quinta-feira, 31 de março de 2022

 



CINCO-MARIAS

 

Amor serve para tudo

 

EUGÊNIA PICKINA

eugeniapickina@gmail.com

 

A mim [a criança] ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Alberto Caeiro

 

Sozinha na sala, à noite, me pus a pensar na filha da vizinha. Flávia mal completou oito anos e experimenta uma fase difícil na escola. E, nos últimos tempos, agindo como uma rainha malvada, sua mãe passou não só a ridicularizar o seu costume de usar tênis sem meias, mas também a debochar de tudo o que ela diz.

Claro. A vida é cheia de altos e baixos. Precisamos enfrentar as adversidades com coragem, sem perder a fé na humanidade. Mas como lidar no dia a dia com os maus-tratos gerados pela própria mãe?

Sei que a ideia parecia insólita, mas quis correr esse risco. Chamei a vizinha para um café. A moral já estava pronta: por vezes, a repetição da violência tem raiz na ignorância.

Depois que tomamos o café, contei uma longa história a essa mulher, porém enfatizei o fato de que devemos amor e bondade às crianças. É preciso romper com a prática dos maus-tratos, profundamente ofensiva.

De fato, nada melhor que a empatia para educar alguém que se encontra no período vulnerável do começo da vida. Pois é aí que estamos propensos a integrar exemplos e princípios que nos ajudarão a construir nossas histórias.

Amar uma criança não é só questão de sobrevivência, expliquei à mãe de Flávia. Porque é basicamente na casa que nossos filhos aprendem lições importantes para a vida. Acontece que a criança se parece com semente. Ela precisa de ambiente propício para germinar, brotar e crescer. Não é esta a essência da alegria de educar?

A mãe de Flávia chorou. Choramos. Simplesmente ela entendeu que debochar de uma criança não serve para nada, só desorienta, agride, fere, machuca – o deboche é um nocivo fungo que atravessa o corpo da criança e se aloja na alma, fazendo ninho na memória.

Amar é respeitar, fazer a criança perceber no cotidiano que é amada, cultivando-a sem conversa fiada, sem comunicação que arranca as tintas dos sentimentos e empobrece a autoestima, porque as crianças, antes de mais nada, têm de aprender a caminhar sobre a terra firme …

Ontem, cedo, vi a Flávia saindo de casa. Mochila, uniforme escolar, tênis sem meias. Porque a criança é esquecimento, o rosto suave e sorridente.

Amor serve para tudo.

 

Notinha

 

Formas de educar necessitam ser baseadas no amor, respeito e empatia. Ignorar, subornar, humilhar, ridicularizar, amedrontar, ameaçar, condicionar o afeto e debochar da criança são exemplos de maus-tratos psicológicos que pais (ou cuidadores) cometem com as crianças. A alegria de educar um filho ou uma filha depende necessariamente do esquecimento dessas atitudes maldosas, desrespeitosas, violentas.

 

*

 

Esta seção, cuja estreia neste blog ocorreu no dia 6 de janeiro deste ano, traz sempre textos dedicados à infância, seus cuidados, sua educação. O título – Cinco-marias – é uma alusão a um conhecido brinquedo que integra um conjunto de brincadeiras e atividades lúdicas conceituadas como Patrimônio Cultural da Humanidade.

Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).

Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), está concluindo em São Paulo a formação em Psicanálise.

Ministra cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.

Seu contato no Instagram é @eugeniapickina

 

 

 

 

 

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quarta-feira, 30 de março de 2022

 


Revista Espírita de 1858

 

Allan Kardec

 

Parte 8 e final

 

Concluímos o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1858, periódico lançado por Allan Kardec em janeiro de 1858 e por ele editado de 1858 a março de 1869, quando desencarnou.

O estudo foi baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

Cada parte do estudo, apresentado sempre às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. A que propriedades Kardec se refere, na Revista, ao falar sobre o perispírito?

B. Existe relação entre os sofrimentos que o Espírito padece e suas atitudes quando encarnado?

C. Como explicar os sonhos?

D. Que palavras Kardec dedicou, na Revista Espírita de 1858, às mulheres?

 

Texto para leitura

 

209. A Revista transcreve um conto de Frédéric Soulié, "Uma Noite Esquecida", psicografado por Caroline Baudin, médium do gênero absolutamente passivo, que não tinha a menor consciência do que escrevia. Primeiro, ela valeu-se da cesta de bico; depois serviu-se da psicografia direta. (P. 329)

210. Kardec diz que a Gazette de Cologne publicou a história da aparição do General Marceau, que muitas pessoas alegam ter visto à noite, montado num cavalo, com seu manto branco usado pelos caçadores franceses. (P. 333)

211. Falando sobre aparições, Kardec lembra que o Espírito está unido ao corpo por uma substância semimaterial, chamada perispírito. Os encarnados têm, portanto, dois envoltórios: o corpo destrutível e o corpo etéreo, vaporoso, indestrutível – o perispírito. (P. 335)

212. O perispírito é invisível, mas pode tornar-se visível. Uma outra propriedade dele é a penetrabilidade. Nenhuma matéria lhe oferece obstáculo: ele as atravessa a todas, como a luz atravessa os corpos transparentes. (P. 336)

213. Kardec diz conhecer uma jovem senhora que muitas vezes via em sua casa e no seu quarto alguns homens, na verdade Espíritos, que aí entravam e saíam, embora estivessem fechadas as portas. (P. 337)

214. Kardec fala sobre o Sr. Adrien, destacando que de todas as suas faculdades como médium a mais notável é a vidência. (P. 339)

215. Colocamos o Sr. Adrien – diz o codificador – entre os mais notáveis médiuns e na primeira fila daqueles que nos forneceram os mais preciosos elementos para o conhecimento do mundo espírita. (P. 340)

216. Com o Sr. Adrien, Kardec esteve em teatros, bailes, hospitais, cemitérios e Igrejas, e assistiu a enterros, casamentos, batizados e sermões, em toda parte observando os Espíritos que ali estavam. (P. 340)

217. Kardec relata o caso da morte de um amigo do Sr. Adrien, vitimado por um ataque de apoplexia. Horas depois da morte, o vidente viu o Espírito do defunto, com a mesma aparência de antes, a andar de um lado para outro, sem compreender o que se passava. (P. 341)

218. No dia seguinte, o médium viu o Espírito vagando ao lado do caixão, mas estava agora envolto numa espécie de túnica. O Sr. Adrien conversou com ele e viu que ele ignorava sua morte. (P. 341)

219. A seguir, o médium o viu aproximar-se do filho que chorava. Curvou-se sobre ele, ficou uns momentos nessa posição, depois partiu rapidamente. O médium notou, então, que o que ele dizia chegava ao coração do filho. (P. 342)

220. A Revista trata do tema bicorporeidade e cita os casos de Santo Afonso de Liguori, canonizado antes do tempo exigido, por se haver mostrado simultaneamente em dois lugares, e de Santo Antônio de Pádua, que pregava na Espanha quando foi visto em Pádua. (P. 344)

221. Evocado, Afonso de Liguori confirma o fato que lhe foi atribuído e explica o seu mecanismo. (P. 344)

222. Kardec faz um estudo sobre as sensações dos Espíritos, procurando explicar como é a dor sentida pelos Espíritos. (PP. 347 e 348)

223. A conclusão parece clara: os sofrimentos que o Espírito padece são sempre consequência da maneira por que viveu na Terra. (P. 351)

224. Um Espírito ensina que o sono liberta inteiramente a alma do corpo: quando dormimos ficamos momentaneamente no estado em que, de maneira definitiva, nos encontraremos depois da morte. (P. 353)

225. O sonho – diz ele – é a lembrança daquilo que o Espírito viu durante o sono; notemos, porém, que não sonhamos sempre porque nem sempre nos lembramos daquilo que vimos. (P. 354)

226. Kardec escreve sobre a mulher e lhe faz um elogio inusitado, mas justo: "A mulher é delineada mais finamente que o homem, o que indica, naturalmente, uma alma mais delicada. É assim que nos meios semelhantes, em todos os mundos, a mãe será mais bela que o pai, por ser a que a criança vê primeiro". (P. 357)

227. "Mulheres! Não temais deslumbrar os homens pela vossa beleza, por vossas graças, por vossa superioridade – diz Kardec. – Saibam, porém, os homens que, para se tornarem dignos de vós, devem ser tão grandes quanto sois belas, tão sábios quanto sois boas, tão instruídos quanto sois originais e simples." (P. 357)

228. Kardec evoca uma viúva de Malabar, uma dessas mulheres da Índia, sujeitas ao costume de queimar-se sobre o cadáver do marido. Evidentemente, ela disse que preferia ter-se casado com outro homem, ao invés de ser queimada. (P. 361)

229. Evocada, Luísa Charly, chamada Labé, cognominada "A Bela Cordoeira", explica que, embora tenha sido feliz na Terra, a felicidade do Céu é coisa muito diferente. Por Céu, ela diz referir-se a outros mundos. (P. 363)

230. Luísa confirma que Júpiter é um mundo feliz, mas adverte que ele não é o único favorecido por Deus. Os mundos felizes são tão numerosos quanto os grãos de areia do oceano. (P. 363)

231. O Sr. Ch. Renard, assinante da Revista, residente em Rambouillet, conta em carta escrita a Kardec sobre suas experiências com os fenômenos espíritas, muito antes do advento das mesas girantes, e fala sobre as experiências da família Fox e dos trabalhos de Davis, considerados por Conan Doyle os principais precursores do Espiritismo. (P. 366)

232. Fechando o ano de 1858, Kardec diz, feliz, que doravante a existência da Revista se achava assegurada por um número de assinantes que aumentava dia a dia, e afirma que o Espiritismo marcha a passos gigantescos pelo mundo inteiro. (PP. 367 e 368)

233. Refere Kardec que os Espíritos então lhe disseram: "Este é o primeiro período; em breve passará, para dar lugar a ideias mais elevadas. Novos fatos revelar-se-ão, marcando um novo período – o filosófico – e a doutrina crescerá em pouco tempo, como a criança que deixa o seu berço".  (P. 368)

 

Respostas às questões propostas

 

A. A que propriedades Kardec se refere, na Revista, ao falar sobre o perispírito?

Inicialmente, diz ele que os encarnados têm dois envoltórios: o corpo destrutível e o corpo etéreo, vaporoso, indestrutível – o perispírito. O perispírito é invisível, mas pode tornar-se visível. Uma outra propriedade dele é a penetrabilidade. Nenhuma matéria lhe oferece obstáculo: ele as atravessa a todas, como a luz atravessa os corpos transparentes. E, para corroborar esta informação, diz conhecer uma jovem senhora que muitas vezes via em sua casa e no seu quarto alguns homens, na verdade Espíritos, que aí entravam e saíam, embora estivessem fechadas as portas. (Revista Espírita de 1858, pp. 335 a 337.)

B. Existe relação entre os sofrimentos que o Espírito padece e suas atitudes quando encarnado?

Sim. Na Revista ele apresenta um estudo sobre as sensações dos Espíritos, no qual procura explicar como é a dor sentida pelos Espíritos. Sua conclusão é esta: os sofrimentos que o Espírito padece são sempre consequência da maneira pela qual viveu na Terra. (Obra citada, pp. 347 a 351.)

C. Como explicar os sonhos?

Segundo um instrutor espiritual, o sono liberta inteiramente a alma do corpo. Quando dormimos ficamos momentaneamente no estado em que, de maneira definitiva, nos encontraremos depois da morte. Os sonhos seriam a lembrança daquilo que vimos durante o sono. (Obra citada, pp. 353 e 354.)

D. Que palavras Kardec dedicou, na Revista Espírita de 1858, às mulheres?

Ele fez às mulheres um elogio inusitado, mas justo: "A mulher é delineada mais finamente que o homem, o que indica, naturalmente, uma alma mais delicada. É assim que nos meios semelhantes, em todos os mundos, a mãe será mais bela que o pai, por ser a que a criança vê primeiro". E acrescentou: "Mulheres! Não temais deslumbrar os homens pela vossa beleza, por vossas graças, por vossa superioridade. Saibam, porém, os homens que, para se tornarem dignos de vós, devem ser tão grandes quanto sois belas, tão sábios quanto sois boas, tão instruídos quanto sois originais e simples." (Obra citada, pág. 357.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 7 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/03/blog-post_23.html

 

 

 

 

 

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terça-feira, 29 de março de 2022

 



Generosidade

 

CÍNTHIA CORTEGOSO

cinthiacortegoso@gmail.com

De Londrina-PR

 

Dar contando que dá, certamente, não possui nada de generosidade; dar resistindo um pouco ainda, começa a surgir a luz generosa; no entanto dar como se não tivesse custado coisa alguma, isso, sim, pode ser chamado de verdadeira generosidade cuja composição é amor, bondade, respeito, carinho e compreensão, características primordiais para o desenvolvimento. A atitude sincera não desgasta nenhum dos corações, nem o que recebe muito menos o que doa, apenas os alimenta e os fortalece.

Se as nossas poucas generosas atitudes fossem registradas, talvez no caderno das generosidades houvesse bem mais páginas em branco querendo ser preenchidas. É tempo de doar, de fazer, de contribuir. Na verdade, uma das melhores sensações é poder fazer algo de bom a alguém, um dos grandes sentidos da vida. E quando nem percebemos realizar o ato generoso, então, é pura felicidade, pois começamos a ultrapassar a barreira limitadora entre a Terra e os mundos bons.

A lei primeira da generosidade é nem imaginar constranger alguém porque se houver um fio disso ainda não houve nenhuma compreensão e o recomeço é presente bendito. Se caso ainda haja dificuldade na assimilação do conceito generoso, a aprendizagem com a natureza é um dos produtivos recursos a considerar, já que, além da generosidade, a natureza possui sabedoria ‒ valores correlatos.

Neste Planeta, tudo é transitório e nada mais sábio do que amparar com carinho o maior número de seres. E como não cabem dois corpos num mesmo espaço ao mesmo tempo, a consciência da partilha é necessária e salutar.

Precisamos de pouco material para nos tornarmos felizes e ficamos plenos quando, ao nosso redor, bem mais pessoas estão sorrindo em vez de angustiadas e tristes e, o ideal, por gestos generosos que tão naturalmente podemos realizar.

O ser generoso nem percebe a sua generosidade, pois já se tornou inerente a ele. Percebe apenas que está bem mais perto do céu.

E a primavera é uma das senhoras mais generosas que conheço.

 

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/

 

 

  

 

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segunda-feira, 28 de março de 2022

 



Trilhas da Libertação

 

Manoel Philomeno de Miranda

 

Parte 5

 

Prosseguimos neste espaço o estudo metódico e sequencial do livro Trilhas da Libertação, obra de autoria de Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P. Franco e publicada em 1995. 

Este estudo é publicado neste blog sempre às segundas-feiras.

Eis as questões de hoje:

 

33. Os Espíritos chamados nesta obra de gênios das trevas também reencarnam? Quando isso ocorre, que acontece?

Os gênios das trevas – expressão utilizada por um obsessor desencarnado – são os impiedosos comandantes bárbaros de ontem, que dizimaram cidades e povoados inteiros, na loucura desmedida que os governava. Eles permanecem nas regiões de degredo do planeta, aí retidos pela Soberana Vontade, de modo a permitirem o progresso das criaturas, em cujo círculo social não dispõem de meios para renascer. Ainda asselvajados, se reencarnassem nesse ínterim, conturbariam a sociedade e volveriam às paixões desvairadas que ateiam o fogo da desgraça. Periodicamente, alguns grupos dessa ordem mergulham no corpo para despertarem pela dor os que fogem do amor e, ante o medo que aterroriza, voltarem-se para o bem... Igualmente, os menos virulentos assomam em corpos jovens e formam bandos de aventureiros, de nômades, de apátridas que as drogas consomem, as músicas alucinadas estimulam e tresvariam e o sexo desvairado exaure, quando não tombam nas urdiduras dos crimes traumatizadores. (Trilhas da Libertação. Terapia desobsessiva, pp. 92 e 93.)

34. É verdade que muitos inimigos do bem situados na erraticidade são antigos religiosos fracassados?

Sim. A respeito disso, o dr. Carneiro de Campos revelou: “Estes seres, que se extraviaram em diversas reencarnações, assumindo altíssimas responsabilidades negativas para eles mesmos, procedem, na sua maioria, de Doutrinas religiosas cujos nomes denegriram com as suas condutas relapsas, atividades escusas e cortes extravagantes, nas quais o luxo e os prazeres tinham primazia em detrimento dos rebanhos que diziam guardar, mas que somente exploravam, na razão do quanto os desprezavam.” (Obra citada. Os Gênios das Trevas, pp. 95 a 97.)

35. Entre nós e os Espíritos inferiores é grande a permuta de energias?

Sim. Segundo o dr. Carneiro de Campos, o intercâmbio de energias psicofísicas entre os seres inferiores desencarnados e os homens é muito maior do que se imagina. Dezenas de milhões de criaturas de ambos os planos se encharcam de vitalidade, explorando-se umas às outras, mediante complexos processos de vampirização, simbiose, dependência, gerando uma psicosfera morbífica, aterradora. “Somente o despertar da consciência – afirma dr. Carneiro – logra interromper o comércio desastroso, no qual se exaurem os homens, e mais se decompõem moralmente os Espíritos.” (Obra citada. Os Gênios das Trevas, pp. 101 a 103.)

36. Que consequências podem resultar desse intercâmbio de energias?

As consequências são variadas. Enfermidades degenerativas do organismo físico, desequilíbrios mentais desesperadores, disfunções nervosas de alto porte, contendas, lutas, ódios, paixões asselvajadas, guerras e tiranias têm sua geratriz nesses antros de hediondez, onde as Forças do Mal, em forma de novos Lucíferes da mitologia, pretendem opor-se a Deus e tomar-lhe o comando. É por isso que o ser humano dá preferência à sensação, em detrimento das emoções enobrecidas, jugulando-se à dependência do prazer, cristalizando suas aspirações no gozo imediato e retendo-se nas faixas punitivas do processo evolutivo. Devido a esse comportamento, reencarna e desencarna por automatismo, sob lamentáveis condições de perturbação, perplexidade e interdependência psíquica. (Obra citada. Os Gênios das Trevas, pp. 101 a 103.)

37. Escolhido como novo comandante na região de sua influência, qual foi a primeira medida tomada pelo Soberano das Trevas?

Ciente do advento do Consolador na Terra e do seu programa de estudo e vivência do Cristianismo, o Soberano decidiu escutar fracassados conhecedores do comportamento das criaturas, tanto na área sexual como na econômica e na social, após o que estabeleceu seu programa, que ironicamente denominou como as quatro legítimas verdades, em zombeteira paráfrase do código de Buda em relação ao sofrimento. (Obra citada. Os Gênios das Trevas, pp. 103 a 105.)

38. Quais são as quatro verdades, segundo o pensamento do Soberano das Trevas?

Ei-las: 1ª - O homem é um animal sexual que se compraz no prazer. 2ª - O narcisismo é filho predileto do egoísmo e pai do orgulho, da vaidade, inerentes ao ser humano. 3ª - O poder tem prevalência em a natureza humana. 4ª - A ambição da riqueza, mesmo que mascarada, supera a falsa humildade, e o conforto amolenta o caráter, desestimulando os sacrifícios. “Quem poderá resistir a essas quatro legítimas verdades?”, perguntou o comandante. “Certamente, aquele que vencer uma ou mais de uma, tombará noutra ou em várias ao mesmo tempo.” (Obra citada. Os Gênios das Trevas, pp. 105 a 107.)

39. Em face do programa acima exposto, qual é a recomendação emanada dos mentores espirituais?

Manoel Philomeno de Miranda registrou, a propósito da relevante questão, a seguinte advertência: “Precatem-se, os servidores do Bem, das ciladas ultrizes do mal que tem raízes no coração, e estejam advertidos. Suportem o cerco das tentações com estoicismo e paciência, certos de que o Pai não lhes negará socorro nem proteção, propiciando-lhes o que seja mais importante e oportuno. Ademais, não receiem as calúnias dos injuriadores que os não consigam derrubar. Quando influenciados pelos assessores dos Gênios, mantenham-se intimoratos nos ideais abraçados. A vitória tem a grandeza da dimensão da luta travada”. (Obra citada. Os Gênios das Trevas e Reflexões Necessárias, pp. 107 a 110.)

40. No plano espiritual existem Espíritos equivocados, ainda iludidos pelas reminiscências terrestres e preocupados com as querelas do corpo já diluído no túmulo? 

Sim. Segundo o dr. Carneiro de Campos, veem-se na esfera espiritual, a cada instante, Espíritos nas condições mencionadas que se negam à realidade na qual se encontram. Os Benfeitores espirituais, confiantes na ação do tempo, agem com eles pacientemente, amorosamente, sem aguardar resultados imediatos, impossíveis, obviamente, de serem atingidos. (Obra citada. Reflexões Necessárias, pp. 114 e 115.)

 

 

Observação:

Para acessar a parte 4 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/03/blog-post_21.html

 

 

  

 

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domingo, 27 de março de 2022

 



O Evangelho no lar e seus frutos

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

De Londrina-PR

 

O compromisso do Espiritismo com a divulgação do Evangelho nasceu desde logo com a codificação dos ensinos espíritas levada a efeito por Allan Kardec, que publicou em 1864 O Evangelho segundo o Espiritismo, obra que Herculano Pires considerava “de cabeceira”, de leitura diária obrigatória, de leitura preparatória das reuniões doutrinárias, além de livro que deveria ser estudado com maior profundidade para melhor compreensão da doutrina espírita.

No prefácio que escreveu em 1973 para a edição do mencionado livro pela Editora Três, Herculano disse que poucos meses antes de a obra ser publicada os Espíritos amigos de Kardec lhe disseram, relativamente ao livro então em gestação:

 

“Esse livro de doutrina terá influência considerável, porque explana questões de interesse capital. Não somente o mundo religioso encontrará nele as máximas de que necessita, como as nações, em sua vida prática, dele haurirão instruções excelentes. Com esta obra, o edifício começa a libertar-se dos andaimes e já podemos ver-lhe a cúpula a desenhar-se no horizonte.”

 

Herculano, com a clareza que lhe era peculiar, aduziu então o seguinte comentário:

 

“Estas comunicações, cuja leitura completa pode ser feita em Obras Póstumas, revelam-nos a importância fundamental de O Evangelho segundo o Espiritismo na codificação kardequiana. Enquanto O Livro dos Espíritos nos apresenta a Filosofia Espírita em sua inteireza e O Livro dos Médiuns a Ciência Espírita em seu desenvolvimento, este livro nos oferece a base e o roteiro da Religião Espírita” (O Evangelho segundo o Espiritismo, Editora Três, pp. 29 e 30).

 

Kardec faz a apresentação da obra citada na Introdução que ele escreveu especialmente para a ocasião. Disse então o Codificador:

 

“Esta obra é para uso de todos; cada qual pode dela tirar os meios de conformar sua conduta à moral do Cristo. Os espíritas nela encontrarão, além disso, as aplicações que lhes concernem mais especialmente. Graças às comunicações estabelecidas, de agora em diante, de maneira permanente, entre os homens e o mundo invisível, a lei evangélica, ensinada a todas as nações pelos próprios Espíritos, não mais será letra morta, porque cada qual a compreenderá e será incessantemente solicitado a pô-la em prática, pelos conselhos de seus guias espirituais. As instruções dos Espíritos são verdadeiramente as vozes do céu que vêm esclarecer os homens e convidá-los à prática do Evangelho.” (Introdução, parte I.)

 

Vez por outra o Movimento Espírita incentiva, por meio de campanhas específicas, a realização do chamado Evangelho no Lar, uma prática cuja importância poucos, no meio espírita, ignoram.

De fato, muitas têm sido as mensagens enviadas pelos instrutores espirituais dando-nos conta da relevância dessa prática. A oração, a leitura do Evangelho e a reflexão madura em torno dos ensinamentos de Jesus modificam a atmosfera psíquica em que vivemos e atraem para junto de nós inspirações positivas dos nossos amigos espirituais.

Com isso, o aprimoramento moral, em que pese o nosso imenso atraso, é grandemente facilitado. Ódios, antagonismos, divergências de entendimento vão aos poucos cedendo lugar a uma melhor compreensão do que é a vida e quais os nossos objetivos ao nos reencarnarmos no mundo em que nos encontramos.

Se tal providência se generaliza, é possível imaginar os benefícios daí advindos, uma vez que a evangelização da criatura humana concorre para que as famílias se tornem mais harmoniosas e a sociedade, em decorrência disso, mais fraterna.

 

 

 

 

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sábado, 26 de março de 2022

 



Entrevista com Kardec sobre a guerra

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília-DF

 

Salve, leitores!

Em novo devaneio, vejo-me sentado em confortável cadeira da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. À minha frente, está Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo, sorridente e afável. Eu faço-lhe algumas perguntas, que ele responde gentilmente:

— Existe vida fora da matéria, mestre?

Fora do mundo corporal visível existem seres invisíveis, que constituem o mundo dos Espíritos, meu caro Jó.

— Esses Espíritos são seres à parte na criação de Deus?

— Jó, os Espíritos não são seres à parte, mas as próprias almas dos que viveram na Terra ou noutras esferas, e que se despojaram de seus invólucros materiais.

— Quando libertos da matéria, por certo, passamos a ter conhecimento de tudo, não é mesmo, Allan?

— Negativo. Os Espíritos apresentam os mais diversos graus de desenvolvimento intelectual e moral.

— E como podemos discernir o que nos é transmitido por um Espírito bom daquilo que nos diz um mau, Kardec?

— Os bons só lhes dizem coisas importantes, elevadas, que visem sempre o bem. Nunca se contradizem. São humildes, simples e sua linguagem é de grande elevação moral e intelectual. Os maus são intrigantes, ambiciosos, pretensiosos, orgulhosos e egoístas. Para uma boa distinção sobre o nível moral e intelectual dos Espíritos, Jó, recomendo-lhe a releitura dos itens 100 a 113 d'O Livro dos Espíritos.

— Os Espíritos realizam ações que possamos perceber?

— Amigo Jó, nós os acompanhamos incessantemente. Sem que vocês saibam, dirigimos seus pensamentos e suas ações, assim influindo nos fatos e nos destinos da humanidade. Um exemplo disso acaba de ocorrer com você. Tudo que, até aqui, me perguntou está respondido, na carta que publiquei, na Revista Espírita de janeiro de 1859, dirigida ao Príncipe G. Agora lhe sugeri, mentalmente, mudar o tema para guerra.

— E não é que essa ideia acaba de me ocorrer? Qual é a causa da guerra, Kardec?

— Jó, segundo o que está no item 742 d'O Livro dos Espíritos, a guerra é causada pela predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e satisfação das paixões. No estado de barbárie, os povos só conhecem o direito do mais forte, daí por que, para eles, a guerra é um estado normal. À medida que o homem progride, a guerra se torna menos frequente, porque ele evita suas causas...

— Mestre, segundo o item 745, que encerra o assunto no citado livro, que devemos pensar de quem promove a guerra em benefício próprio?

Esse é o verdadeiro culpado. Precisará de muitas existências para expiar todos os assassínios dos quais foi a causa, pois responderá por cada pessoa cuja morte tenha causado para satisfazer sua ambição.

— Obrigado, Kardec. Fica aqui seu registro.

— Paz e luz, irmão Jó. Au revoir!

Merci, cher maître. Au revoir!

 

Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 

 

 

 

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