domingo, 30 de abril de 2023

 



Como será nossa vida depois da morte?

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

 

Por que tememos tanto a morte?

Claro que variados são os motivos, mas o principal deles é, sem contestação, o desconhecimento de como se opera essa transição e o que nos aguarda no chamado além-túmulo.

O assunto pode parecer inadequado nos dias que correm, tantos são os problemas e vicissitudes que as criaturas humanas enfrentam neste mundo tão conturbado e confuso.

Há, no entanto, quem reconheça que a morte é, em verdade, um final de um ciclo iniciado com o nascimento e constitui a única certeza que todos temos com relação à nossa própria existência, ou seja, todos morreremos!

Quando? 

Ninguém sabe; pode ser hoje, pode ser daqui a 30 anos.

Que nos virá depois dela?

Lembremos inicialmente que nossa existência corpórea é apenas uma fase, mas não a única, das múltiplas experiências que todos nós deveremos enfrentar no longo caminho que nos levará à perfeição, uma meta que Deus assinalou para todas as suas criaturas.

As pessoas de nosso tempo têm lutado bastante para se darem bem na vida e poderem, dessa forma, desfrutar as benesses que o progresso da civilização engendrou. 

Muitos, é justo reconhecer, sonham com a felicidade, um objetivo compreensível e válido que pode, no entanto, revelar-se um desastre se, para alcançá-la, negligenciarem os chamados valores espirituais indispensáveis à vida, porque inerentes ao Espírito imortal que todos somos.

As comunicações transmitidas pelos Espíritos mostram-nos que a vida pós-morte é uma espécie de continuação da existência corpórea, com a diferença de que nela os valores e as preocupações levam em conta nossa condição de Espírito e nossas verdadeiras necessidades, enquanto que a existência corpórea se apresenta como um lance rápido, efêmero e transitório, como verdadeiramente ela o é. 

De fato, por mais longa que seja nossa estada neste plano, os anos passados numa existência corpórea formam um período de tempo irrisório se comparado com a eternidade que se abre à vida dos Espíritos.

No além-túmulo o homem se apresenta com as qualidades, os defeitos, os sentimentos e as recordações que o sensibilizam. As relações familiares verdadeiras se mantêm e se intensificam. Aqueles que se amam jamais se apartam...

A morte não deveria, por isso, assustar a ninguém, uma vez que nada perdemos com ela, a não ser os bens que desfrutamos provisoriamente enquanto reencarnados, como simples usufrutuários que somos, e até mesmo o nosso corpo material, que nenhuma falta fará ao Espírito liberto, que se expressará então em outro corpo, semelhante ao primeiro, ao qual Paulo de Tarso chama de corpo espiritual (*) e Kardec define como sendo o envoltório sutil da alma ou perispírito.

A desencarnação – ensinam os imortais – atinge-nos de modos diferentes, segundo a condição moral de cada um.

Lemos no livro O Céu e o Inferno:

“A causa principal da maior ou menor facilidade de desprendimento é o estado moral da alma. A afinidade entre o corpo e o perispírito é proporcional ao apego à matéria, que atinge o seu máximo no homem cujas preocupações dizem respeito exclusiva e unicamente à vida e aos gozos materiais.” (O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, 2ª Parte, cap. 1, item 8.)

Existe, pois, uma relação direta entre o modo pelo qual vivemos no mundo e o começo da vida além-túmulo, porquanto o desprendimento da alma, em seguida à morte corporal, é semelhante ao despertar da pessoa que renasce para uma nova existência corpórea.

Duas conclusões podemos tirar dos ensinamentos acima.

A primeira é que é preciso compreender melhor o sentido da vida, que não se resume aos poucos anos que compõem nossa existência corpórea.

A segunda é que, submetidos à lei do progresso, temos o dever indeclinável de trabalhar por nosso aprimoramento moral, identificando-nos com a vida espiritual e abdicando, se preciso, das vantagens imediatas em prol do futuro, sem nos esquecermos de que somos Espíritos e temos objetivos que transcendem as metas e as preocupações exclusivamente de natureza material.

 

(*) Semeado corpo animal, ressuscita corpo espiritual. Se há um corpo animal, também há um espiritual. (I Coríntios 15,44.)

 

 

 


 

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sábado, 29 de abril de 2023

 



Miséria material e moral

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

 

Almas irmãs, vou contar-lhes um caso interessante, após a definição dos espíritos sobre o que é a miséria.

No item 707 d’O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta: “É comum faltarem a certos indivíduos os meios de subsistência, mesmo quando cercados pela abundância. A que se deve atribuir esse fato?”

Resposta: “Ao egoísmo dos homens, que nem sempre fazem o que devem. Na maioria das vezes, porém, deve-se atribuir esse fato a eles mesmos. Buscai e achareis. Estas palavras não querem dizer que basta olhar a terra para encontrar o que se deseja, mas que é preciso procurar com ardor e perseverança, e não com indolência, sem se deixar desanimar pelos obstáculos, que muitas vezes são simples meios de experimentar a vossa constância, a vossa paciência e a vossa firmeza.”

Em seguida, Kardec faz diversas considerações sobre a miséria e cita, como exemplo de esforço para erradicá-la, os “povos mais adiantados”, que tudo fazem para “melhorar a condição material dos homens”.

Ainda sobre o tema, transcrevo as perguntas e respostas contidas nos itens 814 e 815 d’O Livro dos Espíritos:

814. Por que Deus concedeu a uns a riqueza e o poder, e a outros a miséria?

“Para experimentá-los de modos diferentes. Além disso, como sabeis, essas provas foram escolhidas pelos próprios Espíritos que, no entanto, nelas sucumbem frequentemente.”

815. Qual das duas provas é mais perigosa para o homem, a da miséria ou a da riqueza?

“Ambas o são igualmente. A miséria provoca as queixas contra a Providência; a riqueza leva a todos os excessos.”

Esta história, ouvi de um amigo aqui de Brasília:

— Estávamos, eu e a esposa, tomando uma sopa num self service da Asa Norte, à noite, quando se aproximou de nós um senhor mal vestido, que nos pediu uma ajuda, segundo ele, para comer, alegando estar com fome. Penalizado, mas cauteloso, separei as torradas, ainda intocadas por nós, juntamente com um pequeno pote de creme, também não mexido, como primeiro socorro, pronto para tirar da carteira pequeno valor monetário, como acréscimo de ajuda, haja vista que alguns clientes também não negam auxílio aos necessitados que sempre vão ali.

O pobre homem, sentindo-se humilhado e sem saber qual era minha intenção, falou-nos, agressivamente: “— Não sou cachorro, para comer resto de alimentos”. E afastou-se. A esposa, assustada com aquela grosseria, ouviu quando ele disse mais adiante: “— Miserável!”

E desapareceu na noite.  Aqui termina, meu amigo, seu relato.

Como dizem os espíritos, diversas pessoas causam a própria miséria, mas revoltam-se contra quem os quer ajudar, quando se julgam humilhados. Outros agradecem e ainda dizem: “Que Deus o abençoe!”, o que desencadeia um acréscimo de compaixão e auxílio de quem é abençoado.

Para isso, é necessário crer em Deus, mas também crer nos homens e mulheres de bem, sendo humilde e agradecido, nas pequenas coisas, o que não fazem os revoltados. Muitos deles nem ao menos creem em Deus. Se cressem, perceberiam que o Senhor socorre seus filhos em provas e expiações por meio doutros filhos que já superaram a desgraça material e, principalmente, a miséria moral.

           

Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 

 

 

 

 

 

 

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sexta-feira, 28 de abril de 2023

 



No Invisível

 

Léon Denis

 

Parte 14

 

Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial do clássico No Invisível, de Léon Denis, cujo título no original francês é Dans l'Invisible.

Nossa expectativa é que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para leitura.

Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.

 

Questões preliminares

 

A. Por que a fusão das classes se deve efetuar, e com maior razão, nas associações espíritas?

B. É preciso cuidado para se evitar a intrusão dos maus Espíritos nas sessões mediúnicas? 

C. Que tipos de perguntas podem ser formuladas aos Espíritos em nossas sessões mediúnicas? 

 

Texto para leitura

 

389. A similitude de aspirações, as afinidades que entre os homens criam as condições sociais e a cultura de espírito, hão de necessariamente influir, numa certa medida, sobre a constituição dos grupos. Mas, por altamente colocado que esteja na escala social, não deve o adepto desdenhar as reuniões populares, nem incomodar-se com a falta de instrução ou de educação dos que as compõem. Os intelectuais provarão sua superioridade associando-se aos trabalhos dos grupos operários, esforçando-se em pôr ao alcance de seus irmãos menos favorecidos seus conhecimentos e apreciações.

390. É sobretudo nas associações espíritas que a fusão das classes se deve efetuar. O Espiritismo no-lo demonstra: as nossas vantagens sociais são transitórias; o progresso e a educação do Espírito o induzem a nascer e renascer sucessivamente nas mais diversas condições de vida, a fim de adquirir os méritos inerentes a esses meios. Ele põe em relevo, com um poder de lógica não alcançado por nenhuma outra doutrina, a fraternidade e a solidariedade das almas, consequentes de sua origem e de seus destinos comuns. A verdadeira superioridade consiste nas qualidades adquiridas e se traduz principalmente por um sentimento profundo dos nossos deveres para com os humildes e os deserdados deste mundo.

391. Do princípio, entretanto, à aplicação vai sensível distância. Se os progressos da ideia espírita são menos acentuados na França que em certos países estrangeiros, é sobretudo à indiferença, à apatia dos espíritos descuidosos que esse estado de coisas se deve atribuir. Unicamente um reduzido número parece preocupar-se com as responsabilidades contraídas. Força é reconhecer: são os grupos operários que mais facilmente se organizam e mais subsistem. Seus membros sabem encarnar em si as próprias crenças; compreendem-se, auxiliam-se mutuamente por meio de caixas de socorros, com sacrifício alimentadas soldo a soldo e destinadas a socorrer os que entre eles são visitados pela provação.

392. Alguns desses grupos funcionam há dez ou vinte anos. Todos os domingos, à hora fixa, se reúnem os seus membros para ouvir as instruções dos Espíritos. Sua assiduidade é notável e neles a prática do Espiritismo produz sensíveis resultados. Aí encontram eles um derivativo à sua vida de miséria e de trabalho, doces consolações e ensinamentos. A descrição, feita pelos desencarnados, das sensações que experimentam, da situação em que se encontram depois da morte, as consequências dos maus hábitos contraídos durante a vida terrestre, tudo o que esses colóquios põem em evidência os impressiona, comove e influi poderosamente em seu caráter e em seus atos. Formam pouco a pouco opinião sobre as coisas do Além; uma exata noção do objetivo da vida se lhes oferece e lhes torna a resignação mais fácil, mais agradável o dever.

393. Já não são as eruditas exortações de um pregador, as especulações de um professor de Filosofia ou os ensinos rígidos de um livro: é o exemplo vivo, dramático, às vezes terrível, que lhes dão os que eles conheceram, com os quais conviveram e que colhem no Além os frutos de uma vida inteira; são as vozes de além-túmulo que se fazem ouvir, em sua rude e simples eloquência, o apelo vibrante, espontâneo do sofrimento moral, a expressão de angústia do Espírito culpado que vê sempre se dissiparem as quimeras terrestres, se patentearem os seus erros e atos vergonhosos, e que sente o remorso, como chumbo derretido, penetrar-lhe os recessos da consciência, sutilizada pelo desprendimento de toda a matéria corporal.

394. No dia em que essas práticas se tiverem generalizado e em todas as regiões do Globo a comunicação dos vivos com os mortos der ao homem o antecipado conhecimento do destino e de suas leis, novo princípio de educação e regeneração terá surgido, e com ele um incomparável instrumento de reação contra os mórbidos efeitos produzidos sobre as massas pelo materialismo e a superstição.

395. Constituído o grupo e composto de quatro a oito pessoas dos dois sexos, por quais experiências se deverá começar? Se nenhuma mediunidade se tiver ainda revelado, será bom começar pela mesa. É o meio mais simples, mais rudimentar; por isso mesmo está ao alcance do maior número. Colocados alternadamente homens e senhoras em torno de uma mesa leve, com as mãos espalmadas sobre a madeira pura, os assistentes dirigirão um apelo aos seus amigos do Espaço, depois ficarão à espera, em silêncio, com o desejo de obter alguma coisa, mas sem pressão dos dedos, sem tensão de espírito.

396. É inútil prolongar as tentativas por mais de meia hora. Quase sempre, desde a primeira sessão, sentem-se impressões fluídicas; das mãos dos experimentadores se desprendem correntes, que revelam, por sua intensidade, o grau de aptidão de cada um deles; fazem-se ouvir crepitações no móvel, que acaba por oscilar, agitar-se, e em seguida se destaca do solo e fica suspenso, apoiado sobre um dos pés.

397. Convém desde logo combinar um certo número de sinais. Pede-se à força-inteligência que se manifeste batendo, ou com os pés ou no interior da mesa, um número de pancadas correspondente ao das letras do alfabeto. Por esse modo podem ser compostas palavras; um diálogo se estabelecerá entre o chefe do grupo e a Inteligência invisível. Pode-se abreviar e simplificar o processo por meio de sinais convencionais; por exemplo: uma pancada para a afirmativa, duas para a negativa. Esse modo de comunicação, lento e fastidioso a princípio, virá com a prática a tornar-se bastante rápido.

398. Quando se conhecer quais são os médiuns, bastará colocá-los no centro do grupo, em torno de um velador, a fim de acelerar os movimentos e facilitar as comunicações, fazendo círculo os outros membros ao redor deles. Tendo-se o prévio cuidado de colocar à mão algumas folhas de papel e lápis, as perguntas e respostas serão fielmente transcritas. Desde que se tiver a Inteligência revelado mediante respostas precisas, sensatas, características, poder-se-á consultá-la sobre a constituição do grupo, as aptidões mediúnicas dos assistentes, o rumo a imprimir aos trabalhos. Deve-se, todavia, estar de prevenção contra os Espíritos levianos e fúteis que afluem em torno de nós e não trepidam em tomar nomes célebres para nos mistificar.

399. Pode-se experimentar simultaneamente por meio da mesa e da escrita. Os fenômenos desta ordem conduzem geralmente a outras manifestações mais elevadas, ao transe ou sono magnético, por exemplo, e à incorporação. Será conveniente, ao começo, consagrar sucessivamente a esse exercício metade de cada sessão.

400. Quase sempre cada um dos assistentes tem ao pé de si Espíritos desejosos de se comunicarem e transmitirem afetuoso ditado aos que deixaram na Terra. Em todas as sessões do nosso grupo os médiuns videntes descreviam esses Espíritos, e à vista de certas particularidades de costumes, de certos sinais característicos, a pessoa assistida reconhecia um parente, um amigo falecido, personalidades que, muitas vezes, os médiuns não haviam conhecido.

401. O modo de proceder, quanto à escrita automática, é muito simples. O experimentador, munido de um lápis cuja ponta se apoia ligeiramente no papel, evoca mentalmente algum dos seus e espera. Ao fim de certo lapso de tempo, extremamente variável, conforme os casos e as pessoas, sente na mão, ou no braço, uma agitação febril, que se vai acentuando; depois, um impulso estranho o faz rabiscar sinais informes, linhas, garatujas. É preciso obedecer a esse impulso e submeter-se com paciência a exercícios de estranho feitio, necessários, porém, para tornar flexível o organismo e regularizar a emissão fluídica.

402. Pouco a pouco, ao cabo de algumas sessões, aparecerão letras no meio dos sinais incoerentes, depois virão palavras e frases. O médium obterá ditados, ao começo breves, resumidos em algumas linhas, mas que se tornarão cada vez mais longos, à medida que a sua faculdade se desenvolver. Virão por último instruções mais positivas e extensas.

403. Durante o período dos exercícios o médium poderá trabalhar fora das reuniões, a hora fixa em cada dia, a fim de ativar o desenvolvimento de sua faculdade; logo que, porém, for terminado esse período, desde que as manifestações revestirem caráter intelectual, deverá evitar o insulamento, não trabalhar mais senão em sessão e submeter as produções recebidas ao exame do presidente e dos guias do grupo.

404. Há vários processos para facilitar a comunicação alfabética. Traçam-se as letras em um quadrante, sobre cuja superfície gira um triângulo móvel. Basta o contacto dos dedos de um médium para transmitir a esse leve aparelho a força fluídica necessária. Sob essa influência o triângulo se desloca rapidamente e vai designar as letras escolhidas pelo Espírito. Em certos grupos, as letras são indicadas por meio de pancadas no interior da mesa. Outros se servem, com resultado, da cestinha de escrever ou prancha americana. Os sistemas são numerosos e variados. Pode-se ensaiá-los até que se tenha encontrado aquele que melhor se adapta aos elementos fluídicos e ao gosto dos experimentadores.

405. Nunca seria demasiado insistirmos sobre os perigos que resultam da intrusão dos maus Espíritos nas sessões de um grupo em formação ou nos ensaios de um médium insulado. Muitas vezes são os nossos pensamentos que os atraem. Abstende-vos, pois, em vossas reuniões – diremos aos investigadores sinceros – de toda preocupação de negócios ou prazeres. Não deixeis flutuar o pensamento em torno de vários assuntos, mas fixai-o num elevado objetivo; ponde-vos em harmonia de vistas e de sentimentos com as almas superiores.

406. Conservando-vos nesse estado de espírito, sentireis pouco a pouco baixarem sobre vós correntes de energia, das quais ficareis impregnados e que aumentarão a sensibilidade de vosso organismo fluídico. Efêmera e intermitente ao começo, essa sensibilidade se acentuará e tornará permanente. Vosso perispírito, dilatando-se, purificando-se, ganhará mais afinidade com os Espíritos-guias e faculdades ignoradas se vos revelarão: mediunidade vidente, falante, auditiva, curadora etc.

407. Mediante o aperfeiçoamento e a elevação moral é que adquirireis essa profunda sensibilidade, essa sensitividade psíquica que permite obter as mais altas manifestações, as provas mais convincentes, de mais positiva identidade.

408. Orai ao começo e ao fim de cada sessão; ao começo, para elevardes vossas almas e atrairdes os Espíritos esclarecidos e benevolentes; ao terminar, para agradecer os benefícios e ensinos que houverdes recebido. Seja a vossa prece curta e fervorosa, e muito menos uma fórmula que um transporte do coração.

409. A prece desprende a alma humana da matéria, que a escraviza, e a aproxima do Divino Foco. Estabelece uma sorte de telegrafia espiritual, por cujo intermédio o pensamento do Alto, respondendo à solicitação de baixo, desce às nossas obscuras regiões. As nossas explorações nos abismos do invisível seriam inçadas de perigos, se não tivéssemos acima de nós seres mais poderosos e perfeitos para nos dirigir e esclarecer-nos o caminho.

410. Não é indispensável fazer evocações determinadas. Em nosso grupo raramente as praticávamos. Preferíamos dirigir um apelo aos nossos guias e protetores habituais, deixando a qualquer Espírito a liberdade de se manifestar, sob sua vigilância. O mesmo acontece em muitos grupos de nosso conhecimento. Assim cai, de si mesmo, por terra o grande argumento de certos adversários do Espiritismo, no sentido de ser reprovável entregar-se a evocações e constranger os Espíritos a voltarem à Terra. O Espírito, como o homem, é livre e não responde, senão quando lhe apraz, aos chamados que lhe são dirigidos. Toda injunção é vã; toda encantação é supérflua. São processos arranjados para iludir as gentes simples.

411. É excelente começar as sessões por uma leitura séria e atraente, feita de uma das obras ou revistas espíritas escolhidas. Essa leitura deve ser objeto de comentários e permuta de apreciações entre os assistentes, sob a direção do presidente. Acontece com frequência que as comunicações dadas pelos Espíritos, em seguida a tais leituras, se referem aos assuntos discutidos e os desenvolvem, completando-os. É esse um modo de ensino mútuo, que nunca seria demais recomendar.

412. Podem-se também formular perguntas aos Espíritos sobre todos os inúmeros problemas pertencentes ao domínio da Filosofia e da vida social, sobre as condições de existência no mundo espiritual, as impressões depois da morte, a evolução da alma etc. Todas essas perguntas devem ser apresentadas pelo presidente, simples e claras, sempre de ordem moral e desinteressadas.

413. Interrogando os invisíveis sobre interesses pessoais, tesouros ocultos, etc., pedindo-lhes a revelação dos sucessos futuros, formando pactos cabalísticos, fazendo uso de emblemas, talismãs, fórmulas extravagantes, não somente se oferecerá margem à crítica e à zombaria, mas serão atraídos os Espíritos trocistas e ficar-se-á exposto às ciladas em que são vezeiros. Cogitando, ao contrário, dos assuntos elevados do Espiritismo, nos asseguramos a colaboração de Espíritos sérios, que consideram um dever de sua parte cooperar em nosso adiantamento e educação. Empreendendo essa ordem de estudos, não tardaremos a reconhecer a rica extensão e variedade dos ensinos espíritas e quão fácil se torna resolver, com o seu auxílio, mil problemas até hoje inextricáveis e obscuros.

414. Se o concurso dos Espíritos superiores é desejável e deve ser procurado com empenho, o dos Espíritos vulgares e atrasados tem algumas vezes sua utilidade. Convém reservar-lhes um lugar nos trabalhos dos grupos solidamente constituídos e que contam com suficiente proteção. Em virtude de sua própria inferioridade, eles proporcionam um motivo de estudo bem característico; sua identidade se patenteia às vezes com indícios pessoais que impõem a convicção. A situação que ocupam no Espaço e as consequências que resultam de seu passado são elementos preciosos para o conhecimento das leis universais.

415. Certos grupos adotam como tarefa especial evocar os Espíritos inferiores e, mediante conselhos e exortações, instruí-los, moralizá-los, ajudá-los a desembaraçar-se dos laços que ainda os prendem à matéria. É das mais meritórias essa missão: exige a perfeita união das vontades, uma profunda experiência das coisas do invisível, que só se encontra nos meios de longa data dedicados ao Espiritismo.

416. Nos casos em que faltem os médiuns, ou sejam improdutivos, não deve ficar por isso o grupo reduzido à inação. A exemplo das sociedades ou agremiações científicas, deve ele procurar um alimento em todas as questões relacionadas com o objeto de suas predileções, as quais serão postas na ordem do dia e, do mesmo modo que as leituras de que falávamos acima, comentadas e discutidas, com grande aproveitamento para os ouvintes.

417. De tempos a tempos podem algumas sessões ser consagradas a conferências ou palestras, terminadas as quais cada um apresentará seus argumentos e objeções. Por essa forma os trabalhos de um grupo se tornarão não só um excelente meio de instrução, mas também um exercício oratório que virá preparar os seus membros para a propaganda pública.

418. Aparelhando-se para as discussões e as justas da palavra, poderão estes tornar-se úteis defensores e propagandistas da ideia espírita. É sempre em debates dessa natureza que se formam os oradores; por esse meio é que eles adquirem a eloquência, esse dom de emocionar as almas, empolgá-las para um elevado objetivo. Os adeptos do Espiritualismo não devem desprezar nenhum meio de se preparar para as vindouras lutas, de se apropriar desse duplo poder da palavra e da sabedoria, que permite a uma doutrina afirmar-se vitoriosamente em nosso mundo. (Continua no próximo número.)

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Por que a fusão das classes se deve efetuar, e com maior razão, nas associações espíritas?

O Espiritismo mesmo no-lo demonstra: nossas vantagens sociais são transitórias; o progresso e a educação do Espírito o induzem a nascer e renascer sucessivamente nas mais diversas condições de vida, a fim de adquirir os méritos inerentes a esses meios. Ele põe em relevo, com um poder de lógica não alcançado por nenhuma outra doutrina, a fraternidade e a solidariedade das almas, consequentes de sua origem e de seus destinos comuns. A verdadeira superioridade consiste nas qualidades adquiridas e se traduz principalmente por um sentimento profundo dos nossos deveres para com os humildes e os deserdados deste mundo. Portanto, qualquer separação de natureza social ou de classe é inconcebível numa organização que se diz espírita. (No Invisível - O Espiritismo experimental: X - Formação e direção dos grupos.)

B. É preciso cuidado para se evitar a intrusão dos maus Espíritos nas sessões mediúnicas? 

Sim. Nunca será demasiado lembrar os perigos que resultam da intrusão dos maus Espíritos nas sessões de um grupo em formação ou nos ensaios de um médium insulado. Muitas vezes são os nossos pensamentos que os atraem. Devemos, pois, abster-nos de toda preocupação com negócios ou prazeres, e fixar o pensamento num elevado objetivo, pondo-nos em harmonia de vistas e de sentimentos com as almas superiores. Conservando-nos nesse estado de espírito, sentiremos baixarem sobre nós correntes de energia, das quais ficaremos impregnados e que aumentarão a sensibilidade de nosso organismo fluídico. (Obra citada - O Espiritismo experimental: X - Formação e direção dos grupos.)

C. Que tipos de perguntas podem ser formuladas aos Espíritos em nossas sessões mediúnicas? 

Podem-se formular perguntas aos Espíritos sobre todos os problemas pertencentes ao domínio da Filosofia e da vida social, sobre as condições de existência no mundo espiritual, as impressões depois da morte, a evolução da alma etc. Todas essas perguntas devem ser apresentadas pelo presidente do grupo, simples e claras, sempre de ordem moral e desinteressadas. Evitar-se-ão, desse modo, perguntas sobre interesses pessoais, tesouros ocultos e assuntos parecidos. Cogitando somente dos assuntos elevados do Espiritismo, asseguraremos a colaboração de Espíritos sérios, que consideram um dever de sua parte cooperar em nosso adiantamento e educação. (Obra citada - O Espiritismo experimental: X - Formação e direção dos grupos.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 13 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/04/blog-post_21.html

 

 

 

 

 

  


 

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quinta-feira, 27 de abril de 2023

 



CINCO-MARIAS

 

Brincar é intrínseco à infância

 

EUGÊNIA PICKINA

eugeniapickina@gmail.com

 

Foi na fazenda de meu pai antigamente.

Eu teria dois anos; meu irmão, nove.

Meu irmão pregava no caixote

Duas rodas de lata de goiabada.

A gente ia viajar.

As rodas ficavam cambaias debaixo do caixote:

Uma olhava para a outra.

Na hora de caminhar

As rodas se abriam para o lado de fora.

De forma que o carro se arrastava no chão.

Eu ia pousada dentro do caixote

Com as perninhas encolhidas.

Imitava estar viajando.

Manuel de Barros

 

O ser humano nasce e cresce com necessidade de brincar, sendo uma das ações mais importantes na vida do indivíduo.

Quem educa uma criança, especialmente na primeira infância, precisa lembrar: o que realmente importa para a criança é o brincar, pois é isso que a coloca em contato com o próprio corpo e o entorno, aguçando curiosidade, linguagem, atenção, concentração, inúmeras habilidades...

Quanto menor a criança, menor parece ser a importância que ela dá ao brinquedo em si. Na realidade, crianças não se importam com muitos ou poucos brinquedos, brinquedos caros ou baratos, porque o que elas querem é explorar ludicamente o mundo. Brincando, as crianças expressam seu ser integral, pondo corpo, mente, sentimentos e espírito em evidência… Por isso, na hora das brincadeiras, tão importante a necessidade do silêncio, da solidão, na contramão do excesso (de estímulos, por exemplo), e para que as crianças possam ter contato com elas mesmas.

Atividade humana interpretativa, criadora, ao brincar a criança vivencia as coisas e o mundo, assimilando a cultura do meio em que vive, a ele se integrando de maneira particular e ainda como um ser social.

Intrínseco à infância, a criança, no dia a dia, aprende brincando – massinha, peteca, boneca, carrinho, amarelinha, queimada, soltar pipa, subir em árvores, construir cabana no gramado, montar casinha embaixo da mesa da sala – e para tomar consciência de si e do mundo, preparando-se para o futuro.

 

Notinhas

 

A criança que brinca precisa ser respeitada, pois seu mundo está em constante oscilação entre fantasia e realidade. Quando as crianças pequenas brincam, por exemplo, de ser outros – mãe, professora, médico, policial, bruxa, fada etc. – acabam por refletir sobre suas relações com esses outros, experimentando, com segurança, medo, tensão, tristeza, raiva etc.

Nas cidades, onde as crianças estão mais emparedadas e institucionalizadas, é essencial oferecer a elas mais liberdade de tempo e interação com espaços mais amplos, principalmente com a natureza, ou seja, crianças precisam brincar em parques, praças, espaços públicos, manipular barro, areia, explorar plantas, conhecer insetos...

 

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Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).

Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), ministra cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.

Seu contato no Instagram é @eugeniapickina

 

 

 

 


 

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