligência que se manifestam por esse
processo. Suas comunicações são geralmente banais ou mesmo grosseiras e sem
valor. Quanto mais inferior é o Espírito, mais fácil lhe é agir sobre os
objetos materiais. Os Espíritos adiantados só excepcionalmente se servem da
mesa, em falta de outro meio. O contacto e a manipulação dos fluidos
necessários às manifestações desse gênero impõem um certo constrangimento aos
Espíritos de natureza etérea e delicada; não raro, contudo, o afeto e
solicitude que nos votam lhes fazem superar muitas dificuldades.
714. As manifestações da mesa são apenas o vestíbulo do
Espiritismo, uma preparação para fenômenos mais nobres e instrutivos. Não nos
devemos deter nas experiências físicas; logo que delas houvermos colhido o que
nos podem fornecer como certeza, procuremos modos de comunicação mais
perfeitos, suscetíveis de nos conduzirem ao verdadeiro conhecimento do ser e de
seus destinos.
715. Escrita direta. Escrita mediúnica – A escrita é
também um dos meios pelos quais os seres que amamos neste mundo podem
comunicar-se conosco e transmitir-nos seus pensamentos. Duas são as formas que
reveste: escrita direta e escrita mediúnica.
716. Desses dois modos de manifestação, a escrita direta ou
pneumatografia (1) é certamente o mais seguro, o mais fácil de fiscalizar-se.
Pode produzir-se em plena luz. O médium permanece em estado normal, estranho a
suas peculiaridades, a ponto de parecer que não tem a mínima intervenção no
fenômeno. Colocadas algumas folhas de papel numa caixa ou numa gaveta fechadas
à chave, ou ainda entre ardósias duplas, amarradas e lacradas, ao serem
retiradas algum tempo depois, são encontradas escritas, assinadas com os nomes
de pessoas falecidas.
717. Nos tempos modernos, o Barão de Guldenstubbé foi o
primeiro que chamou a atenção pública para essa ordem de fatos, com o seu livro
“La réalité des Esprits et le phénomène de leur écriture directe”. Sem o
concurso de pessoa alguma, sendo ele próprio indubitavelmente médium, obteve,
em variadíssimas condições, numerosas mensagens escritas. Suas mais notáveis
experiências foram efetuadas no Louvre, no Museu de Versalhes, na basílica de
Saint-Denis, na abadia de Westminster, no British Museum e em diversas igrejas
ou monumentos, em ruínas, da França, da Alemanha e da Inglaterra.
718. Entre as testemunhas desses fatos cita ele o Sr.
Delamare, redator-chefe de “La Patrie”; Croisselat, redator do “Universo”; R.
Dale Owen, Lacordaire, irmão do grande orador, o historiador De Bonnechose, o
Príncipe Leopoldo Galitzin, o Reverendo W. Mountfort, cujo depoimento a esse
respeito foi publicado pelo “The Spiritualist”, de 21 de dezembro de 1877.
719. O barão colocava algumas folhas de seu próprio caderno
em lugares ocultos, sem lápis nem coisa alguma que servisse para escrever.
Afastava-se alguns passos, sem perder de vista um só instante o objeto da
experimentação, e depois retirava o papel, em que se achavam escritas mensagens
inteligíveis. O volume é acompanhado de trinta fac-símiles de psicografias
assim obtidas e escolhidas entre mais de duzentos espécimes em vinte línguas
diferentes.
720. Em certos casos, dispostas sobre mesas ou no chão folhas
de papel e lápis, sob as vistas dos experimentadores erguia-se o lápis, como
empunhado por mão invisível, e traçava caracteres. Algumas vezes, via-se essa
mão guiar e dirigir os movimentos do lápis; noutras, parece a escrita ser o
resultado de uma ação química.
721. Em seu livro “Investigações sobre os fenômenos do
Espiritualismo”, pág. 158, W. Crookes cita vários exemplos desse fenômeno:
“Havia-me sentado perto da médium, a Srta. Fox, e as outras únicas pessoas
presentes eram minha mulher e uma de suas parentas. Eu mantinha as duas mãos da
médium numa das minhas, enquanto os seus pés descansavam sobre os meus. Uma
folha de papel havia sido colocada sobre a mesa, diante de nós, e com a mão que
eu conservava livre segurava um lápis. Uma mão luminosa desceu do teto do salão
e, depois de ter flutuado alguns segundos perto de mim, tomou-me o lápis da
mão, escreveu rapidamente na folha de papel, atirou o lápis, depois elevou-se
acima de nossas cabeças, perdendo-se pouco a pouco na obscuridade.”
722. Aksakof, em “Animismo e Espiritismo” (cap. I, B), cita
diversos casos em que mãos de Espíritos materializados escrevem sob as vistas
dos assistentes.
723. Aqui estão fatos mais recentes, obtidos na aldeia de
Douchy (Norte) e apresentados ao Congresso Espírita de Paris, de 1900, pelo Dr.
Dusart: “No dia 4 de março de 1898, a médium Maria D., rodeada de cinco
pessoas, indica uma cadeira vazia, na qual diz ver o Espírito Agnes, sua prima,
falecida há muitos anos, entretido a escrever em pedaços de papel recortados em
forma de coração. Um momento depois, todos os assistentes veem uma mão depor
sobre a mesa um pacotinho contendo cinco corações de papel, num dos quais
estava escrita uma pequena prece. O Sr. e a Sra. N., pais de Agnes, reconhecem
a escrita de sua filha e desfazem-se em lágrimas. Numa outra sessão viu-se,
duas vezes seguidas, uma pena colocada sobre a mesa erguer-se, escrever por si
mesma duas linhas e voltar à primitiva posição.”
724. Noutros casos, é sobre a ardósia que são traçadas as
comunicações diretas. Uma observação aqui se impõe. É sabido que certas
radiações exercem ação dissolvente sobre os fluidos. Uma luz demasiado viva, a
fixação dos olhares no ponto em que se produzem as experiências podem paralisar
a força psíquica e constituir obstáculos às manifestações, ao passo que a
obscuridade as favorece. Esta, porém, torna mais difícil a verificação e
diminui o valor dos resultados obtidos. É preciso, portanto, a ela recorrer o
menos possível, salvo no que se refere aos fenômenos luminosos, que sem a obscuridade
não poderiam ocorrer.
725. As experiências de escrita em ardósia oferecem a
preciosa vantagem de se poderem realizar em plena luz e ser submetidas a uma
severa fiscalização, ao mesmo tempo em que reúnem as condições mais favoráveis
à preparação dos fenômenos. As ardósias, com efeito, aplicadas uma contra a
outra, constituem, com suas faces interiores, uma câmara completamente obscura,
semelhante à câmara escura dos fotógrafos e, por isso mesmo, muitíssimo própria
à ação fluídica.
726. Em todas as experiências que vamos mencionar, as
ardósias eram novas, limpas de quaisquer caracteres, compradas e trazidas pelos
experimentadores; muitas vezes, a fim de evitar alguma substituição
fraudulenta, se lhes punha uma marca secreta. Eram fortemente amarradas, ou
lacradas e carimbadas, ou até, como no caso da Sra. L. Andrews e W. Petty,
solidamente atarraxadas uma à outra. Nessas condições, aparecem mensagens
escritas no interior de tais ardósias, que se não perderam de vista um só
instante. Às vezes, mesmo as mãos dos experimentadores não as abandonam.
727. Casos há também em que nem o médium, nem qualquer dos
assistentes, toca sequer nas ardósias. Colocando um pedaço de lápis no
intervalo vazio, ouve-se, todo tempo que dura o fenômeno, o ranger desse lápis
sobre a lousa e o ruído característico que se produz quando se põe a pontuação
ou quando se cortam os "tês".
728. Sob o título “Psychography”, Stainton Moses (Oxon)
escreveu, acerca dos fenômenos da escrita em ardósia, uma obra documentada, em
que refere numerosos casos por ele mesmo observados num período de dez anos; a
esses fatos se vêm acrescentar outros da mesma natureza, presenciados e
atestados por investigadores não menos sérios. Aí se encontram testemunhos
coletivos provenientes de notáveis personalidades ou de observadores cépticos,
em cujo número o autor cita muitas vezes os nomes de O'Sullivan, ministro dos
Estados Unidos na Corte de Portugal, o Conselheiro Thiersch, o professor de
Direito Criminal Wach; os professores Zoellner, Fechner, Weber e Scheibner, da
Universidade de Leipzig; Harrison, redator-chefe do “The Spiritualist”, de
Londres; Robert Dale Owen, ministro dos Estados Unidos em Nápoles, etc.
729. Tendo sido em sua maioria reproduzidos esses fatos em
diversos jornais e revistas, deles não citaremos mais que um limitado número.
Sergeant Cox, presidente da Sociedade Psicológica da Grã-Bretanha, declara ter
obtido diversas mensagens em ardósia com o concurso do médium Slade. Eis aqui
um extrato do seu testemunho: “Slade apoiava as mãos na mesa e todo o seu corpo
estava sob minhas vistas, da cabeça aos pés. Tomou a ardósia, que eu havia
cuidadosamente inspecionado, para assegurar-me de que nela nenhum traço de
escrita existia, e, colocando-lhe um fragmento de lápis, aplicou-a contra a face
inferior da tábua da mesa. No mesmo instante ouvi um ruído como se estivessem a
escrever na ardósia.
730. Tendo algumas pancadas rápidas indicado que estava
terminada a escrita, foi retirada a ardósia e, então, pudemos ler a comunicação
seguinte, escrita em caracteres nítidos e corretamente dispostos: “Caro
Sergeant, estudais um assunto que merece toda a vossa atenção. O homem que
chega a acreditar nesta verdade torna-se melhor, na maioria dos casos. Tal é
nosso objetivo, quando volvemos à Terra, impelidos pelo desejo de tornar os
homens mais conscientes e mais puros”. (Continua
no próximo número.)
(1) O termo usado por Kardec para designar a escrita direta
é pneumatografia. Neste livro Léon Denis usou o vocábulo psicografia para
designar a escrita direta. Contudo, o termo psicografia aplica-se aos casos em
que a mão do médium se serve do lápis ou da caneta para grafar a mensagem de
origem transcendental.
Respostas às
questões preliminares
A. Os fenômenos de efeitos
físicos produzem convicções duradouras?
Não. No caso das mesas girantes, os fenômenos
trouxeram numerosas adesões ao Espiritismo. A mesa que se ergue e se move, com
ou sem contacto, e dita frases imprevistas, impressiona os cépticos e abala a
incredulidade. Mas as convicções não se firmam e se consolidam senão quando o
fenômeno reveste um caráter inteligente e fornece provas de identidade. Sem
isso, a primeira impressão não tarda a dissipar-se, e chega-se a explicar o
fato por qualquer outra coisa que não a intervenção dos Espíritos. Os fatos puramente
físicos são, pois, impotentes para produzir convicções duradouras. (No
Invisível - O Espiritismo experimental: Os fatos - XVII - Fenômenos físicos
- As mesas.)
B. Em que consiste a escrita direta?
A
escrita é um dos meios pelos quais os seres que amamos neste mundo podem
comunicar-se conosco e transmitir-nos seus pensamentos. Duas são as formas que
reveste: escrita direta e escrita mediúnica. Desses dois modos de manifestação,
a escrita direta é certamente o mais seguro, o mais fácil de fiscalizar-se e
pode produzir-se em plena luz. O médium permanece em estado normal, estranho a
suas peculiaridades, a ponto de parecer que não tem a mínima intervenção no
fenômeno. Colocadas algumas folhas de papel numa caixa ou numa gaveta fechadas
à chave, ou ainda entre ardósias duplas, amarradas e lacradas, ao serem
retiradas algum tempo depois, são encontradas escritas, assinadas com os nomes
de pessoas falecidas. (Obra citada - O Espiritismo experimental: Os fatos -
XVIII - Escrita direta. Escrita mediúnica.)
C. Quem nos tempos modernos foi o pioneiro nesse tipo de fenômeno?
Foi o
Barão de Guldenstubbé quem primeiro chamou a atenção pública para essa ordem de
fatos, com o seu livro “La réalité des Esprits et le phénomène de leur écriture
directe”. Sem o concurso de pessoa alguma, sendo ele próprio indubitavelmente
médium, obteve, em variadíssimas condições, numerosas mensagens escritas. Suas
mais notáveis experiências foram efetuadas no Louvre, no Museu de Versalhes, na
basílica de Saint-Denis, na abadia de Westminster, no British Museum e em
diversas igrejas ou monumentos, em ruínas, da França, da Alemanha e da
Inglaterra. (Obra citada - O Espiritismo experimental: Os fatos - XVIII -
Escrita direta. Escrita mediúnica.)
Observação:
Para acessar a Parte 25 deste estudo, publicada na
semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/07/no-invisivel-leon-denis-parte-25-damos.html
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