segunda-feira, 18 de março de 2024

 



No Evangelho nascente

 

Irmão X

 

Enquanto o Mestre ouvia alguns doentes na intimidade do lar de Simão Pedro, eis que um cavalheiro e duas damas se adiantam a consultá-lo.

Vinham de pontos diversos. Estranhos entre si. Contudo, partilhando a mesma expectativa, permutavam impressões dando-se a conhecer.

O rude pescador de Cafarnaum observava-os, atento. As ciciantes palavras que trocavam eram realmente chocantes. Supunham fosse Jesus um feiticeiro vulgar e buscavam-lhe os dons mágicos.

Eliakim, o recém-chegado, era um mercador de olhos astutos que projetava a obtenção de certa propriedade, pertencente a um dos tios que estava a morrer. Tratava-se de uma vinha fecunda, suscetível de aumentar-lhe os bens. Ambicionava-lhe a posse por baixo preço e não se resignaria a perdê-la. Ouvira tantas alusões a Jesus, que não vacilava em rogar-lhe a interferência. Na condição de mago eficiente, o Cristo, decerto, lhe facultaria a realização do negócio, sem maior sacrifício.

Dea, a mulher mais idosa, trazia assunto mais grave. Pretendia vingar-se de antiga companheira que lhe transviara o marido. Via-se agoniada, infeliz. Preferia a morte à renúncia. Não perdoaria à impostora que lhe deixara o lar deserto. Vinha ao famoso Mestre, suplicar-lhe a intercessão de modo a matá-la. Recompensá-lo-ia dignamente desde que pudesse ver Efraim, o esposo, humilhado aos seus pés.

Ruth, a mais nova, passou a expor o caso que a preocupava. Queria casar-se, mas Salatiel, o noivo, parecia esquivar-se. Mostrava-se desinteressado, frio. Esperava que Jesus lhe auxiliasse, infundindo ao homem amado mais intensa afetividade, de vez que o moço ganhava distância, pouco a pouco.

O apóstolo registrava um ou outro apontamento, agastadiço.

Ciente de que o Mestre atendia em sala próxima, demandou o interior e explicou-lhe a situação. Os consulentes revelavam o maior desrespeito. Eliakim era um negociante voraz e ambas as mulheres pareciam subjugadas por apetites inferiores.

Jesus meditou alguns instantes e, fixando o discípulo, solicitou, prestimoso:

– Pedro, as tarefas desta hora não me permitem serviços outros. Vai, porém, aos nossos hóspedes e socorre-os, ajudando-me a encontrar o caminho de melhor auxiliá-los.

O pescador voltou à presença dos forasteiros, dispondo-se a escutá-los, em nome do Salvador. Quando lhes anotou os propósitos de viva voz, enrubesceu, indignado. Levantou-se, trêmulo, e gritou sob forte crise de cólera:

– Malditos! Fora daqui! O Mestre não aceita ladrões e mulheres relapsas!

Cravando o olhar no comerciante, sentenciou:

– Vai roubar noutra parte! Que a vinha de teus parentes seja o inferno onde te cures da cupidez!

Aos ouvidos de Dea, bradou:

– Assassina! Não somos teus sequazes... Certamente foste abandonada pelo marido em razão das chagas de ódio que te consomem o coração!... Mata como quiseres e deixa-nos em paz.

Em seguida, concentrando a atenção sobre Ruth, que tremia de medo, o apóstolo ordenou:

– Saia daqui, amaldiçoada! A mulher que concorre à posse dos homens não passa de meretriz...

Amedrontados, os três abandonaram o recinto, precipitadamente. Impulsivo, Simão cerrou com estrépito a porta sobre eles. Ao se voltar, porém, para trás, na atitude de quem triunfara no serviço que lhe coubera fazer, deu com Jesus, que o contemplava tristemente.

Reparando que os olhos do amigo celeste se represavam de lágrimas que não chegavam a cair, o aprendiz, como criança estouvada que se humilha à frente do amor paterno, tentou afagar-lhe as mãos e falou em voz modificada:

– Senhor, porventura não estarás satisfeito? Poderemos, acaso, usar tratamento diverso para com aqueles que nos desfiguram o serviço? Não percebeste que os três se encontram sob o império de espíritos satânicos?

Jesus acariciou-lhe os ombros, de leve, e respondeu:

– Pedro, todos podem descobrir feridas, onde as feridas se destacam. Contudo, raros sabem remediá-las. Não te solicitei formulasses acusações. Para isso, o mundo está repleto de críticos e censores. Eliakim, efetivamente, traz consigo o gênio perverso da usura. Dea está sob a influência do monstro da vingança e Ruth sofre o assédio de vampiros da carne. Entretanto, notei que, ao ouvi-los, deste, por tua vez, guarida ao demônio da intolerância e da crueldade. Sombra por sombra, dá sempre um total de treva.

– Senhor, não me recomendaste, porém, socorrê-los?

– Sim – acentuou Jesus, melancólico –, mas não te roguei desiludi-los ou desprezá-los. Pedi me ajudasse a encontrar o caminho do auxílio e, como sabes, Pedro, eu não vim para curar os sãos...

Pesado silêncio invadiu a sala. E porque o Mestre regressasse aos enfermos, com paciência e humildade, o discípulo mergulhou a cabeça entre as mãos e, olhando para dentro de si mesmo, começou a enxugar as próprias lágrimas.

 

Do livro Relatos da Vida, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

 

 

 

 

 

 

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domingo, 17 de março de 2024

 



Crença e fé parecem termos sinônimos, mas  exprimem coisas distintas

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

 

Por exprimirem coisas distintas, pode-se dizer que existe substancial diferença entre crença e fé.

O termo “fé” tem várias acepções.

No sentido comum, significa a confiança do indivíduo em si mesmo, pois os que disso são dotados são capazes de realizações que pareceriam impossíveis àqueles que de si duvidam. Dá-se também o nome de fé à crença nos dogmas dessa ou daquela religião, casos em que recebe adjetivação específica: fé cristã, fé judaica, fé católica etc.

No livro O Consolador, obra mediúnica psicografada por Chico Xavier, Emmanuel diz que crer diz respeito à crença. Mas, diferentemente da simples crença, a fé tem o mérito de despertar numa pessoa todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem e, nesse sentido, é a base da regeneração.

Idêntico ensinamento encontramos no cap. VII, 2ª Parte, do livro O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, no qual o guia da médium que serviu de intermediário no caso Xumene diz que a crença é o primeiro passo; a fé vem em seguida e, por último, a transformação, mas para isso é preciso que muitos tenham de revigorar-se no mundo espiritual. 

É possível comunicar a fé a alguém por meio da imposição?

Não. Segundo Kardec, a fé não se impõe nem se prescreve, a fé se adquire, e não existe ninguém que esteja impedido de possuí-la. Para crer é preciso compreender, porquanto – adverte o Codificador do Espiritismo – a fé cega já não tem lugar em nosso mundo.

A importância da fé em nossa vida foi destacada, entre outros, por Jesus de Nazaré. “Tudo é possível àquele que tem fé”, afirmou Jesus, consoante lemos em Marcos, 9:23.

Sobre a fé Emmanuel escreveu na obra a que nos reportamos linhas acima:

 

– Poder-se-á definir o que é ter fé?

Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de realização divina da personalidade.

Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer “eu creio”, mas afirmar “eu sei”, com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento. Essa fé não pode estagnar em nenhuma circunstância da vida e sabe trabalhar sempre, intensificando a amplitude de sua iluminação, pela dor ou pela responsabilidade, pelo esforço e pelo dever cumprido.

Traduzindo a certeza na assistência de Deus, ela exprime a confiança que sabe enfrentar todas as lutas e problemas, com a luz divina no coração, e significa a humildade redentora que edifica no íntimo do espírito a disposição sincera do discípulo, relativamente ao “faça-se no escravo a vontade do Senhor”. (O Consolador, pergunta 354.)

– A esperança e a fé devem ser interpretadas como uma só virtude?

A esperança é a filha dileta da fé. Ambas estão uma para outra, como a luz reflexa dos planetas está para a luz central e positiva do Sol. A esperança é como o luar que se constitui dos bálsamos da crença. A fé é a divina claridade da certeza. (O Consolador, pergunta 257.)

 

Concluindo, pensamos que poucos textos são capazes de exprimir melhor a importância da fé do que este lindo poema escrito por Cármen Cinira (Espírito), uma das pérolas literárias que compõem a obra Parnaso de Além-Túmulo, livro psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier:

 

O viajor e a Fé

 

Cármen Cinira

 

— “Donde vens, viajor triste e cansado?”

— “Venho da terra estéril da ilusão.”

— “Que trazes?”

— “A miséria do pecado,

De alma ferida e morto o coração.

Ah! quem me dera a bênção da esperança,

Quem me dera consolo à desventura!”

 

Mas a fé generosa, humilde e mansa,

Deu-lhe o braço e falou-lhe com doçura:

— “Vem ao Mestre que ampara os pobrezinhos,

Que esclarece e conforta os sofredores!...

Pois com o mundo uma flor tem mil espinhos,

Mas com Jesus um espinho tem mil flores!”

 

 

 


 

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sábado, 16 de março de 2024



Ponderações bíblicas e espíritas sobre a política


JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília, DF

 

Alma amiga, um dos atributos de Deus é a onisciência; desse modo, muito antes de nós, Ele já sabe o que acontecerá no futuro da Terra. Diversas pessoas perderam sua fé nestes dias turbulentos, em que atitudes bárbaras vêm provocando conflitos bélicos em diversos países, após uma pandemia devastadora, com a morte de milhões de seres humanos. Nada que não esteja, também, previsto por Jesus Cristo, a quem Deus confiou os destinos da Terra.

O espírita cristão não deve envolver-se diretamente em questões políticas, embora não se deva alienar sobre o que existe nesse sentido, em virtude da facilidade de informações que a internet nos proporciona atualmente. Nosso líder máximo, porém, é Jesus.  

Vejamos, por exemplo, os conceitos de esquerda ou direita que traz a Bíblia. Como a maioria das pessoas é destra, os canhotos, ou seja, aqueles que usam os membros esquerdos, são minorias. Milênios antes das denominações atuais, a direita representava a maioria destra e a esquerda a minoria canhota da população; mas o significado dessas palavras era figurado e não político.

Foi no sentido de retidão do caráter que Salomão, em Provérbios, 4:28, afirmou: “Não te desvies nem para a direita e nem para a esquerda, afasta os teus passos do mal” (Bíblia de Jerusalém).

Na mesma bíblia, lemos no Eclesiastes que “O sábio se orienta bem, o insensato se desviac”. No rodapé da página, está escrito: c) Lit. “o coração do sábio para a direita, o do insensato para a esquerda”. Ainda assim, o sentido é figurado, como dissemos acima.

Em João, 7:24, lemos o seguinte: “Não julguem apenas pela aparência, mas façam julgamento justo”.

Paulo, em Romanos, 14:12 afirma: “Assim,  cada um de nós prestará contas a Deus de si próprio” (Bíblia de Jerusalém).

Não custa lembrar o que também disse Jesus aos discípulos dos fariseus que lhe apresentaram uma moeda com o desenho da face de César num dos lados e lhe perguntaram se seria “lícito pagar o tributo a César”: “— [...] Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mateus, 22:15 a 21).

Com relação à política, consideramos, pois, atualíssima a recomendação de Allan Kardec na Revista Espírita de fevereiro de 1862, após chamar a atenção para a tática dos adversários do Espiritismo de nos afastar do objetivo verdadeiro da Doutrina Espírita: “Procurai, no Espiritismo, aquilo que vos pode melhorar; eis o essencial. Quando os homens forem melhores, as reformas sociais verdadeiramente úteis serão uma consequência natural”.

No mais, fico por aqui com meu esforço de “Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas” (Kardec, Allan. O livro dos espíritos, questão 886).

 

Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 



 


 

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sexta-feira, 15 de março de 2024



Comunicações mediúnicas entre vivos

 

Ernesto Bozzano

 

Parte 10

 

Damos prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires e publicado pela Edicel.

Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para leitura.

Este estudo será publicado sempre às sextas-feiras.

 

Questões preliminares

 

A. Diz Bozzano que nos casos arrolados neste livro há os que sugerem, de um lado, a presença real de uma entidade comunicante, de outro a tese oposta de uma comunicação puramente telepática. Como entender isso? 

B. Quem foi William Stead? 

C. Quem sugeriu a William Stead estabelecer intercâmbio mediúnico com pessoas vivas? 

 

Texto para leitura

 

Caso 10

136. Este depoimento foi colhido no livro de William H. Harrison, intitulado Spirit before our eyes (pág. 173). Escreveu ele que este caso lhe foi enviado de Vervey, Suíça, em 3 de março de 1875, pelo príncipe Emílio de Sayn-Wittgeinstein, que foi ajudante-de-campo do Imperador da Rússia durante a guerra turco-russa de 1878. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

137. Eis o relato do príncipe:

“Há cerca de um ano, tentei convencer uma jovem senhora de que o seu espírito, em condições especiais, poderia afastar-se do corpo para agir independentemente. Depois de insistentes pedidos meus, concordou em confiar-me uma de suas luvas, por meio da qual eu esperava chegar a pôr-me em relação magnética com ela, embora nunca a houvesse magnetizado.

Separamo-nos no mesmo dia e, apenas as circunstâncias mo permitiram, tentei a primeira experiência, em hora avançada da noite, para que a dama em questão se achasse em profundo sono. Fiquei com a luva na mão esquerda e o lápis na direita, pousando-o sobre uma folha de papel, e concentrei o pensamento nela. Não tive de esperar muito tempo, pois logo me senti influenciado, e o lápis começou a responder a várias perguntas mentais que fui fazendo. Nesta experiência estávamos separados por meio dia de viagem.

Continuei as mesmas práticas por várias semanas, durante as quais a luva foi perdendo gradualmente a influência que a tornava ativa, de modo que também as manifestações se foram enfraquecendo até cessarem de todo. Vim a saber que, durante as minhas experiências, a referida senhora tivera muitas vezes sonhos comigo, de clareza extraordinária e que, num desses sonhos, ela me havia visto com tamanha nitidez, que pôde descrever a roupa com a qual me achava vestido e o quarto que ocupava, tudo correspondendo à verdade. Além disso, ela me confirmou a exatidão dos numerosos incidentes que chegaram ao meu conhecimento ditados mediunicamente por ela, durante o sono.

Toda vez que o seu espírito respondia ao meu chamado eu sentia um agradável calafrio correr-me pelas costas, enquanto uma espécie de disco, do tamanho de um prato, do qual emanava uma luz amarelada, aparecia no ar e se deslocava sempre de um lado para outro. Tal disco luminoso aparecia logo que o lápis começava a escrever e desaparecia no momento em que a escrita parava. Algumas vezes o lápis sofria um abalo violento quando acontecia a interrupção da mensagem, mas esta logo depois recomeçava, como se nada houvesse sucedido. Perguntei qual o motivo dessas bruscas interrupções e foi-me respondido serem elas consequência dos rumores imprevistos que, naquele mesmo instante, haviam perturbado o sono da senhora que se achava em comunicação mediúnica comigo.

O incidente mais estranho, porém, está por ser contado, e me declaro incapaz de interpretá-lo, razão pela qual ficarei muito grato a quem puder fazê-lo. Certa noite em que estava recebendo a influência dela, escrevi longa mensagem que se referia a um baile no qual pretendia ter tomado parte na noite precedente. Descreveu-me, com juvenil entusiasmo, o lindo vestido que usara, as pessoas com as quais havia dançado, fazendo sobre algumas delas observações maliciosas e, finalmente, confiava-me que, num dado momento, se tomara de forte mau humor, sentando-se a um canto afastado da sala e respondendo com despeito a quem dela se aproximava, bem como se recusara a continuar tomando parte nas danças. Vários meses após encontrei-me com a irmã dela pela qual soube que naquela noite, a minha “correspondente espiritual” achava-se ausente, numa excursão que durara uma semana, e que fora ela, a irmã, quem estivera no referido baile, vestida com a roupa por mim descrita e que, efetivamente, se havia portado de modo despeitoso e impertinente para quem dela se acercava. Em suma, confirmou, em todos os pormenores, a narração por mim obtida mediunicamente.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

138. Essa é a interessante narrativa do príncipe de Wittgeinstein. O incidente final de substituição da personalidade mediúnica, que ao príncipe pareceu muito enigmático, na realidade não o é. De fato, podemos explicá-lo facilmente, observando que a circunstância da “relação psíquica” existente naquele momento entre o sensitivo-agente e o ambiente longínquo em que morava a dama procurada, é suficiente para dar a razão do acontecido. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

139. Tal circunstância nos autoriza a inferir que, não se achando em casa a senhora em questão, mas sim a sua irmã, naquele momento imersa no sono, pela “lei de afinidade” existente no ambiente em que estava dormindo, foi ela quem entrou em relação psíquica com o agente afastado, no lugar da irmã ausente. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

140. Como o príncipe estivesse firmemente persuadido de achar-se em relação com a senhora habitual, essa convicção provocou, por autossugestão, um fenômeno de interferência subconsciente, que levou a mão do sensitivo a firmar, erroneamente, a mensagem com o nome daquela que ele supunha presente. De tais espécies de interferências estão cheios os anais da casuística mediúnica. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

141. Além disso observa-se no caso exposto o incidente do disco luminoso que aparecia quando a mão do médium traçava automaticamente as primeiras palavras e desaparecia quando a escrita cessava. O incidente tenderia a demonstrar a presença real da entidade espiritual comunicante no local. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

142. Nos casos telepáticos, como nestes aqui considerados, alternam-se constantemente episódios que tendem a demonstrar ora a presença real de uma entidade comunicante, ora a tese oposta de uma comunicação puramente telepática ou telepático-mediúnica, isto é, de uma pura transmissão do pensamento a distância. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

143. Tais perplexidades teóricas, produzidas por alternativas episódicas de significação oposta, não se resolvem senão admitindo a possibilidade de se realizarem ambas as modalidades de manifestação fenomênica segundo as circunstâncias. Tudo concorre para provar que a solução do problema seja a mais digna de consideração. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

144. Bozzano adverte, por fim, que não era hora de se iniciarem discussões teóricas a propósito deste primeiro exemplo de comunicações mediúnicas entre vivos, em que o agente colhe segredos pessoais de sensitivos distantes, mergulhados no sono, devendo esperar para o fazermos quando houver melhores elementos de discussão, sejam a favor ou contra. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

145. Ele observa, no entanto, que a objeção formulada pelos opositores à hipótese espírita consiste em observar que, se o médium é capaz de extrair informações reservadas na subconsciência de determinadas pessoas distantes, imersas no sono, tal fato infirma as provas de identificação espírita fundadas em informes pessoais ignorados dos médiuns e dos presentes, que fornecem os supostos mortos comunicantes, levando-se em conta que se poderia sustentar sempre, a tal propósito, que o médium retire todos os informes das subconsciências das pessoas vivas que tenham conhecido os mortos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

146. Viu-se, porém, na introdução ao presente subgrupo, que a objeção não resiste a outras importantes circunstâncias de fato e, acima de tudo, viu-se também que ela não fica de pé diante da necessidade da “relação psíquica”, que serve para condicionar e, portanto, para limitar os poderes da subconsciência. Dentro em pouco ver-se-á como tal hipótese se esboroa diante da análise comparada dos fatos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

 

Caso 11

147. Também a célebre escritora inglesa Florence Marryat, que era dotada de notabilíssimas faculdades mediúnicas, especialmente de psicografia e tiptologia, fez numerosas experiências com pessoas distantes. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

148. Eis uma dessas experiências, que se encontra em seu livro There is no death (pág. 41):

“Tais comunicações mediúnicas com espíritos de vivos são, indubitavelmente, das mais curiosas que já obtive. Em várias circunstâncias quando, sobre um dado acontecimento, eu não chegava a conhecer a verdade diretamente das pessoas interessadas em ocultá-la, eu me sentava diante da ‘mesinha mediúnica’, em hora que sabia acharem-se adormecidas as pessoas, e concentrava o pensamento sobre elas, convidando-as a me virem revelar, sinceramente, a verdade, pela tiptologia, o que quase nunca deixava de se realizar. De modo que, quando tais pessoas viam que eu estava plenamente informada do que elas me haviam escondido, ficavam pasmadas e por certo não imaginavam qual tivesse sido a minha fonte de informações.

Observo que o poder de se comunicar com os espíritos dos vivos não é comum a todos os médiuns, mas eu sempre o possuí, e posso consegui-lo, tanto com pessoas adormecidas como em estado de vigília, conquanto neste último caso a experiência seja mais difícil. Um senhor do meu conhecimento certa vez me desafiou a tentar com ele. Oculto-lhe o nome, porque a tentativa o tornou risível.

Esperei que ele fosse convidado para um jantar de gala e então, cerca de nove horas da noite, sentei-me à mesinha e, pensando intensamente nele, chamei-o resolutamente. Ele hesitou um pouco em vir e, quando chegou, estava de muito mau humor. Apanhei papel e lápis e, ditados por ele, escrevi os nomes de todos os convidados presentes no banquete, de todos os pratos servidos e depois, comovida pelas suas ardentes súplicas, deixei que se fosse.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

149. Na sequência do seu relato, a escritora Florence Marryat acrescentou o seguinte trecho, que se inicia com um diálogo com o amigo evocado:

– A senhora está me levando ao ridículo. Todos se riem de mim!

– Por quê? O que o senhor está fazendo?

– Estou caído em profundo sono em cima da toalha da mesa.

No dia seguinte, confuso e humilhado, foi ele procurar-me e perguntou:

– Foi a senhora que ontem à noite atuou sobre mim? Eu me achava num jantar em casa do Sr. Watts Philips e, terminada a refeição, caí inesperadamente em profundo sono, com a cabeça entre as mãos. Os convidados tentaram acordar-me, sem o conseguir. Estou certo de que a senhora me preparou uma grande peça.

– Não quero ocultar – respondi – que ontem resolvi aceitar o seu desafio, impondo-lhe que fizesse o que lhe parecia impossível forçá-lo a fazer. Gostou da sopa branca? E o peixe, estava bom? Que me diz do pão doce?

Ele ficou perturbado ao ouvir-me enumerar os pratos servidos no jantar, e o seu espanto subiu ao máximo quando lhe mostrei a folha de papel escrita com o que me ditou. Devo declarar que não tenho o costume de proceder assim com os vivos, mas sou uma pessoa terrível quando me desafiam a fazer alguma coisa. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

 

Casos 12 a 19

150. Trata-se de episódios narrados pelo célebre escritor e jornalista inglês William Stead. Como se sabe, possuía ele, em grau notabilíssimo, a faculdade mediúnica da escrita automática (psicografia), pela qual lhe foi ditado o livrinho de ouro de revelações transcendentais intitulado Letters from Julia. Além disso, conseguia sistematicamente entrar em relações mediúnicas e conversar, livremente, com pessoas vivas que se achavam a distância, obtendo muitas vezes confissões e informações que as mesmas pessoas nunca lhe teriam confiado, em condições normais. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

151. Ele nunca havia pensado na possibilidade de conversas supranormais de tal natureza e foi a personalidade mediúnica de Júlia que lhe sugeriu essa ideia, a título de experiência. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

152. Numa famosa conferência realizada na sede da The London Spiritualist Aliance, em 1893, conta ele, nas seguintes palavras, o seu começo nessa espécie de experiências:

“Certo dia Júlia escreveu: ‘Por que te surpreendes que eu possa servir-me da tua mão para escrever à minha amiga? Qualquer um pode fazê-lo’ e eu lhe perguntei: ‘Que queres dizer com este qualquer um?’, ao que ela respondeu: ‘Qualquer um, isto é, qualquer pessoa pode escrever com a tua mão’. Perguntei ainda: ‘Queres dizer qualquer pessoa viva?’ e ela replicou ‘Qualquer amigo teu pode escrever com a tua mão’, ao que observei: ‘Queres dizer que se eu puser a minha mão à disposição de qualquer amigo distante poderá ele servir-se dela do mesmo modo que tu o fazes?’ e ela respondeu: ‘Sim, experimenta e verás’. Ora, parecia-me difícil a tarefa, mas resolvi fazer a tentativa e os seus resultados foram imediatos e assombrosos.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) (Continua no próximo número.)

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Diz Bozzano que nos casos arrolados neste livro há os que sugerem, de um lado, a presença real de uma entidade comunicante, de outro a tese oposta de uma comunicação puramente telepática. Como entender isso? 

Segundo Bozzano, tais perplexidades teóricas, produzidas por alternativas episódicas de significação oposta, não se resolvem senão admitindo a possibilidade de se realizarem ambas as modalidades de manifestação fenomênica, segundo as circunstâncias. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

B. Quem foi William Stead? 

Stead foi um célebre escritor e jornalista inglês. Possuía ele, em grau notabilíssimo, a faculdade mediúnica da escrita automática (psicografia), pela qual lhe foi ditado o livrinho de ouro de revelações transcendentais intitulado Letters from Julia. Além disso, conseguia sistematicamente entrar em relações mediúnicas e conversar, livremente, com pessoas vivas que se achavam a distância, obtendo muitas vezes confissões e informações que as mesmas pessoas nunca lhe teriam confiado em condições normais. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

C. Quem sugeriu a William Stead estabelecer intercâmbio mediúnico com pessoas vivas? 

Foi a personalidade mediúnica de Júlia que lhe sugeriu essa ideia, a título de experiência. Certo dia Júlia lhe disse que qualquer pessoa poderia escrever por sua mão. Stead perguntou-lhe: “Queres dizer qualquer pessoa viva?” Ela respondeu: “Qualquer amigo teu pode escrever com a tua mão”. Ele, a título de confirmação, perguntou novamente: “‘Queres dizer que se eu puser a minha mão à disposição de qualquer amigo distante poderá ele servir-se dela do mesmo modo que tu o fazes?” Ela confirmou: “Sim, experimenta e verás”. William Stead resolveu fazer a tentativa e seus resultados foram imediatos e assombrosos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 9 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/03/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos_0616583884.html

 

 

 

 

 

 

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