quinta-feira, 17 de outubro de 2024

 



CINCO-MARIAS

 

Ensine gratidão ao seu filho desde cedo

 

EUGÊNIA PICKINA

eugeniapickina@gmail.com

 

A gratidão não custa nada – e tem um valor imenso! Augusto Branco

 

Boas atitudes são praticadas em casa e servem de exemplo para os nossos filhos.

No geral, nós, pais, nos preocupamos com muitos valores, como honestidade, coragem, paciência, e olvidamos a importância de o filho também aprender a agradecer pelo bom da vida diária: o auxílio de Deus, a presença do Anjo da Guarda, a família, a saúde, a comida, a casa segura, as roupas, a escola, os colegas, a lealdade do cachorro e suas brincadeiras.

No dia a dia, há muitas coisas práticas que ajudam a fomentar na criança o exercício da gratidão. Por exemplo, dizer ‘obrigado’. Na infância, este hábito precisa ser reforçado, valorizado e incentivado. Garanta, de modo reiterado, que o seu filho agradeça sempre que necessário, a quem quer que seja, e converse com ele sobre a importância de reconhecer quando alguém oferece ajuda, presta um serviço ou se mostra disponível.

Se você se dedica a algum trabalho voluntário, aproveite o tempo livre para que seu filho ou sua filha possa participar de algumas das tarefas relacionadas a esse voluntariado e para que perceba na prática o bem que faz ajudar o outro – além de lhe dar a oportunidade de entrar em contato com realidades diferentes da dele.

Além da gratidão, isso ajuda o desenvolvimento da empatia…

Embora não pareça, aprender a dizer ‘não’ aos filhos, além de premissa para que eles cresçam entendendo sobre limites e paciência, é uma outra maneira de fazer com que eles valorizem aquilo que já possuem…

Por fim, se você deseja que seu filho seja grato, evite fazer comparações (entre irmãos, colegas, primos, pessoas), pois este hábito depreciativo mina o sentimento de gratidão na criança, que cresce sem conseguir valorizar suas pequenas conquistas ou ser grata por sua trajetória.

 

*

Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).

Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), ministra cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.

Seu contato no Instagram é @eugeniapickina

 

 

 

 

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quarta-feira, 16 de outubro de 2024

 



Revista Espírita de 1866

 

Allan Kardec

 

Parte 12

 

Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1866, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

A coleção do ano de 1866 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.

Cada parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. Os Espíritos, ainda que alcancem o grau máximo de perfeição, poderão igualar-se um dia ao Criador?

B. É verdade que a rainha Vitória, da Inglaterra, mantinha contato com o Espírito do príncipe Alberto?

C. Qual a explicação do caso Tom, um jovem cego de nascença, que surpreendeu o povo americano com seu dom musical?

 

Texto para leitura

 

146. O Espírito de Moki confirma que os Espíritos, mesmo chegados ao grau máximo de perfeição, jamais poderão igualar-se ao Criador. Dois são os motivos: I) Até as ciências reconhecem que a parte jamais poderá igualar o todo. II) A natureza de Deus é um obstáculo intransponível a que isso se realize. (Págs. 248 e 249.)

147. A Revista transcreve notícia do periódico Le Salut Public, de Lyon, de 3/6/1866, segundo a qual a rainha Vitória, da Inglaterra, acreditando obedecer à voz do falecido príncipe Alberto, tudo estava fazendo para evitar o conflito austro-prussiano. Kardec lembra que em março de 1864 a Revista já havia informado que, segundo notícia publicada na época por diversos jornais, a rainha Vitória mantinha contato com o Espírito de Alberto e levava a sério os conselhos que dele recebia. (Págs. 249 e 250.)

148. Dois poemas mediúnicos, um assinado pelo Espírito de J. Méry e outro por Casimir Delavigne, são transcritos pela Revista, cujo número de agosto de 1866 traz como derradeira notícia referência a uma Cantata Espírita, letra e música de conteúdo espírita, mas não mediúnicas. A 1 franco e 50, a venda da canção se fazia em benefício dos pobres. (Pág. 255.)

149. A Revista de setembro de 1866 se inicia relatando a passagem dos irmãos Davenport por Bruxelas, onde suas apresentações ocorreram pacificamente, sem as cenas lamentáveis que se registraram em Paris. Do jornal Office de Publicité, de Bruxelas, Kardec transcreve dois artigos assinados pelo Sr. Bertram, publicados nos dias 8 e 22 de julho. (Págs. 257 e 258.)

150. Com um tom irônico, Bertram descreve o que viu, mas diz que, a seu ver, o que os Espíritos têm dito nas sessões espíritas são coisas sabidas há muito tempo e para obtê-las não haveria necessidade de evocar tantos mortos ilustres. Nada, porém, escreveu contra a veracidade dos fenômenos. (Págs. 258 a 262.)

151. Depois, ao transcrever carta de um leitor que fez vários elogios ao Espiritismo e à mudança que ele produziu em sua vida, o Sr. Bertram declarou: “Jamais fiz objeção à moral espírita; ela é pura. Os espíritas são honestos e benfeitores: seus donativos para as creches mo provaram. Se se apegam aos seus Espíritos superiores e inferiores, não vejo nisso inconveniente. É uma questão entre o seu instinto e a sua razão”. (Págs. 262 a 264.)

152. Comentando o fato, Kardec diz que se o Sr. Bertram houvesse lido os livros espíritas com a atenção necessária saberia que os espíritas não são tão simplórios a ponto de evocar o Judeu Errante e Dom Quixote (personagens sem existência real, a não ser em livros). Quanto à ancianidade da moral dos Espíritos, o codificador não vê nisso nada de surpreendente, visto que, não sendo a moral senão a lei de Deus, essa lei deve ser de toda a eternidade, não havendo nada que o homem possa acrescentar-lhe. (Págs. 265 a 267.)

153. Concluindo seu comentário, Kardec concorda com a tese de que não é no armário dos irmãos Davenport que encontraremos a doutrina espírita, embora suas demonstrações houvessem feito com que muitos, inclusive o Sr. Bertram, falassem dos Espíritos, mesmo sem acreditar neles. (Pág. 268.)

154. É um fato constatado, diz Kardec na sequência, que a crítica ao Espiritismo, desde os seus primórdios, mostrou a mais completa ignorância de seus princípios, ainda os mais elementares, situação que começava a ser alterada naquele momento. “Não o acham mais tão estranho e tão ridículo”, assevera o codificador, “porque o conhecem melhor.” (Págs. 268 e 270.)

155. Em apoio a essa ideia, Kardec transcreve um artigo publicado em maio de 1866 no jornal Soleil, no qual o articulista trata o Espiritismo com maior profundidade e respeito, como se pode ver no trecho seguinte: “Se jamais houve uma doutrina consoladora, certamente é esta: a individualidade conservada além do túmulo, a promessa formal de uma outra vida, que é realmente a continuação da primeira. A família subsiste, a afeição não morre com a pessoa; não há separação. Cada noite, no sul e no oeste da França, as reuniões espíritas atentas tornam-se mais numerosas. Oram, evocam, creem. Gente que não sabia escrever, escreve; sua mão é guiada pelo Espírito”. (Págs. 270 e 271.)

156. Apesar dessas referências elogiosas, o artigo ironiza de certo modo a obra Os Quatro Evangelhos, do Sr. Roustaing, embora lembre que o Sr. Renan, conhecido escritor e autor dos Apóstolos, faz nessa obra numerosas alusões à nova doutrina, cuja importância parecia não desconhecer. (Pág. 271.)

157. Não era, porém, apenas na Europa que os jornais davam uma melhor acolhida aos fatos espíritas. A 15 de junho de 1866 o jornal Progrès Colonial, de Port-Louis, na Ilha Maurícia, publicou uma mensagem assinada pelo Espírito de Lázaro, antecedida por uma nota em que o editor informa que seu jornal recebia todos os dias duas ou três comunicações semelhantes, as quais só não haviam sido publicadas porque o jornal não tinha ainda condições de consagrar um lugar “a essa coisa extraordinária chamada Espiritismo”. (Pág. 273.)

158. Comentando notícia divulgada pelo jornal Événement, de 2 de agosto de 1866, Kardec recomenda mais uma vez que se deve evitar atribuir a uma causa oculta fatos aparentemente espíritas. É preciso investigar todas as possibilidades, porque, existindo uma causa material, sempre se pode descobri-la. A dúvida é em tais casos, diz Kardec, “o partido mais sábio”. (Págs. 274 e 275.)

159. Toda a cautela se fazia necessária, porque os adversários do Espiritismo, supondo que ele se encontra inteiramente nos efeitos físicos e não pode viver sem isto, imaginavam matá-lo desacreditando-o ou pondo-o em condições ridículas. Os jornais da América não ficavam atrás nisso, como se pode ver no relato da execução de um condenado à morte ocorrida em Cleveland, Ohio, o qual, antes de morrer, falou sobre a imortalidade da alma e sobre o Espiritismo. Suas palavras produziram profunda impressão sobre o auditório, do que teriam resultado singulares efeitos, como visões do falecido relatadas com evidente exagero pelo jornal Herald, de Cleveland. (Págs. 277 e 278.)

160. Outro fato destacado pela imprensa americana é o caso de Tom, um jovem negro de 17 anos, cego de nascença, dotado de um maravilhoso instinto musical. Tom viu pela primeira vez um piano aos 4 anos e desde então, segundo o Harpers Weekly, de Nova York, fez progressos tão rápidos e admiráveis que o piano se fez eco de tudo o que ele ouvia. Agora, ele tocava a mais difícil música dos grandes autores com uma delicadeza de toque, um poder e uma expressão raramente ouvidas. (Pág. 279.)

161. Como em Filadélfia, setenta professores de música, após ouvi-lo, admitiram formalmente ser impossível explicar tal talento por qualquer das hipóteses que podem fornecer as leis da arte e da ciência, Kardec esclarece que o fato encontra explicação na doutrina da reencarnação, porquanto uma faculdade instintiva tão precoce não poderia ser senão uma lembrança intuitiva de conhecimentos anteriormente adquiridos. (Págs. 279 a 281.)

162. Pode um sonho tornar grisalhos os cabelos de uma pessoa? O fato teria ocorrido na Bretanha, segundo informou o Petit Journal de 14 de maio de 1866. Kardec admite que isso ocorra em razão dos laços fluídicos que unem a alma ao corpo e transmitem a este as impressões que a alma sinta quando dele esteja afastada. Isso se verifica durante o sono, mas a alma não se dá conta dessa separação. Na visão do engenheiro que teve os cabelos encanecidos, havia duas partes distintas: uma, real e positiva, constatada pela exatidão da planta da mina onde certamente esteve durante a noite; a outra, puramente fantástica: a do perigo que correu. Esta poderia ser efeito da lembrança de um acidente real ou uma advertência para o futuro. (Págs. 282 a 285.)

 

Respostas às questões propostas

 

A. Os Espíritos, ainda que alcancem o grau máximo de perfeição, poderão igualar-se um dia ao Criador?

Não. Segundo o Espírito de Moki, isso não é possível e dois são os motivos: 1.) Até as ciências reconhecem que a parte jamais poderá igualar o todo; 2.) A natureza de Deus é um obstáculo intransponível a que isso se realize. (Revista Espírita de 1866, pp. 248 e 249.)

B. É verdade que a rainha Vitória, da Inglaterra, mantinha contato com o Espírito do príncipe Alberto?

De acordo com notícias veiculadas por diversos jornais, sim. A rainha Vitória mantinha contato com o Espírito de Alberto e levava a sério os conselhos que dele recebia. Reportando-se ao fato, a Revista transcreve notícia do periódico Le Salut Public, de Lyon, de 3/6/1866, segundo a qual a rainha Vitória, acreditando obedecer à voz do falecido príncipe Alberto, tudo estava fazendo para evitar o conflito austro-prussiano. (Obra citada, pp. 249 e 250.) 

C. Qual a explicação do caso Tom, um jovem cego de nascença, que surpreendeu o povo americano com seu dom musical?

Primeiro, lembremos que Tom, um jovem negro, cego de nascença, dotado de um maravilhoso instinto musical, viu pela primeira vez um piano aos 4 anos de idade. De acordo com o Harpers Weekly, de Nova York, ele fez progressos tão rápidos e admiráveis que o piano se fez eco de tudo o que ele ouvia. Agora, aos 17 anos, tocava a mais difícil música dos grandes autores com uma delicadeza de toque, um poder e uma expressão raramente ouvidas. Na Filadélfia, setenta professores de música, após ouvi-lo, admitiram formalmente ser impossível explicar tal talento por qualquer das hipóteses que podem fornecer as leis da arte e da ciência. O fato, que se assemelha muito com o caso Sibélius, encontra explicação, segundo Kardec, na doutrina da reencarnação, porquanto uma faculdade instintiva tão precoce não poderia ser senão uma lembrança intuitiva de conhecimentos anteriormente adquiridos. (Obra citada, pp. 279 a 281.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 11 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/10/revista-espirita-de-1866-allan-kardec_012009830.html

 

 

 


  


 

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terça-feira, 15 de outubro de 2024

 



Um coração mais agradecido

 

CÍNTHIA CORTEGOSO

cinthiacortegoso@gmail.com

 

Há sempre muito mais para agradecer, não há comparação. Enquanto alguma parte do corpo não está em equilíbrio, todo o restante está em harmonia; se algo não foi conforme o esperado, os incontáveis outros acontecimentos se seguiram muito bem; enquanto alguma palavra não foi amorosa, as outras frases inteiras foram de puro carinho. Como for o espírito assim também será a maneira de observar a vida. O mesmo dia nasce para todos, é a forma agradecida ou insatisfeita de recebê-lo que trará o céu azul e o sol ou um céu inteiro triste e gris.

Conviver com pessoas que reclamam, de fato, é bastante desafiador, pois se não são capazes de perceber a maravilha que é a vida, também não são capazes de assentir que a própria pequenez e limitação é que trazem a cor monocromática em vez de todas as vivas cores, sem otimismo nem mesmo de observarem as verdadeiras grandezas que possuem cada dia, cada existência... a eternidade.

Se o espírito não reconhecer e pretender crescer muito será o tempo de repouso e amargura enquanto poderia experienciar tantas novas ocorrências em tempos e lugares distintos. No entanto o livre-arbítrio é a escolha do que se deseja viver, e somente depende de cada espírito, de cada alma. Lembrando que toda ação gera a reação de compatível energia.

Não seremos felizes apenas quando tivermos o que desejamos. Seremos felizes quando valorizarmos a vida e decidirmos compreender um pouquinho a grandeza criada por Deus. Ainda com toda a nossa limitação, o amor divino é paciente e infinito. Deus sabe que todo filho Seu já é luz e só precisa resplandecer.

Em qualquer momento da existência haverá mais agradecimentos, mais oportunidades, mais progresso. E à medida que nos colocamos de forma positiva diante dos dias, assim também será o andamento. Colocar-se positivamente na vida é apenas viver com um pouco de fé, resiliência sabendo que o que ocorre é uma reação direta de uma ação, e ninguém está sozinho, mas sempre com as companhias de acordo com a própria vibração. Tudo é tão perfeito e com o senso de igualdade.

Somos as nossas reais escolhas e quando escolhemos valorizar o que há de melhor, naturalmente o nosso ser se inundará do que é bom, belo e eterno. E menos reclamação e insatisfação resulta em mais leveza e felicidade, ou seja, quando mais se admira as lindas flores coloridas e menos os insignificantes matinhos, temos diante de nós um admirável campo de flores.

Talvez as pessoas insatisfeitas também sejam um pouco orgulhosas já que não reconhecem a beleza da vida.

Agora mesmo se observarmos quantas são as bondades divinas, sinceramente só serão bondades percebidas. Quem sabe, precisemos enfraquecer o ranço da ingratidão e fortalecer o laço das infinitas bondades divinas.

 

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/

 

 

 

 

 

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segunda-feira, 14 de outubro de 2024

 



O faroleiro desprevenido

 

Irmão X (Espírito)

 

O soldado Teofrasto, homem de excelente coração, fora nomeado faroleiro por Alcibíades, na expedição da Sicília, a fim de orientar as embarcações em zona perigosa do mar.

Por ali, rochedos pontiagudos esperavam sem piedade as galeras invigilantes. Ainda mesmo fora da tempestade, quando a fúria dos deuses não soprava sibilante sobre a Terra, derribando casas e arvoredo, os pequenos e grandes barcos eram como que atraídos aos penhascos destruidores, quais ovelhas precipitadamente conduzidas ao matadouro.

Quantos viajantes haviam já perdido a vida e os bens na traiçoeira passagem? Quantos pescadores incautos não mais regressaram à bênção do lar? Ninguém sabia.

Preservando, porém, a sorte de seus comandados, o grande general situou Teofrasto no farol que se erguia na costa, com a missão de iluminar o caminho equóreo, dentro da noite. Para garantir-lhe o êxito, mandou-lhe emissários com vasta provisão de óleo puro. O servidor, honrado com semelhante mandato, permaneceria no ministério da luz contra as trevas, defendendo a salvação de todos os que transitassem pelas águas escuras.

De início, Teofrasto desenvolveu, sem dificuldade, a tarefa que lhe competia. Findo o crepúsculo, mantinha a luz acesa, revelando a rota libertadora. Quando os vizinhos, porém, souberam que o soldado guardava um coração terno e bondoso, passaram a visitá-lo, amiúde. Realmente estimavam nele a cordialidade e a doçura, mas o que procuravam, no fundo, era a concessão de óleo destinado às pequenas necessidades que lhes eram próprias.

O soldado, a breve tempo, era cercado de envolventes apelos.

Antifon, o lavrador, veio pedir-lhe meio barril do combustível para os serões de sua fazenda. Eunice, a costureira, rogou-lhe duas ânforas cheias para terminar a confecção de algumas túnicas, além das horas do dia. Éubolo, o sapateiro, alegando que o pai agonizava, implorou-lhe a doação de alguns pratos de azeite, a fim de que o genitor não morresse às escuras. Crisóstomo, o fabricante de unguentos, reclamou cinco potes destinados à manipulação de remédios. Corciro, o negociante, implorou certa cota mais elevada para sustento de algumas tochas.

Todos os afeiçoados das redondezas, interessados em satisfazer as exigências domésticas, relacionaram solicitações simpáticas e comoventes.

Teofrasto, atingido na sensibilidade, distribuiu o combustível precioso pela ordem das rogativas. Não podia sofrer o quadro angustioso, afirmava. As requisições, no seu parecer, eram justas e oportunas. Assim foi que, ao término de duas semanas, se esgotou a reserva de doze meses.

O funcionário não pôde comunicar-se facilmente com os postos avançados de comando e, tão logo se apagou o farol solitário, por várias noites consecutivas os duros penhascos espatifaram embarcações de todos os matizes.

Prestigiosos contingentes de tropas perderam a vida. Confiados pescadores jamais tornaram ao ninho familiar. Comerciantes diversos, portadores de valiosas soluções e problemas inquietantes da luta humana, desceram aflitos aos abismos do mar.

Alcibíades, naturalmente indignado, exonerou o servidor do elevado encargo, recomendando lhe fossem aplicadas as penas da lei.

O médium cristão é sempre um faroleiro com as reservas de óleo das possibilidades divinas, a benefício de todos os que navegam a pleno oceano da experiência terrestre, indicando-lhes os rochedos das trevas e descerrando-lhes o rumo salvador; todavia, quantos deles perdem a oportunidade de serviço vitorioso pela prisão indébita nos casos particulares que procedem geralmente de bagatelas da vida?

 

Do livro Contos e apólogos, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

 

 

 

 

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domingo, 13 de outubro de 2024

 



Fatalidade e determinismo são coisas distintas

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

 

Há em nosso meio quem entenda que os termos fatalidade e determinismo são sinônimos e, portanto, tratam de um mesmo assunto, o que não é verdade.

A diferença entre determinismo e fatalidade situa-se na própria concepção e no significado desses dois termos.

Determinismo é um sistema filosófico que nega ao homem o direito de agir livremente, isto é, de acordo com sua vontade. Mas, conforme ensina o Espiritismo, não existe o determinismo absoluto que norteie a vida do homem. Os constrangimentos à sua livre vontade resultam de infrações cometidas pelo indivíduo em existências anteriores e que, por isso, em face da Justiça Divina, necessitam de reparação.

Os Espíritos, no decorrer dos séculos, subordinam-se a um livre-arbítrio relativo, que se expande ao longo do processo evolutivo, e a um determinismo relativo, decorrente dos crimes, erros ou equívocos cometidos no passado.

Quanto à fatalidade, ensina o Espiritismo que ela decorre da escolha que o Espírito, ao reencarnar, faz de enfrentar determinada prova ou provas. Feita essa escolha, ele institui para si uma espécie de destino, que é mera consequência da posição em que se acha colocado em face da escolha feita.

Quem primeiro procurou afastar o homem da ideia de um destino inexorável foram os filósofos gregos chamados sofistas. Segundo eles, o homem não podia ficar inteiramente preso a um processo ou a leis de que não pudesse desvencilhar-se. Parecia-lhes impossível que o homem não exercesse certo efeito sobre o próprio destino. Sócrates também não aceitava tal domínio sobre os homens. Para ele, o conhecimento constituiria sua realização suprema. Alcançando o conhecimento, o homem agiria com acerto; sem o conhecimento, corria o risco de agir com desacerto. Além dessa concepção tão clara, Sócrates entendia que o homem pode, pelo conhecimento, ter certa influência sobre seu destino na Terra e na vida futura.

Platão era, igualmente, defensor da liberdade. O homem, dizia Platão, pode vencer e, de fato, vence os objetivos do mundo. Embora sendo criatura do Criador divino, pode ordenar sua vida de modo a vivê-la com espírito de justiça e sensatez.

A chamada fatalidade resulta, pois, de uma decisão do próprio indivíduo quando, no exercício do livre-arbítrio, projeta as chamadas provas que julga necessárias ao seu aprimoramento espiritual. Em face dessa escolha, sofrerá o Espírito - fatalmente - todas as vicissitudes e todos os arrastamentos a ela inerentes. Mas aí cessa a fatalidade, pois de sua vontade depende ceder ou não às influências e aos arrastamentos a que voluntariamente se sujeitou. Os pormenores dos acontecimentos ficam, portanto, subordinados às circunstâncias que ele próprio cria com seus atos e atitudes.

Podemos, assim, concluir que existe fatalidade nos acontecimentos que se apresentam, por serem consequência da escolha que o Espírito fez de sua existência de encarnado, mas jamais existirá fatalidade nos atos da vida moral, isto é, seu comportamento diante das vicissitudes que enfrenta é inteiramente livre e, com certeza, indica o nível evolutivo a que chegou.

Entenda-se, por fim, que na escolha feita pelo Espírito são levados em conta os ditames da lei de causa e efeito, ocasião em que determinadas situações poderão ser incluídas na chamada programação reencarnatória, com vistas à expiação e à reparação de danos anteriormente produzidos pelo reencarnante, o que explica por que deparamos na vida situações aflitivas que, não fossem as luzes trazidas pelo Espiritismo, jamais imaginaríamos terem sido solicitadas pela própria pessoa que as enfrenta.

 

 

 

 

 

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sábado, 12 de outubro de 2024

 



Há verbos que mudam de sentido conforme a regência adotada.

Vejamos o verbo acabar, que é transitivo e pede objeto direto quando seu significado é “concluir”:

- Ele pretende acabar o serviço amanhã. (Ele pretende concluir o serviço...)

- Os operários já acabaram o serviço.

- Devo acabar o trabalho esta noite.

- A moça acabou a limpeza agora.

Quando intransitivo, ele tem o sentido de “terminar”:

- A greve dos bancários acaba hoje. (A greve dos bancários termina hoje.)

- Acabou ontem a assembleia dos taxistas.

- A novela acabou.

Quando o verbo acabar vem seguido da preposição “com”, o sentido passa a ser “destruir”, “dar cabo de”, “pôr fim”:

- A firma acabou com as mordomias.

- Sua força acabou com os adversários.

- A Lava Jato não acabou com a corrupção...

 

*

 

A palavra benquisto é escrita assim, num só vocábulo. Contudo se ao advérbio “bem” se seguir uma palavra de vida autônoma o hífen far-se-á necessário:

  bem-acabado

  bem-humorado

  bem-aventurado

  bem-posto.

 

 

Observação:

Para acessar o estudo publicado no sábado anterior, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/10/eis-tres-duvidas-levantadas-por-um.html

 

  

 

  

 

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