O
futuro pertence realmente a Deus?
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA
FILHO
aoofilho@gmail.com
Sim, o futuro a Deus pertence.
Nós, os Espíritos, somos os construtores do próprio destino. Nossa
caminhada rumo à meta para a qual fomos criados depende dos nossos esforços, de
nossa dedicação, do empenho com que a ela nos dirigimos. Ignoramos, porém,
especialmente quando estamos encarnados, o que nos acontecerá na atual
existência e nas próximas, visto que o conhecimento do futuro não está ao nosso
alcance.
A doutrina espírita trata com clareza essa questão.
Vejamos o que, a respeito do assunto, está consignado em O
Livro dos Espíritos, que é, como se sabe, a principal obra da doutrina
espírita:
868. Pode o futuro ser revelado ao homem?
“Em princípio, o futuro lhe é oculto e só em casos raros e
excepcionais permite Deus que seja revelado.”
869. Com que fim o futuro se conserva oculto ao homem?
“Se o homem conhecesse o futuro, negligenciaria do presente e não
obraria com a liberdade com que o faz, porque o dominaria a ideia de que, se
uma coisa tem que acontecer, inútil será ocupar-se com ela, ou então procuraria
obstar a que acontecesse. Não quis Deus que assim fosse, a fim de que cada um
concorra para a realização das coisas, até daquelas a que desejaria opor-se.
Assim é que tu mesmo preparas muitas vezes os acontecimentos que hão de sobrevir
no curso da tua existência.”
870. Mas, se convém que o futuro permaneça oculto, por que permite
Deus que ele seja revelado algumas vezes?
“Permite-o, quando o conhecimento prévio do futuro facilite a
execução de uma coisa, em vez de a estorvar, obrigando o homem a agir
diversamente do modo por que agiria, se lhe não fosse feita a revelação. Não
raro, também é uma prova. A perspectiva de um acontecimento pode sugerir
pensamentos mais ou menos bons. Se um homem vem a saber, por exemplo, que vai
receber uma herança, com que não conta, pode dar-se que a revelação desse fato
desperte nele o sentimento da cobiça, pela perspectiva de se lhe tornarem
possíveis maiores gozos terrenos, pela ânsia de possuir mais depressa a
herança, desejando talvez, para que tal se dê, a morte daquele de quem herdará.
Ou, então, essa perspectiva lhe inspirará bons sentimentos e pensamentos
generosos. Se a predição não se cumpre, aí está outra prova, consistente na
maneira por que suportará a decepção. Nem por isso, entretanto, lhe caberá
menos o mérito ou o demérito dos pensamentos bons ou maus que a crença na
ocorrência daquele fato lhe fez nascer no íntimo.”
A restrição ao conhecimento do futuro, claramente explicada nas
questões precedentes, é reafirmada na pergunta n. 144 do livro O Consolador,
de Emmanuel, obra psicografada por Chico Xavier, na qual o conhecido instrutor
espiritual diz:
“Os Espíritos de nossa esfera não podem devassar o futuro,
considerando essa atividade uma característica dos atributos do Criador
Supremo, que é Deus. Temos de considerar, todavia, que as existências humanas
estão subordinadas a um mapa de provas gerais, onde a personalidade deve
movimentar-se com o seu esforço para a iluminação do porvir, e, dentro desse
roteiro, os mentores espirituais mais elevados podem organizar os fatos
premonitórios, quando convenham as demonstrações de que o homem não se resume a
um conglomerado de elementos químicos, de conformidade com a definição do
materialismo dissolvente.”
Segundo o que Allan Kardec ensina no cap. XVI, itens 7 a 10, do
livro A Gênese, a extensão das faculdades perceptivas dos Espíritos
depende, de fato, da efetiva elevação deles. Essa faculdade é inerente ao seu
estado de espiritualização ou desmaterialização. Quer isto dizer que a
espiritualização produz um efeito que se pode comparar, se bem muito
imperfeitamente, ao da visão de conjunto que tem o homem colocado sobre a
montanha.
No mesmo livro e no mesmo capítulo Allan Kardec transmite-nos, nos
itens 12 a 15, duas informações muito importantes para que possamos compreender
melhor a frase que dá título a este texto:
1ª - As mais das vezes, os acontecimentos vulgares da vida privada
são consequência da maneira de proceder de cada um, de modo que se pode dizer
que cada um é o artífice do seu próprio futuro, futuro que jamais se encontra
sujeito a uma cega fatalidade.
2ª - Os acontecimentos que envolvem interesses gerais da
Humanidade têm a regulá-los a Providência. Quando uma coisa está nos desígnios
de Deus, ela se cumpre a despeito de tudo, ou por um meio, ou por outro. Os
homens concorrem para que ela se execute; nenhum, porém, é indispensável, pois,
do contrário, Deus estaria à mercê de suas criaturas. Se faltar aquele a quem
incumba a missão de a executar, outro será dela encarregado. Não há missão
fatal; o homem tem sempre a liberdade de cumprir ou não a que lhe foi confiada
e que ele voluntariamente aceitou.
À vista disso, parece-nos bem clara a legitimidade da frase “O
futuro a Deus pertence”, tanto quanto o seu significado.
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Obrigado pela importante lição
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