quinta-feira, 31 de maio de 2018





Natureza e qualidade
dos fluidos

Este é o módulo 82 de uma série que esperamos sirva aos neófitos como iniciação ao estudo da doutrina espírita. Cada módulo compõe-se de duas partes: 1) questões para debate; 2) texto para leitura.
As respostas correspondentes às questões apresentadas encontram-se no final do texto sugerido para leitura. 

Questões para debate

1. Que papel desempenha na economia do Universo o fluido universal?
2. O estado de imponderabilidade ou eterização é o primitivo estado normal do fluido universal?
3. Que importância têm os fluidos espirituais nas moradas peculiares ao mundo espiritual?
4. De que é constituída a atmosfera espiritual da Terra?
5. Os fluidos possuem qualidades intrínsecas, inerentes a eles próprios, ou não?

Texto para leitura

O fluido universal é o intermediário entre o Espírito e a matéria
1. O fluido cósmico universal é o elemento primitivo indispensável à intermediação entre o Espírito e a matéria propriamente dita. Para tornar possível esta intermediação, goza de propriedades comuns a ambos, pelo que não se pode dizer que ele seja matéria ou Espírito, já que estes são os dois elementos gerais, distintos, do Universo.
2. Da resposta dada pelos Espíritos superiores à questão no 27 d´O Livro dos Espíritos, extraímos os seguintes ensinamentos: 
“Deus, Espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas, ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela.” 
(...) “Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.”
3. Por suas inúmeras combinações com a matéria, sob a ação do Espírito, é o fluido universal capaz de produzir a imensa variedade dos corpos da Natureza. Em sua condição de elemento primitivo do Universo, o fluido cósmico assume os estados de eterização e de materialização ou, em outras palavras, de imponderabilidade e ponderabilidade. 
4. O primeiro pode ser considerado o primitivo estado normal e o segundo resulta das transformações daquele, que chega a apresentar-se como matéria tangível nos seus múltiplos aspectos.
5. O segundo estado é consecutivo ao primeiro e a tangibilidade da matéria assinala a passagem de um ao outro estado. Contudo, mesmo aí não ocorre transição brusca, porquanto podem considerar-se os nossos fluidos imponderáveis como termo médio entre os dois estados.

Para os Espíritos, os fluidos têm aspecto material
6. Esses dois estados são a causa de uma inumerável quantidade de fenômenos. Uns ocorrem no mundo invisível: constituem os fenômenos espirituais ou psíquicos e se ligam ao estado de eterização. Os outros sucedem no mundo visível: são os fenômenos materiais e relacionam-se ao estado de materialização.
7. O fluido cósmico sofre, no estado de eterização, sem deixar de ser etéreo, inúmeras modificações que dão origem a fluidos diferentes. Não obstante a mesma origem, possuem estes propriedades especiais. Para os Espíritos, esses fluidos têm, dentro da relatividade das coisas, aspecto material. São, por assim dizer, as substâncias do mundo espiritual e estão para os Espíritos como a matéria está para os encarnados. Eles os trabalham e utilizam para obterem os mais diferentes resultados, tal como os homens manipulam a matéria propriamente dita. Os processos é que são diferentes. 
8. Os fluidos do mundo espiritual escapam aos sentidos do indivíduo encarnado, que estão limitados à percepção apenas da matéria tangível. Há, no entanto, alguns intimamente ligados à vida corporal. Não podendo ser observados diretamente, pelo menos seus efeitos são percebidos.
9. No estado de eterização, os fluidos apresentam-se, em virtude das inúmeras modificações por que passam, em diferentes graus de pureza dentro da faixa compreendida entre a pureza máxima – ponto de partida do fluido universal – e sua transformação em matéria tangível. 
10. Quanto mais próximos do estado de materialização, menos puros os fluidos são. São eles que formam a chamada atmosfera espiritual da Terra. É desse meio, onde igualmente são vários os graus de pureza, que os Espíritos encarnados e desencarnados vinculados ao planeta haurem os elementos necessários à economia de sua existência. Atendidas as condições físicas e de vitalidade próprias de cada planeta, a situação é a mesma em relação aos outros mundos.

Não é muito correta a denominação “fluidos espirituais”
11. Os fluidos peculiares ao mundo espiritual são também denominados fluidos espirituais, denominação que decorre de sua afinidade com os Espíritos. Essa expressão não é, porém, muito correta, porque verdadeiramente espiritual somente a alma o é. Tais fluidos constituem, na realidade, a matéria do mundo espiritual. 
12. Os Espíritos agem sobre os fluidos espirituais utilizando o pensamento e a vontade. A repercussão dessa ação assume grande importância para os homens, porque esses fluidos são o meio de propagação do pensamento, que tem o poder de modificar-lhes as propriedades, ou seja, o pensamento impregna de boas ou más qualidades os fluidos com os quais entra em contato, alterando-os pela pureza ou impureza dos sentimentos. 
13. Podemos, desse modo, afirmar que os pensamentos, conforme sejam bons ou maus, purificam ou poluem os fluidos espirituais. Os fluidos que envolvem os maus Espíritos, ou que estes projetam, são, portanto, viciados, ao passo que os fluidos que recebem a influência dos bons Espíritos são tão puros quanto o comporta o grau de perfeição moral deles.
14. Cada pensamento comunica, assim, determinada qualidade aos fluidos projetados pelas pessoas. Segue-se daí que, em face da enorme variedade de pensamentos, inumeráveis são os tipos de fluidos, o que torna impraticável classificá-los. Não possuem eles denominações próprias; são identificados por suas propriedades, efeitos e tipos originais. A natureza dos nossos sentimentos, virtudes, vícios e paixões imprime-lhes características correspondentes, e por causa disso produzem eles efeitos físicos diversos, tais como excitação, calma, irritação, narcose, toxidez, adstringência etc.
15. Os fluidos – ensina Kardec – não possuem qualidades intrínsecas, mas sim as que adquirem no meio onde se elaboram. Modificam-se pelos eflúvios desse meio, como o ar pelas exalações e a água pelos sais das camadas que atravessa. Conforme as circunstâncias, suas qualidades são temporárias ou permanentes, o que os torna muito especialmente apropriados à produção de tais ou tais efeitos.

Respostas às questões propostas

1. Que papel desempenha na economia do Universo o fluido universal?
O fluido universal desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela. 
2. O estado de imponderabilidade ou eterização é o primitivo estado normal do fluido universal?
Sim. 
3. Que importância têm os fluidos espirituais nas moradas peculiares ao mundo espiritual?
Sua importância é muito grande, porque eles são, por assim dizer, as substâncias do mundo espiritual e estão para os Espíritos como a matéria está para os encarnados. Os Espíritos os trabalham e utilizam para obterem os mais diferentes resultados, tal como os homens manipulam a matéria propriamente dita. Os processos é que são diferentes. 
4. De que é constituída a atmosfera espiritual da Terra?
Ela se constitui dos fluidos mais próximos do estado de materialização, ou seja, dos menos puros.
5. Os fluidos possuem qualidades intrínsecas, inerentes a eles próprios, ou não?
Não. Eles não possuem qualidades intrínsecas, mas sim as que adquirem no meio onde se elaboram.


Bibliografia:
O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, questões 21 a 27.
A Gênese, de Allan Kardec, itens 2, 5, 16 e 17, pp. 274 a 284.


Nota:
Eis os links que remetem aos 3 últimos textos:





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quarta-feira, 30 de maio de 2018




O discípulo ambicioso

Irmão X

Quando Judas, obcecado pela ambição, procurou avistar-se com Caifás, no Sinédrio, trazia a cabeça incendiada de sonhos fantásticos. Amava o Mestre - pensava, presunçoso -, entretanto, competia-lhe cuidar dos interesses d’Ele.
A vaidade absorvia-o. A paixão pelas riquezas transitórias empolgava-lhe o espírito. Despreocupado das necessidades próprias, intentava resolver os problemas do Senhor, perante as forças políticas do tempo. Valer-se-ia da influência prestigiosa dos sacerdotes, movimentaria Jerusalém, tomaria o cetro do povo israelita, em obediência às tradições dos reis e juízes do passado e, logo que fosse consolidado o poder, restituiria a Jesus a direção, a honra, a chefia... O Mestre ensinava a concórdia, a tolerância, a paciência e a esperança, mas, como efetuar as reformas necessárias, através de simples atitudes idealistas?
E o discípulo, em atitude de homem escravizado à ilusão, aguardava Caifás, que não se fez esperar muito tempo.
Na sala enorme, iniciaram discreta conversação.
O sumo-sacerdote, após abraçá-lo com fingida simpatia, observou, em tom cordial:
- Com que então o Templo tem a felicidade de contar com a sua valiosa colaboração!
- Ah! sim, é verdade - exclamou o leviano aprendiz, sentindo-se envaidecido.
Caifás, consciente da própria importância na administrarão de Jerusalém, voltou a dizer:
- Precisávamos de alguém, com bastante coragem, para salvar o Messias Nazareno.
- Oh! Sim - disse Judas, contente -, compreendo a situação.
- De fato - prosseguiu o chefe do Templo - necessitamos de um rei que nos restaure a liberdade política e, em boa hora, os galileus nos oferecem tal oportunidade. Aliás, tenho muito prazer em tratar com a sua pessoa, homem providencial na realização, que não perde tempo com palavras ociosas. Tentei abordar indiretamente outros homens daqueles que acompanham o Nazareno, porém todos eles, ao que me pareceu, são esquivos e indecisos. Creia, no entanto - e elevou muito o diapasão de voz, impressionando o interlocutor pela segurança verbal -, creia, porém, que o seu gesto, anuindo aos nossos propósitos, apressará a vitória do Messias, conferindo elevados títulos aos seus companheiros. Terão eles destacada posição de domínio e sentar-se-ão na assembleia mais alta do povo escolhido. É tempo de libertação e, certo, Jesus é o rei que Jeová nos envia.
Judas não cabia em si mesmo, tal o contentamento que lhe tornava o coração. Preocupado, no entanto, com a situação do Profeta, a quem tanto devia, perguntou, humilde:
- E o Mestre?
Dissimulou Caifás os sentimentos sinistros que lhe vagavam na alma e respondeu em voz quase doce:
- Compreenderá, certamente, a necessidade das medidas aparentemente rigorosas. O Mestre, por exemplo, segundo o plano estabelecido, será preso, por uma questão de segurança pessoal. Será detido, a fim de que se coloque a salvo de qualquer incidente desagradável, enquanto nos valeremos da grande aglomeração de patriotas na cidade para proclamar a nossa independência. Liquidada a vitória inicial, com a submissão das autoridades romanas, coroaremos o Messias, que ostentará o cetro do poder.
O discípulo exultava.
Conhecedor antigo dos efeitos da lisonja nos corações indisciplinados e invigilantes, Caifás continuou:
- O meu prestimoso amigo, até que se resolva a situação em definitivo, chefiará os companheiros e receberá as homenagens que lhe são devidas. Tomará o lugar do Messias, provisoriamente, e ditará ordens, até que ele próprio, com a garantia desejável, possa assumir o poder.
Satisfeitíssimo, o visitante indagou:
- E que devo fazer inicialmente?
O sacerdote perspicaz respondeu com naturalidade:
- Não temos tempo a perder. Formaremos a documentação necessária.
- Como devo fazer? - perguntou ainda o aprendiz enganado.
- Chamarei as testemunhas - esclareceu o sumo sacerdote - e, perante nós, responderá afirmativamente a todas as interrogações que lhe forem dirigidas. Não precisará informar-se quanto a particularidade alguma. Bastará responder “sim” a todas as perguntas formuladas. Posso dispor de sua lealdade?
Judas não hesitou. Estava decidido a seguir as instruções, de modo incondicional.
Mais alguns minutos e organizou-se pequena assembleia, com juízes e testemunhas. Dois escribas perfilaram-se para fixar as declarações. Formada a reunião, o sumo sacerdote chamou o denunciante e iniciou o interrogatório:
- É discípulo de Jesus, o Nazareno?
Confiante, Judas respondeu:
- Sim.
- Vem fazer declarações ao Sinédrio, como judeu convicto da santidade da lei?
- Sim.
- Afirma que o Messias Nazareno pretende ser o rei de Israel?
- Sim.
- Assegura que ele promete a revolução contra o poder de César e a autoridade de Antipas?
- Sim.
- É verdade que Ele odeia os romanos?
- Sim.
- Deseja, de fato, aproveitar a Páscoa, para começar a rebelião?
- Sim.
- Declarará a emancipação política de Israel, imediatamente?
- Sim.
- Promete lutar contra quaisquer obstáculos para derrubar as combinações políticas existentes entre Roma e esta província, no sentido de coroar-se rei?
- Sim.
De posse das declarações comprometedoras, Caifás interrompeu o inquérito, mandou que Judas esperasse na antessala e iniciou providências junto de romanos e judeus, para que Jesus fosse preso, imediatamente, como agitador político e explorador da confiança pública.
Em breves horas, um grupo de soldados postava-se nas vizinhanças do Templo, à espera da ordem final, e Caifás, compensando Judas com algum dinheiro, fez-lhe sentir a necessidade de sua orientação na prisão inicial do Messias, assegurando que, em breve tempo, se cumpriria a redenção de Israel.
O discípulo invigilante foi à frente de todos e encaminhou a triste ocorrência.
E, quando os fatos marcharam noutro rumo, debalde o Iscariote procurou avistar-se com as autoridades, tão pródigas em promessas de poderes fascinantes.
Findo o processo de humilhações, encarceramento, martírio e condenação de Jesus, o aprendiz infiel conseguiu encontrar o sumo sacerdote e alguns intérpretes da lei antiga, em animada conversação no Sinédrio.
Em lágrimas, Judas rogou que fosse interrompida a tragédia angustiosa da cruz, e sentindo, tarde embora, que fora vítima da própria ambição, devolveu as moedas de prata, exclamando, de joelhos:
- Socorrei-me!... Cometi um crime, traindo o sangue inocente!... A vaidade perdeu-me, tende compaixão de mim!...
Os interpelados, porém, como velhos representantes da ironia humana, responderam simplesmente:
- Que nos importa? Isso é contigo...

Do livro Lázaro Redivivo, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.




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terça-feira, 29 de maio de 2018




A vantagem que não passa de ilusão


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

Se aos olhos do Pai tudo é percebido, grande ilusão é usar meios ou palavras insensatas, mas convincentes, para ludibriar quem quer que seja; isso seria apenas a criação da própria armadilha para o desfiladeiro no futuro. Há muito a se administrar na própria vida e não deveria sobrar tempo nem vontade para atitudes tão reprováveis.
Quantos iludidos corações se perdem e sofrem com palavras sussurradas brandamente, mas com significação contrária. Quantos aproveitadores imaginam conquistar alguma vantagem, porém, a humilhação, a vergonha e a desonradez serão as únicas a aplaudirem-nos em sua infelicidade.
Inúmeras atitudes em diversificados lugares podem garantir o sofrimento disfarçado de vantagem. Convencer alguém, em sentido contrário, de algo sem importar-se com as consequências visando somente o próprio, egoísta e orgulhoso benefício, de fato, é uma ação torpe, vergonhosa e totalmente ilusória. Pobre coração.
Atitudes “aparentemente” triviais como oferecer algo inferior garantindo ser de boa qualidade; pronunciar palavras com falso sentimento para garantir sua conquista; usar a mentira com olhar terno para alcançar o objetivo; desmerecer um coração e convencê-lo de que só em determinada circunstância poderá ser feliz, sinceramente, é uma desprezível condição. Vários são os recursos hábeis para a façanha da vantagem indevida e definitivo será o momento de sua reparação. Outro ponto tão inferior é valer-se do nome ou das palavras influentes de indivíduos respeitados para vergonhosamente usá-los em seus pobres e imprudentes projetos de vaidade. Mas o Pai sabe tudo e por seu eterno amor ainda aguarda o filho iludido ao retorno do caminho da verdade que traz paz ao coração... tão diferente do caminho que se tira proveito a qualquer custo criando densa atmosfera cujo maior sofredor é quem gerou.
Enquanto um indivíduo planta espinhos que o ferirão, graças a Deus, inúmeros outros corações plantam as mais benéficas sementes que lhes resultarão frutos maravilhosos na seara fraterna e abençoada do Mestre. A colheita é obrigatória. Trabalho sempre haverá, da mesma forma o número de oportunidades para o melhoramento ou não; o livre arbítrio se faz presente.
Quando o coração realiza bons atos parece que ele cria asas e quer voar. E como é extraordinário sentir-se em paz com boas atitudes, poder olhar a quaisquer olhos e não se envergonhar de nenhuma ação imprudente querendo tirar vantagem.
Amor e caridade são luzes no andamento da vida, portanto, iluminam a estrada trazendo discernimento a quem quiser aprender, já que todos possuem, de uma maneira mais intensa ou não, as características do que é do bem e tudo aquilo que ainda não alcançou a luz.
Armadilhas morais há em cada metro de situação e para onde o nosso coração quiser ir, mas se sabe que a felicidade real nasce da bondade e do trabalho realizado na seara abençoada cujos ingredientes indispensáveis são o amor e a caridade e de forma alguma nenhum outro tipo que seja de vantagem trazendo prejuízo ao irmão da caminhada.
A máxima incontestável “faça ao próximo o que deseja a si próprio” é de um ensinamento primoroso que atravessa o tempo.

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/




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segunda-feira, 28 de maio de 2018




Perdão e paz

Maria Dolores

O refúgio de amor da Boa Nova,
Denominado Casa do Caminho,
Albergava um montão de pessoas em prova,
Entremostrando, fartamente,
Doença, inquietação, cansaço, desalinho...
O Sol se despedia no poente.
Tudo, em Jerusalém, no entardecer,
Requeria parada de lazer
Depois do dia quente.
Entretanto, na Casa do Senhor,
Intensa, prosseguia
A tarefa de paz, de compreensão e amor...

Enfermos sem família que os quisesse,
Débeis mentais em desvalia,
Mulheres desoladas,
Crianças de ninguém, colhidas nas calçadas,
Junto dos companheiros de Jesus,
Alinhavam-se em prece,
Rogando aos Céus socorro, amparo e luz...

No transcurso do dia,
Simão Pedro suara e trabalhara tanto,
Que se acolhera, a sós, em singelo recanto,
Tentando se esquivar à estafa que sentia...
Mas um dos assessores
Veio apressado pelos corredores,
E disse-lhe, através da voz tremente:
- “Irmão Pedro, chegou à nossa porta
Um velhinho em feridas...
Geme e grita com dores incontidas.
É o rabino Joaz que conheceis,
Antigo fazedor de nossas leis”.
Pedro aprumou-se e respondeu,
Como quem se arrojara a intenso asco:
- “Joaz, filho de Aquim, o terrível carrasco,
Que odeia o mundo galileu”?

Em seguida indagou do jovem emissário:-
- “Não conheces a trama do Calvário?
Pois não sabes, nos textos em que estudas,
Que foi ele um dos vários matadores
Que aconselharam Judas
A complicar o Mestre Inesquecível”?
E, dando um murro à mesa,
Ajuntou: “É impossível!...
Aqui não entrará semelhante traidor...
Que ele sofra, por lei da Natureza,
Remorso e enfermidade, entre gritos de dor...
Cumpro o que penso e falo,
Eu mesmo irei à porta, a fim de despachá-lo”...

Descia a noite devagar,
A penumbra invadia o grande lar.
Pedro avançava para a entrada,
Mostrando na expressão a alma rude e agitada
Mas, quase rente à porta, um homem sereno
Nele cravou o olhar calmo e profundo...
O apóstolo excitado o reconheceria
Fosse onde fosse, em todo o mundo...
Era Jesus, o Mestre Nazareno...

Empolgado de pranto e de alegria,
Simão interrompeu, atarantado,
“A que vindes, Senhor?
Ordenai o que for de vosso agrado”...
O Cristo replicou, carregando de amor
As palavras sublimes que trazia:
- “Compreendo, Simão, a repulsa que sentes,
Não pudeste esquecer as horas de agonia
Dos nossos dias diferentes...
Mas escuta, Simão:
É preciso abrandar o coração...
Olvidar toda ofensa é prosseguir em paz.
Pedro, venho pedir-te por Joaz,
Ele já não é mais o duro algoz de outrora,
É um pobre penitente que se escora
Nas chagas que carrega,
Um enfermo infeliz
De alma cansada e cega
Que a si mesmo se acusa e se maldiz...
Recorda a nossa fala de outras vezes,
Se Joaz te feriu a alma fraterna e boa,
Pedro, escuta!... Perdoa
Setenta vezes sete vezes...
Não te detenhas, vai,
Lembra o Infinito Amor de Nosso Pai...
Cada qual pagará pelas culpas que tem
Na justiça que vela sem cessar,
Quanto a nós cabe sempre a tarefa do bem:
Aprender e servir, compreender e amar...
Auxilia-me, enfim,
Faze o bem a Joaz, qual o fazes por mim”!...

Dissolveu-se na sombra a divina figura;
O apóstolo chorou, tocado de amargura...
Depois, ganhou a porta em ritmo apressado.
Um homem seminu jazia esfarrapado,
Estirado na pedra à sua própria frente.
O antigo pescador contemplou o doente
E inquiriu sobre ele ao tristonho rapaz
Que se punha a assisti-lo.
O moço esclareceu:
- “Amigo, este é Joaz
Que pede proteção ao teto deste asilo,
Está mudo, febrento, desprezado...
Recebei-o, por Deus, ao vosso lado
Por tutelado e amigo,
O rabino de outrora hoje é um triste mendigo”...

Transformado, Simão,
Alçou Joaz
Ao nível de seu próprio coração.
Depois falou para o interlocutor:
- “Ide em paz,
Deixai Joaz conosco, é nosso irmão,
Ele pertence agora ao nosso amor,
Tal qual se fez e tal qual se apresenta”...
E enquanto o jovem sai como quem não se atrasa
A fim de obedecer aos seus chefes hebreus,
Pedro ainda aditou em voz tranquila e atenta,
- “Ele será mais nosso em nossa casa,
Que esta casa é de Deus!...”

Do livro A Vida Conta, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.






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