Revista Espírita de 1868
Allan Kardec
Parte 5
Continuamos o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1868, periódico
editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por
Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de 1868 pertence a uma série iniciada em
janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando
desencarnou.
Cada parte do estudo, que é apresentado às
quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final
do texto abaixo.
Questões
preliminares
A. Os médiuns videntes podem à vontade ver os
desencarnados?
B. Como definir os fluidos espirituais?
C. Deixando o corpo que morreu, os Espíritos podem
enfrentar privações?
Texto para leitura
58. Philippeau, que fora médico na última existência, referiu-se
às impressões que tivera ao adentrar a vida espiritual, quando, apesar de
morto, materialmente falando, sentia-se vivo. “Assim se passaram três dias; eu
estava desaparecido do mundo, e me sentia mais vivo que nunca”, informou o
médico. Depois, ao tomar conhecimento dos ensinamentos espíritas, percebeu que
não mais era um homem, mas um Espírito, e que agora tinha que recomeçar, visto
que, dominado pela ambição, fizera na Terra tudo ao contrário do que devia:
“Aprendi, cursei a ciência, não por amor à ciência, mas por ambição, para ser
mais que os outros, para que falassem de mim”. “Tratei do próximo, não para o
aliviar, mas para me enriquecer. Numa palavra, fui todo para a matéria, quando
se deve ser todo para o Espírito. Quais são hoje as minhas obras? A riqueza, a
ciência; nada! nada! Tudo está para refazer.” (Págs. 143 e 144.)
59. A literatura da época, diz Kardec, impregnava-se
diariamente das ideias espíritas, de que são exemplos os folhetins A
Condessa de Monte-Cristo, publicado pela Petite Presse, e O
Calabouço da Torre dos Pinheiros, publicado pela Liberté, bem como o
artigo publicado pelo Progrès de Lyon, sob a forma de uma carta
supostamente escrita de outro mundo pelo convencional Clootz, sobre os quais a Revista
tece ligeiras considerações. (Págs. 145 a 150.)
60. Outra prova de que as ideias espíritas estavam no ar
é o discurso proferido pelo Sr. Jules Adenis, em nome da Sociedade dos Autores
Dramáticos, no enterro do Sr. Marc Michel. Segundo o jornal Temps, de 27
de março de 1868, o orador lembrou na ocasião outro escritor recentemente falecido,
Ferdinand Langlé, cuja alma – disse ele – provavelmente viera receber Marc
Michel no “limiar da eternidade”, um pensamento tipicamente espírita que não
era e não é aceito pela doutrina oficial da Igreja e das religiões
protestantes. (Págs. 150 e 151.)
61. Um interessante caso de premonição obtida em um sonho
foi relatado pelo Figaro de 12 de abril de 1868 e reproduzido pela Revista.
Dez anos depois, quando o exército francês desembarcou na Crimeia, o sonho se
realizou integralmente, sem faltar nenhuma de suas minúcias. (Págs. 151 e 152.)
62. Notícia sobre fenômenos de pancadas numa casa da
Rússia, extraída do Courrier Russe, de São Petersburgo, é transcrita
pela Revista. Todas as noites, diz o jornal russo, pelas dez horas, começavam
os exercícios, com transporte de objetos e batidas. Tendo o morador recorrido à
polícia, um soldado passou várias noites na casa, mas a desordem não cessou.
(Págs. 153 e 154.)
63. Mais um flagelo desabava em 1868 sobre as populações
árabes da Argélia, então colônia da França. Terminados os rigores do inverno,
os árabes agora morriam de fome. Em carta dirigida a Kardec, o Sr. Bourgès,
capitão da guarnição de Laghouat, diz que desde alguns anos os flagelos se
sucediam na colônia: tremores de terra, invasão de gafanhotos, cólera, tifo,
seca e fome. Comentando esse fato, Kardec lembra que os Espíritos não se
enganaram quando anunciaram que flagelos de toda a sorte devastariam a Terra. A
Argélia não era o único país em prova. Mas não se pode acusar a Providência por
essas misérias, que resultam unicamente da ignorância, da incúria, do egoísmo,
do orgulho e das paixões humanas. As gerações de agora colhem o que semearam,
porque são compostas das mesmas individualidades espirituais que renascem em
diferentes épocas e aproveitam os melhoramentos que elas próprias prepararam e
a experiência adquirida no passado. (Págs. 154 a 157.)
64. Em mensagem dada em Lyon em 2 de fevereiro de 1868,
por meio do Sr. Dubois, um instrutor espiritual, que se designou O Espírito da
Fé, voltou ao tema da regeneração da Terra e disse que o Messias que deve
presidir a esse movimento já havia nascido. Era ele o próprio Cristo? O
comunicante não diz que sim nem que não, mas afirma que cabe ao Espiritismo
remover as pedras que possam dificultar a sua passagem. Esse homem será
poderoso e forte, e numerosos Espíritos estão na Terra para aplainar o caminho
e fazer cumprir o que foi predito. “A aurora do século marcado por Deus para a
realização dos fatos que devem mudar a face deste mundo começa a surgir no
horizonte”, conclui a mensagem. (Págs. 157 a 159.)
65. A mediunidade no copo d’água é o tema inicial do
número de junho. O novo gênero de mediunidade vidente permite ver imagens em um
copo de água magnetizada, como se uma fotografia aparecesse no líquido. As
informações constantes do artigo foram fornecidas por um dos correspondentes da
Revista em Genebra. (Págs. 161 a 166.)
66. Eis como o fenômeno se realiza: I – Primeiramente é
preciso um copo liso e bem igual no fundo, no qual a água deve ser colocada até
à metade, magnetizando-a em seguida pelos processos comuns, isto é, pela
imposição das mãos. A duração da magnetização é de cerca de dez minutos na
primeira vez; depois bastam cinco minutos, podendo ser magnetizados vários
copos ao mesmo tempo. II – O médium vidente ou aquele que quer experimentar não
deve magnetizar o seu próprio copo, pois gastará fluidos que lhe são
necessários para a vidência. Para a magnetização é necessário um médium
especial. III – Feito isto, cada experimentador coloca o copo à sua frente e o
olha durante 20 ou 30 minutos no máximo, por vezes menos, conforme a aptidão.
Esse tempo só é necessário nas primeiras tentativas; depois, bastarão alguns
minutos. Durante esse tempo, uma pessoa fará uma prece para pedir o concurso
dos bons Espíritos. IV – Os que são aptos a ver distinguem a princípio, no
fundo do copo, uma espécie de nuvem; é um indício certo de que verão. Pouco a
pouco essa nuvem toma uma forma mais acentuada e a imagem se desenha à vista do
médium. V – Entre si os médiuns podem ver nos copos uns dos outros. Algumas
vezes parte do assunto aparece num copo e a outra parte em outro; por exemplo,
em caso de doenças, um verá o mal e o outro, o remédio. VI – O médium só verá
com os olhos abertos. Pelo menos é o que tem sido observado, o que denota uma
variedade na mediunidade de vidência. VII – A imagem das pessoas vivas se
apresenta no copo tão facilmente quanto a das pessoas mortas. VIII – Ocorre
nesta mediunidade o que se dá nas outras: o médium atrai a si os Espíritos que
lhe são simpáticos, e o meio de atrair os bons Espíritos é estar animado de
bons sentimentos, não perguntar senão coisas justas e razoáveis, não se servir
desta faculdade senão para o bem, e não para coisas fúteis. (Págs. 161 a 165.)
67. Comentando o assunto, Kardec adverte que, como
princípio, esta mediunidade não é nova, mas sim uma das variedades da
mediunidade de vidência. Os médiuns videntes, por este processo ou por qualquer
outro, não veem à vontade; eles só veem o que os Espíritos querem fazer ver ou
lhes permitem ver. (Págs. 165 e 166.)
68. Escrevendo sobre a fotografia do pensamento, Kardec
diz que tal fenômeno se liga ao fenômeno das criações fluídicas descrito em A
Gênese, e reproduz na Revista trechos daquela obra em que o assunto é
tratado. (Págs. 166 a 169.)
69. Eis, de forma resumida, os pontos principais contidos
no artigo: I – Os fluidos espirituais são, a bem dizer, a atmosfera dos seres
espirituais e o elemento onde os Espíritos colhem os materiais com que operam.
II – Os fluidos são também o veículo do pensamento e os Espíritos agem sobre eles,
não os manipulando como o homem manipula os gases, mas com o auxílio do
pensamento e da vontade. III – Pelo pensamento, eles imprimem a esses fluidos
essa ou aquela direção e podem combiná-los, aglomerá-los e dispersá-los. IV –
Por vezes essas transformações resultam de um ato intencional; muitas vezes são
o produto de um pensamento inconsciente, bastando ao Espírito pensar em uma
coisa para que essa coisa se produza. V – O pensamento do Espírito cria
fluidicamente os objetos de que tinha o hábito de se servir. É assim que o
fumante aparece com seu cachimbo e o militar, com suas armas. VI – Os objetos
fluídicos são tão reais para o Espírito, quanto eram materiais para os
encarnados; sua existência, no entanto, é fugaz como o pensamento. VII – Ao
criar imagens fluídicas, o pensamento se reflete no perispírito como num
espelho, e de certo modo aí se fotografa. É assim que os mais secretos
movimentos da alma repercutem no envoltório perispiritual, permitindo a outrem,
encarnado ou desencarnado, ler na alma como num livro e ver o que não é
perceptível pelos olhos do corpo. VIII – Na teoria das criações fluídicas pode
ser encontrada a explicação da mediunidade pelo copo d’água. Ora, já que o
objeto que se vê não pode estar no copo, a água deve fazer aí o papel de um
espelho, que reflete a imagem criada pelo Espírito. Essa imagem pode ser a
reprodução de uma coisa real, como a de uma criação de fantasia. (Págs. 166 a
169.)
70. A Revista registra o falecimento do Sr. Bizet, cura
de Sétif, morto aos 43 anos de idade. Os atos de caridade e de tolerância que
notabilizaram o pároco foram destacados na reportagem, à qual se segue a
transcrição de uma comunicação dada pelo Espírito do Sr. Bizet na Sociedade
Espírita de Paris, a 14 de maio de 1868, 29 dias depois do seu falecimento. Em
sua mensagem, o padre informa haver encontrado no mundo espiritual muitos
amigos cujo acolhimento simpático o ajudou a reconhecer-se em seu novo estado.
Bizet descreve, também, algo que seria inimaginável noutros tempos: o triste
espetáculo da fome entre os desencarnados – criaturas infelizes, mortas nas
torturas da fome e que ainda procuravam satisfazer, em vão, uma necessidade
imaginária. No final da comunicação, Bizet confessa que os princípios da
doutrina espírita lhe pareciam agora mais justos, porque, depois de haver
conhecido a sua teoria, via no mundo espiritual a sua mais larga aplicação
prática. (Págs. 169 a 172.)
71. O relato pertinente aos horrores da fome entre os
desencarnados mereceu de Kardec uma nota explicativa. Os Espíritos, adverte
ele, são seres como nós: têm um corpo, fluídico é verdade, mas que não deixa de
ser matéria. Deixando o invólucro carnal, certos Espíritos continuam
enfrentando as mesmas vicissitudes, durante um tempo mais ou menos longo. Tal é
a situação dos Espíritos que viveram mais a vida material que a vida
espiritual. As evocações nos mostram uma porção de Espíritos que ainda se
julgam encarnados: suicidas, supliciados, avarentos, náufragos etc. O quadro
apresentado pelo Sr. Bizet nada tem, pois, de estranho; ao contrário, vem
confirmar, por meio de um depoimento insuspeito, o que já se sabia. (Págs. 172
a 174.)
72. Sob o título de Boletim do movimento filosófico e
religioso, o número de maio do jornal Solidarité, de Paris, publicou
interessante artigo em que o autor analisa A Gênese, última obra
publicada por Kardec. As passagens principais do artigo são reproduzidas pela Revista.
(Págs. 174 a 177.)
Respostas às
questões propostas
A. Os médiuns videntes podem à vontade ver os
desencarnados?
Não. Os médiuns videntes, seja qual for o processo, não
veem à vontade os Espíritos; eles só veem o que os Espíritos querem fazer ver
ou lhes permitem ver. (Revista Espírita de 1868, pp. 165 e 166.)
B. Como definir os fluidos espirituais?
Os fluidos espirituais são a atmosfera dos seres
espirituais e o elemento onde os Espíritos colhem os materiais com que operam.
São eles o veículo do pensamento e os Espíritos agem sobre eles, não os
manipulando como o homem manipula os gases, mas com o auxílio do pensamento e
da vontade. Pelo pensamento, eles imprimem a esses fluidos essa ou aquela
direção e podem combiná-los, aglomerá-los e dispersá-los. Por vezes essas
transformações resultam de um ato intencional; muitas vezes são o produto de um
pensamento inconsciente, bastando ao Espírito pensar em uma coisa para que essa
coisa se produza. O pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos de que
tinha o hábito de se servir. É assim que o fumante aparece com seu cachimbo e o
militar, com suas armas. Os objetos fluídicos são tão reais para o Espírito,
quanto eram materiais para os encarnados; sua existência, no entanto, é fugaz
como o pensamento. (Obra citada, pp. 166 a 169.)
C. Deixando o corpo que morreu, os Espíritos podem
enfrentar privações?
Sim. Os Espíritos são seres como nós: têm um corpo,
fluídico é verdade, mas que não deixa de ser matéria. Deixando o invólucro
carnal, certos Espíritos continuam enfrentando as mesmas vicissitudes, durante
um tempo mais ou menos longo. Tal é a situação dos Espíritos que viveram mais a
vida material que a vida espiritual. (Obra citada, pp. 172 a 174.)
Observação:
Para acessar a Parte 4 deste estudo,
publicada na semana passada, clique aqui:
https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2025/03/revista-espirita-de-1868-allan-kardec_0257154438.html
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