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sábado, 30 de setembro de 2023

 



O casamento e o primo Jair

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

 

Há três décadas, conheci de Brasília, por correspondência, o primo Jair, residente em Contagem, MG. No dia 30 de outubro, ele que é o mais velho de cinco irmãos, completa seus 94 anos de idade. Na época, 1993, Jair presenteou-me com seu primeiro livro: Retalhos da vida (1992), em que narra diversos casos relacionados à mediunidade de sua esposa, Cidenir. Anos após, fui presenteado com mais quatro livros de sua lavra: Revivendo o cotidiano (1996); Labaredas mentais (2000, 2ª ed.); Crer ou não crer? (2003) e Trajetória de luz (2018).

Todas essas obras são baseadas em experiências vividas por meu primo em 74 anos de militância espírita. Inicialmente só, depois ao lado da esposa Cidenir, falecida há algumas décadas, Jair exerceu diversas funções e palestras nos centros espíritas que frequentou. Alguns deles foram fundados por ele, como o Centro Espírita Paz e Amor, em Belo Horizonte, no ano de 1980; a Fraternidade Espírita Luz Acima e o Centro Espírita Luz Divina, em Contagem, MG.

Jair e Cidenir não tiveram filhos naturais, mas adotaram dois filhos, Fabiano e Vinícius, e uma filha, Anália, além da prole desta, quando ela se separou do marido: o jovem Bruno e suas irmãs Luciene e Ludmila, totalizando seis almas queridas pelo casal.

Há alguns meses, foi com grande entusiasmo que recebemos convite da neta Luciene para seu casamento com Davi. Então, convidei minha grande companheira, a querida esposa Lourdes, para não só prestigiar o evento, como também conhecer pessoalmente toda a família e o primo mineiro espírita, de quem só tínhamos, além das obras, cartas, contatos telefônicos e por internet.

O enlace do casal foi no espaço para casamentos intitulado Sítio do Capão, em Vespasiano, cidade distante de Contagem 42,5 km. Lá encontramos Jair, que nos apresentou sua família.

Ao fim da festa, Bruno, na companhia de Jair, que considera seu pai, levou-nos de volta ao hotel Dom Otto, onde eu e a esposa nos hospedamos. No dia seguinte, também junto com Jair, transportou-nos de carro à residência de ambos em Contagem.   

Ao Bruno, nosso muito obrigado!

O que mais nos impressionou, nesse contato, foi observar a lucidez e memória excelente do meu primo, além do aprumo no seu caminhar, bondade e humildade. Já em sua residência, levou-nos a uma sala destinada exclusivamente a sua biblioteca espírita, onde passa muitas horas do dia lendo, escrevendo e meditando.

Que Jesus ilumine essa alma bondosa e lhe recompense a nobreza de caráter, aliada a uma vida de divulgação do Espiritismo falado, mas sobretudo praticado. Conhecer gente como essa é um privilégio e um incentivo que nos fazem recordar as palavras de Paulo aos Gálatas, 6:9 e 10: “E não nos cansemos de fazer o bem, pois a seu tempo colheremos, se não desanimarmos. Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé”.

Paulo não cita nominalmente uma determinada religião e, sim, a família da fé. Como, segundo Allan Kardec, os espíritas cristãos somos os espíritas reais, senti-me no dever, tanto quanto a esposa, de conhecer o parente distante, em avançada idade, cujo trabalho de Espírita cristão remonta a mais tempo do que tenho de idade, além de sua família.

Ao Jair, manifestamos, mais uma vez, nossos votos de sucessos, em seus derradeiros dias de abençoada vida, na esperança de que nos possamos reencontrar, se não nessa, na próxima existência. Então, esperamos estar juntos com o mesmo entusiasmo na semeadura da palavra de Jesus, nosso guia e modelo, à luz do Espiritismo cristão.

Concluo estas modestas palavras com o soneto abaixo, que dedico ao Jair, do incomparável poeta Cruz e Sousa, inaugurador da Escola Simbolista no Brasil:

 

“Longe de tudo

 

É livres, livres desta vã matéria,

Longe, nos claros astros peregrinos

Que havemos de encontrar os dons divinos

E a grande paz, a grande paz sidérea.

 

Cá, nesta humana e trágica miséria,

Nestes surdos abismos assassinos

Teremos de colher de atros destinos

A flor apodrecida e deletéria.

 

O baixo mundo que troveja e brama

Só nos mostra a caveira e só a lama,

Ah! só a lama e movimentos lassos...

 

Mas as almas irmãs, almas perfeitas,

Hão de trocar, nas Regiões eleitas,

Largos, profundos, imortais abraços!”

 

Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 

 

 

 


 

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sexta-feira, 29 de setembro de 2023

 



No Invisível

 

Léon Denis

 

Parte 36

 

Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial do clássico No Invisível, de Léon Denis, cujo título no original francês é Dans l'Invisible.

Nossa expectativa é que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para leitura.

Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.

 

Questões preliminares

 

A. As aparições materializadas de fantasmas são meros desdobramentos do médium?

B. Onde são hauridos os elementos necessários à materialização dos Espíritos?

C. O dispêndio de força por parte dos médiuns chegou a ser registrado por aparelhos apropriados?

 

Texto para leitura

 

969. Uma das experiências realizadas com a Sra. d´Espérance foi assim narrada no “diário” da Baronesa Peyron:

“O leve ruído produzido pela mão a mergulhar no líquido e ser dele retirada continuou durante alguns minutos, à sombra das cortinas, permitindo-nos divisar completamente a forma branca inclinada para o recipiente. Depois, Nefentes retomou a atitude erecta e voltou-se para nós, olhando em torno, até que descobriu o Sr. F. sentado atrás de um outro experimentador, que o ocultava em parte. Dirigiu-se então a ele, suspensa no ar, procurando entregar-lhe um objeto. ‘Ela me entrega um bocado de cera!’ exclamou ele; mas logo reparando: ‘Não; é o modelo de sua mão, coberta até ao punho; a mão se dissolve no interior do molde.’ Enquanto ele falava ainda, a forma deslizava tranquilamente para o gabinete, deixando nas mãos do Sr. F. o modelo de parafina. Tínhamos, finalmente, obtido o tão desejado fenômeno!

Terminada a sessão, foi examinado o molde: exteriormente parecia informe, glanduloso, formado por um grande número de camadas superpostas de parafina, em cujo interior notava-se a impressão de todos os dedos de mão muitíssimo pequena. Fomos no dia seguinte levá-la a um modelador, a fim de nos dar a reprodução interior em gesso. Tal foi a sua estupefação e a de seus operários, que consideraram aquele objeto como obra de feiticeira. Executado o trabalho, pudemos então admirar uma mão muito pequena e completa até ao punho; todas as minúcias das unhas e da pele apareciam: os dedos se apresentavam curvados por forma tal que seria impossível a uma mão humana ser retirada sem quebrar o modelo.”

970. As materializações de membros fluídicos podem algumas vezes explicar-se por um desdobramento parcial do organismo do médium. Aksakof obteve um molde do pé da forma desdobrada de Eglinton.  Foi igualmente comprovado que as mãos exteriorizadas de Eusápia Paladino deixavam impressões, a distância, em substâncias plásticas.

971. Desses fatos acreditaram certas pessoas poder deduzir que as aparições de fantasmas não passam de desdobramentos do médium. Essa explicação é inadmissível, pois que, como vimos, em presença de um único médium puderam contar-se até cinco ou seis Espíritos materializados, de sexo diferente, alguns dos quais falavam línguas estranhas, desconhecidas do sensitivo. Mesmo nos casos de aparições insuladas, as formas materializadas diferem totalmente do médium, física e intelectualmente, como o demonstram os fatos citados.

972. Aksakof é induzido a crer que essas formas não são reproduções das que revestiam os Espíritos em sua existência terrestre; são antes formas de fantasia, criadas pelos agentes invisíveis, não encerrados nessas formas, senão animando-as exteriormente. Essa explicação, ao que ele diz, ter-lhe-ia sido ministrada pelos Espíritos.

973. Essa teoria, se é aplicável aos fenômenos de Gotemburgo, não parece poder tornar-se extensiva a todos os casos de materialização, como, por exemplo, aos fatos observados por Crookes, Wallace, Gibier etc. Se, com efeito, pode o Espírito criar formas materiais que são simples imagens, pode também condensar seu próprio invólucro, a ponto de o tornar visível. O fenômeno das materializações se explica de modo racional e satisfatório pelo funcionamento do perispírito. Esse envoltório fluídico da alma é como um desenho, um esboço, em que a matéria se incorpora, se condensa, por sucessivas acumulações das moléculas, até chegar a reconstituir um organismo humano.

974. Assim, com Katie King o Espírito materializado é uma mulher terrestre; respira, seu coração palpita; possui todos os caracteres fisiológicos de uma pessoa viva. Nos moldes em parafina obtidos por Zöellner, Dentou e outros, moldes ou impressões de mãos, pés e rostos, as menores particularidades da pele, dos ossos, dos tendões são reproduzidos com rigorosa exatidão. Os Drs. Nichols e Friese obtiveram, na presença de doze testemunhas, o molde de mão de criança, com um sinal particular, uma ligeira deformidade, que permitiu a uma senhora presente reconhecer a mão de sua filha, morta aos cinco anos de idade.

975. Não se deve concluir daí que o Espírito conserve, no Espaço, as imperfeições físicas ou as mutilações de seu corpo terrestre. Seria um erro crasso, pois que o testemunho unânime dos desencarnados nos indica exatamente o contrário. No Além, jamais o perispírito é mutilado ou enfermo: “Quando o Espírito se quer materializar – diz Gabriel Delanne – é obrigado a pôr novamente em ação o mecanismo perispiritual, e este reconstitui o corpo com as modificações que sofrera durante a permanência do Espírito na Terra.”

976. A seguinte narrativa, transmitida ao jornal Facts pelo Sr. James N. Sherman, de Rumfort (Rhode Island), e reproduzida em “Light” de 1885, pág. 235, é um novo exemplo da lei de conservação das formas evolvidas pelo ser durante a sua passagem aqui na Terra:

“Estive, na minha mocidade, entre os anos de 1835 e 1839, nas ilhas do Pacifico, e havia indígenas a bordo do nosso navio, com os quais consegui aprender perfeitamente a língua que falavam. Mais tarde, a 23 de fevereiro de 1883, assisti a uma sessão em casa dos Srs. Allens, em Providência (Rhode Island), durante a qual se materializou um indígena das ilhas do Pacífico: reconheci-o pela descrição que fez da queda que havia dado da pavesada(1) e da qual resultara contundir-se no joelho, que ficou inchado. Na aludida sessão, colocou ele a mão no joelho, que apresentava, materializado, a mesma tumefação e rijeza verificadas por ocasião do acidente e que não mais cessaram. A bordo lhe chamávamos Billie Marryat.”

977. Os elementos das materializações são temporariamente hauridos nos médiuns e nas outras pessoas presentes. Suas radiações, seus eflúvios, são condensados pela vontade dos Espíritos, inicialmente em cúmulos luminosos; depois, à medida que aumenta a condensação, a forma se desenha, torna-se cada vez mais visível. Esse fenômeno é sempre, nas sessões, acompanhado de sensação de frio, indício de dispêndio de força e de calor – não sendo calor e luz, como se sabe, senão modos vibratórios, mais ou menos intensos, da mesma substância dinâmica, num período uniforme de tempo. Nos médiuns, esse dispêndio é considerável e se traduz por diferenças de peso muito sensíveis.

978. Crookes o verificou durante as materializações de Katie King, por meio de balanças munidas de aparelhos registradores. A esse respeito, diz a Sra. Fl. Marryat: “Vi Florence Cook numa balança especialmente fabricada pelo Sr. Crookes; ela estava atrás da cortina, enquanto o fiel permanecia à vista. Nessas condições, a médium, que pesava 80 libras no estado normal, acusava apenas 40, desde que a forma de Katie estivesse completamente materializada.”

979. Nas experiências dos Srs. Armstrong e Reimers, feitas em Liverpool com o concurso dos médiuns Miss Wood e Fairlamb, procedeu-se à pesagem dos médiuns e das formas aparecidas, e pôde-se verificar que o peso perdido pelas sensitivas se encontrava nas aparições materializadas. Durante todo o tempo em que duram esses fenômenos os médiuns estão mergulhados em transe profundo, semelhante à morte. Seus corpos minguam, os vestidos flutuam em torno deles; a pele pende flácida e vazia e forma verdadeiros sacos.

980. Os outros assistentes sofrem também diminuição de força e de vida. O Sr. Larsson o assinala, após a aparição de sua mulher: “Eu devo ter contribuído para sua materialização, porque no dia seguinte estava bastante fatigado; tinha os olhos amortecidos; os cabelos e a barba estavam um pouco embranquecidos; evidente que muita força física me havia sido subtraída. Em poucos dias readquiriu meu corpo o vigor normal; mas isso indica que as pessoas dotadas de poderes mediúnicos devem tomar suas precauções.”

981. A Sra. Florence Marryat descreve uma sessão que se efetuou, no dia 5 de setembro de 1884, em presença dos Coronéis Stewart e Lean, do Sr. e da Sra. Russell-Davies, do Sr. Morgan e dela própria, na qual os Espíritos mostraram aos experimentadores de que modo procediam a fim de organizar para si mesmos um corpo a expensas do médium:

“Eglinton se apresentou primeiramente entre nós, em transe completo. Entrou de costas, com os olhos fechados, a respiração ofegante, parecendo debater-se contra a força que o impeliu para o nosso lado. Uma vez aí, apoiou-se a uma cadeira e vimos sair-lhe da ilharga(2) esquerda uma espécie de vapor, massa nevoenta como fumo. Suas pernas estavam iluminadas por clarões que as percorriam em todos os sentidos. Um véu branco se lhe estendia pela cabeça e pelos ombros. A massa vaporosa ia aumentando sempre e a opressão do médium tornava-se mais intensa, enquanto mãos invisíveis, retirando-lhe da ilharga flocos de uma espécie de gaze muito leve, os acumulavam no solo, em camadas superpostas. Acompanhávamos com alvoroçada atenção os progressos desse trabalho. De repente se evaporou a massa e num abrir e fechar de olhos um Espírito perfeitamente formado apareceu ao lado de Eglinton. Ninguém poderia dizer donde nem como se achava ele entre nós; mas aí estava. Eglinton deixou-se cair no soalho.”

982. Não somente são feitas consideráveis absorções do corpo do médium, mas em certos casos é este submetido à desagregação total. Nas experiências dirigidas por Aksakof, em casa da Sra. d'Espérance, em Gotemburgo, foi observada uma coisa surpreendente. O corpo do médium, isolado no gabinete escuro, havia parcialmente desaparecido. Inteiramente desagregada e tornada invisível por um poder misterioso, a parte inferior do corpo tinha servido às materializações dos Espíritos Ana, Iolanda e Leila. Seus elementos haviam sido transfundidos temporariamente nas formas espectrais, para em seguida voltarem a seu primitivo estado, tendo conservado todas as suas propriedades e sem que disso o médium tivesse tido consciência.

983. Fato semelhante foi registrado pelo Coronel Olcott, em condições de fiscalização que tornavam impossível toda fraude. A médium, Sra. Compton, a quem haviam tirado os brincos das orelhas, foi amarrada a uma cadeira com linha muito forte, enfiada nos orifícios dos lobos das orelhas e lacrada no espaldar da cadeira, sendo impresso no lacre o sinete pessoal do coronel. Além disso, a cadeira foi fixada ao soalho por meio de um barbante e cera. O Espírito de uma menina, Katie Brink, apareceu vestido de branco, circulou pela sala e tocou diversas pessoas. Convidado a deixar-se pesar, prestou-se de bom grado e o peso verificado foi de 77 libras inglesas:

“Penetrei no gabinete – diz o coronel – enquanto a menina estava na sala; não encontrei a médium; a cadeira estava vazia; nela não havia nenhuma espécie de corpo. Convidei então a menina a tornar-se mais leve, se fosse possível, e subir de novo ao prato da balança. Seu peso havia baixado a 59 libras. Ela reapareceu ainda, dirigiu-se de um a outro espectador, sentou-se nos joelhos da Sra. Hardy e, finalmente, prestou-se a uma derradeira pesagem, que não acusou mais de 52 libras, posto que, do começo ao fim dessas operações, nenhuma mudança se houvesse operado na aparência de sua forma corporal.

Efetuada essa última pesagem, o Espírito não tornou a aparecer. Penetrei com a lâmpada no gabinete e encontrei a médium tal como a havia deixado no começo da sessão, amarrada com as linhas e os sinetes de lacre intactos. Continuava sentada, com a cabeça encostada a uma das paredes; sua carne, pálida, tinha a frialdade do mármore; com as pupilas reviradas sob as pálpebras, a fronte coberta de suor frio, estava sem pulso e quase sem respiração. Permaneceu vinte minutos em catalepsia; depois a vida lhe foi pouco a pouco regressando ao corpo e ela voltou ao seu estado normal; colocada no prato da balança, pesou 121 libras.”

984. O venerável Arcediago(3) Colley, reitor de Stockton, efetuou, em 6 de outubro de 1905, uma conferência relativa ao Espiritismo, durante a semana do Congresso da Igreja Anglicana. Essa conferência fez grande rumor na Grã-Bretanha; foi, em seguida, publicada em brochura e acreditamos interessante reproduzir-lhe as seguintes passagens. Nela diz o autor:

“Aqui está um extrato do meu diário, em 28 de dezembro de 1877. Éramos cinco reunidos essa noite, com o nosso eminente médium, em meu aposento, 22, Bernard Street, Russel Square, em Londres. A primeira forma humana anormal que nessa ocasião se apresentou foi a de um menino, igual à de qualquer menino inglês de seis ou sete anos. Essa pequena personalidade, à vista de todos (três bicos de gás estavam bem acesos), se reconstituiu diante de nós.

Para não repetir tantas vezes, sem necessidade, como se produzem essas maravilhas, direi uma vez por todas que a aparição dos nossos amigos psíquicos se opera do seguinte modo: eu me conservava habitualmente ao lado do médium em transe, amparando-o com o braço esquerdo, de modo a assegurar-me as melhores condições possíveis para observar o que se passava.

Quando estávamos à espera de uma materialização (e, às vezes, de repente, sem nenhuma expectativa do grande parto psíquico), víamos elevar-se, como do tubo de uma caldeira, através da roupa preta do médium e um pouco abaixo do seu peito esquerdo, um filamento vaporoso, que permanecia apenas visível, estando a uma ou duas polegadas do corpo do nosso amigo.

Então esse filamento constituía pouco a pouco uma espécie de névoa, donde saiam os nossos visitantes psíquicos, utilizando-se aparentemente desse vapor fluídico para formar as amplas roupagens brancas em que se envolviam...

Ora, a forma infantil que, de modo anormal, se achava em nossa presença, vestida de branco e com lindos cabelos de ouro, tinha todas as atitudes próprias de uma criança humana; batia com as mãozinhas, aproximava a boca para que cada um de nós a beijasse, falava de modo infantil, com um leve receio. O médium, como um irmão mais velho, dava-lhe instruções e o mandava aqui, ali, levar tal e tal coisa de um lado a outro do aposento – o que o menino fazia com perfeita naturalidade. Aproximando-se, finalmente, com singeleza e confiança, do autor de sua existência momentânea, a graciosa criatura foi por ele reabsorvida e desapareceu, fundindo-se novamente no corpo do nosso amigo.

Tocou depois a vez ao egípcio, nosso amigo ‘o Mahedi’. A cor da pele bronzeada que apresentava o nosso visitante anormal, que eu conseguia examinar de perto com uma lente, através da qual lhe observava minuciosamente a carne, as unhas, as mãos pequenas, os pés, os tornozelos, os braços e as pernas trigueiras(4) e cabeludas, a mobilidade das feições, em que, de quando em quando, brilhava uma expressão de esfinge; o nariz pronunciado, o contorno geral do semblante, o perfil regular, os olhos negros, o olhar penetrante, não, contudo, sem benevolência, os cabelos pretos, lisos e compridos, com o bigode e a barba longos e caídos, os membros nervudos e musculosos; a grande estatura, de mais de dois metros, tudo isso me confirmava nas primeiras impressões de que ‘o Mahedi’ era um oriental, mas não da Índia nem do Extremo Oriente.

Meu exame, feito com todo o vagar nessa ocasião, foi muitas vezes repetido e eu tinha consciência da graça que o nosso amigo misterioso achava na minha importuna e minuciosa inspeção de sua robusta pessoa físico-psíquica.

Eu não retiraria, para ser arcebispo de Cantuária, uma única palavra do que escrevi acerca de coisas vistas e anotadas, pela primeira vez, há longos anos e sobre as quais meditei em silêncio durante vinte e oito anos.

Afirmo a veracidade dessas coisas, empenhando a minha palavra de clergyman(5), e por ela pus em risco a minha posição eclesiástica e o meu futuro profissional.” (Continua no próximo número.)

 

Glossário:

(1) Pavesada - Guarnição ou resguardo feito de paveses; pavesadura. Proteção contra os tiros do inimigo, feita nas bordas das embarcações, com tábuas e outros materiais.

(2) Ilharga – Cada uma das partes laterais e inferiores do baixo-ventre. Ilhal. P. ext.  Flanco: cada uma de duas regiões abdominais laterais, direita e esquerda, que se situam, em altura, sob cada hipocôndrio.

(3) Arcediago – S. m. Ecles. Eclesiástico investido pelo bispo de certos poderes de jurisdição da diocese. Na Igreja medieval, dignitário das sés que secundava o bispo nos ofícios junto com o chantre e o diácono.  Ant.  O primeiro entre os diáconos.

(4) Trigueiras – Adj. Que tem a cor do trigo maduro; morenas. Referente ou semelhante ao trigo; triguenho.  S. m. Indivíduo trigueiro.

(5) Clergyman – Clérigo, isto é, indivíduo que tem todas as ordens sacras, ou algumas delas.  Aquele que pertence à classe eclesiástica. Sacerdote cristão. Aquele que já se iniciou nas ordens sacras pela tonsura dos cabelos.

 

Respostas às questões preliminares

 

A. As aparições materializadas de fantasmas são meros desdobramentos do médium?

Alguns experimentadores assim pensavam. Mas essa tese é inadmissível, porque, como já foi visto, em presença de um único médium puderam contar-se até cinco ou seis Espíritos materializados, de sexo diferente, alguns dos quais falavam línguas estranhas, desconhecidas do sensitivo. E mesmo nos casos de aparições insuladas, as formas materializadas diferem totalmente do médium, física e intelectualmente, como demonstram os fatos que foram observados.  (No Invisível - O Espiritismo experimental: Os fatos - XX - Aparições e materializações de Espíritos.)

B. Onde são hauridos os elementos necessários à materialização dos Espíritos?

São eles temporariamente hauridos nos médiuns e nas outras pessoas presentes. Suas radiações, seus eflúvios, são condensados pela vontade dos Espíritos, inicialmente em cúmulos luminosos; depois, à medida que aumenta a condensação, a forma se desenha e torna-se cada vez mais visível. Esse fenômeno é sempre acompanhado de sensação de frio, indício de dispêndio de força e de calor. Observou-se ainda que nos médiuns esse dispêndio é considerável e se traduz por diferenças de peso muito sensíveis. (Obra citada - O Espiritismo experimental: Os fatos - XX - Aparições e materializações de Espíritos.)

C. O dispêndio de força por parte dos médiuns chegou a ser registrado por aparelhos apropriados?

Sim. William Crookes o verificou durante as materializações de Katie King, por meio de balanças munidas de aparelhos registradores. A Sra. Fl. Marryat declarou ter visto a médium Florence Cook colocada sobre uma balança especialmente fabricada pelo Sr. Crookes. Ela estava atrás da cortina, enquanto o fiel permanecia à vista. Nessas condições, a médium, que pesava 80 libras no estado normal, acusava apenas 40, quando a forma de Katie King (a entidade desencarnada) se encontrava completamente materializada. Nas experiências dos Srs. Armstrong e Reimers, feitas em Liverpool com o concurso dos médiuns Miss Wood e Fairlamb, procedeu-se à pesagem dos médiuns e das formas aparecidas, e pôde-se verificar que o peso perdido pelas sensitivas se encontrava nas aparições materializadas. (Obra citada - O Espiritismo experimental: Os fatos - XX - Aparições e materializações de Espíritos.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 35 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/09/no-invisivel-leon-denis-parte-35-damos.html

 

 

 


 

 

 

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quinta-feira, 28 de setembro de 2023

 



CINCO-MARIAS

 

Brinquedo bom

 

EUGÊNIA PICKINA

eugeniapickina@gmail.com


Nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas
. Manoel de Barros

 

É por meio do brincar que a criança aprende e se desenvolve, tanto em casa quanto na escola, no jardim, na pracinha e assim por diante.

Todas as formas de brincar são valiosas para a criança e, por isso, o legítimo interesse pela bola, jogo, livro, principalmente na primeira infância, período crucial para o desenvolvimento das habilidades motoras, cognitivas e expressivas.

Não é à toa que a criança pequena, por meio da imaginação, possa utilizar de modo criativo uma caixa maravilhosa: um belo barco? Ou, ainda, um refúgio, um castelo, um avião...

O que é então um bom brinquedo para uma criança?

À medida que a criança é o centro do brincar, um bom brinquedo é aquele que permite que a imaginação da criança conduza o rumo das coisas, ampliando, em consequência, sua relação com o mundo. O bom brinquedo permite à criança imaginar, criar e fazer, provocando sua natureza curiosa, sua atitude investigativa.

Quando tinha 5 anos, meu irmão ganhou um robô que acendia luzes, emitia sons e se movimentava. Não tardou muito para minha mãe vê-lo sentado no chão martelando o brinquedo, e para descobrir o que ele tinha dentro – uma ação muito mais interessante e divertida.

Nos diversos ambientes domésticos, não é incomum crianças prestarem mais atenção à caixa do que ao brinquedo novo. Porque, para a criança, inventar uma brincadeira é muitas vezes a parte mais divertida do brincar.

Brinquedo industrializado rapidamente aciona o tédio na criança, pois no geral não motiva o seu protagonismo – e o mesmo ocorre com os brinquedos digitais, que geram passividade, provocando atrofia psíquica e empobrecimento da vida interior da criança.

Na hora de oferecer um brinquedo ao seu filho pequeno, considere dar-lhe aquele que funcione segundo sua capacidade criadora.

Muitas vezes, uma simples bola ou pedrinhas, caixas, gravetos, são mais capazes de se transformar em brincadeiras interessantes e divertidas, ganhando destaque em relação aos brinquedos de plástico ou cheio de luzes.

Em relação à primeira infância, portanto, brinquedo bom é aquele que instiga, no dia a dia, uma construção autoral, elaborada por meio de um processo espontâneo e autêntico da própria criança.

 

*

 

Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).

Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), ministra cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.

Seu contato no Instagram é @eugeniapickina

 

 

 



 

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quarta-feira, 27 de setembro de 2023

 



Revista Espírita de 1864

 

Allan Kardec

 

Parte 6

 

Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1864, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

A coleção do ano de 1864 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.

Cada parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. A rainha Vitória foi médium?

B. Que diz o Espiritismo sobre a feitiçaria e o maravilhoso?

C. Os Espíritos disseram algo a respeito da chamada revolução industrial?

 

Texto para leitura

 

66. Kardec observa que, embora seja censurável a inconveniência das palavras usadas pelos adversários do Espiritismo para combatê-lo, os espíritas não devem incorrer na mesma falta, porque é a moderação que fez a sua força. (P. 84)

67. Os jornais de fevereiro de 1864 divulgaram que recentemente, num conselho privado, a rainha Vitória, reportando-se à questão dinamarquesa, declarou que nada faria sem consultar o príncipe Alberto, já falecido. Com efeito, retirando-se para o seu gabinete, logo retornou dizendo que o príncipe se pronunciara contra a guerra. O fato surpreendeu a todos e, acrescido de outros semelhantes, deu origem à ideia de que seria oportuno estabelecer uma regência. (P. 85)

68. Seria médium a rainha Vitória? Tudo indica que sim, o que não causa nenhuma surpresa, porquanto - afirma Kardec - o Espiritismo tem adeptos até nos degraus dos tronos, ou melhor, até nos tronos. “Tratados como loucos, os espíritas devem consolar-se por estarem em tão boa companhia”, pondera o Codificador. (P. 85)

69. Analisando a influência que os Espíritos exercem sobre os homens, Kardec adverte que, em princípio, eles não nos vêm conduzir às andadeiras. O objetivo de suas instruções é tornar-nos melhores, dar fé aos que não a têm, e não o de poupar-nos o trabalho de pensar por nós mesmos. (P. 86)

70. Transcrevendo uma nota pertinente ao falecimento de uma pessoa do Havre, Kardec observa que, à exceção dos parentes próximos, poucas pessoas levam em conta o pedido que nos fazem de orar por alguém que acaba de morrer. Com os espíritas, as coisas se passam de forma diferente, porque eles sabem a importância da prece e a influência que ela exerce, no momento da morte, sobre o desprendimento da alma. (P. 88)

71. A Revista revela que o médium Home teve de partir de Roma instantaneamente, sob acusação de feitiçaria. Ao divulgar o fato, os jornais trocistas fizeram questão de lamentar que em pleno século 19 ainda se acreditasse em feiticeiros; mas o mais surpreendente não é isto - afirma Kardec -: é tentarem reviver os feiticeiros nos espíritas, quando estes vêm provar, com as peças nas mãos, que não existem feiticeiros nem o maravilhoso, mas somente leis naturais. (P. 88)

72. Na seção dedicada às instruções dos Espíritos, a Revista transcreve mensagem do Espírito de Jacquard, obtida psicograficamente pelo médium Leymarie, na qual é examinada a questão do progresso da ciência e do aprimoramento das máquinas e utensílios fabris, bem como o seu efeito nas relações de emprego e trabalho. (PP. 89 a 92)

73. Na mesma reunião, enquanto Jacquard transmitia a sua mensagem, outro médium, o Sr. d’ Ambel, obteve sobre o mesmo assunto uma comunicação assinada pelo Espírito de Vaucanson. (PP. 92 e 93)

74. Em síntese, ensina-nos Vaucanson:

I) O homem não foi feito para ficar como instrumento ininteligente de produção.

II) Por suas aptidões, por seu destino e seu lugar na criação, é ele chamado a outra função, que não a da máquina, a um outro papel, que não a do cavalo de tiro.

III) O operário é chamado a tornar-se engenheiro, a ver seus braços laboriosos substituídos por máquinas ativas, infatigáveis e mais precisas.

IV) O artífice é chamado a tornar-se artista e conduzir o trabalho mecânico por um esforço do pensamento e não mais por um esforço dos braços.

V) Eis aí a prova irrecusável da lei do progresso, que rege todas as humanidades. (P. 93)

75. Na sequência, indaga Vaucanson: “Que importa que cem mil indivíduos sucumbam, quando uma máquina foi descoberta para fazer o trabalho desses cem mil?” “Para o filósofo, que se eleva sobre os preconceitos e interesses terrenos, o fato prova que o homem não estava mais em seu caminho, quando se consagrava a esse labor condenado pela Providência.” (P. 93)

76. É no campo da inteligência - prossegue Vaucanson - “que, de agora em diante, o homem deve fazer passar a grade e a charrua que fecundam”. “Todas as nossas reflexões têm um só objetivo: demonstrar que ninguém deve gritar contra o progresso, que substitui braços humanos por dispositivos e engrenagens mecânicas. Além disso, é bom acrescentar que a humanidade pagou largo contributo à miséria e que, penetrando mais e mais em todas as camadas sociais, a instrução tornará cada indivíduo cada vez mais apto para funções inteligentemente chamadas liberais.” (PP. 93 e 94)

77. Concluindo sua mensagem, adverte o instrutor espiritual: “O homem é um agente espiritual que deve chegar, em período não distante, a submeter ao seu serviço e para todas as operações materiais a própria matéria, dando-lhe como único motor a inteligência, que se expande nos cérebros humanos”.

 

Respostas às questões propostas

 

A. A rainha Vitória foi médium?

Segundo Kardec, tudo indica que sim, o que não causa nenhuma surpresa, porquanto – afirma o Codificador – o Espiritismo tem adeptos até nos tronos. “Tratados como loucos, os espíritas devem consolar-se por estarem em tão boa companhia”, observou o Codificador. A explicação foi motivada pela notícia publicada nos jornais ingleses de fevereiro de 1864, os quais informaram que recentemente, num conselho privado, a rainha Vitória, reportando-se à questão dinamarquesa, declarou que nada faria sem consultar o príncipe Alberto, já falecido. Com efeito, retirando-se para o seu gabinete, logo retornou dizendo que o príncipe se pronunciara contra a guerra. (Revista Espírita de 1864, pág. 85.)

B. Que diz o Espiritismo sobre a feitiçaria e o maravilhoso?

A respeito desse assunto, Kardec é categórico: o Espiritismo provou, por meio dos fatos, que não existem feiticeiros nem o maravilhoso, mas somente leis naturais. (Obra citada, pág. 88.)

C. Os Espíritos disseram algo a respeito da chamada revolução industrial?

Sim. Os Espíritos de Jacquard e Vaucanson examinaram em mensagens transcritas na Revista a questão do progresso da ciência e do aprimoramento das máquinas e utensílios fabris, bem como o seu efeito nas relações de emprego e trabalho. Em síntese, escreveu Vaucanson: I) O homem não foi feito para ficar como instrumento ininteligente de produção. II) Por suas aptidões, por seu destino e seu lugar na criação, é ele chamado a outra função, que não a da máquina, a um outro papel, que não a do cavalo de tiro. III) O operário é chamado a tornar-se engenheiro, a ver seus braços laboriosos substituídos por máquinas ativas, infatigáveis e mais precisas. IV) O artífice é chamado a tornar-se artista e conduzir o trabalho mecânico por um esforço do pensamento e não mais por um esforço dos braços. V) Eis aí a prova irrecusável da lei do progresso, que rege todas as humanidades. Na sequência, indagou Vaucanson: “Que importa que cem mil indivíduos sucumbam, quando uma máquina foi descoberta para fazer o trabalho desses cem mil?” “Para o filósofo, que se eleva sobre os preconceitos e interesses terrenos, o fato prova que o homem não estava mais em seu caminho, quando se consagrava a esse labor condenado pela Providência.” É no campo da inteligência – aduziu Vaucanson – “que, de agora em diante, o homem deve fazer passar a grade e a charrua que fecundam”. “Todas as nossas reflexões têm um só objetivo: demonstrar que ninguém deve gritar contra o progresso, que substitui braços humanos por dispositivos e engrenagens mecânicas. Além disso, é bom acrescentar que a humanidade pagou largo contributo à miséria e que, penetrando mais e mais em todas as camadas sociais, a instrução tornará cada indivíduo cada vez mais apto para funções inteligentemente chamadas liberais.” (Obra citada, pp. 89 a 94.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 5 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/09/revista-espirita-de-1864-allan-kardec_0110545374.html

 

 

 

 


 

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