Revista Espírita de 1867
Allan Kardec
Parte 14 e final
Concluímos hoje o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1867, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo foi baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de 1867 pertence a uma série iniciada em
janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando
desencarnou.
Cada parte do estudo, que foi apresentado às
quartas-feiras, compôs-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final
do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Benjamin Franklin acreditava realmente na
reencarnação?
B. Que observações fez Kardec a respeito de Joana d´Arc?
C. Quando e por quem foi canonizada a heroína e médium
francesa?
Texto para leitura
180. Parte de uma carta escrita por Benjamin
Franklin a Mrs. Jone Mecone em dezembro de 1770 revela que Franklin acreditava
realmente na preexistência da alma e na reencarnação, crença que seria por ele
imortalizada no famoso epitáfio de sua autoria, que a Revista novamente
transcreveu. Publicado inicialmente na Revista de agosto de 1865, o epitáfio de
Franklin, composto por ele mesmo, foi assim redigido: "Aqui repousa,
entregue aos vermes, o corpo de Benjamin Franklin, impressor, como a cobertura
de um velho livro cujas folhas são arrancadas, e o título e a douradura
apagados; mas, por isto a obra não estará perdida, porque ele reaparecerá, como
o acreditava, numa nova e melhor edição, revista e corrigida pelo autor."
(Pág. 367.)
181. De Jean Reynaud, extraído de Pensées
genevoises, por François Roget, a Revista transcreve um pequeno artigo em
que seu autor afirma que a alma humana reúne e guarda em seu tesouro as
impressões, as percepções e os desejos que esquecemos e que pareciam perdidos
para sempre; então o resumo de todo o passado, tomando vida de uma vez,
reconhecer-se-á realmente. (Pág. 368.)
182. Em um longo artigo sobre Joana d’Arc, em
que Kardec arrola o que vários analistas disseram sobre a heroína e mártir
francesa, o Codificador diz que Joana não foi apenas uma das grandes figuras da
França, mas um imenso problema e, ao mesmo tempo, um protesto vivo contra a
incredulidade. (Págs. 368 e 369.)
183. Joana d’Arc só não constitui problema
nem mistério para os espíritas, que entendem muito bem que ela foi um exemplo
eminente de pessoa dotada de quase todas as faculdades mediúnicas, cujos
efeitos, como uma porção de outros fenômenos, se explicam pelos princípios da
doutrina, sem necessidade de se recorrer ao sobrenatural. (Pág. 369.)
184. Segundo o artigo reproduzido pela Revista,
assinado pelo Sr. N. de Wailly e publicado inicialmente no Propegateur de
Lille de 17/8/1867, a mais importante particularidade, a que domina todas
as outras no caso Joana d’Arc, são as vozes que ela escutava várias vezes por
dia, que a interpelavam ou lhe respondiam, cujas entonações ela distinguia,
referindo-as sobretudo a São Miguel, a Santa Catarina e a Santa Margarida. Ao
mesmo tempo em que isso ocorria, manifestava-se uma viva luz na qual ela
percebia a figura de seus interlocutores. “Eu os vejo com os olhos de meu corpo
– disse Joana d’Arc aos seus juízes – tão bem quanto vos vejo.” (Pág. 371.)
185. O correspondente da Revista em
Antuérpia, que enviou a Kardec o artigo mencionado, juntou a ele uma nota,
fruto de suas pesquisas sobre o processo de Joana d’Arc, que diz o seguinte:
“Pierre Cauchon, bispo de Beauvais e um inquisidor chamado Lemaire, assistidos por
60 assessores, foram os juízes de Jeanne. Seu processo foi instruído segundo as
formas misteriosas e bárbaras da Inquisição, que havia jurado a sua perda. Ela
quis louvar-se no julgamento do Papa e do Concílio de Bâle, mas o bispo se
opôs. Um sacerdote, L’Oyseleur, a enganou, abusando da confissão, e lhe deu
funestos conselhos. Por força de intrigas de toda sorte, ela foi condenada em
1431 a ser queimada viva, ‘como mentirosa, perniciosa, enganadora do povo,
adivinha, blasfemadora de Deus, descrente na fé de Jesus Cristo, gabola,
idólatra, cruel, dissoluta, invocadora dos diabos, sistemática e herética’. O
Papa Calixto III, em 1456, por uma comissão eclesiástica, fez pronunciar a
reabilitação de Jeanne e, por uma sentença solene, foi declarado que Jeanne
morreu mártir para a defesa de sua religião, de sua pátria e de seu rei. O Papa
quis mesmo canonizá-la, mas sua coragem não foi tão longe. Pierre Cauchon
morreu subitamente em 1443, fazendo a barba. Foi excomungado, seu corpo foi
desenterrado e atirado num monturo”. (Págs. 375 e 376.)
186. Um dos correspondentes da Revista em
Oloron, Basses-Pyrénnées, enviou a Kardec um curioso relato sobre a aparição de
um Espírito à jovem Marianne Courbet, uma camponesa de 24 anos. O fato se deu
no final de dezembro de 1866. A aparição, em forma de um velho de estatura
média, vestido à camponesa, além de conversar com Marianne, deu-lhe um par de
óculos e um livro de orações, após o que desapareceu. O teor da conversa com
aquele vulto, que lhe falou de sua mãe e de uma irmã falecidas há algum tempo,
impressionou vivamente a jovem, que se apressou em relatar o fato ao cura de
Monin. Este lhe disse que pensava que houvesse algo extraordinário naquele
episódio e aconselhou-a a guardar o livro com cuidado. (Págs. 376 a 378.)
187. Como a notícia logo se espalhou, uma
multidão passou a visitar a casa da vidente, a ponto de o cura de Monin, que a
princípio achara a coisa muito extraordinária, ter de dissuadir os paroquianos
de ir visitar a camponesa. Em Monin e em Oloron – informou o correspondente da Revista
– as opiniões estavam divididas. Uns acreditavam em Marianne, outros não. Entre
os crentes, acrescentou o informante, a opinião geral era de que o vulto teria
sido São José, embora ele não visse ali senão uma manifestação espírita cujo
fim era chamar a atenção sobre a filosofia espírita, numa região dominada por
influências contrárias. (Pág. 378.)
188. A Revista transcreve artigo publicado
pelo jornal L’Exposition populaire illustrée em que a redação deste
refuta crítica que lhe fora feita por Kardec por ocasião de seus comentários
sobre as curas do Sr. Gassner. A discussão central girou em torno dos vocábulos
taumaturgo e milagre, que Kardec não aceita quando aplicados aos médiuns
curadores e às suas curas. A resposta de Kardec foi publicada em seguida ao
artigo. A questão dos milagres, disse o Codificador, já fora tratada inúmeras
vezes em suas obras, bem como no número de maio de 1867 da Revista, do qual
transcreveu breve trecho. (Págs. 378 a 384.)
189. Concluindo suas explicações, diz Kardec:
“Se o autor se der ao trabalho de estudar o Espiritismo, contra o qual
constatamos com prazer que ele não tem uma preconcebida ideia de negação, nele
encontrará a resposta às dúvidas que parecem exprimir algumas partes de seu
artigo, referentes à maneira de encarar certas coisas, salvo, contudo, no que
concerne à ciência das concordâncias numéricas, da qual jamais nos ocupamos, e
sobre a qual, por conseguinte, não poderíamos ter opinião formada”. (Pág. 384.)
190. O Espírito daquele que foi conhecido na
Terra como o Abade de Saint-Pierre, que faleceu em 1743 e a cujo nome ficará
sempre ligada a lembrança do seu projeto de paz perpétua, comunicou-se a 17 de
maio na Sociedade Espírita de Paris. De referida comunicação extraímos os
pontos que se seguem: I – Em todas as épocas Espíritos têm vindo encarnar-se na
Terra, para ajudar o avanço de seus irmãos. II – Tendo sido um desses
Espíritos, coube-lhe o dever de procurar persuadir os homens de que virá uma
época em que as paixões que engendram a guerra darão lugar à concórdia. III –
Não há um só espírita que duvide que aquilo que se chama uma utopia, um sonho
do Abade de Saint-Pierre, mais tarde não se tornará uma realidade. IV – Ficai
bem persuadidos que esta paz descerá, sim, sobre a Terra, embora antes disso
graves acontecimentos devam realizar-se neste mundo. (Págs. 384 a 386.)
191. O número de dezembro de 1867 se encerra
com duas comunicações espíritas recebidas em Paris e assinadas,
respectivamente, por François Arago e Moki. (Págs. 386 a 390.)
192. Na primeira, intitulada Erros
científicos, o Espírito de Arago diz que, do mesmo modo que o corpo tem os
seus órgãos de locomoção, de nutrição e de respiração, o Espírito tem
faculdades variadas, que se relacionam respectivamente com cada situação
particular de seu ser. Se o corpo tem a sua infância, o Espírito possui
faculdades que devem, como tudo o que existe, passar da infância à juventude e
da juventude à idade madura. Aos que negam o Espírito, como outrora negavam o
movimento da Terra, digamos: o que é não pode ficar eternamente oculto; a luz
não pode tornar-se sombra; a verdade não pode tornar-se erro; as trevas se
desfazem ante a aurora. (Pág. 386 a 388.)
193. Na derradeira mensagem de 1867, o
Espírito de Moki diz que o mundo está em crise, a inquietude faz morada nos
corações humanos. Assevera o instrutor espiritual: “O que falta às populações
inquietas, às inteligências em apuro, é o senso moral, atacado, macerado,
semidestruído pela incredulidade, pelo positivismo, pelo materialismo.
Acreditam no nada, mas o temem; sentem-se no pórtico deste nada, mas
tremem!...” (Págs. 388 e 389.)
194. Moki, então, propõe: “Os demolidores
fizeram a sua obra, o terreno está limpo. Construí, então, com rapidez, para
que a geração atual não fique mais tempo sem abrigo!”. “À obra, pois. Construí
cada vez mais depressa. Acolhei o viajante que vem a vós, mas ide também
procurar e tentai trazer a vós aquele que se afasta sem bater à vossa porta,
porque Deus sabe a quantos sofrimentos ele estaria exposto antes de encontrar o
menor retiro capaz de o preservar do alcance do flagelo.” (Págs. 389 e 390.)
Respostas às questões propostas
A. Benjamin Franklin
acreditava realmente na reencarnação?
Sim.
Em carta escrita a Mrs. Jone Mecone em dezembro de 1770, Franklin atesta sua
crença na preexistência da alma e na reencarnação, crença que seria por ele
imortalizada no famoso epitáfio de sua autoria, que a Revista novamente
transcreveu.
Publicado inicialmente na Revista de agosto de 1865, o epitáfio de Franklin é
uma prova indiscutível de sua convicção acerca da pluralidade das existências.
(Revista Espírita de 1867, pág. 367.)
B. Que observações fez Kardec a respeito de
Joana d´Arc?
Kardec disse que Joana não foi apenas uma das
grandes figuras da França, mas um imenso problema e, ao mesmo tempo, um
protesto vivo contra a incredulidade. Ela só não constitui problema nem
mistério para os espíritas, que entendem muito bem que ela foi um exemplo
eminente de pessoa dotada de quase todas as faculdades mediúnicas, cujos
efeitos, como uma porção de outros fenômenos, se explicam pelos princípios da
doutrina, sem necessidade de se recorrer ao sobrenatural. (Obra citada, pp. 368
e 369.)
C. Quando e por quem foi canonizada a heroína
e médium francesa?
Condenada à morte em 1431, como “mentirosa,
perniciosa, enganadora do povo, adivinha, blasfemadora de Deus, descrente na fé
de Jesus Cristo, gabola, idólatra, cruel, dissoluta, invocadora dos diabos,
sistemática e herética”, Joana d´Arc foi reabilitada em 1456 pelo papa Calixto
III, quando, por meio de uma sentença solene, foi declarado que ela morreu
mártir para a defesa de sua religião, de sua pátria e de seu rei. A canonização
não veio nessa ocasião, embora o papa o quisesse; sua coragem não foi tão
longe. Pierre Cauchon, bispo de Beauvais, um dos juízes de Joana, morreu
subitamente em 1443, fazendo a barba, e foi excomungado, sendo seu corpo
atirado num monturo. (Obra citada, pp. 375 e 376.)
Observação:
Para acessar a Parte 13 deste estudo,
publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2025/02/revista-espirita-de-1867-allan-kardec_0705267873.html
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