quarta-feira, 31 de agosto de 2022

 



Revista Espírita de 1861

 

Allan Kardec

 

Parte 1

 

Iniciamos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1861, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo será baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

A coleção do ano de 1861 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.

Cada parte do estudo, que será apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. No tratamento da obsessão de um rapaz, o papel dos pais é importante ?

B. Por que o futuro nos é ocultado?

C. Quem foi e quando viveu São Luís?

 

Texto para leitura

 

1. No ano de 1861, quando apareceu a primeira edição de O Livro dos Médiuns, Kardec empreendeu a sua segunda viagem espírita pelas províncias, visitando as cidades de Sens, Mâcon, Lião e Bordéus. (Introdução.)

2. Ao regressar da viagem, Kardec tratou da segunda edição de O Livro dos Médiuns, cuja primeira edição esgotou-se rapidamente. (Introd.)

3. Na Sociedade Espírita de Paris, no dia 30/11/1860, vários membros relataram um interessante fenômeno: a elevação de uma pessoa, por influência mediúnica de duas mocinhas de 15 e 16 anos que, pondo dois dedos nas barras da cadeira, a elevavam a cerca de um metro, independentemente do peso da pessoa. (P. 4)

4. A Revista noticiou o ataque feito pelo Sr. Georges Gandy, redator de La Bibliographie Catholique, ao Espiritismo, e apresentou a análise feita por Kardec às críticas do Sr. Gandy. (PP. 8 a 16)

5. Há um ponto que o Sr. Gandy não perdoava ao Espiritismo – diz Kardec –: é o não haver proclamado esta máxima: “Fora da Igreja não há salvação” e admitir que aquele que faz o bem possa ser salvo das chamas eternas. (P. 12)

6. Kardec publicou parte de uma carta do Sr. Canu, ex-materialista, em que o missivista analisa a questão da incredulidade, visando a esclarecer a todos aqueles a quem havia transviado com suas ideias materialistas. (PP. 16 a 24)

7. Aludindo à formação do mundo, diz o Sr. Canu que um globo não sai repentinamente do nada, coberto de florestas, de prados e de habitantes: “Não: Deus seguramente procede com mais lentidão; tudo segue uma lei lenta e progressiva, não porque Deus hesite ou tenha necessidade de lentidão, mas porque suas leis são assim e são imutáveis”. (P. 20)

8. Tudo quanto não é Deus, afirma Canu, necessita aperfeiçoar-se: é precisamente para esse aperfeiçoamento que é dado um corpo ao Espírito, pois que sem a matéria ele não poderia manifestar-se e, assim, progredir. (P. 21)

9. Canu reporta-se ao sofrimento experimentado pelos Espíritos mais perversos ainda inacessíveis à vergonha e ao remorso. Empolgados pelo mal, mas impotentes para o fazer, sofrem a inveja de ver os outros mais felizes que eles. (P. 23)

10. A Revista noticiou a ocorrência de fenômenos no departamento de Aube, verificados em 1856 em casa do Sr. R..., e até certo ponto parecidos com as manifestações de Bergzabern relatadas na Revista Espírita de 1858. A pessoa que é objeto das manifestações era o filho do Sr. R..., com doze anos à época. Os fenômenos geralmente se produziam quando o menino se deitava e começava a dormir. Ao despertar, o garoto não tinha a menor a ideia do que se passou. (PP. 25 e 26)

11. Além de pancadas, arranhaduras, assobios, ruídos como a de uma serra, o balançar do leito e a suspensão magnética, o Espírito trazia objetos muito volumosos. Perguntado como os obtinha, ele respondeu que os tirava de gente desonesta. Se lhe pregavam moral, ficava irado e chegava a cuspir no rosto das pessoas. (P. 25 e 26)

12. Explicando o caso, São Luís ensina que um bom Espírito nada pode sobre outro, a não ser moralmente; nunca fisicamente. No caso narrado, seria preciso chamar o concurso de bons Espíritos, para atuar sobre o rapaz e torná-lo menos acessível às impressões dos maus Espíritos. (P. 27)

13. “O mau Espírito que o obsidia – diz São Luís – não o largará facilmente, desde que não é fortemente repelido por ninguém.” Confirmando que nesses casos a prece é sempre boa, ela, contudo, de nada serviria se não fosse secundada por aqueles mais interessados no caso, isto é, os pais do rapazinho. (PP. 27 e 28)

14. Evocado, o Espírito tratou com rudeza o evocador, mas informou, depois, que a fúria do jovem médium, quando era magnetizado, se devia a ele (Espírito) e não ao rapaz: “Não era ele quem se encolerizava: era eu”. (PP. 29 e 30)

15. Por que se encolerizava?, perguntou Kardec. O Espírito respondeu: “Não tenho nenhum poder sobre esse homem (o Sr. L..., o magnetizador), que me é superior: por isso não posso suportá-lo”. “Ele quer arrebatar-me aquele que tenho sob o meu domínio. E isso eu não quero.” (P. 30)

16. Analisando esse caso, Kardec assevera: “Sem dúvida esse Espírito é muito mau e pertence ao bas-fond do mundo espírita”. Ele diz, porém, que Espíritos assim são menos perigosos do que os Espíritos fascinadores, que, com segunda intenção, sabem inspirar em certas pessoas uma cega confiança em suas palavras. (P. 30)

17. Comentando mensagem do Espírito de Cazotte, Kardec afirma que o futuro nos é ocultado por uma lei muito sábia da Providência, pois que tal conhecimento prejudicaria nosso livre-arbítrio e nos levaria à negligência. (P. 33)

18. Em nota aposta pelo tradutor, vemos que São Luís é o mesmo Luís IX, rei de França, nascido em 1215 e morto em 1270. Muito virtuoso, foi Luís IX canonizado pela Igreja em 1297. (P. 39)

 

Respostas às questões propostas

 

A. No tratamento da obsessão de um rapaz, o papel dos pais é importante?

Sim. Comentando o caso de um jovem que padecia um processo obsessivo, São Luís diz que um bom Espírito nada pode sobre outro, a não ser moralmente; nunca fisicamente. Naquele caso, seria preciso chamar o concurso de bons Espíritos, para atuar sobre o rapaz e torná-lo menos acessível às impressões dos maus Espíritos. Lembrando que nesses casos a prece é sempre boa, ela de nada serviria se não fosse secundada por aqueles mais interessados no caso, isto é, os pais do rapazinho. (Revista Espírita de 1861, pp. 27 e 28.)

B. Por que o futuro nos é ocultado?

Kardec diz que o futuro nos é ocultado por uma lei de Deus, aliás muito sábia, visto que tal conhecimento prejudicaria o nosso livre-arbítrio e nos levaria à negligência. (Obra citada, p. 33.)

C. Quem foi e quando viveu São Luís?

Segundo nota redigida pelo tradutor Júlio Abreu Filho, São Luís foi, numa anterior encarnação, Luís IX, rei de França. Nascido em 1215 e morto em 1270, Luís IX, conhecido por sua bondade, foi canonizado pela Igreja em 1297. (Obra citada, p. 39.)

 

 

 

 

 

Como consultar as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/h85Vsc, e verá como utilizá-lo.

 

 

 

terça-feira, 30 de agosto de 2022

 



O propósito de nossa vida

 

CÍNTHIA CORTEGOSO

cinthiacortegoso@gmail.com

De Londrina-PR 


Com o passar do tempo, naturalmente deveríamos nos questionar como estamos vivendo mais uma existência. Se estamos, de algum modo, cooperando com o Planeta e subindo, pelo menos, um degrau no próprio desenvolvimento, se estamos buscando conhecimento acerca de quem somos no Universo — pois, sobre o Universo, nem me atrevo a dizer quantas centenas de existências, empenhadas, levaremos para compreender o início dessa fantástica Criação.

Às vezes, quando há uma parada para uma breve observação — já que os compromissos humanos-materiais roubam todo o nosso consentido tempo —, algumas questões flutuam mas se desmancham rapidamente no ar: será que estamos vivendo da maneira mais coerente para o nosso progresso individual e coletivo ou nem refletimos sobre isso e passamos simplesmente por aqui? Esses questionamentos e muitos outros, acredito, pululam, em vários momentos, em nossa mente, em nosso coração.

O que tanto se observa é que as pessoas estão muito engaioladas em seu universo e que há muitas estações não olham mais as estrelas no lindo céu, não apreciam o pôr do sol, nem se alegram com a chuva mansa à noite. Também nem sentem falta de orar durante o dia ou à noite e passam meses, anos nem pensam mais em fazer uma oração, em conversar com Deus, razão de tudo. A vida, então, se resume a trabalhar, comer, dormir, estressar-se bastante, não ter amorosidade, ter impaciência, trabalhar mais para ter mais coisas materiais. Quanto à oração, essa nem lembrada é mais.

Somos espíritos, estamos terrenos. Isso deveria ser lido e falado todos os dias para nos lembrarmos, pois nos esquecemos disso com uma inacreditável facilidade. O propósito de nossa vida é muito maior, é transcendental. É ser um pouquinho mais de luz nas realizações, nas palavras, nos pensamentos e sentimentos. Muitas vezes, não observamos nada disso e os nossos olhos terrenos ficam grudados no chão e não somos capazes de enxergar um palmo adiante, quem dera toda riqueza à nossa volta.

No entanto sempre é tempo de despertar e precisamos querer isso. Podemos começar agora a olhar as estrelas à noite e nos encantar com a grandeza da vida e agradecer a vida.

Lembremo-nos: somos espírito, centelha divina, criação de Deus. E com essas constantes e amorosas afirmações, possamos nos sentir verdadeiramente filhos eternos do Pai.

O propósito de nossas vidas é ser mais paz, mais felicidade, mais conhecimento, mais conexão, mais luz.

 

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/

 

 

 

 

 

Como consultar as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/h85Vsc, e verá como utilizá-lo.

 

 

 

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

 



Tormentos da Obsessão

 

Manoel Philomeno de Miranda

 

Parte 12

 

Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial do livro Tormentos da Obsessão, obra de autoria de Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P. Franco e publicada em 2001.

Este estudo é publicado neste blog sempre às segundas-feiras.

Eis as questões de hoje:

 

67. Dois objetivos principais constituíram o foco do atendimento prestado a Ambrósio. Quais foram eles?

O primeiro objetivo foi romper a fixação mental de um dos seus adversários, o que foi conseguido graças à psicofonia atormentada, retirando as energias que lhe estavam imantadas e transferindo-as para a médium. O segundo objetivo foi retirar de Ambrósio as frases e as ideias que nele foram fixadas desde há muitos anos, quando ele se encontrava no exercício da mediunidade e começou a sintonizar com as Entidades perversas que o sitiavam. Todas aquelas frases eram hipnóticas e se tornaram gravações verbais a se repetir sem cessar, levando-o ao desespero, à obediência. Esse é um dos hábeis mecanismos geradores de obsessões, porque o paciente não tem como deixar de estar em contato interno com os comandos devastadores, que terminam por dominar-lhe o raciocínio, a vontade e a emoção. (Tormentos da Obsessão, cap. 12 – Terapia Especial.)

68. Que ligação existe entre o Dr. Baraduc e a tese do corpo mental?

Segundo o Dr. Inácio, foi o Dr. Baraduc, o nobre médico francês, que se dedicou à pesquisa do duplo etéreo, quem denominou essa emanação da mente, que ele pôde fotografar, por corpo mental. Trata-se, naturalmente, de um delicado envoltório, qual ocorre com o perispírito em relação ao Espírito. (Obra citada, cap. 12 – Terapia Especial.)

69. O conhecimento das propriedades do perispírito é importante para compreendermos bem questões relacionadas com a saúde física e emocional do ser humano?

Sim. Diz Manoel P. de Miranda que o conhecimento das propriedades do perispírito é a única forma de compreendermos inúmeros enigmas que dizem respeito à saúde física, mental e emocional dos indivíduos, bem como os processos de evolução do ser humano. Sede da alma, arquiva as experiências que são vivenciadas, bem como os pensamentos elaborados, transformando-os em realidade, conforme a intensidade da sua constituição. Graças ao seu poder plástico, que lhe é uma das propriedades básicas, as ideias demoradamente mantidas levam a estados obsessivos-compulsivos, que terminam por alterar a forma do ser, que passa a vivenciar uma monoideia degenerativa e desagregadora da estrutura molecular, de que esse corpo sutil se constitui. (Obra citada, cap. 13 – A experiência de Licínio.)

70. Segundo Licínio, Ambrósio-orador era, na tribuna, bem diferente do Ambrósio-homem. Por que a diferença?

Realmente, Ambrósio-homem era indiferente ao público que ali se encontrava ansioso para ouvi-lo. Já Ambrósio-orador se apresentava feliz, quase meigo, rico de conhecimentos e produzia viva empatia no auditório superlotado. Licínio observou então que, durante a conferência, Ambrósio conseguiu romper a carapaça infeliz que o envolvia, entrando em sintonia com o Mundo espiritual que passou a inspirá-lo por intermédio de venerando Mensageiro de Esfera mais elevada. O verbo fluía pelos seus lábios em catadupas sonoras e agradáveis, enquanto dele se irradiava a energia do Benfeitor que produzia incomparável bem-estar em todo o público. Eis o porquê da diferença. (Obra citada, cap. 13 – A experiência de Licínio.)

71. Qual o perigo que cerca os médiuns que buscam adquirir status de santidade, tornando-se praticamente intocáveis?

Esse comportamento, cultivado por alguns que se inebriam da própria prosápia(1), termina por afogá-los na insensatez e no despautério. Foi o que acabou acontecendo com Ambrósio e certamente se verifica com muitos médiuns e oradores que são endeusados pelas pessoas, como se fossem celebridades carentes do aplauso público. (Obra citada, cap. 13 – A experiência de Licínio.)

72. Pode-se afirmar que a prática da mediunidade requer dignidade e seriedade de todos os que nela se encontram envolvidos?

Sim. A mediunidade, por mais vigor de que se revista, jamais produzirá com dignidade sob o açoite interno dos conflitos humanos, gerando a conduta reprochável do seu possuidor. Compromisso de gravidade, não se pode converter em instrumento de mercantilismo danoso, nem de diversão para frívolos sem consequências de alta periculosidade. (Obra citada, cap. 13 – A experiência de Licínio.)

 

(1) Prosápia: altivez, orgulho, soberba, fanfarrice.

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 11 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/08/blog-post_22.html

 

 

 

 

 

Como consultar as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste linkhttps://goo.gl/h85Vsc, e verá como utilizá-lo.

 

 

domingo, 28 de agosto de 2022

 



Por que orar?

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

De Londrina-PR

 

Há pessoas que não creem, em absoluto, na validade da prece e assim procedem durante toda a sua existência, até que a provação, surgida sob a forma de enfermidade irreversível ou da ruína nos negócios, abata seu orgulho e as leve à meditação em Deus.

Certo amigo que nas horas vagas colaborava com assiduidade num dos hospitais da cidade, relatou-nos oportunamente como era o comportamento de determinadas criaturas de vida abastada quando, internadas naquele hospital, tomavam conhecimento da gravidade de sua enfermidade.

Ciente de antemão da gravidade do caso, nosso amigo, na visita habitual que fazia aos enfermos, sugeria ao paciente, em particular, a presença de um sacerdote para – quem sabe? – o necessário desabafo. A resposta era, contudo, no início, invariavelmente desanimadora: “Não creio em padre nem em religião nenhuma!”

Ocorre que, com o passar dos dias, toda doença insidiosa mostra os sinais de sua dureza e determinação. A família passa a rodear o enfermo, os parentes chegam de todos os cantos e, evidentemente, o resultado não se fazia esperar. O enfermo acabava enviando ao amigo o esperado recado: “Se o senhor quiser, não me importo com a vinda do sacerdote”, ou seja, quando a ciência se revela impotente e o dinheiro nada mais pode fazer, só resta recorrer à religião, como último recurso na busca de melhores dias.

Com as pessoas de vida mais singela o fato se passa de forma diferente. A escassez de recursos e a simplicidade da vida fazem com que esses irmãos sintam geralmente na prece um elemento importante em suas vidas e, talvez, o único recurso diante das vicissitudes.

O convívio com famílias que vivem na periferia da cidade comprova isso. Essas pessoas, não raro, acompanham a oração com seriedade e gosto. Sim, com gosto, alegria, interesse, compreensão. É que a prece sincera transforma nosso estado d´alma e, quando fervorosa, traz-nos uma paz indefinida, assentando por alguns momentos uma vida nova em nosso campo mental.

Por que a prece conforta tanto?

Que mistério profundo encerra essa comunhão que até os povos mais antigos cultuavam?

O Espiritismo trata do tema com respeito e carinho, ao definir a prece como sendo um ato de adoração a Deus e, ao mesmo tempo, uma conversa com o Criador ou seus prepostos.

Sendo um ato de adoração, ela agrada ao Senhor e nos torna melhores, não requerendo para isso uma forma exterior determinada ou uma dissertação alongada. Seu conteúdo é que vale, a atitude de quem ora é que importa, cientes todos nós de que a prece deve ser espontânea, objetiva e repleta de sentimentos elevados.

Do mesmo modo como Jesus ensinou, propõe-nos o Espiritismo que devemos orar em secreto, visto que, tratando-se de uma invocação e uma conversa íntima, ela requer os mesmos cuidados que temos quando desenvolvemos com alguém um entendimento particular.

Ensina Emmanuel: “A prece deve ser cultivada no íntimo, como a luz que se acende para o caminho tenebroso ou como o alimento indispensável na jornada longa e difícil, porque a oração sincera estabelece a vigilância e constitui o maior fator de resistência moral no centro das provações mais escabrosas e mais rudes” (O Consolador, pergunta 245).

Há, como sabemos, vários modelos de prece. O Pai Nosso, a prece de Cáritas, a oração de São Francisco de Assis, todas são peças de altíssimo valor literário e sentimental. O essencial, contudo, não é o que elas dizem, mas como as dizemos, o que sentimos ao dizê-las, a maneira, enfim, como as vivenciamos, sobretudo no momento de pô-las em execução.

 

 

 

 

 

Como consultar as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/h85Vsc, e verá como utilizá-lo.

 

 

 

 

sábado, 27 de agosto de 2022

 



O acolhimento e o novo mandamento do Cristo    

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília, DF

 

Quando fiz alguns cursos de pós-graduação na UnB, sempre trabalhei com pesquisas sobre Machado de Assis. Por isso, no início das criações de minhas crônicas, a ideia foi dar-lhe o título de “Em dia com o Machado”, imitando o título de nossa irmã espírita Marta Antunes, vice-presidente da FEB, que intitula seus artigos como “Em dia com o Espiritismo”.

A ideia inicial, como a mantenho atualmente em algumas crônicas, era dialogar com o suposto espírito Machado de Assis, sempre lembrando que minhas crônicas têm por objetivo repassar conceitos elevados sob as verdades observadas na vida real, mas com base em elaborações fictícias e não em fenômenos mediúnicos dos quais não sou médium, embora creia plenamente na mediunidade.

Por isso mesmo, sempre faço questão de citar a autoria de textos narrados, como este, sobre comédia machadiana, citada na obra História Concisa da Literatura Brasileira. Tópico Teatro, de autoria do grande pesquisador Alfredo Bosi, falecido há pouco tempo:

 

Os bastidores da vida política são o objeto da comédia Quase Ministro, elenco divertido de tipos parasitários que se apressam a cumprimentar o futuro ministro propondo-lhe planos, inventos e poemas, e com a mesma presteza viram-lhe as costas ao sabê-lo fora do cargo (BOSI, op. cit., 1992, p. 272).

 

Com o passar do tempo, passei a explorar predominantemente o lado espiritualista, em especial o espírita cristão, em meus devaneios literários. Como base de meus objetivos, compartilho os mesmos fundamentos contidos na carta de Paulo aos Filipenses, 4:8: “[...] tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama [...]”.

Faço essas considerações tendo em vista o que nos propõe padre Émerson, em seus vídeos diários intitulados Palavra do Dia, com considerações sobre o vocábulo “acolher”. Diz ele que sabemos bem o que não seja acolhida quando somos ignorados. Como lemos na mimese realista machadiana, citada por Bosi, muitas vezes, em nosso relacionamento social, quando a fama bate em nossa porta, todos nos bajulam; mas tão logo ela nos deixe, os falsos amigos nos abandonam.

Como a dor que sentimos, nesses momentos, é profunda, sugere-nos padre Émerson ser preciso trabalhar em nós o sentimento de acolhida ao nosso irmão, para que ele não sinta a dor que sentimos. Isso, além de solidariedade, é compaixão. Compadeçamo-nos, pois, do nosso próximo. Que não o acolhamos conforme nossos interesses, mas com o verdadeiro sentimento de amor, seja ele rico ou pobre, famoso ou não, belo ou feio, culto ou analfabeto, bondoso ou mesquinho, enfermo ou sadio. E ainda, quer compartilhe ou não de nossa crença, quer seja religioso ou ateu.

É nisso que estão resumidas as palavras de Jesus a todos nós: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis tanto quanto eu vos amo” (João, 13:34).


Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 

 

 

 

 

 

Como consultar as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/h85Vsc, e verá como utilizá-lo.

 

 

 

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

 



A Evolução Anímica

 

  Gabriel Delanne

 

Parte 2

 

Damos prosseguimento ao estudo do clássico A Evolução Anímica, de Gabriel Delanne, conforme a 8ª edição da tradução de Manoel Quintão, publicada pela Federação Espírita Brasileira.

Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para leitura.

Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.

 

Questões preliminares

 

A. Há diferença entre as manifestações da alma quando encarnada e as que ela produz depois da desencarnação?

B. Que propriedades distinguem os seres vivos dos corpos inorgânicos?

C. Que é um organismo vivo?

 

Texto para leitura

 

12. Esta obra tem um duplo objetivo. Em primeiro lugar, visa demonstrar que a doutrina está concorde com as modernas teorias científicas; e, em segundo lugar, objetiva tornar conhecido o papel físico de um órgão essencial à vida do corpo e da alma. Não existe incompatibilidade entre as novas descobertas e a realidade dos Espíritos, ou seja, a existência de criaturas revestidas de um invólucro material pode conceber-se naturalmente. Esperamos que deste trabalho ressalte a convicção de que o Espiritismo é uma verdade que nos faculta a chave daquilo que a ciência humana é impotente, por si só, para descobrir. (Págs. 19 a 21)

13. A vida – Existe uma diferença essencial entre as manifestações da alma quando encarnada e as que ela prodigaliza na sua existência incorpórea, embora as faculdades do Espírito sejam sempre as mesmas. É que, na Terra, o exercício dessas faculdades se subordina a condições orgânicas ligadas ao meio exterior e dele dependentes, ao passo que, no plano etéreo, nenhum entrave lhe restringe o jogo das faculdades psíquicas. (Págs. 23 e 24)

14. A vida será, para nós, a característica dos seres organizados que nascem, vivem e morrem. Atribuímo-la a uma modificação especial da energia: a força vital, cuja presença haveremos de reconhecer, com os fisiologistas, sempre que verificarmos em um ser o movimento reativo de excitação externa, isto é, o fato de que esse ser é irritável. Segundo a nossa forma de ver, a vida só existe em função da matéria organizada, e impossível fora descobri-la alhures. (Pág. 24)

15. Podemos dizer, pois, sem paradoxo, que a alma não é vivente porque seja mais e melhor: é que ela tem “existência integral”, visto que, não sendo organizada, não se submete à morte. (Pág. 24)

16. De acordo com os trabalhos mais recentes sobre o assunto, a vida de todos os seres resulta das relações existentes entre sua constituição física e o mundo exterior. O organismo é preestabelecido, pois que provém dos ancestrais, por filiação. A ação das leis físico-químicas, ao contrário, varia segundo as circunstâncias. A essa oposição de forças Claude Bernard denomina conflito vital. (Págs. 24 e 25)

17. Não é, diz Claude Bernard, por uma luta contra as condições cósmicas que o organismo se mantém e se desenvolve, mas – ao contrário – por uma “adaptação”, um “acordo”. Esse conflito vital dá origem a duas espécies de fenômenos: 1ª - Fenômenos de destruição orgânica, isto é, de desorganização ou desassimilação; 2ª - Fenômenos de criação orgânica, indiferentemente chamados organização, síntese orgânica ou assimilação. (Pág. 25)

18. A destruição orgânica é determinada pela função do ser vivente. Quando, no homem ou no animal, sobrevém um movimento, parte da substância ativa do músculo se destrói ou se queima. Pode-se dizer, então, que jamais a mesma matéria serve duas vezes à vida. Essas combustões engendram o calor animal, produzem o ácido carbônico que se exala pelos pulmões, além de outros produtos eliminados por diferentes glândulas. O corpo gasta-se e sofre perda de peso. Essa destruição é sempre devida a uma combustão ou a uma fermentação. (Págs. 25 e 26)

19. Os fenômenos de criação orgânica são atos plásticos, que se completam nos órgãos em repouso e os regeneram. A reparação de nossos órgãos e tecidos opera-se íntima, silenciosamente, fora de nossas vistas, enquanto os fenômenos de destruição ou de morte vital saltam-nos aos olhos. Em todo o curso da existência, essas destruições e criações são simultâneas, conexas, inseparáveis. (Págs. 26 e 27)

20. As propriedades gerais dos seres vivos, que os distinguem da matéria bruta dos corpos inorgânicos, são quatro: organização, geração, nutrição e evolução. Dessas quatro propriedades fundamentais a Ciência não explica claramente senão uma: a nutrição, se bem que, ainda aqui, o fenômeno pelo qual as células selecionam no sangue os materiais que lhes são úteis não está bem estudado. A organização e a evolução não podem, contudo, ser compreendidas só pelo jogo das leis físico-químicas. Quanto à reprodução, sua causa continua sendo um mistério.  (Pág. 27)

21. Todos os seres vivos têm necessidade, para manter-se, das mesmas condições exteriores: umidade, calor, ar e uma determinada composição química do ambiente. A água, indispensável na constituição do meio em que evolui o ser vivente, entra na composição dos tecidos. No homem, o coeficiente de água contida no corpo é de 90%. O ar, ou melhor, o oxigênio que lhe compõe a parte respirável, é necessário à maioria dos seres vivos, mesmo aos inferiores. O calor é o terceiro elemento que entretém os corpos vivos. Não pode a temperatura interna do organismo descer abaixo de 20 graus nem elevar-se acima de 45, para os humanos, e de 50, para as aves. (Págs. 28 e 39)

22. A Ciência denomina organismo vivo tanto à célula que compõe os tecidos vegetais e animais, como a esses mesmos vegetais e animais. A célula, com efeito, é um ser vivo: organiza-se, reproduz-se, alimenta-se e evolui, tal como o animal superior. Os corpos vivos não passam de associações de células, idênticas em natureza e composição, que gozam, porém, de propriedades diferentes, conforme o lugar ocupado no organismo. (Pág. 29) (Continua no próximo número.)

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Há diferença entre as manifestações da alma quando encarnada e as que ela produz depois da desencarnação?

Sim. Existe uma diferença essencial entre essas manifestações da alma, embora as faculdades do Espírito sejam sempre as mesmas. É que, na Terra, o exercício dessas faculdades se subordina a condições orgânicas ligadas ao meio exterior e dele dependentes, ao passo que, no plano etéreo, nenhum entrave lhe restringe o jogo das faculdades psíquicas. (A Evolução Anímica, pp. 23 e 24.)

B. Que propriedades distinguem os seres vivos dos corpos inorgânicos?

As propriedades dos seres vivos, que os distinguem da matéria bruta dos corpos inorgânicos, são quatro: organização, geração, nutrição e evolução. Dessas quatro propriedades fundamentais a Ciência não explica claramente senão uma: a nutrição, se bem que, ainda aqui, o fenômeno pelo qual as células selecionam no sangue os materiais que lhes são úteis não está bem estudado. (Obra citada, pág. 27.)

C. Que é um organismo vivo?

A Ciência denomina organismo vivo tanto à célula que compõe os tecidos vegetais e animais, como a esses mesmos vegetais e animais. A célula, com efeito, é um ser vivo: organiza-se, reproduz-se, alimenta-se e evolui, tal como o animal superior. Os corpos vivos não passam de associações de células, que gozam, porém, de propriedades diferentes, conforme o lugar ocupado no organismo. (Obra citada, pág. 29.)

 

 

Observação:

Para acessar a 1ª Parte deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/08/blog-post_19.html

 

 

 

 

 

 

Como consultar as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/h85Vsc, e verá como utilizá-lo.