segunda-feira, 31 de março de 2014

As mais lindas canções que ouvi (81)


As vitrines

Chico Buarque de Hollanda


Eu te vejo sumir por aí,
Te avisei que a cidade era um vão,
Dá tua mão,
Olha pra mim,
Não faz assim,
Não vai lá não.

Os letreiros a te colorir
Embaraçam a minha visão;
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir...

Já te vejo brincando, gostando de ser,
Tua sombra a se multiplicar.
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar...

Na galeria
Cada clarão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão,
Passas em exposição,
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão...


Você pode ouvir a canção acima na voz de um dos cantores seguintes, à sua escolha:



domingo, 30 de março de 2014

Desenvolver o sentimento religioso faz bem às pessoas


No item VII da Conclusão d´O Livro dos Espíritos, obra que lançou os fundamentos da doutrina espírita, Kardec alude aos efeitos que se verificam na vida das pessoas que compreendem o Espiritismo filosófico e nele veem outra coisa que não apenas fenômenos mais ou menos curiosos.
A resignação com relação às vicissitudes da vida seria, segundo Kardec, um desses efeitos. Entenda-se, porém, que na visão espírita resignação não quer dizer passividade, mas aceitação das coisas que não podemos mudar, embora lutemos para que a mudança ocorra. “O Espiritismo – observou Kardec – dá a ver as coisas de tão alto, que, perdendo a vida terrena três quartas partes da sua importância, o homem não se aflige tanto com as tribulações que a acompanham. Daí, mais coragem nas aflições, mais moderação nos desejos. Daí, também, o banimento da ideia de abreviar os dias da existência, por isso que a ciência espírita ensina que, pelo suicídio, sempre se perde o que se queria ganhar.”
A certeza quanto ao futuro, que podemos realmente tornar feliz, e a possibilidade de estabelecermos relações com os entes queridos oferecem ao espírita suprema consolação. “O horizonte se lhe dilata ao infinito, graças ao espetáculo, a que assiste incessantemente, da vida de além-túmulo, cujas misteriosas profundezas lhe é facultado sondar”, acrescentou o Codificador do Espiritismo.
Outro efeito, sempre conforme as palavras de Kardec, é o de estimular no homem a indulgência para com os defeitos alheios, embora o princípio egoísta e tudo que dele decorre sejam o que há de mais tenaz no homem e, por conseguinte, o mais difícil de desarraigar. “Toda gente – escreveu o Codificador – faz voluntariamente sacrifícios, contanto que nada custem e de nada privem. Para a maioria dos homens, o dinheiro tem ainda irresistível atrativo e bem poucos compreendem a palavra supérfluo, quando de suas pessoas se trata. Por isso mesmo, a abnegação da personalidade constitui sinal de grandíssimo progresso.”
Focalizemos agora o efeito que Kardec enumerou como sendo o primeiro e o mais geral, o qual consiste em desenvolver o sentimento religioso nas pessoas que tomam contato com a doutrina espírita, mesmo naquelas que, sem serem materialistas, olham com absoluta indiferença para as questões espirituais.
Se na época de Kardec, com o desprestígio que já afetava as religiões dominantes, seria discutível ver importância em alguém desenvolver o sentimento religioso, um efeito que o Codificador expressamente destacou na obra citada, acreditamos que nos dias atuais, conquanto o desprestígio das religiões tenha até se acentuado, tal dúvida perdeu grandemente sua força.
Dizemos isso porque estudos diversos, publicados nos últimos anos, comprovaram a importância da fé, até mesmo nas questões de saúde, porque é ela que mantém acesa a chama da esperança, tão importante na superação dos conflitos e das provações da vida.
Em favor deste pensamento, foi divulgado recentemente o resultado de um estudo feito pelo University College London e publicado no "British Journal of Psychiatry", no qual foram entrevistadas 7.400 indivíduos, dos quais 35% seguiam uma religião e 46% se declararam ateus e agnósticos.
Uma das conclusões do trabalho é que a falta da prática de uma religião eleva o risco de transtornos mentais e acentua a tendência de se buscar o uso de drogas.
Os autores da pesquisa, que foi coordenada pelo professor Michael King, reconhecem que são necessários outros estudos para explicar realmente a relação existente entre os não religiosos e os transtornos mentais, mas entendem que o trabalho publicado sugere uma explicação, mesmo que parcial, para o fenômeno, a saber: a falta da estrutura de uma religião formal na busca espiritual pode deixar os crentes mais vulneráveis aos problemas mentais. Em outras palavras, desenvolver o sentimento religioso faz bem às pessoas e não apresenta contraindicação.



sábado, 29 de março de 2014

A força da mulher moderna


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Minha amiga, não posso acreditar no que me dizes. É verdade que já ouviste muito marido dizer que sua mulher não sabe cozinhar? Diga-lhe que, se quiser uma cozinheira, é só pagar...
Também ouves muita gente, no trânsito dizer que mulher não sabe dirigir? Isso é despeito, amiga, a maioria dos acidentes ocorre com os homens ao volante.
É ridículo ouvir uma cantada grosseira; por vezes, é mais que isso, é de dar medo. Um animal assim, não tem educação e, principalmente, falta-lhe caráter. Nenhuma mulher, ouviu bem, meu caro? Mulher alguma gosta de se sentir um objeto nas mãos de um homem.
Uma amiga reclamou comigo que, convidada a participar de um programa de bate-papo sobre futebol, foi tratada com o maior desprezo. Um dos participantes, com a intenção maldosa de humilhá-la, perguntou-lhe qual era a escalação do time dela.
Sabe o que ela fez? Respondeu com a mesma pergunta: primeiro você cita o nome e a posição de cada jogador do seu time... Ele emudeceu na hora. Não sabia o nome de metade dos jogadores... Foi então que ela citou não somente os titulares, como também os reservas. Do time dela e do dele.
Humilhou, não é mesmo, amiga? Bem-feito.
E as piadinhas com a mulher? Se é loura, é burra; se trabalha em atividades predominantemente masculinas, é sapatão ou mal amada; se anda sozinha, à noite, na rua, ou toma uma cerveja sozinha, no bar, está procurando homem. Quanto absurdo, meu Deus!
Pois a mulher moderna está se lixando para os preconceitos: se gosta de tatuagem, usa; se a roupa curta lhe é prazerosa, veste; se gosta de uma boa balada, vai com os amigos, vai só, mas vai; se é solteira ou casada, fala sobre sexo com a maior naturalidade; se gosta de um cara, diz-lhe isso, com toda a graça feminina; pois, para a mulher atual, não existe tabu em relação a nenhum assunto.
É assim que a mulher de hoje vem conquistando seu espaço e sua liberdade. Só lhe falta uma coisinha: os machões aprenderem a respeitá-la e os patrões, a remunerá-la com o mesmo salário que recebem seus colegas para fazerem o mesmo trabalho.
A história da Eva ter seduzido Adão ao lhe oferecer a maçã, no paraíso, após ter sido criada de uma costela dele, precisa ser revista, urgentemente. O que ocorreu ali foi o seguinte: como sem a mulher não existe qualquer ser humano, pois ela é que é cocriadora, com Deus, o Senhor lhe disse:
— Mulher, a partir de hoje, terás um companheiro carnal, pois não é bom que estejas só. Ele ficará encarregado de proteger-te e de prover tudo o que for necessário para a vida do casal e de seus filhos, que serão fruto do amor de ambos. Se um dia o homem bancar o engraçadinho e se meter a te dar ordens, a te oprimir e desrespeitar, logo, farei de ti um ser mais completo que ele.
E foi assim, amiga, que a mulher se tornou, nos dias de hoje, tão ou mais inteligente que o homem, tão ou mais eficiente que ele, nas atividades profissionais e tão capacitada quanto ele no comando do fogão, da geladeira e da vassoura, entre outras atividades caseiras.        Se teu marido não quiser dividir, contigo, o serviço de casa, após um dia estafante de trabalho fora, para ambos, passa-lhe um sabão.
— Mas, Machado, sendo ele, ainda, mais forte do que eu, não poderia reagir com violência?
— Ai dele, se fizer isso! Lei Maria da Penha nele!

Visite o blog Jorge, o sonhador: http://www.jojorgeleite.blogspot.com.br/




sexta-feira, 28 de março de 2014

É certo doar órgãos para fins de transplante?


Um leitor nos pergunta: Qual é o posicionamento espírita no tocante à doação de órgãos? Com a pergunta, diz-nos o leitor ter ouvido no meio espírita comentários tanto a favor como contra. Afinal, quem está certo?
É bom explicar, inicialmente, que Allan Kardec não tratou do tema doação de órgãos, uma prática impensável em sua época, e por esse motivo não existe na Doutrina Espírita algo que nos fale sobre doação de órgãos para fins de transplante.
Os autores espíritas posteriores a Kardec, tanto os encarnados quanto os desencarnados, jamais se manifestaram contra a doação para tal finalidade.
De fato, quando surgiram na Terra os primeiros casos de transplante de coração houve quem entendesse que doar um órgão poderia constituir um erro, porque, ao fazê-lo, a pessoa estaria interferindo indevidamente no curso de uma prova que o beneficiário da doação teria de enfrentar.
Essa ideia, absolutamente equivocada, não perdurou muito tempo. Chico Xavier, por exemplo, respondendo a uma pergunta que lhe foi feita na época, afirmou peremptoriamente que devemos, sim, doar os órgãos prestantes a quem deles necessita, do mesmo modo que doamos uma roupa usada, um calçado, um objeto qualquer a uma pessoa carente.
Dr. Jorge Andréa, conhecido autor e médico espírita, também se posicionou na ocasião afirmando que os transplantes tinham vindo para ficar e que nenhuma religião tem o direito de opor obstáculo às conquistas da Ciência, sobretudo quando essa conquistas prolongam a vida e ampliam as possibilidades de progresso da criatura humana.
Devemos ser, e certamente o somos, contrários, sim, às práticas que levam à morte – como o aborto e a eutanásia, em todas as suas formas. Mas jamais poderíamos, em nome do Espiritismo, desaprovar as práticas que valorizam a vida, como o é a doação de órgãos, cientes da importância que o processo reencarnatório tem na vida de todos nós.




quinta-feira, 27 de março de 2014

Pílulas gramaticais (96)


É preciso saber utilizar corretamente o artigo definido (o, os, a, as), que está bem aplicado quando substitui o possessivo antes do nome de partes do corpo ou de itens do vestuário, como nestes exemplos:

  1. Joana mexeu os braços (em vez de “Joana mexeu seus braços”)
  2. Maria passou a mão pelos cabelos (em vez de “Maria passou sua mão pelos cabelos”)
  3. Ele vestiu as calças (em vez de “Ele vestiu suas calças”)
  4. João, calce os sapatos (em vez de “João, calce seus sapatos”).

Recomenda-se evitar o artigo definido antes do possessivo. Vejamos os exemplos:

  1. Meu carro é Ford (e não “O meu carro é Ford”)
  2. Minha mãe chegará hoje (e não “A minha mãe chegará hoje”)
  3. Meu livro predileto está bem gasto (e não “O meu livro predileto está bem gasto”)
  4. Nossa casa é confortável (e não “A nossa casa é confortável”)
  5. A meu ver, isso não dará certo  (e não “Ao meu ver, isso não dará certo”)
  6. A seu ver, como vão as coisas? (e não “Ao seu ver, como vão as coisas?”)

*

Como norma geral, não se usa artigo antes de nomes de cidades, a não ser que venham determinados por palavras adjetivas ou expressões similares.
Exemplos:

  1. Estive em Roma.
  2. Visitamos Roma.
  3. Roma continua bela.
  4. Estive na Roma dos césares.
  5. Visitei ontem a histórica Roma.



quarta-feira, 26 de março de 2014

Todo o tempo que não serviu para o nosso adiantamento é tempo perdido


Realizou-se ontem à noite no Centro Espírita Nosso Lar mais uma etapa do estudo sequencial do livro O Tesouro dos Espíritas, de Miguel Vives y Vives, conforme tradução de J. Herculano Pires, publicada pela EDICEL.

A seguir, as questões propostas para debate inicial:

1. Que conselho Miguel Vives deu aos jovens espíritas?
2. Que disse Teresa de Ávila (Espírito) a Miguel Vives?
3. Que ocorre com quem foi na Terra egoísta e avaro, que tudo desejou no mundo e não foi misericordioso nem virtuoso?

Em seguida fez-se a leitura do texto – abaixo reproduzido – que serviu de base aos estudos da noite, verificando-se, a cada item lido, os comentários pertinentes:

138. Muito poderemos fazer se tivermos vontade. “Não deveis olvidar –  diz Miguel Vives – que os que foram contados para este apostolado do Espiritismo são distinguidos pelo Alto.” (P. 147)
139. Destacando o papel dos jovens espíritas, a quem ele assevera: “Sereis os mestres espíritas do futuro”, Miguel Vives adverte: “se quereis ser bons mestres no futuro, sede agora bons discípulos, até que a Providência vos chame a desempenhar mais alta missão”. (PP. 147 e 148)
140. Quando tivermos diante de nós o chamado do Espiritismo para o seu serviço, devemos aceitá-lo com gosto, recomenda Miguel Vives. “Não olheis para trás, nem para o que vos prejudica, porque às vezes, ao começar o desempenho de tão útil missão, faz-se presente a cruz, pois há de carregá-la quem tenha a missão de ensinar e conduzir os seus irmãos.” (P. 150)
141. Incentivando jovens e velhos a aceitar os encargos que lhes sejam oferecidos, Vives é categórico: “Todo o tempo que se passa na Terra, e que não serviu para o adiantamento do nosso espírito, é tempo perdido”. (PP. 151 e 152)
142. A reverência a Deus, nosso Pai, é uma constante também nas recomendações do autor, que adverte: “Tudo quanto tendes, sois e possuís, deveis a Deus, o Pai infalível e universal, autor de toda a Criação. Portai-vos, pois, como bons filhos”. (P. 152)
143. Jesus é tratado por Miguel Vives com o respeito que ele merece. “Lembrai-vos, diz ele, que o maior dos irmãos, que é o Mestre Sublime, o Senhor dos Senhores, antes que vós o conhecêsseis, antes que lhe désseis atenção, quando estávamos todos perdidos em veleidades e caprichos, deixou a Morada da Luz, afastou-se da felicidade e desceu para sofrer a brutalidade humana.” (P. 154)
144. Aos futuros mestres, Miguel Vives aconselha tomar por Mestre o Senhor: “Segui-o e amai-o muito, porque sem abnegação e sacrifício não podereis entrar no Reino de Deus. E, quando chegarem as horas de grandes provas, se o tomardes por Mestre, não ficareis órfãos da sua proteção”. (P. 154)
145. Jesus veio bem antes, para preparar os que deviam passar pelo sacrifício. E, depois do sacrifício, ficou, para guiar-nos no caminho. “Não o duvideis, jovens espíritas, o Senhor paira acima do apostolado espírita e se serve de todos os que amam e praticam a lei com justiça.” (PP. 154 e 155)
146. No último capítulo de seu livro, Miguel Vives deixa claro que a obra por ele assinada foi, na verdade, um trabalho dos Espíritos, que o inspiraram para elaborar os conselhos dirigidos aos irmãos espíritas. “Se eu – diz Vives – não pude ser fiel, se procedi como um mau intérprete dos irmãos que vivem na vida livre do espaço, este será um trabalho inútil. Não obstante, suplico: se neste trabalho houver algo de bom, que seja aproveitado, por ser obra dos seres de além-túmulo, aos quais devemos ser agradecidos. Eles não têm culpa se eu fui um mau intérprete, e, além do mais, ignorante.” (PP. 157 e 158)
147. Estando o médium em oração, apareceu-lhe Teresa de Ávila, muito formosa, que lhe disse: “Segundo as virtudes que praticardes na vida terrena, vivereis num estado mais feliz ou mais desgraçado no Espaço. Aquele que, na Terra, foi virtuoso, caridoso, compadecido, resignado e amoroso, quando deixa este mundo é semelhante ao viajor que empreende a sua viagem num dia primaveril. À medida que avança no seu caminho, o sol vai subindo majestoso no espaço e a sua viagem transborda de luz e formosura. Porque o espírito que se conduz bem, ao deixar a Terra, vai abrindo as suas faculdades à luz. E quando desperta, encontra-se em plena luz...” (PP. 160 e 161)
148. O oposto se dá com quem foi, na Terra, egoísta e avaro, que tudo desejou no mundo, que não foi misericordioso, nem virtuoso. Esse Espírito entra no mundo espiritual quando o sol se encontra no ocaso. “À medida que vai despertando, as trevas aumentam e, quando está completamente acordado,  tudo ao seu redor é tenebroso e terrível. Quer saber onde está,  mas não é possível averiguá-lo. Vai de um lado para outro, e nada mais encontra, senão trevas, solidão e medo. Tudo, no espaço, lhe parece lúgubre, e então começa a desesperação.” (P. 161)
149. Concluindo a mensagem, Teresa de Ávila aconselha: “Habitantes da Terra: apressurai-vos a atrair a luz para vós, através das boas obras! Modificai vossas vidas, vós, que praticais o mal! Porque, do contrário, vossa derradeira hora será terrível e vosso despertar horroroso”. (P. 161)

Completando o estudo, foram lidas e comentadas as respostas dadas às perguntas propostas:

1. Que conselho Miguel Vives deu aos jovens espíritas?
Afirmando que os jovens de hoje serão os mestres espíritas do futuro, Miguel asseverou: “se quereis ser bons mestres no futuro, sede agora bons discípulos, até que a Providência vos chame a desempenhar mais alta missão”. Quando tivermos diante de nós o chamado do Espiritismo para o seu serviço, devemos aceitá-lo com gosto. “Todo o tempo que se passa na Terra, e que não serviu para o adiantamento do nosso espírito, é tempo perdido”. (O Tesouro dos Espíritas, 1ª Parte, Guia Prático para a Vida Espírita, pp. 147 a 152.)

2. Que disse Teresa de Ávila (Espírito) a Miguel Vives?
Teresa de Ávila, muito formosa, apareceu-lhe num momento de prece e disse: “Segundo as virtudes que praticardes na vida terrena, vivereis num estado mais feliz ou mais desgraçado no Espaço. Aquele que, na Terra, foi virtuoso, caridoso, compadecido, resignado e amoroso, quando deixa este mundo é semelhante ao viajor que empreende a sua viagem num dia primaveril. À medida que avança no seu caminho, o sol vai subindo majestoso no espaço e a sua viagem transborda de luz e formosura. Porque o espírito que se conduz bem, ao deixar a Terra, vai abrindo as suas faculdades à luz. E quando desperta, encontra-se em plena luz...” (Obra citada, pp. 160 e 161.)

3. Que ocorre com quem foi na Terra egoísta e avaro, que tudo desejou no mundo e não foi misericordioso nem virtuoso?
Teresa de Ávila diz que tal pessoa entra no mundo espiritual quando o sol se encontra no ocaso. “À medida que vai despertando, as trevas aumentam e, quando está completamente acordado,  tudo ao seu redor é tenebroso e terrível. Quer saber onde está,  mas não é possível averiguá-lo. Vai de um lado para outro, e nada mais encontra, senão trevas, solidão e medo. Tudo, no espaço, lhe parece lúgubre, e então começa a desesperação.” (Obra citada, pág. 161.)


terça-feira, 25 de março de 2014

Minhas memórias numa cadeira de balanço


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR

Assim!
Era sábado de primavera e este momento da narrativa abeirava-se às cinco da tarde. Com os anos, acabei por dispensar a vida na cidade e a me encantar com o som do campo, da natureza pura e liberta. À cidade, só me aventurava ir para cumprir com os deveres de cidadã, fazer compras e as visitas, um pouco regulares, ao médico Estêvão, clínico geral.
Recordo-me que a última vez que fui a uma consulta, à saída da clínica, do outro lado da rua, havia sido inaugurada uma loja de sofás, cadeiras e outros tipos de sustentação para o corpo – penso que o vocábulo sustentação até se torna engraçado e desvaloriza o invólucro carnal que possibilita à alma o seu progresso; às vezes, não, isso depende da atitude perante a vida.
Na verdade, quando avistei esta cadeira de balanço na qual estou recordando essas passagens, puxei Ernesta pelo braço – Ernesta é minha funcionária, cuidadora, motorista, mas antes de tudo minha grande amiga – e logo atravessamos a rua e estávamos na loja. Eu, feito uma criança, agarrei-me à cadeira, que nem por decreto soltaria – certas vezes, tornamo-nos ainda mais materialistas ou possessivos; mas, de certa forma, já melhorei um pouquinho, pois não me agarro mais aos parreirais de uva querendo engolir os cachos de uma só vez. A vida nos ensina.
Da aquisição da cadeira em diante, a maior parte dos meus dias passo como estou agora, entregue a ela; quando me balanço é bem suavemente, as náuseas são visitas um tanto comuns dos corpos mais vividos pelo tempo.
E exatamente aqui, onde me posiciono sobre a cadeira, na varanda que rodeia a casa, tenho a paisagem mais impressionante de tudo o que já vi – outros podem não concordar, mas meu consenso confirma isso. Nesta posição posso enxergar as pedras grandes e milenares organizadas pela montagem natural; o céu se mostra com a liberdade mais plena já vista; as flores miúdas, mas de hastes longas, se dobram e nunca se debatem com o vento; por isso vivem até o dia previsto de vida, elas são muito sábias; as árvores, pelo espaço subterrâneo, conquistam a fortaleza para suas raízes e tornam-se fortes e saudáveis senhoras seculares; a nascente, que dá vida ao grande rio mais à frente, inicialmente, é modesta, discreta em sua grandeza, que traz o néctar da manutenção da existência, pois para o Planeta a água é vital, imprescindível para a sua continuidade.
Ainda quero relatar o horizonte tão infinito aos olhos e tão conquistador à alma, pois quando esta estiver espírito comprovará a eternidade que nada mais é que o infinito. Também vejo os pássaros, felizes, cantando em agradecimento à força divina; a natureza em sua completude é uma excelente educadora, nós é que talvez sejamos ainda alunos insipientes na lição do valor à vida.
Aprendi, com os dias vividos, que mais temos a doar e bem menos a guardar; no entanto, normalmente nos apegamos a tanto e tão pouco somos capazes de passar adiante o que, na verdade, somente nos foi ofertado... emprestado e não passado a nós como posse definitiva.
Percebi que se podem criar vários sábados durante a semana, não para relaxar do trabalho, mas para compartilhar mais tempo com a família e realizar o que nos acalenta o coração; constatei que a palavra escrita no momento de grande emoção é capaz de nos reequilibrar e nos restaurar para o desfecho a construir, como desabafo escrito.
Sentada, ontem à noite, na poltrona da sala, quase concluindo um dos contos para a formação de mais um livro que será encaminhado à editora, atentei-me aos poucos objetos daquele cômodo; mais espaço, menos obstáculos para a boa energia circular. Senti-me feliz. Na verdade, de tão pouco necessitamos para viver com plenitude! Será fardo ou presente o que escolhermos carregar.
Balancei-me levemente na cadeira.
Veja! A coruja, que sempre me visita à mesma hora diária, chegou. E como gosto dessa amiga vespertina, quase noturna – pelo horário em que sempre aparece, entre as cinco da tarde até as seis e meia. Ela pousa sempre na borda branca da cerca que contorna a varanda. Com seus olhos compenetrados olha nos meus, querendo saudar-me. Amiga de longa data. E logo vai. E eu fico.
Ernesta me trouxe a xícara de café com leite... sempre às cinco e quarenta. Há dias que a xícara vem acompanhada de alguns mantecais(1), ou pãezinhos de queijo, ou alguma bolacha salgada integral. É sempre bom esse momento. Mas Ernesta não me acompanha na refeição; sempre diz que já lanchou na cozinha mesmo. Então, se queres um amigo, não o censures, compreende-o e aceita-o, a não ser que a atitude seja de prejuízo próprio ou para terceiros.
E neste sábado vieram mantecais; eles me trazem à recordação minha infância de quando eu e meus irmãos maiores comíamos com ardente jovialidade todos os mantecais que mamãe nos servia após as aulas da tarde. Essas aulas nos ensinaram muito, pois eram ministradas pela senhora Ingrid Thompson, inglesa com descendência francesa, apaixonada pela história do mundo; era dona de um vasto conhecimento.
Senhora Ingrid sempre nos ensinou que a grandeza não era só obter tão incontável cognição, mas, principalmente, compartilhá-la com pessoas que nos participam um pouco ou a vida toda. Explicava-nos que o que assimilávamos sempre seria nosso e nunca o perderíamos, se o compartilhássemos com o companheiro do momento na jornada eterna.
De um instante a outro, a lembrança trouxe-me a imagem do meu jovem falecido esposo, homem de tanta bondade e ternura. Ele era incapaz de lançar uma saudação friamente a quem quer que fosse; aprendi demais nos quatro anos de casamento. Sempre me dizia: “Dê atenção ao próximo como se fosse a mais amada pessoa da sua vida”.      
Foi a partir dessas palavras que me dei conta de que o outro simplesmente é a extensão da vida na qual estou inserida.
Edgard, quanto aprendi e quanto sinto a falta de seu olhar!... doce olhar!
É incrível como é rápida a junção dos pensamentos em nossa mente.
Logo me veio à tona a época na qual iniciei o magistério – aulas gramaticais.
Penso ser bastante remota a dificuldade de aprendizado das estruturas gramaticais de um idioma, mas como a maior parte da sala labutava para assimilar o conteúdo! A maioria deles entendia superficialmente; eram poucos os que dominavam as regras e sua aplicação; na verdade, somos tantos e estamos em patamares tão diferenciados! Por mais que comparemos não há uma pessoa sequer participando igualitariamente do momento na vida; podemos estar no mesmo lugar com muitas outras, mas o universo íntimo é estritamente individual.
E eu adorei cada aluno que por mim passou. Mesmo que tenha sido há tanto tempo, recordo-me, muitas vezes, de Sébastien, tão educado aluno francês; o bem iluminava os seus olhos.
Tomei mais um gole do café com leite e peguei mais um mantecal.
Quantas recordações! Quantas ações vividas!
Depois me veio a satisfação da escrita. Desde a minha infância, escrevi poemas, poesias, letras de música tentando pôr melodia sem conhecer o mínimo necessário da maravilhosa arte musical; cada vez que eu cantarolava a canção, entoava um ritmo inédito... coisas da vida.
Entretanto, os anos me deram muito gosto pelas narrativas mais breves como o conto e a crônica. Impus-me uma regra para a minha literatura: escrever sobre a vida, a nobreza de se viver... de receber esse tão magnânimo presente.
Dessa decisão, surgiram vinte livros, todos editados pela mesma editora. Talvez tenha sido oportunidade, simplesmente isso.
Tomei mais um gole para ajudar a empurrar o último mantecal.
Realmente a vida passa... e rápido, mas a colheita dos frutos é que se torna importante.
E, graças a Deus, sentada aqui, quantifico bem mais numerosas as felizes recordações. No entanto, houve um número razoável de incorreções... essas se transformaram em exemplos a não serem repetidos... mas... ainda uma vez ou outra reincido... e olhe... que me vigio! Percebi, naquela hora, que não havia mais nenhum vestígio dos raios solares. Ernesta já acendera a luz da varanda e agora mesmo me convidou para entrar. Vamos terminar o vigésimo primeiro livro, a maioridade na literatura. Então me recordo de que amanhã farei oitenta e oito anos.
Entrei. A luz da varanda ficou acesa, significando que não estava aparente, mas que havia moradores na casa. É assim para o corpo, não se sabe qual alma está acoplada ao físico, no entanto há centelha divina animando a matéria.
“Cada alma possui um caminho a trilhar;
cada espírito terá a liberdade ou a clausura;
cada ser conquista seu livre-arbítrio;
cada um pode ser protagonista ou coadjuvante de sua própria história;
cada um será o que de verdade quer ser.”
Essas foram as frases finais do meu vigésimo primeiro livro.
E Ernesta, sentada ao meu lado, finalizou salvando mais um documento no computador, intitulado: “As sombras que impreterivelmente serão luzes”.
Pela manhã será enviado à editora.

(1) Mantecais são biscoitinhos que derretem na boca. Veja como fazê-los em  http://www.mosaicodereceitas.com/2013/02/mantecal-biscoitinhos-que-derretem-na.html

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/



segunda-feira, 24 de março de 2014

As mais lindas canções que ouvi (80)


Maringá

Joubert de Carvalho e Olegário Mariano


Foi numa leva
Que a cabocla Maringá
Ficou sendo a retirante
Que mais dava o que falar.

E junto dela
Veio alguém que suplicou
Pra que nunca se esquecesse
De um caboclo que ficou.

Maringá, Maringá,
Depois que tu partiste
Tudo aqui ficou tão triste
Que eu garrei a imaginar.

Maringá, Maringá,
Para haver felicidade
É preciso que a saudade
Vá bater noutro lugar...

Maringá, Maringá,
Volta aqui pro meu sertão,
Pra de novo o coração
De um caboclo assossegar.

Antigamente uma alegria sem igual
Dominava aquela gente da cidade de Pombal,
Mas veio a seca, toda chuva foi-se embora,
Só restando então as água
Dos meus olhos quando chora.

Maringá...Maringá

Maringá...Maringá

Maringá, Maringá,
Volta aqui pro meu sertão,
Pra de novo o coração
De um caboclo assossegar.


Você pode ouvir a canção acima, na clássica interpretação de Carlos Galhardo, clicando em - http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/carlos-galhardo/maringa/4467453 / Outra versão, embora incompleta, você ouvirá na bela voz de Paulo Marques clicando neste link - http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/paulo-marques/maringa/762288



domingo, 23 de março de 2014

Como falar aos entes queridos que partiram


Uma das perguntas mais frequentes recebidas por nossa revista(1) diz respeito à possibilidade, que muitos querem, de se obter no Centro Espírita mensagem de um familiar recentemente desencarnado. Essa possibilidade existe? É ela concreta? Ou depende de alguma condição?
É muito difícil explicar para alguém não afeito à doutrina espírita o que nesses casos ocorre. Se os mortos podem comunicar-se, como ensina o Espiritismo, por que não  nossos entes queridos?
Em algumas situações, certamente na maioria delas, o que move as pessoas é o desejo de contactar o irmão ou amigo que partiu e saber como ele se encontra, como vive, se está feliz ou não. Mas há casos em que o motivo é simplesmente a curiosidade, a busca pela novidade, e poucos compreendem por que os Espíritos não aproveitam a oportunidade para mostrar ao mundo que ninguém morre e que a vida prossegue realmente além do túmulo.
O desejo dos que são movidos pelo sentimento de amor é compreensível e, a deduzir das cartas que recebemos, muito mais comum do que pensamos.
Temos, em casos assim, dito aos que nos escrevem que podemos estabelecer contato com nossos mortos queridos, independentemente da ajuda dos médiuns, por meio da prece e na esfera do sono, porquanto aqueles que nos amam continuam a amar-nos, estando ou não encarnados.
No tocante ao contato direto por meio de um médium, é sempre bom recordar o que Chico Xavier, tratando do assunto, afirmou oportunamente: “O telefone com o Além toca de lá para cá”, ou seja, os desencarnados nos buscam quando podem e quando há razões fortes para isso.
Existem, todavia, determinadas condições indispensáveis a que seja possível uma comunicação com os Espíritos.
De acordo com o que aprendemos na doutrina espírita, é necessário, para que um Espírito se comunique, além da permissão de Deus ou de seus prepostos: 1°, que lhe convenha fazê-lo; 2°, que sua posição ou suas ocupações lho permitam; 3°, que encontre no médium um instrumento apropriado à sua natureza.
Faltando uma das condições citadas, a comunicação mediúnica fica inviabilizada, fato que muitas pessoas têm dificuldade de compreender.
Com Léon Denis, um dos maiores vultos das letras espíritas, deu-se algo semelhante. Denis desejava obter uma comunicação de sua mãe, mas isso jamais ocorreu no grupo espírita de que ele era o dirigente. Um dia, viajando pelo interior da França, o contato com ela foi possível e veio, afinal, para o filho a mensagem esperada.
Por que isso não acontecera antes?
É que, explicou-lhe a mãe, não havia no grupo espírita que ele dirigia um médium que com ela sintonizasse.

(1) A revista “O Consolador”, que completará no início de abril 7 anos de existência.



sábado, 22 de março de 2014

O dia em que Machado chorou


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Se eu fora contemporâneo de Chico Xavier, certamente levaria mais a sério o Espiritismo.
Isso não quer dizer que, antes dele, não houvesse outros médiuns extraordinários em nosso “coração do mundo, pátria do Evangelho”, como confirma aqui do meu lado o espírito Humberto de Campos, bem mais sensato do que eu, a quem passo a palavra.
– É verdade, Machado. Mas, no corpo físico, publiquei dois artigos irônicos sobre os poemas psicografados pelo médium. E disse: “Como cantam os mortos”.
A ironia custou-me “caro”. Do lado de cá, "recomendaram-me" enviar algumas obras pela psicografia do Chico.
– Mas sua esposa, Humberto, não processou o médium, dizendo não acreditar que era você o espírito comunicante?
– É certo, mas quem melhor nos conhece do que nossa mãe? Pois mamãe reconheceu-me como tal, além de Humberto de Campos Filho, que até publicou uma obra intitulada Irmão X, meu Pai.
– Outra médium destacada, e pouco lembrada, foi Zilda Gama, cidadã da alta classe socioeconômica, que nenhum motivo tinha para enganar ninguém, e também não aceitou remuneração pelas obras recebidas mediunicamente. Psicografou cinco romances belíssimos da lavra, nada mais nada menos, do que do espírito Victor Hugo.
– O grande poeta e romancista francês, Machado?
– Ele mesmo.
Outro que também se admirou, ainda em vida física, da produção literária espírita do Chico foi Monteiro Lobato, no meu entendimento, maior escritor de literatura infantojuvenil de nosso país.
Disse ele: “Se o homem [Chico Xavier] realmente produziu por conta própria tudo o que vem no Parnaso, então ele pode estar em qualquer Academia, ocupando quantas cadeiras quiser”. Isso quando a única obra psicografada pelo médium mineiro ainda fora Parnaso de Além-Túmulo.
Depois disso, a obra psicografada pelo Chico resultou noutros 470 livros, segundo a Editora Vinha de Luz. Os gêneros mais comuns são poemas, crônicas, mensagens, romances, documentários, entrevistas, contos para adultos e crianças, cartas consoladoras e, até, humorismo sadio.
Chico Xavier foi eleito, em 2000, O mineiro do século XX, em concurso realizado pela rede Globo; e, em 2012, foi eleito O maior brasileiro de todos os tempos pelo SBT e BBC. Esse último concurso objetivava eleger a pessoa que mais se destacara em prol da sociedade brasileira.
Por ser por demais cansativo ao amigo leitor, não vou me referir ao estudo científico grafotécnico, feito pelo grafoscopista Perandréa, durante 14 anos, das 400 cartas psicografadas por Chico Xavier, que comprovou a autenticidade das assinaturas dos comunicantes desencarnados .
Também não vou me referir aos milhões de pessoas assistidas e consoladas pelas mensagens do maior médium brasileiro de todos os tempos; não somente por suas centenas de obras, como também por um serviço de assistência social relevante, em Uberaba, que se tornou a maior cidade espírita brasileira.
É inútil tentar justificar uma luz misteriosa que penetrou o quarto de hospital em que o médium estava hospitalizado, em estado terminal, cuja procedência não foi explicada por técnicos contratados pela TV Globo. Dias depois, o médium, restabelecido teve alta hospitalar. Perguntado sobre o fato, disse terem sido os espíritos Maria João de Deus, sua mãe, e Emmanuel, seu guia espiritual.
Não falarei, também, dos inúmeros críticos que, desde as primeiras produções mediúnicas psicografadas pelo Chico, diziam que nenhum ser humano seria capaz de imitar com tanta perfeição tantos escritores como ele. A questão não era só o estilo, mas também os conhecimentos, a cultura, as expressões próprias de cada uma das inteligências manifestadas e, por fim, a velocidade espantosa em que cada obra era escrita manualmente no papel.
Nada direi, por fim, do falecimento do médium, aos 92 anos de idade, de parada cardiorrespiratória, no dia 30 de junho de 2002, quando a seleção brasileira de futebol conquistava o pentacampeonato. Testemunhas idôneas garantem que Chico Xavier falara, várias vezes, que gostaria de desencarnar num dia em que o Brasil estivesse feliz...
A Polícia Militar mineira calculou em cerca de 120.000 pessoas os que acompanharam o velório e sepultamento do Chico. Algo jamais visto em nosso país.
– Mas, então, Machado, por que Chico Xavier jamais psicografou qualquer obra sua? Ele não foi capaz de nos trazer de volta Humberto de Campos, Antero de Quental, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos, Castro Alves, Auta de Sousa, Olavo Bilac e tantos outros poetas e escritores renomados? Não publicou Paulo e Estêvão, romance com o relato minucioso dos eventos ocorridos na época do Cristo? E por que não Machado de Assis?
– Meu caro crítico, se com todos esses que você citou o extraordinário médium mineiro já provocou e provoca tanto barulho, imagine o trabalho que não daria aos fanáticos de minha obra irônica e melancólica comparar o homem ao espírito. Você não sabe como é complicado transmitir uma ideia mente a mente.
Assista a uma aula de literatura ou de um idioma qualquer e já verá, ao final delas, o quanto variam os entendimentos.
Traduza um poema de Edgar Allan Poe e comente sua tradução com ele, para ver se o espírito-poeta citado concorda com sua interpretação...          
Imite um sabiá cantando e diga à sabiá que é o seu macho quem lhe enviou o canto, para ver se ela crê e vice-versa... Só mesmo do lado de cá é que vemos quanto é difícil nos fazer entender pelos do lado daí.
Enfim, leitor amigo, agora que se aproxima o dia 2 de abril, quando ele completará 104 anos de sua reencarnação, fiz minha modesta homenagem ao grande médium mineiro no poema abaixo. O último verso, pedi-lhe para completar, o que ele fez gentilmente.

Ave, Chico!

Enquanto, no Brasil, tudo era festa e encanto,
Luzia, em planos siderais, brilhante estrela:
Era Francisco, com seu jeito humilde e Cândido,
Que deixara seu corpo na terra mineira.

Recebe-o Emmanuel, e a multidão, no canto
De vasta biblioteca e de expressão matreira,
Aplaude o velho Chico ao som de lindo canto:
Era a expressão de amor da pátria derradeira.

De repente, cada um de todos os presentes
Ergue bem alto um livro onde se encontra escrito:
“O bem que fizeste aos pobres fizeste-o ao Cristo”.

– Fizeste germinar as profícuas sementes
Da eterna verdade à luz do Consolador...
– E o que mais tem Jesus para o seu servidor?

Foi então que chorei...

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sexta-feira, 21 de março de 2014

Com que aparência se apresentam os que desencarnaram há muito tempo?


Uma leitora diz-nos o seguinte: “Vamos supor que uma pessoa morre no seio de uma determinada família, onde foi pai, avô, irmão, marido, mulher ou irmã... Anos depois, reencarna e volta em outro corpo e para outra família. Mas, a primeira família ainda existe. Se for evocado por alguém dessa primeira família, o Espírito pode aparecer com a aparência anterior, mesmo estando reencarnado e, portanto, com outra aparência?”.
Pelo que entendemos, a resposta é sim.
Um exemplo disso é descrito no cap. 48 do livro “Nosso Lar”, em que D. Laura, em seus preparativos para uma nova reencarnação, recebe em visita o Espírito do seu esposo Ricardo. Ele estava reencarnado e era uma criança quando o fato se deu.
Eis como André Luiz descreveu esse encontro:

“Às derradeiras notas da bela composição, notei que o globo se cobria, interiormente, de substância leitoso-acinzentada, apresentando, logo em seguida, a figura simpática de um homem na idade madura. Era Ricardo.
Impossível descrever a sagrada emoção da família, dirigindo-lhe amorosas saudações.
O recém-chegado, após falar particularmente à companheira e aos filhos, fixou o olhar amigo em nós outros, pedindo fosse repetida a suave canção filial, que ouviu banhado em lágrimas. Quando se calaram as últimas notas, falou comovidamente:
– Oh! meus filhos, como é grande a bondade de Jesus, que nos aureolou o culto doméstico do Evangelho com as supremas alegrias desta noite! Nesta sala temos procurado, juntos, o caminho das esferas superiores; muitas vezes recebemos o pão espiritual da vida e é, ainda aqui, que nos reencontramos para o estímulo santo. Como sou feliz!
A senhora Laura chorava discretamente. Lísias e as irmãs tinham os olhos marejados de pranto. Percebi que o recém-chegado não falava com espontaneidade e não podia dispor de muito tempo entre nós.”

O fato que descrevemos não é algo inusitado ou excepcional.
Conforme as experiências realizadas pelos cientistas franceses Pierre Janet, Pitres, Bourru e Burot, tudo o que vivenciamos deixa em nós um traço indelével e a subconsciência registra sempre os estados mentais e os associa indissoluvelmente aos estados fisiológicos contemporâneos.
Descobriu-se desse modo, graças às experiências de “regressão de memória”, que toda vez que a memória regride ao passado reproduzem-se o “estado psicológico” e também o “estado fisiológico” correspondentes.
Em obras escritas por André Luiz como por Manoel Philomeno de Miranda, é comum verificar que os desencarnados, quando se reúnem para resolver pendências pretéritas, assumem a personalidade da época revivida e retomam a aparência correspondente, tal como se deu com Ricardo, que, embora criança na existência atual, apareceu na casa de D. Laura com aparência de um homem na idade madura e falou aos seus filhos como o velho pai que eles conheceram no passado.




quinta-feira, 20 de março de 2014

Pílulas gramaticais (95)


Observe o texto abaixo:
·  Conforme prometido, envio-lhe o livro sobre dificuldades ortográficas. Só depois de estudá-lo é que você perceberá quanto são úteis obras assim.
É muito comum ver o mesmo texto redigido assim:
·  Conforme prometido, envio-lhe o livro sobre dificuldades ortográficas. Só depois de estudá-lo é que você perceberá o quanto são úteis obras assim.
O segundo texto contém um erro perfeitamente evitável, visto que, segundo vários estudiosos do idioma português, os vocábulos “quanto” e “quão” rejeitam o artigo antes deles.
Em face disso, devemos escrever:
Viaje quanto antes (e não “o quanto...”)
Saiba quanto seu convite nos honra (e não “o quanto...”)
Percebi quão difícil é passar no concurso (e não “o quão difícil...”)

*

Dias atrás, causou surpresa o fato de um cavalo de corrida ter vencido importante prova conduzido por uma mulher.
Os jornais, referindo-se à condutora do animal, usaram – corretamente – o substantivo joqueta, feminino de jóquei.
Jóquei (do ingl. jockey) designa o cavaleiro que monta nas corridas de cavalos. É o mesmo que ginete, redeador, montaria. Se quem conduz o cavalo é mulher, joqueta será, pois, a palavra aplicável.




quarta-feira, 19 de março de 2014

Por que evangelizar as crianças?


Lendo um dos artigos que aqui foram publicados, uma jovem mãe enviou-nos a seguinte questão: – Por que é tão importante cuidar da evangelização de nossas crianças?
É conhecida a posição de Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, com relação ao ensino moral contido no Evangelho:
"Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É o terreno em que todos os cultos podem encontrar-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-se, por mais diferentes que sejam as suas crenças, porque nunca foi objeto de disputas religiosas, sempre e por toda parte provocadas pelos dogmas”. (O Evangelho segundo o Espiritismo, Introdução, item I.)
Depois de tão sábias palavras, Kardec asseverou: “Para os homens, em particular, é uma regra de conduta, que abrange todas as circunstâncias da vida privada e pública, o princípio de todas as relações sociais fundadas na mais rigorosa justiça. É, por fim, e acima de tudo, o caminho infalível da felicidade a conquistar, uma ponta do véu erguida sobre a vida futura". (Idem, ibidem.)
Aí está, pois, o ponto central da resposta à pergunta formulada.
Evangelizar uma pessoa é ensinar-lhe o caminho que leva à paz, à harmonia, à felicidade possível no mundo em que vivemos. Existe motivo maior?
E quando essa tarefa deve começar? A resposta a essa dúvida é também por demais conhecida: deve iniciar-se na infância, esse período da existência corpórea que Emmanuel assim conceituou: "A juventude pode ser comparada a esperançosa saída de um barco para uma longa viagem. A velhice será a chegada ao porto. A infância é a preparação".
Os Espíritos Superiores nos ensinam que, encarnando-se com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito durante a infância “é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo".
As crianças são os seres “que Deus manda a novas existências”. “Para que não lhes possam imputar excessiva seriedade, dá-lhes todos os aspectos da inocência. Julgando os seus filhos bons e dóceis, os pais lhes dedicam toda a afeição e os cercam dos mais minuciosos cuidados. A delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devem fazê-los progredir. É na fase infantil que se lhes pode reformar o caráter e reprimir as suas más tendências. Esse é o dever que Deus confiou aos pais, missão sagrada pela qual terão de responder." (Cf. O Livro dos Espíritos, questões 383 e 385.)
Examinando o assunto, Emmanuel aditou esta importante informação: "O período infantil é o mais sério e o mais propício à assimilação dos princípios educativos. Até os sete anos, o Espírito ainda se encontra em fase de adaptação para a nova existência. Ainda não existe uma integração perfeita entre ele e a matéria orgânica. Suas recordações do plano espiritual são, por isto, mais vivas, tornando-se mais suscetível de renovar o caráter e estabelecer novo caminho. Passada a época infantil, atingida a maioridade, só o processo violento das provas rudes, no mundo, pode renovar o pensamento e a concepção das criaturas, porquanto a alma encarnada terá retomado o seu patrimônio nocivo do pretérito e reincidirá nas mesmas quedas, se lhe faltou a luz interior dos sagrados princípios educativos". (O Consolador, pergunta 109.)




terça-feira, 18 de março de 2014

O alento ao coração de uma mãe


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR

Após o acontecimento, a casa não tinha mais as risadas, nem os olhos brilhosos, nem a alegria de simplesmente estar com quem tanto se ama e abraçar esse alguém. E o ambiente, naquele lar, deixara de ser leve e passou a ser triste, sem as cores da vida.
A grande mudança se deu quando Leocádio, rapaz de seus dezesseis anos, sofrera um acidente com o veículo que o trazia do colégio. O motorista era um senhor, experiente, contratado por quatro famílias para levar os filhos à cidade vizinha, centro maior que proporcionava melhores estudos.
Quantos dias, meses, fizeram esse percurso com chuva, sol, frio, calor, no entanto fora num dia de céu limpo, visão ampliada e nítida, que houve o ocorrido. Só faltavam poucos quilômetros para chegar à humilde cidade onde moravam, quando um animal, atordoado, passou em frente do veículo. Assustado e desorientado, o motorista perdeu a direção e caiu desfiladeiro abaixo. O carro capotou pelo menos três vezes até parar na superfície coberta de mato rasteiro.
Algumas horas se passaram até que os acidentados recebessem ajuda e fossem levados ao hospital. O motorista, embora muito preocupado e amedrontado, estava bem, como os outros três rapazes. Porém, não era o caso do rapaz Leocádio, moço muito bonito, saudável e cheio de planos, pois ele havia sofrido traumatismo no pescoço e não suportara, vindo a falecer.
Foi um acontecimento muito comovente. A reduzida população procurou ajudar a família do rapaz com amparo, atenção e muito carinho. Por ser uma cidade pequena havia ainda esse compartilhamento mais vivo de amizade, doação e benefício entre as pessoas.
A mãe estava inconsolável e mais deprimida a cada nova hora. O pai também estava em verdadeiro teor da precariedade sentimental, espiritual; a tristeza o tomara, porém, mesmo com a debilidade da ocasião, sentia tímida mas, ainda assim, uma chama de fé e que havia um Pai Onipotente com a sabedoria de tudo.
O tempo foi avançando entre amanheceres e anoiteceres.
Na casa, a alegria não encontrava espaço, pois a energia gerada pelos sentimentos e pensamentos, principalmente os da mãe, era de grande dano físico e espiritual. O corpo estava desnutrido, apático, aberto somente às moléstias das mais simples às mais complexas e inexplicáveis.
Do marido, a esposa se afastou, pois o desequilíbrio era tanto que se tornavam incompatíveis as palavras, atitudes, sentimentos e toda forma de expressão.
E o momento chegara: aparentemente, as duas almas, marido e esposa, estavam desistindo do compromisso assumido, de um passo maior a ser dado.
A mãe, chamada Esmeralda, só rogava por sua morte a fim de reencontrar o filho amado; o pai, embora com um pouco de fé, não estava decidido no caminho a seguir, os momentos de fraqueza eram maiores e investiam mais fortemente contra sua fé ainda abalável.
O transtorno se fizera presente e se intensificava com a energia favorável à propensão.
Após meses de cruel sofrimento pelos corações paternos, ainda mais visível no materno, certo dia no período noturno, desespero dos aflitos, quando a voz materna suplicava mais uma vez por sua partida para o reencontro com seu menino, com a face banhada com as lágrimas do pranto mais sofrido e, insustentavelmente, mais doído que o coração pudera aguentar, a mãe, fraterna companheira do espírito de seu filho, adormeceu como a criança exausta, nos braços do pai.
A mãe, na hora do descanso noturno, sobre o leito que presenciara por meses o desfalecimento perturbador do corpo e da alma, recebera o bálsamo calmante ministrado por mãos etéreas que jorravam luz brilhante e refazedora. Quando a respiração tomou compasso mais ritmado e suave e o coração, mais tranquilo, se manteve, cada célula do corpo fora visitada pela energia benéfica e restauradora, oportunizando o iminente momento.
O quarto recebeu uma proteção energética por meio de luz esplêndida isolando o ambiente. E com toda a preparação primorosa e eficiente, o espírito da mãe, inconsolável, foi amparado e guiado para a dimensão atemporal e imaterial. Ocasião de como se fora o início de um sonho, possivelmente comum, se não fosse o reencontro tão esperado da mãe com o espírito amado do filho querido.
Esmeralda caminhava lentamente e segura por dois jovens, uma moça e um rapaz, que a amparavam um em cada braço, numa iluminação tão incomparável à terrena.
Os três se aproximaram de um rapaz, sentado, e que parecia inspirar alguns cuidados e, por isso, estava acomodado na poltrona simples. Ao redor do jovem estavam também os que aparentavam ser os cuidadores. Eram dois homens, talvez de meia idade, mas robustos e vivazes, com semblante amoroso e calmo; aliás, um deles era um familiar muito amado.
A mãe, quando perto se encontrou e reconheceu os olhos inesquecíveis e inconfundíveis, o rosto tão familiar, sentiu a sua face visitada pela lágrima da emoção feliz, que por fim banhara totalmente o rosto, o ser materno.
– Filho amado! É você? – a mãe perguntou querendo tocá-lo.
– Sim, mãe querida, sou eu! – o filho respondeu também com a saudade embargada.
E o abraço na dimensão atemporal e imaterial ocorreu transbordante do amor mais puro: entre mãe e filho.
Foi um tempo imensurável, impossível de ser descrito com os vocábulos usuais, pois o sentimento, contendo a verdade da emoção, transcende, ultrapassa as barreiras da razão e somente a essência eterna – espírito e alma – é capaz de compreendê-lo e retê-lo inteiramente.
O filho, sentado, abraçava a mãe querida, ajoelhada a seu menino. Oportunidade que refaz e fortalece para a caminhada.
Depois do abraço intenso e renovador, a mãe olhou para os olhos do seu Leocádio:
– Meu filho, quanta saudade! Como você está, meu querido? Que lugar é este? Volte comigo, Leocádio, filho do meu coração!
Esmeralda estava transtornada pela ocasião presente. Tanto chamara pelo filho e agora se encontrava diante dele!
– Mãe querida... me escute! – o filho pediu, acariciando o rosto materno. – Por favor, mãe! Levante-se e sente-se à minha frente. Preciso lhe falar! – com ternura, disse o filho.
A mulher se ajeitou numa cadeira branca bem em frente dos seus olhos amados. E o filho segurou as mãos maternas.
– Mãe querida, antes de começar com minhas palavras, quero lhe dizer quanto a amo, a admiro e respeito – o filho o disse com emoção na voz.
– Eu também, meu filho... como o amo! Não consigo mais viver... você é a minha razão, meu filho. Não sou capaz de fazer nada... ai, meu filho! – e a mãe beijou, entre lágrimas, as mãos mais jovens.
– Minha mãe... é por isso que tive a permissão de poder vê-la e lhe falar – o jovem explicou.
– Sim, meu querido, diga o que quiser... diga, meu filho... quanta alegria estar com você! – a mãe falava emocionada, feliz, chorava.
– Mãe..., ouça-me! Muito me foi esclarecido quanto ao acontecimento. Mãe querida, para isso havia um propósito e um compromisso. Para que a senhora compreenda, no acidente, apenas “eu” fui vítima fatal... os meus amigos e o motorista quase nada sofreram, foi mais o susto que os abalou – e os olhos amorosos do filho olhavam sua mãe.
Esmeralda, com as lágrimas que não secavam de sua face, ouvia, atenta, o filho amado.
– Mãe, é necessário que a senhora modifique o pensamento e o sentimento... não há culpados, simplesmente, a ocorrência na hora determinada. Estou melhor a cada novo tempo, mas, mãe, o sofrimento e a revolta sentidos por seu coração não me felicitam, apenas me prejudicam e me impedem de dar os passos para a minha nova caminhada, pois posso experimentar o mesmo sentimento que a senhora vivencia, as mesmas lágrimas tristes que escorrem de sua face.
A mãe olhava para seu menino e compreendia o sentido de cada palavra.
O filho retomou:
– Minha mãe querida, é preciso que a senhora entenda e continue me amando como antes, sentindo a mesma emoção, sorrindo tão lindamente como fazia, amparando as pessoas que esperam a sua ajuda, vivendo com alegria a vida, amando o papai, não culpando o motorista do carro, visitando a vovó, orando e agradecendo ao Mestre Jesus... Estou vivo, mãe, apenas neste momento estamos em dimensões diferentes, porém no tempo determinado poderemos nos reencontrar e viver, novamente, no mesmo tempo e espaço.
– Meu filho amado, quanta felicidade poder te ver e ouvir essas palavras tão renovadoras para mim – a mãe se expressou.
– Sim, mãe. Peço-lhe, então, que viva com alegria e ampare quem puder. A vida é presente e precisamos dela cuidar – deu uma pausa. – Mãe, agora preciso voltar. Peço-lhe, mãe querida, que sinta por mim o amor e o carinho de antes... posso ver o seu sentimento, mas só o benéfico pode me ajudar – o filho pegou as mãos da mãe. – Sinta sempre o meu amor, carinho e admiração. Sou seu filho e você, minha mãe, e este amor transcende tempo e espaço. Tenha alegria, mãe querida... precisamos caminhar.
Esmeralda e Leocádio, mãe e filho, se abraçaram amorosamente e não puderam conter o choro, agora embargado da emoção compreendida e da oportunidade de estarem juntos para o esclarecimento... presente divino.
Olharam-se mais uma vez... e uma vez mais se admiraram com o verdadeiro amor.
E ao final, a luz se intensificou.
Durante a ocasião, Esmeralda nem percebeu que um dos cuidadores do filho era um familiar tão estimado e próximo, ao qual tanto amava.
Após o reencontro, a mãe retornou ao ambiente físico, no leito em seu quarto. Aos poucos despertou, extasiada com o acontecimento. Passou a mão em seus olhos e estavam molhados da lágrima da emoção. Abriu-os e experimentou um novo sentimento revigorado. Seu coração, emocionado, estava leve, sensação que desde o ocorrido não tivera. Pôde lembrar-se da ocasião com o filho, não os pormenores, mas a importante mensagem que ele lhe deixara.
No amanhecer seguinte, Esmeralda modificou a sua atitude decorrente do pensamento renovado na compreensão e no amor. Como dose homeopática, a mãe, ao longo do dia, relembrava o benfazejo momento com o filho, revivia as palavras, todo o ensinamento que seu menino lhe passara. De fato, recebera um presente decisivo para sua caminhada, pois a partir disso seus pés buscaram o caminho novo; seus olhos observaram em maior tempo as boas coisas; suas palavras de amparo foram proferidas mais vezes a um maior número de pessoas; seu coração reaprendeu a sentir o puro amor e sua alma, bem mais leve e desprendida, recomeçou a alçar voo para o progresso, liberdade de todo espírito.
Sua felicidade ganhava mais brilho por saber que, com esta nova postura, o amado filho também ficaria melhor e com condições favoráveis para conquistar o seu crescimento.
E ao final da tarde quando o sol se deitava, Esmeralda olhou para o horizonte e disse, com a voz da mãe amorosa que era:
– Pai Onipotente e Onipresente, conhecedor pleno de tudo e todos, agradeço-Lhe eternamente a bondade pelo reencontro com meu filho. Peço-Lhe, segundo a Sua permissão, fé, força e compreensão a todos os filhos que em tenra ou idade mais adulta deixaram o pai... a mãe e partiram para a dimensão real do espírito com o conhecimento do propósito, ou em alguns casos ainda não, da realização de seus compromissos – deu uma pausa e respirou fundo. – E ainda, Senhor... Pai de amor e de infinita misericórdia, peço-Lhe pelos pais e mães que sentiram a despedida prematura, aparentemente, de seus filhos amados. Que esses pais do momento recebam a luz da esperança, renovação e entendimento para prosseguirem com seus passos diante da empreitada contínua da vida. Que possamos ser sempre amparados com a luz e o amor. Obrigada, Senhor.
E com a prece tão verdadeiramente sentida por Esmeralda, o sol terminou de se pôr, dando lugar à lua, acompanhada das mais lindas e brilhantes estrelas do céu com o fundo azul-escuro perfeito.
Esmeralda e Leocádio, a partir do reencontro, retornaram à vida.
A mãe, animada com a oportunidade compreendida, se revigorou na descoberta de seu melhor no plano material; e o filho sentiu a liberdade e a renovação para caminhar nas trilhas do progresso no plano real do espírito.
Com compreensão, amor e fé, as almas e os espíritos conquistam a sustentação da qual necessitam para os degraus mais altos e cada vez mais sublimes.
E na cidade pequena, Esmeralda tornou-se a mãe protetora dos desvalidos, a irmã compreensiva dos irmãos em desequilíbrio, a alma benfeitora na seara do bem.
As manhãs e as tardes, a partir do novo tempo, ganharam o brilho do sol laranja e as noites foram abraçadas pela luz das estrelas e guiadas pelo clarão da lua.

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