quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Iniciação ao estudo da doutrina espírita






Os elementos gerais do Universo

Este é o módulo 56 de uma série que esperamos sirva aos neófitos como iniciação ao estudo da doutrina espírita. Cada módulo compõe-se de duas partes: 1) questões para debate; 2) texto para leitura.
As respostas correspondentes às questões apresentadas encontram-se no final do texto sugerido para leitura. 

Questões para debate

1. Que é que hoje a Ciência entende por matéria?
2. Como o Espiritismo define a matéria?
3. Há quantos elementos gerais no Universo?
4. Que informações o Espiritismo nos dá com relação ao fluido universal?
5. Com relação à matéria, que é que nos ensina a Doutrina Espírita?

Texto para leitura

A matéria existe em estados que o homem ignora
1. Além da Ciência, que é a fonte dos conhecimentos que o homem pode adquirir com o próprio esforço, aplicando a inteligência, a lógica dos raciocínios e o método experimental, tem ele na revelação outra importante fonte de aquisição de conhecimentos. Deus permite que a revelação lhe seja feita por intermédio de Espíritos Superiores, no domínio exclusivo da ciência pura, isto é, sem quaisquer objetivos utilitaristas, aplicação prática ou tecnológica.
2. A Ciência terrena limitou-se até hoje a considerar como únicas realidades existentes a matéria e a energia. Aprofundando-se, no entanto, no estudo desses dois elementos, o homem chegou à conclusão de que estão eles de tal modo e tão estreitamente relacionados que representam, em verdade, duas expressões de uma só e mesma realidade, não sendo a matéria mais do que energia condensada ou concentrada, limitada em sua força e dinamismo próprios, verdadeiramente escravizada, encerrada, em âmbitos restritos para formar as massas densas dos corpos materiais.
3. Inversamente, em determinadas condições, é a matéria atingida em sua massa, desconcentrando-se, descondensando-se, desintegrando-se e libertando energia em radiações diversas de natureza corpuscular. Há, assim, sempre, lado a lado no Universo, matéria densa e energia livre em interações recíprocas, que condicionam os dois processos inversos de condensação e de libertação de energia. Enorme já é o acervo de conhecimentos que sobre esse aspecto do Universo a Ciência e a tecnologia permitiram ao homem acumular, mas que, evidentemente, escapa aos objetivos deste resumo.
4. É importante, no entanto, assinalar que a Ciência não considera, na constituição do Universo, senão o elemento material, quer em seu estado denso, quer em suas manifestações energéticas. A revelação não procedeu assim e foi além, ao ensinar que existem fundamentalmente dois elementos gerais no Universo: o elemento material e o elemento espiritual. E mais: o elemento material não abrange somente as formas densas, visíveis e tangíveis, dotadas de massa e ponderabilidade, extensão e impenetrabilidade, mas também estados sutis, inacessíveis aos nossos sentidos, em que desaparecem a tangibilidade e a ponderabilidade e surge a característica penetrabilidade, com relação à massa densa.
5. Ao tratar do assunto, em resposta a pergunta formulada por Kardec, os Espíritos Superiores esclareceram que a matéria existe em estados que o homem ignora e pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma impressão causa aos sentidos. Definindo-a, eles disseram: “A matéria é o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação”. (Cf. O Livro dos Espíritos, questão 22.) 

Matéria e espírito são os elementos gerais do Universo
6. Conforme o ensinamento que os Espíritos transmitiram naquela oportunidade, dois são os elementos gerais do Universo: a matéria e o espírito, e acima de tudo, Deus, o Criador, o Pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem, portanto, o princípio de tudo o que existe, a trindade universal.
7. Informam, no entanto, os instrutores invisíveis que ao elemento material é preciso juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o espírito e a matéria propriamente dita, demais grosseira para que o espírito possa exercer ação sobre ela.
8. Embora seja lícito classificá-lo como elemento material, o fluido universal dele se distingue por propriedades especiais. Ele está colocado entre o espírito e a matéria. É fluido, como a matéria é matéria, e suscetível, por suas inumeráveis combinações com a matéria, de produzir sob a ação do espírito a infinita variedade das coisas de que somente conhecemos uma parte mínima. O fluido universal, também chamado de fluido cósmico, primitivo ou elementar, é não só o agente de que o espírito se utiliza, mas também o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e não adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.
9. Tudo no Universo, como vemos, procede de Deus, que criou o fluido universal que enche o espaço infinito e é, verdadeiramente, o elemento primitivo a partir do qual se forma o que no Universo é material, como os planetas e os seres. Mas Deus criou também o espírito, elemento inteligente, que é submetido a longa elaboração através dos diversos reinos da Natureza. Ao longo desse processo, o princípio inteligente recebe impressões que, pela repetição, vão-se fixando, dando origem a automatismos, reflexos, memória, instintos e hábitos que acabam por integrar-se em individualidades conscientes, dotadas de razão e vontade, livre-arbítrio e responsabilidade.
10. A ideia criadora procede, portanto, de Deus e pode surgir no espírito, do que se conclui que só o espírito pode conceber ideias; a matéria, não. A ideia toma forma pela ação da vontade divina ou do espírito sobre o fluido universal que, pela sua natureza intermediária entre o espírito e a matéria, está apto a receber influência daquele, transmitindo-a a esta. 

O fluido universal é o princípio elementar de todas as coisas
11. Em síntese, Kardec consigna em sua obra os seguintes ensinamentos acerca do fluido universal: 1º - O fluido universal é uma criação divina, não uma emanação do Criador. 2º - É ele o princípio elementar de todas as coisas. 3º - Para encontrá-lo em sua simplicidade absoluta, é preciso ascender aos Espíritos puros, porque em nosso mundo ele está mais ou menos modificado, para formar a matéria compacta que nos cerca. 4º - O estado que mais se aproxima de sua simplicidade absoluta é o que chamamos fluido magnético animal. 5º - O fluido universal é imponderável.
12. Com relação à matéria, ensina o Espiritismo: 1º - A matéria é formada de um só elemento primitivo; os corpos considerados simples são, em verdade, transformações da matéria primitiva. 2º - As propriedades da matéria decorrem das modificações que as moléculas elementares sofrem, em certas circunstâncias, por efeito da sua união. 3º - A matéria elementar é suscetível de experimentar todas as modificações e de adquirir todas as propriedades. 4º - É acertada a opinião dos que dizem que há na matéria apenas duas propriedades essenciais: a força e o movimento. As demais propriedades não passam de efeitos secundários que variam conforme a intensidade da força, a direção do movimento e a disposição das moléculas. 5º - As moléculas têm forma, que é constante nas moléculas elementares primitivas e variável nas moléculas secundárias, que nada mais são que aglomerações das primeiras. 6º - O que chamamos molécula está muito longe da molécula elementar.
13. Os ensinamentos espíritas com relação à matéria constituem admirável antecipação das verdades sobre a descontinuidade da matéria e a sua unicidade. A primeira já foi provada experimentalmente pela Ciência; a segunda é admitida hoje como inteiramente provável.
14. Com efeito, embora se considerem atualmente, na base da constituição da matéria, além das moléculas e dos átomos, numerosas outras partículas, como os hádrons [1] e os léptons [2], ao tempo de Kardec as partículas consideradas como as menores porções das substâncias chamavam-se moléculas. Kardec não podia, portanto, empregar em sua época outro termo senão moléculas para designar essas partículas, tanto as que representam a matéria densa como os estados sutis da matéria derivados diretamente do fluido universal.
15. A ideia é, porém, a mesma, ou seja, a matéria é una e, apesar de sua aparente diversidade, todas as modalidades de substâncias nada mais são que modificações da matéria cósmica ou substância elementar primitiva, da qual deriva tudo o que é material no Universo.

Respostas às questões propostas

1. Que é que hoje a Ciência entende por matéria?
Matéria não é senão energia condensada ou concentrada, limitada em sua força e dinamismo próprios, verdadeiramente escravizada, encerrada, em âmbitos restritos para formar as massas densas dos corpos materiais.
2. Como o Espiritismo define a matéria?
Segundo a Doutrina Espírita, a matéria existe em estados que o homem ignora e pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma impressão causa aos sentidos. Definindo-a, diz o Espiritismo: “A matéria é o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação”.
3. Há quantos elementos gerais no Universo?
Dois são, segundo o Espiritismo, os elementos gerais do Universo: a matéria e o espírito, e acima de tudo, Deus, o Criador, o Pai de todas as coisas. Mas - lembram os imortais - ao elemento material é preciso juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o espírito e a matéria propriamente dita, que é por demais grosseira para que o espírito possa exercer ação sobre ela.
4. Que informações o Espiritismo nos dá com relação ao fluido universal?
Embora seja lícito classificá-lo como elemento material, o fluido universal se distingue por propriedades especiais. Ele está colocado entre o espírito e a matéria. É fluido, como a matéria é matéria, e suscetível, por suas inumeráveis combinações com a matéria, de produzir sob a ação do espírito a infinita variedade das coisas de que somente conhecemos uma parte mínima. O fluido universal, também chamado de fluido cósmico, primitivo ou elementar, é não só o agente de que o espírito se utiliza, mas também o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e não adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.
5. Com relação à matéria, que é que nos ensina a Doutrina Espírita?
A matéria é formada de um só elemento primitivo; os corpos considerados simples são, em verdade, transformações da matéria primitiva. As propriedades da matéria decorrem das modificações que as moléculas elementares sofrem, em certas circunstâncias, por efeito da sua união. A matéria elementar é suscetível de experimentar todas as modificações e de adquirir todas as propriedades. Há na matéria apenas duas propriedades essenciais: a força e o movimento. As demais propriedades não passam de efeitos secundários que variam conforme a intensidade da força, a direção do movimento e a disposição das moléculas. As moléculas têm forma, que é constante nas moléculas elementares primitivas e variável nas moléculas secundárias, que nada mais são que aglomerações das primeiras.

[1] Hádron: designação genérica de partículas que sofrem interações fortes, e da qual se conhecem dois tipos: os bárions, formados por três quarks, e os mésons, formados por um quark e um antiquark.
[2] Lépton: Férmion que não sofre interação forte e interage com outras partículas através de interações fracas, eletromagnéticas ou gravitacionais. São léptons: o elétron, o múon, o tau, e os neutrinos associados a cada uma dessas partículas. O número de léptons se conserva nas interações entre partículas. Para cada lépton existe uma antipartícula equivalente.

Bibliografia:
O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, itens 17 a 34.  
O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, item 74.
Ciências Físicas e Biológicas, de José Coimbra Duarte, 26ª edição, págs. 17 a 19.

Nota:
Eis os links que remetem aos 3 últimos textos:





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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Pílulas gramaticais (285)





Aqui estão nove textos extraídos de obras literárias diversas, para que o leitor, interessado no uso correto do idioma, teste seus conhecimentos e indique os erros gramaticais que neles existem:
1. Amigo, é bom que você se precavenha a tempo.
2. Da minha falta de cuidado é que proveio todos esses problemas que me arrependi tanto.
3. Como lamento não haver obedecido os conselhos dos meus pais!
4. Maria e eu vimos convidar-lhe para assistir a festa de formatura de nossa filha, que realizar-se-á no próximo sábado.
5. Na festa comparecerão os alunos e as alunas, devidamente uniformizadas, e haverão muitos números de canto e poesia que serão certamente apreciados pelo público.
6. Onde vais, João? Já não lhe falei para não sair com esta humidade?!
7. Saiba que fiquei propositalmente em casa para cuidar de ti.
8. Foi ótima a viagem a Petrópolis, mas, ao voltarmos, deu-se vários incidentes na estrada; num deles, por sinal, toda a família morreu.
9. Quando o socorro chegou no local, nada mais poude fazer.
Eis os nove textos devidamente corrigidos:
1. Amigo, é bom que você se acautele a tempo. (Observação: não existe “precavenha” nem forma verbal alguma do presente do subjuntivo do verbo precaver.)
2. Da minha falta de cuidado é que provieram todos esses problemas de que me arrependi tanto.
3. Como lamento não haver obedecido aos conselhos dos meus pais!
4. Maria e eu vimos convidá-lo para assistir à festa de formatura de nossa filha, a qual se realizará no próximo sábado.
5. A essa festa comparecerão os alunos e as alunas, devidamente uniformizados, e haverá muitos números de canto e poesia que serão certamente apreciados pelo público.
6. Aonde vai, João? Já não lhe falei que não saísse com esta umidade?! (Observação: em Portugal o vocábulo umidade é escrito com h inicial: humidade.)
7. Saiba que fiquei propositadamente em casa para cuidar de você.
8. Foi ótima a viagem a Petrópolis, mas, ao voltarmos, deram-se vários acidentes na estrada; num deles, por sinal, toda a família morreu.
9. Quando o socorro chegou ao local, nada mais pôde fazer.



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terça-feira, 28 de novembro de 2017

Contos e crônicas






Como o pássaro que volta a cantar

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

Haverá os dias com mais sorriso e leveza; haverá os com mais gris cuja tristeza será a presença; ainda virão os dias perturbadores nos quais nos sentiremos tão fracos que a passagem parecerá ter chegado; os dias de insegurança também amanhecerão; e a luz voltará a brilhar porque a vida é a maravilhosa lição de aprendizado.
No caminho presenciaremos campos verdes com flores coloridas, miudinhas e maiores; nossos passos caminharão em paz. Depois, olhando para o horizonte, chuva de pedra surgirá, mas um local haverá para a nossa proteção. Durante essa espera, poderemos observar detalhes nunca antes avistados e voltaremos a seguir. Até poderão ocorrer outros muitos “imprevistos” ‒ mais conhecidos como lições a serem aprendidas ‒, tropeços, desfalecimento e quedas, mas alguém nos resgatará para colocar-nos na estrada novamente.
E nós, mais uma vez, como sobreviventes de uma batalha, seguiremos rumo à luz do sol, pois, de certa maneira, sabemos quantos apuros já vivenciamos, quantas vezes tentaram aniquilar-nos, mas somos bravos e dentro do coração há a sabedoria de que precisamos continuar, ir adiante, amar, conhecer, pois as estrelinhas do céu só brilham porque aprenderam a levitar, a criar e a manter sua própria luz.
As estrelinhas também cintilam para nos orientarem, já que possuem luz e quem luz tem, o maior desejo é iluminar. São discretas e puras, tantas vezes já presenciaram nossa dor, a morte que quase se tornou real diante da dor que nos tomou conta. Ainda, assim, continuamos os passos. E o horizonte nos chama. Em alguns momentos, ele parece muito perto, logo ali, e em outros, a distância imensurável eterniza a chegada. Seguimos.
Seguimos como a planta que nasce no mais inóspito local; como seres esperançosos no amor; como o pássaro solitário, mas determinado, que encontra os pássaros companheiros de há muito tempo e volta a cantar... cantar a sua melodia. Seguimos com o instinto espiritual buscando mais luz e refletindo sobre as inúmeras ocorrências vividas de quase morte na vida.
Refletiremos sobre a solidão, a bondade, o amor, a dor, a desesperança, a força, a luz e a sua falta, o companheirismo, o olhar amoroso e o frio olhar, a mão estendida a ajudar e a receber ajuda. Refletiremos durante a caminhada e, principalmente, quando pudermos mais nos conectar com o silêncio que faz ouvir o verdadeiro sentimento; então nos veremos como de fato somos, pequeninos filhos de Deus que a cada dia se desenvolverão até assemelharem-se às estrelas do céu.
E dias tão variados continuarão a nascer, já que cada um possui o conteúdo necessário para o nosso crescimento. Melhor que seja assimilado o conhecimento, pois, dessa forma, mais aprendizado se avalia em menor tempo e com menos dor. Mas não será o último dia difícil.
Como a flor murcha que cai ou a flor seca para dar maior força à planta, nós também precisaremos aprender a viver um dia de cada vez e hoje ser o mais importante deles. E quando houver dor olharmos para o céu, durante o dia, e aceitarmos a luz dourada do sol que nos aquece, e quando à noite, buscarmos a luz das estrelas que nos anima e em toda a vida lembrarmo-nos das palavras sinceras que nos ligam a outra dimensão.
Em muitas vezes ainda nos sentiremos abalados, e em tantas vezes seremos fortes. E os pássaros sempre cantam porque, embora também sintam dor, eles sentem ainda mais a alegria de viver.

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/



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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

As mais lindas canções que ouvi (270)





Ronda

Paulo Vanzolini

De noite, eu rondo a cidade
A te procurar sem encontrar.
No meio de olhares espio
Em todos os bares, você não está.
Volto pra casa abatida,
Desencantada da vida,
O sonho alegria me dá:
Nele você está.

Ah, se eu tivesse
quem bem me quisesse,
esse alguém me diria:
"Desiste, essa busca é inútil",
Eu não desistia.

Porém com perfeita paciência
Sigo a te buscar,
Hei de encontrar,
Bebendo com outras mulheres,
Rolando dadinhos,
Jogando bilhar.
E nesse dia, então,
Vai dar na primeira edição:
“Cena de sangue num bar da
avenida São João”.




As cifras desta música você encontra em: https://www.cifraclub.com.br/maria-bethania/ronda/


Você pode ouvir a canção acima clicando nos links abaixo:
Alcione:
Carlinhos Vergueiro:
Márcia:
Jamelão:
Maria Bethânia:



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domingo, 26 de novembro de 2017

Reflexões à luz do Espiritismo




O que é, de fato, caridade

Faz algum tempo uma leitora do Rio Grande do Sul propôs-nos a seguinte questão:
“Em que difere a caridade da solidariedade? Já busquei textos para ver se satisfazia essa dúvida e nada encontrei, porque há uma frase de Eduardo Galeano que me perturba: - Prefiro a solidariedade à caridade; a primeira seria horizontal e a segunda de baixo pra cima. Essa frase andou nas redes sociais na época das passeatas no Brasil, mas, por mais que eu pense, não consigo ver esta diferença que ele fala. Pra mim caridade é amor em ação, e quando tu te importas comigo, tu estás sendo solidário.”
A frase que incomodou a leitora baseia-se na falta de compreensão do que significa a palavra caridade. Pelos mesmos motivos, há quem critique também a frase de Kardec “Fora da caridade não há salvação”, imaginando que o autor dessa frase estivesse referindo-se à esmola ou às doações de caráter material.
Os materialistas têm razão em pensar assim, mas os cristãos e, sobretudo, os espíritas não têm esse direito, porque o conceito de caridade está muito bem definido no Evangelho e nas cartas de Paulo e João.
Allan Kardec reporta-se ao tema na questão 886 d´O Livro dos Espíritos e no cap. XV d´O Evangelho segundo o Espiritismo.
Eis o conteúdo da mencionada questão:
886. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?
“Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”
Nota de Kardec: “O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos.
A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos superiores. Ela nos prescreve a indulgência, porque de indulgência precisamos nós mesmos, e nos proíbe que humilhemos os desafortunados, contrariamente ao que se costuma fazer. Apresente-se uma pessoa rica e todas as atenções e deferências lhe são dispensadas. Se for pobre, toda gente como que entende que não precisa preocupar-se com ela. No entanto, quanto mais lastimosa seja a sua posição, tanto maior cuidado devemos pôr em lhe não aumentarmos o infortúnio pela humilhação.
O homem verdadeiramente bom procura elevar, aos seus próprios olhos, aquele que lhe é inferior, diminuindo a distância que os separa.”
Do cap. XV d´O Evangelho segundo o Espiritismo transcrevemos o seguinte texto:
6. Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine; - ainda quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse a fé possível, até o ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. - E, quando houver distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria. A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; - não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais excelente é a caridade (S. PAULO, 1ª Epístola aos Coríntios, cap. XIII, vv. 1 a 7 e 13.)
7. De tal modo compreendeu S. Paulo essa grande verdade, que disse: Quando mesmo eu tivesse a linguagem dos anjos; quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios; quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Dentre estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade, a mais excelente é a caridade. Coloca assim, sem equívoco, a caridade acima até da fé. É que a caridade está ao alcance de toda gente: do ignorante, como do sábio, do rico, como do pobre, e independe de qualquer crença particular. Faz mais: define a verdadeira caridade, mostra-a não só na beneficência, como também no conjunto de todas as qualidades do coração, na bondade e na benevolência para com o próximo. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV, itens 6 e 7.)
Diz-nos J. Herculano Pires no cap. 1 do livro Astronautas do Além que “a caridade – que é o amor em ação – deve eliminar as arestas do nosso personalismo, ensinando-nos que todos somos importantes na busca e na conquista da verdade”.
Finalizando – e para que não haja nenhuma dúvida a respeito do que é, de fato, caridade – sugerimos aos leitores que leiam também o que Emmanuel escreveu sobre o tema nas obras seguintes psicografadas pelo médium Chico Xavier:
•  Pão Nosso, cap. 31 e 99.
•  Vinha de Luz, cap. 110 e 116.
•  Palavras de Vida Eterna, cap. 94.



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sábado, 25 de novembro de 2017

Contos e crônicas





Machado, um leitor voraz...


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Ontem à noite, fui visitado por Machado de Assis, que me disse o seguinte:
— Sabe, Joteli, meu maior tesouro é a criatividade. Com esta, colaborou meu prazer de ler. Na juventude, lia tudo que havia lá em casa, como o Almanaque Laemmertz, assinado por papai e a Bíblia. Devido a problemas financeiros e doenças familiares, não pude frequentar regularmente a escola. Desse modo, aprendi a ler e escrever até os dez anos, quando deixei o banco escolar e me tornei autodidata.
Minha melhor professora, até 18 de janeiro de 1849, foi minha mãezinha querida, que faleceu, nessa data, aos 36 anos. Também nessa época, eu completaria dez anos em 21 de junho, e ela sempre lera para mim, até eu aprender a ler e escrever. Desde então, com o que me ensinou mamãe e os poucos anos de minha frequência à escola primária, eu já lia e escrevia razoavelmente, embora ainda trocasse os pronomes...
Como forma de gratidão à mãe amada e em honra à sua memória, decidi que seria poeta, pois naquele tempo esse dom era tido em alto prestígio.
Foi assim que, dali em diante, passei a exercitar a poesia e enviar meus primeiros rabiscos para os jornaizinhos da cidade. Nos anos seguintes, aprendi tipografia com Paula Brito, em sua tipografia chamada Dois de Setembro, onde passei a trabalhar.
Brito foi outro autodidata empreendedor e ombro amigo que me permitiu, em sua modesta empresa, construir as bases intelectuais para no futuro tornar-me conhecido nas rodas sociais literárias. Ali nascia o “poeta Machadinho”...
Os meus primeiros versos, entretanto, publicados em jornal quando eu tinha quinze anos, foram ridicularizados por meus biógrafos, como é o caso do soneto que escrevi em homenagem a uma vizinha, no qual eu “assassinava” a “última flor do Lácio”.
— Quando foi isso e como se chamava o periódico que o incentivou com a publicação desse seu rabisco, meu caro Machado?
— Isso ocorreu em 3 de outubro de 1854, e o jornal era o Periódico dos Pobres. Não ria, Joteli, foi assim mesmo o início de minha jornada... como prosador, pois como disse Manuel Bandeira, apenas uma dúzia de meus poemas futuros poderiam ser considerados bons, além do soneto À Carolina.
— Creio que você esteja sendo modesto, amigo Bruxo. Escreva para nós o poema inaugurador de sua produção literária.
— Vá lá, mesmo porque nada mais tenho a perder, além do corpo físico que já as traças consumiram... Quem sabe isso não incentive outros jovens, que ignoram seu potencial inato, a gostar de ler e escrever...
É um soneto sem título e com a seguinte dedicatória: “À Ilma. Sra. D. P. J. A.”. Ao leitor pouco familiarizado com a gramática, destaco em itálico, para sua identificação, além do erro de concordância na primeira estrofe (virtudes que fazem [...] e faz [...]) e das trocas incorretas do pronome pela mudança brusca, na última estrofe do poema, da segunda pessoa do plural para a segunda do singular:

Quem pode em um momento descrever
Tantas virtudes de que sois dotada
Que fazem dos viventes ser amada
Que mesmo em vida faz de amor morrer!

O gênio que vos faz enobrecer,
Virtude e graça de que sois c’oroada,
Vos fazem do esposo ser amada.
(Quanto é doce no mundo tal viver!)

A natureza nessa obra primorosa,
Obra que dentre todas as mais brilha,
Ostenta-se brilhante e majestosa!

Vós sois de vossa mãe a cara filha,
Do esposo feliz a grata esposa,
Todos os dotes tens, ó Petronilha!

— Quá, quá, quá, quá... Esse poema  lembra-me uma frase de Thomas Édson,  Machado.
— Qual frase, Joteli?
— A de que o gênio é fruto de noventa e nove por cento de transpiração e apenas um por cento de inspiração.  Soube que você foi “rato de biblioteca” e leu, não somente obras dos maiores poetas e escritores brasileiros e portugueses, como também de ingleses, franceses, italianos e espanhóis. Mas, apenas para matar a minha e a curiosidade do leitor, diga-nos os títulos dos seus poemas, além do soneto À Carolina, que já transcrevemos em passada crônica, tidos por Manuel Bandeira como dos mais belos já escritos.
— Embora o ditado popular reze que “gosto não se discute”, se o gosto é de um poeta de primeira linha como o Bandeira, creio merecer algum valor os seguintes poemas, que o leitor pode ler na internet: O Desfecho, Círculo Vicioso, Uma Criatura, A Artur de Oliveira Enfermo, Mundo Interior, O Corvo, Suave Mari Magno, A Mosca Azul, Spinoza, Soneto de Natal e No Alto.
— Não seja modesto, Machado, esses poemas não são para “merecer algum valor”; são lindos, perfeitos. Eles provam que, se gostamos de ler, nossa mente abre-se a horizontes fantásticos.
— Isso é verdade... Creio ter sido Einstein que disse isto: “A mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho original”. Assim sendo, Joteli, quanto mais leitura, mais mente aberta a novas ideias e menos intolerância aos que não pensam como nós.
— Como não podia deixar de ser, Bruxo, sua frase é para nos fazer refletir...






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