Revista Espírita de 1868
Allan Kardec
Parte 12
Continuamos o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1868, periódico
editado e dirigido por Allan Kardec.
O estudo baseia-se na tradução feita por
Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de 1868 pertence a uma série iniciada em
janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando
desencarnou.
Cada parte do estudo, que é apresentado às
quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final
do texto abaixo.
Questões
preliminares
A. Os princípios do Judaísmo admitem o dogma católico do
pecado original?
B. Que é preciso para praticarmos o Espiritismo com
eficácia?
C. O recolhimento é necessário às sessões mediúnicas?
Texto para leitura
141. Um dos correspondentes da Revista na Antuérpia enviou
a Kardec extrato de uma obra inglesa cuja tradução, feita da 5ª edição, foi
publicada em Amsterdã em 1753, mais de cem anos antes d’O Livro dos
Espíritos. Intitulada A Amizade após a morte, contendo as cartas dos
mortos aos vivos, pela Senhora Rowe, a obra contém diversas comunicações
mediúnicas cujo conteúdo apresenta uma identidade notável com os ensinos
trazidos pelo Espiritismo. Kardec transcreve várias passagens do livro e, no
final, explica por que uma obra tão singular produzira tão pouca sensação e
caíra no ostracismo, enquanto que a doutrina espírita adquirira tantos
seguidores em tão pouco tempo. O fato era, segundo ele, a confirmação do
princípio de que as melhores ideias abortam quando vêm antes do tempo. Se o
Espiritismo tivesse vindo um século mais cedo, não teria tido nenhum sucesso.
(Págs. 325 a 329.)
142. A Revista reproduz trechos do livro A Cabana do
Pai Tomás, escrito pela Sra. Beecher Stowe, em que a ideia da reencarnação
é claramente posta, embora a obra tenha sido escrita em 1850 em um país onde o
princípio da pluralidade das existências fora há muito repelido. (Págs. 329 e
330.)
143. O jornal israelita La Famille de Jacob,
publicado em Avignon, sob a direção do rabino Benjamin Massé, em seu número de
julho de 1868, focaliza a questão do pecado original, um dos dogmas da Igreja
Católica que, segundo o periódico, está longe de se achar entre os princípios
do Judaísmo. De acordo com semelhante doutrina, que o Judaísmo repele
inteiramente, a queda e a condenação de nossos primeiros pais constituem uma
queda e uma condenação para toda a posteridade. Daí os males inumeráveis
sofridos pelo gênero humano, os quais teriam sido sem fim, sem a mediação de um
Redentor, tão incompreensível quanto o crime e a condenação de Adão. Assim como
o pecado de um só foi cometido por todos, a expiação de um só será a expiação
de todos. Perdida por um só, a humanidade será salva por um só. A redenção é a
consequência inevitável do pecado original. Ora, se Adão pecou, só a ele
pertence a responsabilidade de seu erro; só a ele a proscrição, a expiação e a
redenção por meio de esforços pessoais. Nós, que vimos após ele, nascemos com a
nossa pureza e a nossa inocência, de que somos os únicos donos, os únicos
depositários, e cuja perda ou conservação não dependem absolutamente senão de
nossa vontade e das determinações do nosso livre-arbítrio. (Págs. 330 a 332.)
144. Uma carta enviada à Revista por um de seus
correspondentes, capitão do exército na África, diz que o Espiritismo se
espalhava no norte da África e ganharia o centro, se os franceses para ali se dirigissem.
(Págs. 332 a 334.)
145. Relatório publicado pelo Quatterly Journal of
Psychological Medicine revela que uma menina que contava então menos
de cinco anos de idade havia substituído a língua falada em sua casa por um
idioma diferente por ela mesma criado. Até a idade de três anos a menina não
sabia falar, exceto as palavras “papa” e “mamã”. Ao se aproximar dos quatro
anos, sua língua se desatou de repente, mas de tudo quanto diz só as duas
palavras que aprendeu a princípio foram tiradas da língua inglesa. Desolados
com isso, seus pais tentaram ensinar-lhe o inglês, mas ela a isso se recusa
terminantemente. (Págs. 334 e 335.)
146. Tendo sido o fato discutido na Sociedade Espírita de
Paris, um Espírito disse que aquela menina, em sua última existência na Terra,
tivera a ideia de criar uma língua universal, a fim de permitir aos homens de
todas as nações entender-se e facilitar desse modo as relações humanas. A
língua inglesa lhe era desconhecida e, ao ouvir ingleses falar, achara sua
língua desagradável e a detestara. Uma vez na erraticidade, sua ideia persistiu
e foi assim que compôs um vocabulário todo particular. Ao encarnar-se entre os
ingleses, tomou a decisão de não falar a língua inglesa, decisão que se
mantinha em vida porque ela era ajudada por seu guia espiritual, que velava
para que o fenômeno se verificasse, a fim de chamar a atenção dos homens. Desse
modo, ao mesmo tempo que demonstrava seu desprezo pela língua inglesa, cumpria
a missão de provocar as pesquisas psicológicas. (Págs. 335 a 337.)
147. Um curioso fenômeno em que uma música tocada por um
ser invisível se fazia ouvir no ambiente de uma sala de aula é relatado em
carta por um jovem de Mulhouse. A música parecia provir de uma harpa tocada com
delicadeza e sentimento e todos a ouviam. Ela parecia vir de um ponto
determinado, mas que mudava constantemente na sala. Quando se apontava com o
dedo o lugar de onde o som provinha, ele se fixava noutro ponto ou se fazia
ouvir em lugares diferentes. Comentando o caso, Kardec adverte que devemos,
antes de atribuir um fato à intervenção dos Espíritos, estudar cuidadosamente
todas as circunstâncias. Aquele tinha, porém, todos os caracteres de uma
manifestação e provavelmente fora produzido por um Espírito simpático ao jovem,
com o fito de o trazer às ideias espíritas e de chamar a atenção de outras
pessoas para estas espécies de fenômenos. (Págs. 337 a 339.)
148. Comentando obra do Sr. Chassang a respeito do efeito
do espiritualismo na arte e na poesia, Octave Sachot, do jornal Patrie,
diz que sua tese é toda estética. O que ele entende provar, diz o crítico, é
que a literatura e a arte não estão menos interessadas que a vida moral na
vitória das doutrinas espiritualistas. Ao contrário do materialismo, que
despoetiza a vida e desencanta o homem, tirando-lhe toda a esperança, as
doutrinas espiritualistas abrem em todos os sentidos a vida às nobres
aspirações e entretêm o homem com o futuro e a imortalidade. (Págs. 339 a 342.)
149. Kardec recebeu da Síria uma carta muito interessante
sobre o estado moral dos povos do Oriente e os meios de cooperar em sua
regeneração. O missivista vê no Espiritismo uma poderosa alavanca para combater
os preconceitos que se opõem à emancipação moral e intelectual de seus compatriotas.
Visando concorrer para essa obra, ele concebeu um projeto que, valendo-se do
Codificador, submeteu à apreciação dos bons Espíritos. Levado o assunto à
Sociedade de Paris, o Espírito de Clélie Duplantier deu importante comunicação,
cujos principais pontos resumimos: I – Ter a razão e a verdade, trabalhar
visando o bem geral e sacrificar o bem-estar particular ao interesse de todos é
bom, mas não é suficiente. II – Não se podem dar de um golpe todas as
liberdades a um escravo modelado pelos séculos a um jugo severo. Só
gradualmente e medindo a extensão das margens aos progressos inteligentes e
sobretudo morais da humanidade é que a regeneração poderá realizar-se. III –
Todos quantos desejam utilmente concorrer ao trabalho regenerador devem, pois, antes
de tudo, preocupar-se com a natureza dos elementos sobre os quais é possível
agir e combinar suas ações em razão do caráter, dos costumes e das crenças
daqueles a quem querem transformar. IV – No Oriente, para atingir o objetivo
que os Espíritos de escol almejam na Europa, é necessário seguir uma marcha
idêntica quanto ao conjunto, mas diferente nos detalhes, isto é, semeando a
instrução, desenvolvendo a moralidade, combatendo os abusos consagrados pelo
tempo, chegar-se-á a um mesmo resultado, seja onde for, mas a escolha dos meios
deverá ser determinada pelo gênio particular daqueles a quem se dirigirem. V –
Não se instrui o homem batendo de frente os seus preconceitos, mas
contornando-os, modificando o mobiliário de seu espírito de maneira graduada, para
que ele chegue por si mesmo a renunciar aos erros pelos quais antes teria
sacrificado a vida. VI – Não se impõem ideias novas a um povo. Para que ele as
aceite sem perturbação lamentável, é preciso habituá-lo pouco a pouco,
fazendo-o reconhecer suas vantagens. Há muito a fazer no Oriente, mas a ação do
homem sozinha seria impotente para operar uma transformação radical. É-lhe
necessário o concurso dos Espíritos. (Págs. 342 a 344.)
150. Em mensagem transmitida na Sociedade de Paris em 23
de outubro de 1868, um Espírito analisa a questão da prática do Espiritismo e
diz que, para a exercer com eficácia, é preciso estar bem penetrado da
filosofia espírita e também de sua parte moral, que é fácil de conhecer, mas é
a mais difícil de praticar, porque só o exemplo pode fazer bem compreendê-lo.
“Fareis compreender melhor a virtude dando exemplo do que a definição”,
acrescentou o comunicante, afirmando que a parte filosófica apresenta mais
dificuldades para ser compreendida e, por isso, requer mais esforços. “Os adeptos
que buscam ser militantes – acrescenta o Espírito – devem pôr-se à obra para
bem a conhecer, pois é a arma com a qual combaterão com mais sucesso.” (Págs.
344 a 346.)
151. Mensagem transmitida em 16 de outubro de 1868 por De
Courson (Espírito) traz oportunas reflexões sobre o recolhimento necessário às
sessões mediúnicas. Segundo ele, o recolhimento dos encarnados, que qualifica
de silêncio, está muito longe de aproximar-se do recolhimento dos desencarnados
presentes. É que o corpo observa o silêncio, mas a alma não respeita e mesmo
perturba, com pensamentos diversos, o recolhimento dos que a rodeiam. (Págs.
346 e 347.)
Respostas às
questões propostas
A. Os princípios do Judaísmo
admitem o dogma católico do pecado original?
Não. No jornal
israelita La Famille de Jacob, publicado em Avignon, sob a direção do
rabino Benjamin Massé, em seu número de julho de 1868, essa questão foi
focalizada e, segundo o periódico, ela está longe de se achar entre os
princípios do Judaísmo, que a repele inteiramente. Segundo o Judaísmo, se Adão
pecou, só a ele pertence a responsabilidade de seu erro; só a ele a proscrição, a expiação e a redenção por meio
de esforços pessoais. (Revista Espírita de 1868, págs. 330 a
332.)
B. Que é preciso para praticarmos o Espiritismo com
eficácia?
Segundo mensagem transmitida na Sociedade de Paris em 23
de outubro de 1868, é preciso, para isso, estar bem compenetrado da filosofia
espírita e de sua parte moral, que é fácil de conhecer, mas é a mais difícil de
praticar, porque só o exemplo pode fazer bem compreendê-lo. “Fareis compreender
melhor a virtude dando exemplo do que a definição”, acrescentou o comunicante,
afirmando que a parte filosófica apresenta mais dificuldades para ser
compreendida e, por isso, requer mais esforços. “Os adeptos que buscam ser
militantes – acrescenta o Espírito – devem pôr-se à obra para bem a conhecer,
pois é a arma com a qual combaterão com mais sucesso.” (Obra citada, págs. 344
a 346.)
C. O recolhimento é necessário às sessões mediúnicas?
Sim. Mas, em mensagem transmitida em 16 de outubro de
1868, De Courson (Espírito) faz algumas oportunas reflexões sobre o
recolhimento necessário às sessões mediúnicas. Segundo ele, o recolhimento dos
encarnados, que ele qualifica de silêncio, está muito longe de aproximar-se do
recolhimento dos desencarnados presentes. É que o corpo observa o silêncio, mas
a alma não respeita e mesmo perturba, com pensamentos diversos, o recolhimento
dos que a rodeiam. (Obra citada, págs. 346 e 347.)
Observação:
Para acessar a Parte 11 deste estudo,
publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2025/05/revista-espirita-de-1868-allan-kardec.html