sábado, 31 de outubro de 2015

A escrita, a leitura e os jovens


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Bom dia, leitora!
A você que é professora, faço um desafio: peça a seus alunos, a partir da oitava série, que leiam qualquer romance meu, escrevam pequeno comentário sobre a obra e entreguem-lhe o escrito trinta dias depois...
De dez alunos que receberem a tarefa, sete dirão que não conseguiram ler tudo, pois estavam sem tempo. Nos fins de semana, foram ao clube, ao cinema, ao parque, jogaram videogame com os amigos, etc. Nos dias úteis, participaram de jogos eletrônicos, jogaram bola, assistiram ao programa do Chaves, etc. etc. etc.
E os três restantes, ao serem perguntados se leram o livro, responderão: "Livro? Que livro?"
É duro dizer isso, mas nossos alunos não gostam de ler os clássicos.
Por isso, professora, sugiro-lhe que jamais imponha a seus alunos a leitura da obra a ou da obra b. Comece pelas histórias em quadrinho. Uma boa sugestão é a leitura da revista Chico Bento. Sem imposição...
Ou peça-lhes que leiam e comentem um poema, como o abaixo, escrito especialmente para esta ocasião, e consultem o dicionário para leitura e anotação dos significados das palavras por eles desconhecidas.
Só não se esqueça de lhes dizer que a tarefa vale ponto...

A LEBRE, O TEMPO E O JOVEM (jlo)

A lebre corre pela campina,
Para e senta nas patas traseiras.
E, olhando fixamente o horizonte,
Posa indiferente às ribanceiras...

Ela não faz ideia de haver
Mundo mui além do monte vasto,
E no ignorar do seu devir,
Sua imagem molda-se à do pasto...

O interregno do movimento
Na vasta imensidão da campina
Revela-lhe a paz da natureza
Antes do cair da chuva fina.

De repente, ela corre ligeira
Em direção à vasta montanha.
Vai procurar abrigo e família
Nessa paisagem bela e tamanha.

Em permanente e atenta vigília,
A lebre vive o tempo do agora
E sai da toca para pastar
Os brotos do tempo bom lá fora.

Das forças telúricas que estrugem,
Ela não duvida do poder.
Os elementos da natureza
Agitam também todo o seu ser.

Assim deve ser a nossa vida,
Confiantes sempre no Senhor,
Estejamos hoje vigilantes
E o nosso seja o monte do amor.

Que a oração seja o nosso escudo
No abrigo do campo ou da cidade
Que faça ressurgir a esperança
Nesse tempo bom da mocidade.

Na aula seguinte, como sugestão, peça-lhes que leiam o que escreveram e explique-lhes o que é estrofe, verso, rima e metrificação. Em seguida, proponha-lhes produzir um texto inspirado no poema. Enfim, se bem explorado, o texto poético tornar-se-á um agradável mote para diversas tarefas e descoberta de vocações literárias em duas ou três aulas.
Lembra-se do que disse o rei Pelé ao fazer seu milésimo gol no Vice da Gama, meu caro leitor? "Vamos cuidar das nossas crianças!"
Isso foi dito há cerca de 45 anos. Se tivéssemos seguido seu conselho e investido na educação que não as oprimisse, mas que lhes transmitisse valores espirituais junto com os intelectuais, certamente não haveria, em nossos dias, tantos jovens trocando os estudos pelo tráfico de drogas e vidas úteis pelo vil metal.






sexta-feira, 30 de outubro de 2015

No Invisível (16)



Estudamos semanalmente no Centro Espírita Nosso Lar, de Londrina (PR), o livro “No Invisível”, um dos clássicos do Espiritismo, de autoria de Léon Denis. São duas as turmas de estudo, uma na terça à noite, a outra na quinta-feira à tarde.
Reproduzimos, em seguida, o texto do módulo concluído nesta semana, cuja publicação tem por finalidade proporcionar, a quem se interessar, a oportunidade de acompanhar o mencionado estudo.

Questões para debate

A. Qual é, segundo o Espiritismo, o nosso objetivo, o nosso destino?
Nosso objetivo na vida, o nosso destino, é viver e progredir incessantemente, através do infinito dos espaços e do tempo, a fim de nos iniciarmos sempre e cada vez mais nas maravilhas do Universo, para cooperarmos sempre mais intimamente na obra divina. Compenetrados destas verdades, saberemos desprender-nos das coisas materiais e elevar bem alto as nossas aspirações. Sentir-nos-emos ligados aos nossos companheiros de jornada, na grande romaria eterna, ligados a todas as almas pela cadeia de atração e de amor que a Deus se prende e a todos nos mantém na unidade da vida universal. Então as mesquinhas rivalidades, os odiosos preconceitos terão cessado para sempre e todas as reformas, todas as obras de solidariedade receberão vigoroso impulso. (No Invisível - O Espiritismo experimental: As leis - XI - Aplicação moral e frutos do Espiritismo.)

B. Em que, exatamente, consiste o sono?
O sono outra coisa não é que a evasão da alma da prisão do corpo. A alma se desprende durante o sono, reintegra-se em sua consciência amplificada e entra na posse de si mesma. Seu olhar mergulha nos recessos obscuros de seu passado, e aí vai surpreender todas as aquisições mentais, todas as riquezas acumuladas no curso de sua evolução, que a reencarnação havia amortalhado. O que o cérebro concreto era impotente para exprimir, seu cérebro fluídico o patenteia, o irradia com tanto mais intensidade quanto mais completo é o desprendimento. (Obra citada - O Espiritismo experimental: Os fatos - XII - Exteriorização do ser humano. Telepatia. Desdobramento. Os fantasmas dos vivos.)

C. A ação da alma, sem o concurso dos sentidos, pode revelar-se mesmo no estado de vigília?
Sim. Essa ação se patenteia nos fenômenos da transmissão do pensamento e na telepatia. As vibrações do nosso pensamento, projetadas com intensidade volitiva, se propagam ao longe e podem influenciar organismos em afinidade com o nosso, e depois, suscitando uma espécie de ricochete, voltar ao ponto de emissão. Assim, duas almas, vinculadas pelas ondulações de um mesmo ritmo psíquico, podem sentir e vibrar em uníssono. (Obra citada - O Espiritismo experimental: Os fatos - XII - Exteriorização do ser humano. Telepatia. Desdobramento. Os fantasmas dos vivos.)

Texto para leitura

454. A alma humana aprenderá a conhecer-se em sua natureza imortal, em seu futuro eterno. Espíritos, de passagem por esta Terra, compreenderemos que o nosso destino é viver e progredir incessantemente, através do infinito dos espaços e do tempo, a fim de nos iniciarmos sempre e cada vez mais nas maravilhas do Universo, para cooperarmos sempre mais intimamente na obra divina.
455. Compenetrados destas verdades, saberemos desprender-nos das coisas materiais e elevar bem alto as nossas aspirações. Sentir-nos-emos ligados aos nossos companheiros de jornada, na grande romaria eterna, ligados a todas as almas pela cadeia de atração e de amor que a Deus se prende e a todos nos mantém na unidade da vida universal. Então as mesquinhas rivalidades, os odiosos preconceitos terão cessado para sempre. Todas as reformas, todas as obras de solidariedade receberão vigoroso impulso. Acima das pequenas pátrias terrestres veremos desdobrar-se a grande pátria comum: o céu iluminado.
456. De lá nos estendem os braços os Espíritos superiores. E todos, através das provas e das lágrimas, subimos das obscuras regiões às culminâncias da divina luz. O carreiro da misericórdia e do perdão está sempre franqueado aos culpados. Os mais decaídos podem-se reabilitar, pelo trabalho e pelo arrependimento, porque Deus é justiça, Deus é amor. Assim, a revelação dos Espíritos dissipa as brumas do ódio, as incertezas e os erros que ainda nos envolvem. Faz resplandecer sobre o mundo o grande sol da bondade, da concórdia e da verdade!
457. Segunda Parte. Os fatos - XII - Exteriorização do ser humano. Telepatia. Desdobramento. Os fantasmas dos vivos - O homem é para si mesmo um mistério vivo. De seu ser não conhece nem utiliza senão a superfície. Há em sua personalidade profundezas ignoradas em que dormitam forças, conhecimentos, recordações acumuladas no curso das anteriores existências, um mundo completo de ideias, de faculdades, de energias, que o envoltório carnal oculta e apaga, mas que despertam e entram em ação no sono normal e no sono magnético. Esse é o mistério da psique, isto é, da alma encerrada com seus tesouros na crisálida de carne, e que dela se evade em certas horas, se liberta das leis físicas, das condições de tempo e de espaço, e se afirma em seu poder espiritual.
458. Tudo na Natureza é alternativa e ritmo. Do mesmo modo que o dia sucede à noite e o verão ao inverno, a vida livre da alma sucede à estância na prisão corpórea. Mas a alma se desprende também durante o sono; reintegra-se em sua consciência amplificada, nessa consciência por ela edificada lentamente através da sucessão dos tempos; entra na posse de si mesma, examina-a, torna-se objeto de admiração para ela própria. Seu olhar mergulha nos recessos obscuros de seu passado, e aí vai surpreender todas as aquisições mentais, todas as riquezas acumuladas no curso de sua evolução, e que a reencarnação havia amortalhado.
459. O que o cérebro concreto era impotente para exprimir, seu cérebro fluídico o patenteia, o irradia com tanto mais intensidade quanto mais completo é o desprendimento. O sono, em verdade, outra coisa não é que a evasão da alma da prisão do corpo. No sono ordinário o ser psíquico se afasta pouco; não readquire senão em parte a sua independência, e quase sempre fica intimamente ligado ao corpo. No sono provocado, o desprendimento atinge todas as gradações.
460. Sob a influência magnética, os laços que prendem a alma ao corpo se vão afrouxando pouco a pouco. Quanto mais profunda é a hipnose, o transe, mais se desprende e se eleva a alma. Sua lucidez aumenta, sua penetração se intensifica, o círculo de suas percepções se dilata. Ao mesmo tempo as zonas obscuras, as regiões ocultas do “eu” se ampliam, se esclarecem e entram em vibração: todas as aquisições do passado ressurgem. As faculdades psíquicas – vista a distância, audição, adivinhação – entram em atividade.
461. Com os estados superiores da hipnose chegamos aos últimos confins, aos extremos limites da vida física. O ser já vive então da vida do espírito e utiliza as suas capacidades. Mais um grau, e o laço fluídico que liga a alma ao corpo se despedaçaria. Seria a separação definitiva, absoluta – a morte.
462. Vamos indicar alguns dentre os fatos à vista dos quais se pode estabelecer que a alma tem uma existência própria, independente do corpo, e possui um conjunto de faculdades que se exercem sem o concurso dos sentidos físicos.
463. Em primeiro lugar, durante o sono normal quando o corpo descansa e os sentidos estão inativos, podemos verificar que um ser vela e age em nós, vê e ouve através dos obstáculos materiais, paredes ou portas, e a qualquer distância. No sonho sucedem-se imagens, desenrolam-se quadros, ouvem-se vozes, travam-se conversações com diversas pessoas. O ser fluídico se desloca, viaja, paira sobre a Natureza, assiste a uma multidão de cenas, ora incoerentes, ora definidas e claras, e tudo isso se realiza sem a intervenção dos sentidos materiais, estando fechados os olhos, e os ouvidos nada percebendo.
464. Em certos casos, a visão psíquica durante o sono caracteriza-se por uma nitidez e exatidão idênticas às da percepção física no estado de vigília. Os testemunhos de experimentadores conscienciosos e esclarecidos o demonstram.
465. O Sr. Varley, engenheiro-chefe dos Telégrafos da Grã-Bretanha, em seu depoimento por ocasião da investigação empreendida pela Sociedade de Dialética de Londres, refere o seguinte fato: “Achando-se em viagem, apeou-se, noite alta, em um hotel, recolheu-se ao aposento e adormeceu. Durante o sono viu, em sonho, o pátio desse hotel e notou que nele trabalhavam uns operários. Tendo-se a si mesmo sugerido a ideia de despertar, logo que se levantou pôde verificar a realidade do sonho. A disposição do pátio e o lugar ocupado pelos operários eram exatamente como o tinha visto em espírito. Ora, era a primeira vez que ele se achava em tal lugar.”
466. Camille Flammarion, em seu livro “O Desconhecido e os Problemas Psíquicos”,  cita grande número de casos de visão a distância durante o sono. Eis aqui alguns deles: “O Sr. G. Parent, de Wiége (Aisne), assiste, em sonho, a um incêndio que destrói a herdade de um de seus amigos, em Chevennes. O Sr. Palmero, engenheiro de pontes e calçadas em Toulon, é informado, por um sonho de sua mulher, da chegada inesperada de seu pai e de sua mãe, que ela vê, no mar, em um paquete. O Dr. P., formado em Direito por Philippeville, refere o sonho de uma dama de companhia de amigas suas. No sonho, ela viu um naufrágio que ocasionou a perda de um navio, e de umas cem pessoas, fato que foi confirmado, no dia seguinte, em todas as suas particularidades. O Sr. Lee, filho do bispo protestante de Iowa (Estados Unidos), viu em sonho, à distância de mais de 5 quilômetros, seu pai rolar de uma escada. O fato é atestado por várias testemunhas e, entre outras, pelo Sr. Sullivan, bispo de Algowa. O Sr. Carrau, de Angeres, viu morrer seu irmão em S. Petersburgo, e os filhos, de joelhos, em torno do leito de morte. Um francês, mecânico em Foutchéou, viu uma noite seu filhinho, que havia deixado em França, morto de crupe, estendido em um móvel encarnado. Narrou o seu sonho a um amigo, que se pôs a rir de sua credulidade. A primeira carta que recebeu era de sua mulher e comunicava-lhe o falecimento nas mesmas condições que ele vira em sonho. O Sr. Orieux, inspetor-chefe das estradas do Loire inferior, achando-se em Cartagena, assiste em sonho às exéquias de sua melhor amiga, cujo trespasse ignorava, a qual residia em Nantes. O Sr. Jean Dreuilhe, de Paris, percebe, em sonho, a queda mortal que dera, numa escada, o General de Cossigny, amigo de sua família. O Marechal Serrano anuncia em Madrid a morte inesperada de Afonso XII, no Prado, morte que ele havia percebido em sonho.”
467. Eis aqui um caso respigado nos “Proceedings” (processos verbais da Sociedade de Investigações Psíquicas de Londres): “A Sra. Broughton acordou certa noite, em 1844, em Londres e despertou seu marido para lhe dizer que um grave acontecimento ocorrera em França. Ela havia sido testemunha, em sonho, do desastre de carruagem de que foi vítima o Duque de Orleães. Tinha visto o duque estendido em um leito; amigos, membros da família real, chegavam a toda a pressa; o rei e a rainha apareceram e assistiram, chorando, aos últimos momentos do duque. Logo que amanheceu, ela anotou em um diário de lembranças as particularidades de tal sucesso. Passava-se isso antes da invenção da telegrafia, e só dois dias depois é que o “Times” noticiou a morte do duque. Visitando Paris, algum tempo depois, ela viu e reconheceu o lugar onde se dera o acidente.”
468. Fenômenos da mesma ordem se produzem no sono magnético. Camille Flammarion cita vários exemplos, entre outros o da esposa de um coronel de Cavalaria que, em estado magnético, presencia o suicídio de um oficial, a 4 quilômetros de distância.
469. O Espírito de certas pessoas continua a trabalhar durante o sono, e com o auxílio dos conhecimentos adquiridos no passado chega a realizar obras consideráveis. Disso se podem citar exemplos célebres: Voltaire declara ter, uma noite, concebido em sonho um canto completo da “Henriade”. La Fontaine compôs, sonhando, a fábula dos “Dois Pombos”. Coleridge adormeceu lendo e, ao despertar, lembrou-se de haver composto, enquanto dormia, duzentos versos que apenas teve o trabalho de escrever. Os compositores Bach e Tartini ouvem, durante o sono, a execução de sonatas que não haviam conseguido terminar de modo que lhes satisfizesse. Apenas despertos, as escrevem de memória.
470. Em todos esses casos, a atividade intelectual e a aptidão de trabalho parecem maiores no sono que durante a vigília. Às vezes a alma, desligada dos liames corporais, comunica, por meio do sonho, com outras pessoas, vivas ou falecidas, e delas recebe indicações e avisos.
471. O correspondente de “Le Matin”, de Paris, Sr. Scarfoglio, enviado especialmente a Messina, por ocasião do terremoto que a assolara, daí telegrafava, em 5 de janeiro de 1909, a esse jornal: “... Ainda hoje foram retiradas muitas pessoas vivas das ruínas. A esse propósito convém assinalar um caso extremamente comovedor, que ocorreu esta manhã. Um jovem marinheiro do encouraçado Regina Elena era noivo de uma jovem, que se achava soterrada nos escombros de uma casa. Tendo obtido do comandante autorização para trabalhar, com alguns companheiros, no salvamento da sua noiva e das outras pessoas que ali se achavam igualmente soterradas, o marinheiro fizera obstinadas e infrutíferas pesquisas durante quatro dias. Hoje, no auge do desespero e esgotado de cansaço, adormeceu. De repente sonhou com sua noiva, que lhe dizia: “Estou viva. Acode! Salva-me!” Imediatamente despertou, e pediu com instância aos companheiros que recomeçassem a escavação pela última vez. Seus esforços foram milagrosamente coroados de êxito, pois que ao fim de algumas horas encontrou a noiva e retirou-a viva das ruínas. A moça, que se achava em estado comatoso, apenas salva, recuperou os sentidos e estendeu os braços ao marinheiro, abraçando-o com delírio. Referiu que um sono profundo se havia dela apoderado logo após a catástrofe e sonhara que falava com o noivo algumas horas antes do salvamento. Aí está um singular e comoventíssimo caso de telepatia. A moça, com lágrimas nos olhos, agradeceu a todos os seus salvadores e assegurou que em breve desposaria o seu noivo e salvador.”
472. Os “Annales des Sciences Psychiques”, de outubro de 1901, publicaram a descrição de um sonho, referido em 18 de abril de 1908 pelo cura de Domdidier, cantão de Friburgo (Suíça), ao Sr. Rolline, que realizava nessa localidade uma conferência, descrição que este por sua vez transmitiu ao Sr. Camille Flammarion. e cujo resumo é o seguinte: “Em 1859, o Sr. Doutax, de 18 anos de idade, acabava de se deitar, depois de haver preparado a sua tese de Filosofia para o dia seguinte. Adormecido, teve ele uma visão estranha, que duas vezes seguintes se lhe apresentou. Viu seu pai, que residia a 24 quilômetros de distância e que, da primeira vez, lhe disse: ‘Meu caro José, tua pobre irmã Josefina está, em Paris, a expirar’, e da segunda vez: ‘Meu caro José..., mas tua mãe ainda não recebeu a dolorosa notícia.’ No dia seguinte, o Sr. Doutax ia a caminho do liceu, quando lhe foi entregue uma carta de seu pai, com a exata confirmação do que ouvira à noite, durante o sonho.”
473. A revista “Zeitschrift fur Spiritismus”, de 9 de julho de 1910, cita o seguinte sonho comunicado pelo Conde Henri Sterkij: “Um rico proprietário dos subúrbios de Tarnoff perdeu, durante um passeio, 600 florins. Parando numa estalagem, referia esse desagradável incidente ao rendeiro Kuhusteiner, quando um almocreve(1), chamado Kosminter, que acabava de entrar, lhe perguntou em que circunstâncias perdera aquela soma. Não lhe deu resposta e continuou a conversar com o estalajadeiro, quando Kosminter, espontaneamente, lhe entregou a bolsa perdida. Admirado e reconhecido, o proprietário lhe deu 300 florins como recompensa. Mas, semanas depois, Kosminter lhe apareceu, ensanguentado, em sonho, e acusou o estalajadeiro de o haver assassinado. Outras duas semanas mais tarde o mesmo sonho se reproduziu, mas com maiores particularidades, e à terceira vez, induzido pela precisão extraordinária das revelações, denunciou o caso à justiça. Kuhusteiner foi preso e, provado o crime, condenado à morte.”
474. A ação da alma, a distância, sem o concurso dos sentidos, se revela mesmo no estado de vigília, nos fenômenos da transmissão de pensamento e da telepatia. Sabemos que cada ser humano possui um dinamismo próprio, um estado vibratório que varia ao infinito, conforme os indivíduos, e os torna aptos a produzir nos outros e perceberem eles próprios sensações psíquicas extremamente variadas.
475. As vibrações de nosso pensamento, projetadas com intensidade volitiva, se propagam ao longe e podem influenciar organismos em afinidade com o nosso, e depois, suscitando uma espécie de ricochete, voltar ao ponto de emissão. Assim, duas almas, vinculadas pelas ondulações de um mesmo ritmo psíquico, podem sentir e vibrar em uníssono.
476. Às vezes, um diálogo misterioso se trava, de perto ou de longe; permutam-se pensamentos, demasiado sutis para que possam ser expressos por palavras; imagens; temas de conversação, chamados, flutuam ou voam na atmosfera fluídica entre essas almas que, apesar da distância, se sentem unidas, penetradas de um mesmo sentimento, e fazem irradiar de uma a outra os eflúvios de sua personalidade psíquica.
477. Os que se amam, assim se correspondem muitas vezes: permutam suas alegrias e tristezas. Mas o coração tem seus segredos que não revela de bom grado. Uma mãe ouve através do espaço os apelos de seu filho infortunado. Somos assediados de mil impressões, provenientes dos pensamentos longínquos dos que nos são caros.

(1) Almocreve: homem que se ocupa em conduzir bestas de carga; recoveiro, carregador, arrocheiro.


Nota:

Se o leitor quiser acessar os módulos anteriores, eis os links:



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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Pérolas literárias (122)


Infância
 
Antônio Furtado

Esse vaso de fina porcelana
Que cintila,
Antes de erguer-se, em forma soberana,
Era simples argila.

O rio que o sol beija em ondas de ouro,
Nas planícies amenas,
Era no nascedouro
Um fio de água apenas.

A laranjeira, em pomos tentadores,
Que se eleva e domina,
Antes de ser perfume, seiva e cores,
Era pobre semente pequenina.

O homem que exprime as glórias da consciência
Com o verbo claro e terso,
Antes de ser o herói da inteligência,
Era uma flor no berço.

Se almejas profligar o mal sem medo,
Na suprema reentrância,
Educa, meu amigo, enquanto é cedo,
O coração da infância.


O poeta Antônio Furtado nasceu em Quixeramobim, Ceará, em 14 de junho de 1893, e faleceu em Fortaleza, no mesmo Estado, em 26 de agosto de 1937. Poeta, crítico, contista e jurista, concluiu o bacharelado na Faculdade de Direito do Ceará em 1916, da qual veio a ser professor catedrático. O poema acima integra o livro Antologia dos Imortais, obra mediúnica psicografada pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.
 

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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Pílulas gramaticais (176)


O verbo haver, quando significa “acontecer”, “existir”, “realizar-se” e “fazer”, fica sempre na forma singular.
Exemplos:
Haverá muitos encontros como este. (E não: “Haverão muitos encontros como este”.)
Havia muitas pessoas na fila.
Há meses que não o via.
Houve duas guerras mundiais.
Constitui, pois, erro grosseiro dizer: “Houveram muitas pessoas na festa”, como costumamos ouvir até em palestras.

Igual procedimento devemos observar com relação ao verbo fazer, quando indicativo de tempo, ocasião em que ele ficará sempre na forma singular.
Exemplos:
Faz três horas que cheguei. (E não: “Fazem três horas que cheguei”.)
Fazia cinco anos que não via mamãe.
Em janeiro fará 15 anos que não vou à cidade natal.
É erro grave, portanto, dizer: “Faziam anos que não via meus avós”.

*

Alguém nos pergunta que relação há entre velório e guardamento.
A palavra guardamento significa: ato ou efeito de guardar; vigilância, cuidado.
Com o significado de velório – ato de velar, com outros, um defunto, i. e., de passar a noite em claro na sala onde se encontra exposto um morto – o vocábulo guardamento é usado somente no Paraná. Trata-se, pois, de um brasileirismo, mas restrito aos paranaenses.


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terça-feira, 27 de outubro de 2015

Nunca deixarão de ser


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

(Mensagem aos irmãos que neste momento não se encontram por aqui)

O filho amado, o pai querido, a mãe carinhosa, o irmão, o amigo... todos continuarão a caminhada e também continuarão a ser amados. O desenlace terreno é somente mais uma etapa para o espírito e, portanto, nenhuma conquista se perde, muitos menos amor se desfaz. O sentimento amoroso continua e quando os nossos olhos se encontrarem com os dos nossos amores quanta felicidade será sentida. Apenas por enquanto dimensões diferentes, mas todos existentes na imensa variedade da vida.
Tão abençoado é o sentimento que nos conecta com o tempo, o lugar e o coração e com esse sentimento sempre se é possível estar bem perto... junto de quem o amor é a maior sensação. Então, muito preciosos devem ser os pensamentos criados e atenção também com os direcionados aos espíritos que nos são queridos. A revolta perturba; a tristeza exaure; a indignação enfraquece, mas a saudade amorosa pode tanto ajudar e essas vibrações acometem quem as sente e para quem são endereçadas.
Todos vivem o ciclo natural da vida; a forma como o atravessam é que fará toda a diferença. Por isso tão maravilhoso é viver em paz, com respeito, amor, bondade, buscando sempre o aprimoramento. Quando bons atos e sentimentos são vivenciados, na hora em que voltarmos para a outra dimensão ou se os nossos queridos companheiros retornarem antes de nós, apenas a saudade amorosa ficará conosco e estará com eles certos de que num momento preciso nos reencontraremos, já que somos eternos. Devemos observar mais o andamento de nossa vida para sentimentos sofredores não se tornarem constantes acarretando infelizes atrasos.
O sorriso, o jeito incomparável, as palavras usadas, o olhar lançado, a maneira de falar e de realizar alguma atividade, as lembranças engraçadas e felizes serão eternas, pois o ente querido só por enquanto não está entre nós, mas ele vive e segue o caminho para o seu aperfeiçoamento e maior felicidade.
E a prece existe e é um condutor de luz, bem-estar e proteção que, tanto daqui para lá ou vice-versa, totalmente restaura e fortalece. Logo, tão mais benéfico reconhecer e agradecer as belas oportunidades recebidas... como por determinado tempo ter vivido com esses espíritos muito amados. Quando se eleva o sentimento, as ocasiões passam a ser melhor compreendidas e vividas e a prece é um recurso abençoado em todas as dimensões.
Os nossos amores nunca deixarão de existir nem de ser por estarem em outro plano... pai, mãe, avô, avó, tio, tia, filho, filha, amigo, esposa, marido... todos em comunhão na vida. E quando sentirmos grande saudade ou mesmo pequenininha, nós, por enquanto, aqui, simplesmente pensaremos neles com o amor mais doce e verdadeiro e com o carinho envolto na ternura suave e aconchegante; então, eles, na outra dimensão, receberão o sentimento amoroso e reconfortante e se sentirão felizes e amados e, naturalmente, retribuirão com o semelhante sentimento que nos poderá chegar como um canto de pássaro, um sonho feliz, uma sensação inteira de harmonia, um bem-estar inexplicável... e nos poderá ainda chegar como aquele abraço que não vemos, mas completamente sentimos. E mais conscientes, agradeceremos a maravilhosa emoção de amá-los e, na mesma proporção, de sermos amados por eles, espíritos conhecidos como nossos amores que apenas, agora, se encontram em outra dimensão.

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/



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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

As mais lindas canções que ouvi (161)


Bijuteria

Chico Roque e Carlos Colla


Quando a noite cai é que eu sinto a falta que você me faz,
Saudade que não passa e nem me deixa em paz,
A sombra de um amor que já brilhou demais.

Você foi pra mim
A coisa mais bonita que me aconteceu.
Não pode imaginar os sonhos que me deu
E quanta insegurança me deixou no adeus.

Amei você,
Sem truque, sem maldade, fiz o meu papel.
Eu quis te oferecer o que ninguém te deu
Você não acredita, mas eu fui fiel.

Amei você,
Mas hoje posso ver que foi melhor assim.
Preciso te esquecer pra me lembrar de mim,
A vida continua...

E no brilho de uma pedra falsa
Dei amor a quem não merecia.
Eu pensei que era uma joia rara,
Era bijuteria.

Na mentira das palavras doces
Me calou no teu olhar tão frio.
A beleza do teu rosto esconde
Um coração vazio.



Você pode ouvir a canção acima, na interpretação dos cantores abaixo, clicando nos links indicados:
Samuel Rocha e suas imitações - https://www.youtube.com/watch?v=9WVyrjEBlbk



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domingo, 25 de outubro de 2015

É perigoso crer na existência dos Espíritos?



Algum tempo atrás, em entrevista concedida à revista VEJA, o psicólogo americano Michael Shermer reafirmou a postura que tem pautado, nos últimos vinte anos, sua luta contra os mitos, as superstições e as crendices.
Para Shermer, acreditar em Espíritos ou em telepatia não é, como muitos pensam, algo “inofensivo”. Trata-se, segundo ele, de um comportamento de risco, porque – reproduzimos aqui suas palavras – “quem acredita em coisas para as quais não existe nenhuma evidência pode acreditar em tudo”.
Só o fato de misturar telepatia e existência dos Espíritos com os mitos e as superstições revela que Michael Shermer fala de assuntos que não estudou profundamente e, portanto, não conhece. A telepatia é, por exemplo, ao lado da clarividência, da precognição e da retrocognição, um dos fenômenos aceitos de forma pacífica pelos parapsicólogos de todas as correntes.
A existência dos Espíritos e suas manifestações entre nós têm sido objeto de estudos e pesquisas não só por parte de religiosos, como o Pe. François Brune, autor do livro “Os Mortos nos Falam” (Edicel, 1991), mas de pesquisadores com titulação acadêmica que nada fica a dever ao Sr. Shermer.(1)
Em seu livro “Transcomunicação – Comunicações Tecnológicas com o Mundo dos Mortos”, Clóvis S. Nunes (Edicel, 1990) apresenta um apanhado minucioso sobre as pesquisas que foram realizadas nessa área nos últimos cinquenta anos.
É evidente que, diante de alguém que descrê da existência dos Espíritos, poderíamos citar nomes de cientistas célebres que também os negavam e, no entanto, vencidos pelos fatos que não desdenharam pesquisar, declararam alto e bom som sua convicção espírita. William Crookes, Prêmio Nobel de Química, foi um deles. Lombroso, Bozzano, Aksakof e muitos outros viveram experiência semelhante.
Michael Shermer tem todo o direito de crer ou não crer em Espíritos, mas deveria ser mais comedido ao externar suas opiniões, respeitando os que não pensam como ele e evitando bobagens pretensamente científicas como algumas de suas frases ditas à referida revista, a exemplo desta: “Não há nenhuma evidência de que exista de fato vida após a morte”.
A leitura do livro do Pe. François Brune faria um bem imenso a Michael Shermer, porque, francamente, surpreende-nos a todos que as concepções materialistas por ele defendidas possam ser, ainda, em pleno século XXI, veiculadas e acolhidas por publicações sérias como VEJA e outras.
A todos os que pensam de igual maneira deveríamos dizer apenas isto: - Amigo, você está desde já convidado a falarmos sobre esse assunto daqui a 100 anos...
Fora disso, insistir com tais pessoas é pura perda de tempo e há, como sabemos, coisas muito mais importantes a fazer nos anos que ainda nos restam na presente encarnação.


(1) O livro “Os Mortos nos Falam” (do padre François Brune) foi objeto de estudo metódico e sequencial nas edições 398 a 409 da revista “O Consolador”. Eis o link que remete à 1ª parte do estudo: http://www.oconsolador.com.br/ano8/398/classicosdoespiritismo.html

  
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sábado, 24 de outubro de 2015

Os octogenários e os dois horizontes



JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Faleci aos 69 anos, no dia 29 de setembro de 1908. Na época, havia lançado aquele que considerei meu último livro: Memorial de Aires. Em minhas correspondências a Joaquim Nabuco, Mário de Alencar, José Veríssimo e outros amigos, considerei que ali se encerrava minha produção literária, pois entrara na casa dos setenta. Fizera 69 anos no dia 21 de junho e me via muito doente e perto da indesejada da gente.
Pois bem, leitor amigo, dessa época para cá muita coisa mudou em termo de longevidade. Há poucos dias, foi divulgada a história de um jovem que, aos 76 anos, se formou em Teologia e, aos 82, bacharelou-se em Direito. Agora pensa cursar o mestrado em Direito ou prestar o exame de ordem da OAB. Como diria a mineira: Eta homem siligristido!
É o Sr. Lazário, mas quem sabe se seu nome verdadeiro não é Lázaro, o amigo ressuscitado por Jesus Cristo?!
Tenho a impressão de que, atualmente, quanto mais a pessoa troca a materialização do espírito pela espiritualização da matéria, mais ela vive. Falemos apenas de alguns espíritas octogenários. A sequência é por idade ascendente.
Lucy Dias Ramos nasceu em Rio Novo, MG, em 1935. Há décadas, dedica-se à divulgação espírita em Juiz de Fora, MG. Foi presidente da Casa Espírita, por duas vezes e dirigente de outras instituições espíritas nessa cidade. É articulista de diversos periódicos espíritas, entre os quais a Revista Internacional de Espiritismo, o Reformador e a Presença Espírita. Publicou, pela Federação Espírita Brasileira, as obras Gotas de otimismo e paz, Luzes do entardecer, Maior que a vida e Recados de amor. Pela editora SOLIDUM, publicou recentemente Mediunidade e nós, e continua em plena produção. Saúde e vida longa para ela.
Richard Simonetti, que completou 80 anos no dia 10 de outubro de 2015, publicou cerca de 50 livros e é articulador mensal de alguns periódicos espíritas renomados, como Folha Espírita, Reformador e Revista Internacional do Espiritismo. Desenvolve uma atividade socioassistencial extraordinária em São Paulo. Confira aqui: www.richardsimonetti.com.br.
Eurípedes Kühl está com 81, e ainda produz mais do que muito jovem da minha idade ou menos, bem menos... Possui uma trintena de obras publicadas. Atualmente, a Federação Espírita Brasileira acaba de relançar a quarta edição de sua obra Espiritismo e genética. Acesse o blog: www.euripedeskuhl.blogspot.com para conhecer melhor esse jovem.
Jair Ribeiro de Oliveira, aos 86 anos, mostra-se lúcido e prepara a publicação de seu quarto livro espírita, em Contagem, MG. Fundou e dirigiu três centros espíritas e é palestrante mui requisitado nas cidades próximas a Belo Horizonte. Possui um acervo de mais de 2.000 obras espíritas em sua biblioteca em Contagem-MG, onde passa o dia pesquisando e produzindo textos valiosos baseados em sua rica experiência de vida.
E, por fim, Divaldo Pereira Franco, o maior expositor espírita deste século, aos 89 anos, nem pensa em parar de falar e de escrever no mais alto nível. Já publicou cerca de trezentas obras espíritas, com mais de 7,5 milhões de livros vendidos. Preside a Mansão do Caminho, obra socioassistencial espírita, em Pau da Lima, Salvador, BA, que proporciona lar e educação a centenas de órfãos há mais de sessenta anos e desenvolve ali relevante trabalho socioassistencial. Eis aqui seu blog: www.divaldofranco.embaixadordapaz.blogspot.com
Ante o exposto, convido o amigo que me lê a refletir nos versos metafraseados do seguinte poema, que dediquei, no passado, a M. Ferreira Guimarães, mas que, agora modificados, dedico a todos esses esperançosos e atuantes espíritos, cuja fé demonstra a certeza de que nada se perde do bem que praticamos:

OS DOIS HORIZONTES

Aos jovens octogenários do presente

DOIS HORIZONTES há na Natureza:
Um horizonte é o do soma
Que se veste ao reencarnar;
Outro horizonte é o do espírito
Que sopra em qualquer lugar(1);
Na vida material
Vive a alma esperançosa
De no futuro alcançar
A glória espiritual.

Mergulhado na matéria,
Em doce recomeçar,
A pureza da criança
Pede amor e quer brincar.
Valorizando seu soma,
O ser não sabe o que faz
E tudo que ele toma
Tem as bênçãos maternais.

Porém, já na mocidade,
Eis que já não cabe mais
Querer tudo para si
E nada para os demais.
De posse da consciência
Em relação ao que faz
A alma já tem ciência,
A infância ficou pra trás.

Depois, amadurecido
Pelas vitórias e quedas,
O horizonte do espírito
Desdenha das vãs moedas
Do horizonte do soma,
Pois busca novos valores
E agora já não mais toma,
Por não mais ter dois senhores.

Que esperas, homem? — Prossigo
No céu das aspirações,
O soma tendo vencido
Das infantis ilusões.
Que queres, homem? — Prossigo,
Mesmo em avançada idade,
Testemunhando a verdade
Da certeza do futuro:
DOIS horizontes, mas uma só vida.

Ao leitor curioso que desejar ler o poema que serviu de inspiração a esse, dou-lhe a seguinte referência: ASSIS, Machado. Machado de Assis. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. Obra completa, vol. III. Poesias coligidas, p. 201- 202. OS DOUS HORIZONTES. Ou então escreve no Google: OS DOUS HORIZONTES.

(1) João, 3:8.