sexta-feira, 30 de junho de 2023



 No Invisível


Léon Denis

 

Parte 23

 

Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial do clássico No Invisível, de Léon Denis, cujo título no original francês é Dans l'Invisible.

Nossa expectativa é que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para leitura.

Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.

 

Questões preliminares

 

A. É verdade que homens eminentes aderiram, nos Estados Unidos, ao movimento espiritualista iniciado com os fenômenos de Hydesville?

B. As senhoritas Fox chegaram a trabalhar com alguns dos vultos citados?

C. Que fenômeno era, então, dos mais conhecidos e frequentes?

 

Texto para leitura

 

641. Ao movimento espiritualista não tardaram em aderir homens eminentes pelo saber, pelo caráter e pela posição social. O reverendo Brittain, o Dr. Hallock, o reverendo Griswold, os professores Robert Hare e Mapes, o grande juiz Edmonds, o senador Tallmadge, o diplomata R. Dale Owen, etc., estudaram atenta e demoradamente os fenômenos e afirmaram publicamente a intervenção dos Espíritos.

642. O senador Tallmadge, ex-governador do Wisconsin, descreve um caso de levitação de que foi objeto, em Washington:

“A mesa tinha quatro pés; era uma grande mesa para chá. Sentei-me ao centro. As três senhoras colocaram as mãos em cima, aumentando assim o peso de 200 libras que nela já existia. Ao começo, dois pés se elevaram do solo, depois outros dois se puseram ao nível dos primeiros, e a mesa ficou completamente suspensa no ar, a seis polegadas de altura. Tendo-me sentado em cima, senti um movimento brando, como se ela flutuasse. A mesa ficou alguns instantes suspensa e tornou a descer docemente.”

643. Veremos, dentro em breve, fatos semelhantes se produzirem em diferentes pontos da Europa, em particular nas sessões da médium napolitana Eusápia Paladino. Em rigor se poderia explicá-los pela ação de forças fluídicas emanadas dos assistentes, posto que pareça bem pouco provável que forças humanas exteriorizadas sejam, só por si, suficientes para pôr em movimento objetos tão pesados.

644. Aqui estão, porém, outros fatos que denotam a intervenção de Inteligências invisíveis. É sempre o senador Tallmadge quem fala:

“O fenômeno seguinte se produziu numa outra sessão com as senhoritas Fox. Estávamos presentes, os generais Hamilton e Waddy Thompson e eu. Recomendaram-nos que colocássemos a Bíblia, fechada, em uma gaveta sob a mesa. Era uma pequena Bíblia de algibeira, impressa em caracteres minúsculos. Durante algum tempo numerosos raps (pancadas vibradas) tamborilaram uma marcha que havíamos pedido. Foram depois se enfraquecendo como passos que se afastam, e cessaram inteiramente; e outros raps, dado o sinal do alfabeto, soletraram esta única palavra: Olhai. Tomei o livro com precaução, porque estava aberto. Soletraram: Lede, indicando os números dos versículos que desejavam que eu lesse. Durante essa leitura, pancadas violentas acentuaram com uma força estranha os sentimentos traduzidos. O livro estava aberto no evangelho de S. João, cap. III; os versículos a ler eram os seguintes:

8. O espírito sopra onde quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes donde ele vem nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.

11. Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e que damos testemunho do que vimos; e vós, com tudo isso, não recebeis o nosso testemunho.

19. E a causa desta condenação é: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque eram más as suas obras.

34. Porque aquele que Deus enviou fala palavras de Deus; porque não lhe dá Deus o espírito por medida.

Depois disso, mandaram-me colocar diversas folhas de papel para carta, com um lápis, na gaveta sob a mesa. Daí a pouco ouvimos o ruído do lápis no papel e bateram. Olhei debaixo da mesa; as folhas que eu aí havia colocado estavam em desordem e na folha de cima estava escrito: ‘I'm with you still (estou ainda convosco) – John C. Calhoun.’ Mostrei essa frase ao general Hamilton, antigo governador da Carolina do Sul, ao general Waddy Thompson, antigo ministro do México, ao general Robert Campbell, de Havana, assim como a outros amigos íntimos do senhor Calhoun. Mostrei-a também a um de seus filhos, e todos afirmavam que era um fac-símile perfeito da escrita de John Calhoun. O general Hamilton e a generala Macomb, que possuem muitas cartas particulares de Calhoun, indicaram como particularmente significativo o hábito constante que ele tinha de abreviar I am em I’m; de sorte que essa frase ‘I'm with you still’, breve como é, caracteriza perfeitamente o seu estilo e o seu modo peculiar de dizer.”

645. Na mesma ordem de fatos, citemos ainda o testemunho de Charles Cathcart, antigo membro do Congresso, homem instruído e influente, que ocupa em Indiana uma elevada posição social:

“Constituído o círculo, reconheci que o médium mais poderoso era meu filho Henry, criança de 7 anos apenas. A família não tivera ainda tempo de habituar-se a essa mediunidade, e inesperadas demonstrações se produziram. O pequeno Henry era balouçado no quarto como uma pena. Suspenso pelos Espíritos, era transportado até ao teto, às cornijas das janelas, aos recantos mais elevados dos aposentos, fora do alcance das mãos humanas. Às vezes, ficava o menino em transe mediúnico, e nesse estado dizia coisas admiráveis de sabedoria e de beleza; mas, apesar da confiança que a família depositava nos ternos cuidados e no caráter perfeitamente bom dos Espíritos seus amigos, a mãe não podia ver sem inquietação seu filhinho sob esse poder anormal, e suplicava aos invisíveis que o não sonambulizassem. Eles lhe repetiam constantemente, por intermédio da mesa, que essa influência era benéfica para o menino e lhes permitia a realização de atos muito importantes, como doutro modo o não poderiam fazer; mas como a Sra. Cathcart não se pôde conformar com essa fase de mediunidade, os Espíritos se abstiveram benevolamente de continuar os transes.”

646. O grande juiz Edmonds, presidente da Corte Suprema de Nova Iorque, em seu “Apelo ao público”, no qual refuta as malévolas imputações de que fora objeto após as suas investigações espiritualistas, assim resume o problema dos fenômenos e de sua causa:

“Vi uma mesa de pinho, de quatro pés, levantada do soalho, em meio de uma reunião de oito pessoas, derribada desordenadamente aos nossos pés, elevada acima de nossas cabeças, em seguida apoiada no encosto de um sofá em que estávamos sentados. Vi essa mesma mesa levantar-se sobre dois pés com uma inclinação de 45º, e assim permanecer, sem que se pudesse fazê-la voltar à sua posição normal. Vi uma mesa de acaju, de um único pé e tendo em cima uma lâmpada acesa, erguida a distância de, pelo menos, um pé acima do soalho, apesar dos nossos esforços em contrário, e agitada como um copo que se tivesse empunhado, conservando-se a lâmpada em seu lugar, mas entrechocando-se os pingentes. Vi essa mesa oscilar com a lâmpada em cima, a qual deveria ter caído, se não fosse amparada por outro meio que não pelo seu próprio peso, e, entretanto, não caiu e nem sequer se moveu. Vi, muitas vezes, mais de uma pessoa ser puxada com uma força a que lhe era impossível resistir, mesmo em ocasião em que eu juntava os meus esforços aos da pessoa empuxada. O que refiro não é sequer a centésima parte do que presenciei, mas é suficiente para mostrar o caráter do fenômeno. Nessa época, os jornais formularam diferentes explicações para ‘desmascarar a farsa’, como diziam eles. Li-os atentamente, contando receber auxílio em minhas pesquisas, e não pude menos que sorrir da audácia e inanidade dessas explicações. Enquanto, por exemplo, certos professores de Buffalo se jactavam de tudo haverem explicado pelo estalo das articulações dos dedos e dos joelhos, as manifestações consistiam no tilintar de uma campainha, que soava debaixo de uma mesa, e que era depois transportada de um para outro aposento. Ouvi médiuns servirem-se de termos gregos, latinos, espanhóis e franceses, quando sei que não conheciam outra língua além da sua. E é um fato que muitas pessoas podem atestar, esse de terem os médiuns, muitas vezes, falado e escrito em línguas que lhes eram desconhecidas. Pergunta-se então se, por qualquer misteriosa operação do espírito, tudo isso não é simplesmente um reflexo mental de algum dos assistentes. E a resposta é que se tem recebido comunicação de fatos ignorados e que em seguida são reconhecidos verdadeiros.”

647. O autor cita vários outros casos e depois acrescenta:

“Muitos pensamentos que me não estavam na mente, ou que eram mesmo contrários às minhas ideias, me foram revelados. Isso me aconteceu várias vezes, a mim como a outras pessoas, como para me convencer de que o nosso próprio espírito não toma parte alguma nessas comunicações. Tudo isso, porém, e muitas outras coisas semelhantes, me têm demonstrado que existe nesse fenômeno uma classe de Inteligências elevadas, colocadas fora da Humanidade; porque não há outra hipótese que eu possa imaginar, que explique todos os fatos estabelecidos pelo testemunho de dez mil pessoas, os quais podem ser verificados por quem quer que se dê ao trabalho de procurar. Reconheci que essas Inteligências invisíveis comunicavam conosco de vários modos, sem contar os raps, as mesas giratórias, e que, mediante esses outros processos, se obtinham, não raro, comunicações eloquentes e da mais pura e alta moralidade, entre muitas inconsequências e contradições.”

648. O fenômeno das casas mal-assombradas é um dos mais conhecidos e frequentes. Encontramo-lo um pouco por toda parte. Numerosíssimos são os lugares mal-assombrados, as casas em cujos soalhos, móveis e paredes se ouvem ruídos e pancadas. Em certas habitações, os objetos se deslocam sem contacto; caem pedras lançadas do exterior por uma força desconhecida; ouvem-se estrépitos de louça a quebrar-se, gritos, rumores diversos, que incomodam e atemorizam as pessoas impressionáveis.

649. Visitei algumas dessas casas, nelas permaneci demoradamente e pude quase sempre me certificar da presença de seres invisíveis, com os quais era possível entrar em comunicação, quer pela mesa, quer pela escrita mediúnica. Em tais casos adquiri eu a convicção de que os agentes das manifestações eram as almas das pessoas que haviam habitado esses lugares, almas sofredoras, que procuravam atrair a atenção; na maior parte das vezes, bastam pensamentos compassivos e preces para lhes dar alívio. Certos Espíritos são levados a esses sítios pela recordação de remotos crimes; outros, por um desejo de vingança; outros, ainda, por seu apego aos bens terrestres. As pesquisas da polícia jamais conseguem descobrir os autores de semelhantes fatos. Mesmo nos arremessos de pedras, nota-se que os projéteis são dirigidos por uma Inteligência invisível.

650. No caso da paróquia de Groben (Alemanha), descrito pelo pastor Hennisch, e no de Munchkof, que foi objeto de uma investigação dirigida pelo professor Arschauer, viam-se pedras descreverem um arco de círculo, depois um ângulo. Em Munchkof, mais de sessenta pessoas viram pedras saírem por uma janela, depois voltarem ao interior, descrevendo uma curva. Esses projéteis nunca feriram pessoa alguma: quando atingiam as testemunhas de tais cenas, resvalavam-lhes ao longo do corpo, sem produzir choque. Objetos que se procuravam interpor, a fim de lhes servirem de anteparo, eram arrebatados, por uma força oculta, das mãos dos que os sustinham e recolocados em seu lugar habitual.

651. O mesmo aconteceu na chácara de La Liodière, próximo a Tours. As pedras aí caíam em profusão, sem ferir ninguém. Parecia provirem de muito longe e eram de uma natureza geológica diferente da do país. Em Izeures (Indre-et-Loire), numa casa habitada pela família do empreiteiro Sr. Saboureau, ouvia-se, durante a noite, um corpo pesado, uma massa enorme, descer as escadas, fazendo ranger ao seu peso os degraus e os tabiques. Logo que se fazia luz, restabelecia-se o silêncio. A Srta. Saboureau, que é médium, foi várias vezes levantada, com a cadeira em que se achava sentada, e depois atirada ao chão. Estabeleceu-se um diálogo, por meio de pancadas convencionais, com um ser invisível que disse chamar-se Roberto e, por suas familiaridades, velo, com o tempo, a ser considerado amigo da casa.

652. Em Animismo e Espiritismo (cap. III, 1), Aksakof refere diversos casos de natureza mal-assombrada. Um deles teve por teatro uma chácara do distrito de Uralsk, no este da Rússia. O proprietário, Sr. Schtchapov, transmitiu ao “Mensageiro do Ural”, em 1886, a circunstanciada narrativa das perseguições ocultas a que esteve exposta sua família durante seis meses. Em vão se havia ele dirigido a todas as pessoas esclarecidas de seu conhecimento, algumas das quais se distinguiam por grande erudição:

“Todas as suas teorias científicas – diz ele – se aniquilavam diante da evidência dos fatos. É preciso ter feito por si mesmo a experiência; é preciso ter visto e ouvido, ter passado noites em claro e experimentado moral e fisicamente verdadeiras torturas até ao esgotamento das próprias forças, para adquirir finalmente a convicção inabalável de que há coisas de que os sábios nem mesmo suspeitam. As pancadas se faziam ouvir dia e noite. Os objetos cuidadosamente guardados em armários e cofres eram espalhados pelos quartos. A inteligência oculta se revelava acompanhando de pancadas ritmadas os cantos, as palavras e mesmo os pensamentos. Mediante pancadas e ruídos peculiares, como de arranhaduras de unhas, se estabeleceram diálogos entre o Sr. Akoutine, engenheiro químico, adido do governador do Oremburgo, e os Agentes invisíveis, sobre assuntos superiores aos conhecimentos dos habitantes da chácara. Globos luminosos surgiam de sob os leitos e dos recantos do quarto e flutuavam no espaço. A mão de uma criança aparece. Coisa mais grave: atearam fogo em diversos lugares e até nas roupas da Sra. Schtchapov, que escapou de ficar queimada. Foi preciso abandonar a toda pressa a casa tornada perigosa.”

653. Allan Kardec, na Revue Spirite, assinala vários fenômenos de natureza mal-assombrada, entre outros o caso do Espírito batedor de Bergzabern, cujas proezas duraram oito anos (números de maio, junho e julho de 1858); o do padeiro de Grandes-Ventes, próximo a Dieppe (março de 1860); o da rua des Noyers n° 95, em Paris (agosto de 1860); depois, sob o título “História de um condenado”, a história do Espírito batedor de Castelnaudary (fevereiro de 1860); a de um industrial de São Petersburgo (abril de 1860), etc.

654. A Revue d'Études Psychiques, de dezembro de 1903, refere, transcrevendo-o do Daily Express, de Londres, os curiosos sucessos que ocorreram na Raikes Farm, ocupada pela família Webster, em Beverley:

“O pão comprado ou fabricado para o consumo da casa diminuía, desaparecia de modo inexplicável, assim durante o dia como à noite. Um redator do Express fez uma pesquisa minuciosa a tal respeito e não pôde encontrar uma explicação razoável. Um ex-comissário de polícia, de Bishop-Burton, chamado Berridge, a quem foi, dias seguidos, confiada a guarda do lugar em que se arrecadava a farinha e fabricava o pão, confessou francamente que o fenômeno o desorientava por completo. Um dia, resolvido a tirar o caso a limpo, trouxe para o sítio dois pãezinhos que havia comprado em Beverley, guardou-os no compartimento da casa, cuja vigilância lhe fora confiada, reforçou com uma outra fechadura a que já existia, e esperou. O pão estava intacto. Cortando, porém, um dos pãezinhos que trouxera, ficou surpreendido o comissário de o achar metade oco. O próprio Sr. Webster, desconfiado antes de tudo de uma pilhéria de mau gosto, guardou o pão fresco no guarda-comidas, polvilhou de farinha o soalho do compartimento, perfeitamente seco, fechou a porta à chave e selou-a com duas tiras de percal. No dia seguinte, estava tudo intacto, menos os dois pãezinhos ali guardados, um dos quais havia desaparecido e estava o outro reduzido à metade. A situação se tornava cada vez mais inquietadora, apesar de toda a vigilância exercida, resultando ao mesmo tempo numa perda sensível de dinheiro, pelo que resolveu o Sr. Webster mudar-se.”

655. Outros fenômenos igualmente se produziram no aludido sítio. Depois que vinha a noite, começavam a ouvir-se estranhos ruídos de passos na escada e mudança de cadeiras e de utensílios de ferro do fogão, de um lugar para outro, despertando os moradores da casa. O rendeiro e o comissário faziam numerosas rondas e não descobriam coisa alguma. Certa noite, a Sra. Webster e um filho seu, de 14 anos, foram despertados por uma música extremamente doce. “Dir-se-ia um coro” – referiu no dia seguinte a Sra. Webster. (Continua no próximo número.)

 

Respostas às questões preliminares

 

A. É verdade que homens eminentes aderiram, nos Estados Unidos, ao movimento espiritualista iniciado com os fenômenos de Hydesville?

Sim. Léon Denis menciona alguns deles, que se destacavam em seu país pelo saber, pelo caráter ou pela posição social: o reverendo Brittain, o Dr. Hallock, o reverendo Griswold, os professores Robert Hare e Mapes, o juiz Edmonds, o senador Tallmadge, os generais Hamilton e Waddy Thompson e o diplomata Dale Owen, que estudaram atenta e demoradamente os fenômenos e afirmaram publicamente sua convicção acerca da intervenção dos Espíritos. (No Invisível - O Espiritismo experimental: Os fatos - XVI - Fenômenos espontâneos - Casas mal-assombradas – Tiptologia.)

B. As senhoritas Fox chegaram a trabalhar com alguns dos vultos citados?

Sim. Um dos fenômenos em que as irmãs Fox serviram de médiuns foi descrito pelo senador Tallmadge, que dele participou juntamente com os generais Hamilton e Waddy Thompson.  Além de diversos avisos dados por meio de raps, os Espíritos abriram um exemplar da Bíblia, que estava fechada em uma gaveta, e indicaram trechos do evangelho de S. João que deveriam ser lidos pelos presentes. Depois disso, pediram que fossem colocadas diversas folhas de papel para carta, com um lápis, na gaveta sob a mesa. Daí a pouco ouviu-se o ruído do lápis escrevendo no papel. Quando foram ver, as folhas de papel estavam em desordem e na folha de cima estava escrito: I'm with you still (estou ainda convosco) – John C. Calhoun. A frase foi mostrada a diversas pessoas que foram amigas íntimas do Senhor Calhoun e a um de seus filhos, e todos afirmaram que o texto era um fac-símile perfeito da escrita de John Calhoun. (Obra citada - O Espiritismo experimental: Os fatos - XVI - Fenômenos espontâneos - Casas mal-assombradas – Tiptologia.)

C. Que fenômeno era, então, dos mais conhecidos e frequentes?

Era o fenômeno das casas mal-assombradas, que podia ser encontrado por toda parte.  Numerosíssimos eram os lugares mal-assombrados, as casas em cujos soalhos, móveis e paredes se ouviam ruídos e pancadas. Em certas habitações, os objetos se deslocavam sem contacto; pedras caíam lançadas do exterior por uma força desconhecida; ouviam-se estrépitos de louça a quebrar-se, gritos, rumores diversos, que incomodavam e atemorizavam as pessoas impressionáveis. Nesta obra Léon Denis descreve alguns desses casos. (Obra citada - O Espiritismo experimental: Os fatos - XVI - Fenômenos espontâneos - Casas mal-assombradas – Tiptologia.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 22 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/06/no-invisivel-leon-denis-parte-22-damos.html

 

 

 

 


 

 

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quinta-feira, 29 de junho de 2023

 



CINCO-MARIAS

 

Educar uma criança: tarefa sublime

 

EUGÊNIA PICKINA

eugeniapickina@gmail.com

O amor é o eterno fundamento da educação. J. H. Pestalozzi

 

Sob a fragilidade de uma criança está um espírito milenar, ora mais experiente que o pai ou a mãe, ora mais ignorante, no entanto certamente sujeito a uma jornada de progresso.

Os pais, através do amor atento, devem auxiliar o filho – e desde pequeno – a assimilar bons hábitos, treinar virtudes, experimentar potencialidades, e, ao mesmo tempo, instigá-lo a refrear as más tendências.

Rudolf Steiner afirmou que “as tendências que a criança desenvolve depende de como nos comportamos perto dela”. Pois a infância é a fase da vida em que o ser humano está facilmente suscetível para assimilar a educação que recebe.

Infelizmente, pais que confundem educação com entretenimento não compreendem o papel da educação no período da infância. Agindo de modo irresponsável, acabam, muitas vezes, reforçando as más inclinações do filho em vez de ajudá-lo a praticar dia a dia hábitos que o ajudem a ser uma pessoa melhor no futuro...

Não podemos esquecer: as crianças são espíritos em evolução e estão temporariamente sob a guarda dos pais (ou dos responsáveis). 

Além do cuidado com a dimensão do corpo e da mente, por exemplo, ensinar a criança a admirar o belo, decidir o bem, agir de maneira solidária e justa, consciente da interdependência que une todos os seres no mundo, são requisitos essenciais ao desenvolvimento do ser humano contemporâneo.

Os pais, em palavras simples, precisam ser um modelo moral. Não adianta um pai exigir respeito de um menino de 6 anos se ele próprio, na hora do descontrole, humilha o filho. É essa atitude que marcará a criança.

Na infância, qual é o cenário familiar real? São espíritos lidando com espíritos. Como amar é estar presente, facilita muito a convivência doméstica quando os pais se envolvem de verdade na vida dos filhos – diálogos, brincadeiras, trocas de experiências –, quando apresentam regras claras e apropriadas à idade da criança, quando oferecem no dia a dia bons exemplos.

Nascer é uma coisa sublime. Feliz é a criança que conta com pais conscientes sobre a importância da educação dos filhos, pois “a infância deixa rastros em nossa memória, como sulcos num rosto ou num campo lavrado” (W. Wordsworth).

  

*

 

Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).

Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), ministra cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.

Seu contato no Instagram é @eugeniapickina

 

 

 

  



 

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quarta-feira, 28 de junho de 2023

 



Revista Espírita de 1863

 

Allan Kardec

 

Parte 9

 

Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1863, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

A coleção do ano de 1863 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.

Cada parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. Espírito batedor é o mesmo que Espírito tiptor?

B. A autoanálise é importante no processo evolutivo do ser humano?

C. O que distingue o Espiritismo das demais doutrinas filosóficas?

 

Texto para leitura

 

82. O “Orçamento do Espiritismo ou Exploração da Credulidade Humana” é o título de uma brochura publicada em Argel, em que o autor apresenta números mirabolantes para dizer que Allan Kardec embolsava uma renda anual de 38 milhões de francos. Eis alguns exemplos do absurdo: a Sociedade Espírita de Paris, que jamais teve 100 sócios, teria 3.000 associados, e a Revista Espírita contaria com 30.000 assinantes. O efeito junto aos espiritistas foi provocar uma enorme gargalhada e, nos demais, despertar o desejo de conhecer o nababo que ficou rico com o Espiritismo. (PP. 173 a 180)

83. O Sr. Sabô, de Bordeaux, conta que duas fábulas de origem mediúnica foram agraciadas no concurso anual promovido pela Academia dos Jogos Florais de Toulouse, em que se inscreveram 68 concorrentes. Uma - intitulada “O Leão e o Corvo” - obteve o primeiro prêmio; a outra recebeu menção honrosa. O autor desencarnado foi o Espírito familiar do Sr. T. Jaubert, vice-presidente do tribunal civil de Carcassone, que, evidentemente, não cientificou o júri sobre a origem mediúnica de seus dois trabalhos. As fábulas foram escritas por meio da linguagem alfabética das pancadas. (PP. 180 a 183)

84. Noutra carta, o Sr. Sabô relata uma experiência mediúnica por ele realizada, sendo médium o Sr. Jaubert. O Sr. Sabô fez, a pedido do médium, a evocação mental de um Espírito e eis que apareceu sua falecida esposa, morta aos 22 anos de idade, de nome Félicia, que Jaubert não conhecera. Comentando o fato, Kardec fez um único reparo: ao título de batedor dado ao Espírito que trabalha com o Sr. Jaubert. O vocábulo batedor é mais apropriado quando se refere a uma das classes constantes da escala espírita, na categoria de “Espíritos imperfeitos”. Como o objetivo do Espírito familiar do Sr. Jaubert é sério, Kardec prefere chamá-lo de Espírito tiptor, termo que se refere à linguagem tiptológica. (PP. 185 a 188)

85. Na seção de dissertações espíritas, a Revista transcreve três mensagens de origem mediúnica. Na primeira, La Fontaine diz que o que impede, por vezes, que nos corrijamos de um defeito é, certamente, não percebermos que o temos. Ele propõe então a autoanálise, o conhecimento de nós mesmos, para termos sucesso nesse campo. A segunda, sem identificação de autoria e recebida em Viena, destaca o valor da amizade e diz que a prece eleva o Espírito do homem para Deus, transportando-o para um estado de paz que o mundo não pode oferecer. A terceira, assinada apenas por um Filósofo do outro mundo, diz que o Espiritismo é obra de Deus e, por isso, tem assegurado um brilhante futuro, quando, graças à sua benéfica influência, haverá na Terra a concórdia e a fraternidade que ele apregoa. (PP. 191 a 194)

86. Interessante artigo sobre o sonambulismo abre o número de julho e nele Kardec reproduz carta de um distinto médico de Tarn, que afirma que certos fenômenos ligados ao sonambulismo provam com clareza a existência da alma e sua ação à distância, independente do corpo físico. Kardec comenta o assunto. (PP. 197 a 200)

87. A Revista transcreve dois pedidos de admissão formulados ao presidente da Sociedade Espírita de Paris, para mostrar o nível de consciência e o caráter dos que aderem às ideias espíritas através da leitura e do estudo. Nas duas cartas, ambos os missivistas dizem do efeito que a simples leitura d’O Livro dos Espíritos produziu em suas vidas. Comentando o assunto, Kardec afirma que a Sociedade Espírita de Paris só acolhe gente séria e que ali nenhum dos médiuns recebe retribuição. Quanto aos membros correspondentes e honorários, nenhum encargo financeiro lhes é imposto, visto que apenas os membros titulares e associados concorrem para o custeio das despesas da Sociedade. (PP. 200 a 204)

88. A última inventada para tentar ridicularizar o Espiritismo surgiu na Sala Robin, no Boulevard du Temple, onde aparecem espectros e fantasmas impalpáveis, imitando as aparições espíritas. O jornal Independence belge, falando sobre esse novo truque cênico, exclamou: “Eis a religião do Sr. Allan Kardec metida a pique. Como vai o Espiritismo sair-se desta?” Kardec diz que deve haver o dedo dos Espíritos nesse movimento, porque esses recursos, aliados à virulência dos sermões, acabam produzindo efeito contrário ao que os detratores do Espiritismo desejam. (PP. 204 a 206)

89. Um correspondente de Bordeaux, mencionando o fato que ocorreu com sua irmã na cidadezinha de B..., onde era difícil encontrar alguém para conversar sobre Espiritismo, mostra o efeito que quatro sermões proferidos pelos irmãos carmelitas tiveram na população da cidade. O resultado dos ataques – ao chamar os médiuns de possessos do demônio que só agem por interesse – foi que em toda a cidade só se falava, nos dias seguintes, do Espiritismo e todo mundo queria saber mais, fato que fez com que surgissem novos adeptos onde não havia praticamente nenhum. (PP. 207 e 208)

90. Em Constantinopla, conforme carta enviada à Revista pelo advogado Repos Filho, presidente da Sociedade Espírita local, os livros espíritas, mal chegam aos livreiros, são imediatamente vendidos. (P. 209)

91. Segundo o Sr. Repos Filho, um quadro desenhado mediunicamente por seu amigo e confrade Paul Lombardo foi admitido na Exposição nacional otomana com esta inscrição: “Desenho mediúnico. Executado pelo Sr. Paul Lombardo, de Constantinopla, que desconhece as artes do desenho e da pintura”. Comentando ambas as notícias, Kardec diz que o Espiritismo tem um caráter que o distingue de todas as doutrinas filosóficas: o de não ter um foco único, de não depender da vida de nenhum homem. Se o prejudicam aqui, ele surge ali. Eis aí a sua força. (PP. 209 a 211)  

 

Respostas às questões propostas

 

A. Espírito batedor é o mesmo que Espírito tiptor?

Não. O Sr. Sabô fez a evocação mental de um Espírito e eis que apareceu sua falecida esposa, que o médium não conhecera. Sua comunicação se fez por meio de pancadas. Comentando o fato, Kardec fez um reparo ao título de batedor dado ao Espírito comunicante, afirmando que o vocábulo batedor é mais apropriado quando se refere a uma das classes constantes da escala espírita, na categoria de “Espíritos imperfeitos”. Como o objetivo do Espírito que ali se comunicou foi sério, Kardec prefere chamá-lo de Espírito tiptor, termo que se refere à linguagem tiptológica. (Revista Espírita de 1863, pp. 185 a 188.)

B. A autoanálise é importante no processo evolutivo do ser humano?

Sim. Segundo o Espírito de La Fontaine, o que impede, por vezes, que nos corrijamos de um defeito é, certamente, não percebermos que o temos. Ele propõe então a autoanálise, o conhecimento de nós mesmos, para termos sucesso nesse campo. (Obra citada, págs. 191 a 194.)

C. O que distingue o Espiritismo das demais doutrinas filosóficas?

O que distingue o Espiritismo de todas as doutrinas filosóficas é o fato não ter um foco único, de não depender da vida de nenhum homem. Se o prejudicam aqui, ele surge ali. Eis aí a sua força. (Obra citada, pp. 209 a 211.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 8 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/06/revista-espirita-de-1863-allan-kardec_01043510072.html

 

 

 

 


 

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terça-feira, 27 de junho de 2023

 



Bem mais do que imaginamos

 

CÍNTHIA CORTEGOSO

cinthiacortegoso@gmail.com

 

Viver sem observar-se não há como conhecer-se, não se descobre até aonde se pode ir, ou melhor, se consegue ir nem o que se é capaz de fazer, nem o mínimo nem o máximo. Querer conhecer-se é o início do grande sucesso na vida, do desenvolvimento, da compreensão de que tudo se inicia e termina no interior. O que se definir, assim será. Não importa a exterioridade, o que sempre importará é como o interior deseja sentir-se.

Diante de situações árduas, incompreensíveis, a maneira como o interior decidir é o que contará. Raramente mudamos as ocorrências principalmente, as alheias , e precisamos conviver com elas, então, que sejam vividas da melhor maneira. Se a cada momento custoso houver desgaste ao extremo, como serão os nossos dias, visto que percalços são naturais na vida? A gravidade ou a simplicidade não se alternarão pelo nosso gosto, mas podemos determinar de forma mais adequada como resolver cada questão. Lembrando que nem toda energia pode ser recomposta.

E quando começa a conhecer-se aprende-se que tão mais forte é do que se imaginava, que se pode ir além do que se pensava, que se é capaz de realizações imensamente felizes e a vida passa a ter outra cor, dinamismo e o sentido verdadeiro do que é viver é compreendido.

E também quando começamos a conhecer-nos percebemos que a vida é, de fato, valiosa se ainda não havíamos percebido e que temos valor imensurável diante da vida. E tudo o que sempre existiu, mas foi despertado agora em nós, começa a reluzir amorosamente, começa a ter o seu valor real.

E esse despertar é para todos, porém há o tempo de cada um. Os nossos dias podem continuamente ter mais luz, depende do nosso livre-arbítrio e da forma como decidimos viver. Tudo começa em nós. A partir do momento em que desejamos viver com mais capacidade, liberdade das opiniões alheias e maior comprometimento e amor viveremos em sintonia com o que é melhor, ou seja, com o que Deus sempre nos deseja.

E nos surpreenderemos conosco e com tudo de maravilhoso que a vida nos oferece. Podemos bem mais do que imaginamos.

Em nós, está a centelha.

 

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