Tentação a Jesus
& tentação a nós
JORGE LEITE DE
OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília, DF
Diz Lucas, no
capítulo 4 do seu evangelho, que Jesus passara 40 dias em jejum e oração no
deserto. Depois, teve fome. Então, o diabo fala-lhe: “Se tu és o Filho
de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão”.
Jesus tinha o poder
de materializar o que quisesse, como lemos nos evangelhos, quando multiplicou cinco
pães e dois peixes em alimento para “cerca de 5.000 homens, sem contar mulheres
e crianças” (Mateus, 14:13 a 21). Entretanto, mesmo sentindo a fome de
40 dias de jejum, nosso Mestre, quando tentado, abstivera-se de utilizar seu
poder em benefício próprio. Então, respondeu ao demônio: “— Está escrito
que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra de Deus”.
Outras duas propostas
foram-lhe feitas pelo mau espírito, e Jesus recusou-as, como a de
possuir “todos os reinos do mundo”, se adorasse satanás. Isso lembra-nos
o que o Cristo, ao lhe ser indagado se era rei, respondeu a Pilatos: “— Meu
reino não é deste mundo...” (João, 18:36).
À segunda proposta do
demônio, respondeu: “Vai-te, satanás, porque está escrito: Adorarás o
Senhor teu Deus, e só a Ele servirás”.
Por fim, propôs-lhe o
mau espírito que se atirasse do alto do templo, pois os anjos divinos
não permitiriam que nada de mal lhe acontecesse. E disse-lhe Jesus: “Dito está:
Não tentarás o Senhor teu Deus”.
O ensinamento final
desse relato de Lucas serve-nos para reflexão: “E acabando o diabo toda
a tentação, ausentou-se dele por algum tempo” (destaquei).
Ora, se nem a Jesus satanás
(espírito das trevas) poupou em suas tentações, muito menos nos poupará. Foi
por saber disso que nosso Mestre, Espírito perfeito em relação a nós,
recomendou-nos: “Vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que sejais havidos
por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé
diante do Filho do homem” (Lucas, 21:36).
Foi o que levou Allan
Kardec a perguntar, no item 467 d’O Livro dos Espíritos: “Pode o homem
eximir-se da influência dos espíritos que procuram arrastá-lo para o mal?”
Reposta: “Pode, visto
que tais Espíritos só se apegam aos que, pelos seus desejos, os chamam, ou aos
que, pelos seus pensamentos, os atraem”.
E, na questão 469 da
obra citada, Kardec indaga: “Por que meio podemos neutralizar a influência dos
maus espíritos?”
Resposta: “Praticando
o bem e pondo em Deus toda a vossa confiança, repelireis a influência dos
espíritos inferiores e aniquilareis o império que desejem ter sobre vós.
Guardai-vos de atender às sugestões dos espíritos que vos suscitam maus
pensamentos, que sopram a discórdia entre vós outros e que vos insuflam as
paixões más. Desconfiai especialmente dos que vos exaltam o orgulho, pois que
esses vos assaltam pelo lado fraco. Essa a razão por que Jesus, na oração
dominical, vos ensinou a dizer: ‘Senhor! não nos deixes cair em tentação, mas
livra-nos do mal”.
É, pois, na confiança
em Deus, na oração e na vigilância diária dos nossos pensamentos, como nos
ensinou Jesus, que estaremos livrando-nos do mal que reside em nós e atraindo
os bons espíritos como nossos companheiros diários. Aliado a isso está o
exercício da compaixão a todos, encarnados e desencarnados que ainda se encontram
iludidos pelas paixões e todos os sentimentos negativos contrários à prática da
caridade, virtude que, junto à humildade, são as vias de nossa “salvação”.
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