terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Nem o sol poderia viver pela lua

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR
           
Deve ser sempre o nosso passo a nos guiar para o caminho escolhido.
Às vezes, podemos demorar mais ou menos;no entanto, o importante é termos liberdade e decisão. E que neste Ano Novo cada escolha possa ser feita pela nossa vontade, com a certeza de que estaremos sempre amparados para o caminho do bem, a fim de conquistarmos o progresso e a luz de nossa vida.

Um rapaz bastante jovem estava sentado num banco antigo de uma das praças de Lyon, França. Não era mais comum uma cena assim nos tempos atuais, devido ao dinamismo das ações; pois bem, mas ele estava.
Seu semblante não era convidativo nem mesmo para cumprimentá-lo, quem dera para algumas palavras frente à iniciação de uma conversa, como pretendia o senhor aposentado que observava o rapaz no banco do lado oposto.
Os gestos com a cabeça demonstravam inconformismo e contrariedade do jovem perante algum acontecimento em questão. E as miúdas flores amarelas ao lado do banco se balançavam com o vento calmo que soprava na tarde.
Sabe-se que a experiência na vida torna real muitas possibilidades existentes. Quando se é mais jovem, certas coisas parecem complicadas, mais embaraçosas para a realização ou mudança de caminho. O que antes traria vergonha ou imobilidade de ação, com a maturidade, de uma forma geral, quase tudo se torna realizável.
E foi dessa maneira, com a crença de que é possível, que o senhor do banco oposto se transferiu para onde o jovem estava.
Mediante a atitude de um desconhecido em se aproximar, o rapaz recolheu-se um pouco distanciando-se pelo menos uns vinte centímetros do senhor. Sem dúvida, ele se incomodou mais que o experiente homem.
Olhou para o senhor como a perguntar-lhe o que estava fazendo; entretanto, preferiu saudá-lo:
– Boa tarde!
– Boa tarde, jovem!
– O senhor precisa de algo? – o rapaz perguntou.
– Não, só estou a receber o ar mais livre como faço todas as tardes deste outono fresco. E você... está bem? – o senhor se mostrou receptivo a escutá-lo.
Então, o jovem virou a cabeça e olhou bem profundamente para os olhos do senhor:
– Não o conheço... no entanto, agradeço-lhe a preocupação, se assim posso chamá-la – respondeu o jovem.
– Na minha idade, as preocupações da juventude passaram a ser o início de um crescimento – deu uma pausa. – Sabe, jovem, quando tinha os seus breves vinte anos, como a maioria dessa geração, passei grandes desafios também. O mundo deseja receber a nova criatura, entretanto, com grande expectativa de suas realizações.
E o jovem, extático e interessado, ouvia as palavras com sabedoria.
– O número atuante de nossas funções na vida se amplia, pois da restrita atuação de filho... irmão... neto... passamos a nos responsabilizar com o desempenho de aluno, futuro profissional; de competente realizador da atividade escolhida; de cônjuge; de mãe e pai; de membro de uma sociedade que, muitas vezes, cobra bem mais que apoia ou reconhece os nossos atributos. Mas... o fator preponderante é ser feliz com o que se tem e com o que se realiza profissional e humanamente – assim foram as palavras do senhor.
O jovem tentava assimilar tamanha informação. E como o tocou! Olhou para o céu, respirou fundo, deparou-se com a imensidão diante dos olhos, quão pequenino se sentiu e, ao mesmo tempo, enclausurado no sofrimento imposto por uma força, de certa forma, poderosa no momento.
– O senhor pode me ouvir um pouco? – perguntou com os olhos cheios de esperança.
– Como se fosse um filho meu! – respondeu com o carinho que um pai sempre deveria estar.
– Obrigado!
O silêncio foi mais alto neste instante. Na verdade, uma preparação para o desencadeamento.
– Desejo ser médico... – uma pausa. – Desejo ser médico, mas meu pai me exige o Direito, para continuar a tradição familiar – o rapaz começou a contar.
O senhor, muito atento, olhava para o jovem, dando a entender que se quisesse poderia continuar.
– E... ele sabe como pressionar-me a ponto até de pensar na desistência do meu objetivo... meu sonho – o jovem abaixou a cabeça sentindo-se um pouco fracassado antes mesmo da realização.
Então, o homem mais experiente suspirou e perguntou:
– O sonho é seu ou de seu pai?
Os jovens olhos se assustaram com a pergunta.
– É... o meu sonho – respondeu, gaguejando um pouco.
– Perfeito! Então, não há mais dilema – assim, com toda a facilidade, o senhor concluiu.
Extremamente sem entender, o rapaz ficou e olhou para o homem aguardando resposta.
– Isso mesmo. Não há mais problema algum a resolver – o senhor insistiu na resposta.
– Mas, meu senhor, como não há problema? – o jovem questionou, indignado, por seu sofrimento.
– Meu rapaz, a maior dificuldade na vida é descobrir o caminho. Quando se descobre, somente é preciso a energia desbravadora para conquistá-lo – o senhor respondeu com tranquilidade.
– E meu pai? E a tradição? E o que as pessoas pensarão? Talvez seja grande desacato! – em tom de incompreensão, o jovem questionou.
– Então me responda! Você ficará, todos os dias, somente em função de seu pai? Responda-me! – o senhor, com brandura, perguntou.
– Não... – o jovem começou a responder um pouco envergonhado.
– Você tem uma vida a viver ou apenas seu pai é quem tem?
– Não... eu... também tenho.
– Você se casará com a tradição e os dois serão felizes para sempre? – o senhor continuou.
– Não...
– As pessoas trarão a satisfação que você deseja?
– Não...
– Pois bem, meu rapaz, confraternize-se com a vida e seja feliz sendo o melhor que puder. A vida é presente divino. Não permita que outras pessoas desfaleçam os seus sonhos. Que cada passo “seu” busque o bem, o progresso, o amor. Todos nós temos uma vida que se propaga para a eternidade, mas a caminhada é individual, seus méritos serão conquistados por você e seus débitos também aguardarão a sua quitação. Siga adiante, meu rapaz. Escreva sua história com passagens felizes e edificantes. Siga adiante! – o senhor concluiu.
O jovem olhou respeitosamente para o senhor.
Quanta admiração!
– Meu rapaz, tenho de ir. A noite quer se apresentar e eu... não sou tão jovem quanto você para receber o vento mais fresco gotejado pelo sereno. Grande satisfação em conhecê-lo. Conquiste o seu horizonte e ele o fará feliz. Au revoir! – e assim o senhor se levantou e seguiu com seus passos calmos e experientes.
– Obrigado! Au revoir! – o rapaz, com um pouco de atraso, respondeu.
Algumas estrelas começaram a se apresentar e o jovem, ao percebê-las, olhou para o céu em agradecimento. Quando procurou o senhor, não mais estava presente, simplesmente assim.


Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/



segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

As mais lindas canções que ouvi (68)


Romaria

Renato Teixeira

É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu
Perdido em pensamentos
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó,
De gibeira o jiló, dessa vida
Cumprida a sol...
Sou caipira, Pirapora, Nossa
Senhora de Aparecida,
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida.
Sou caipira, Pirapora, Nossa
Senhora de Aparecida,
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida.

O meu pai foi peão,
Minha mãe solidão,
Meus irmãos perderam-se na vida
À custa de aventuras.
Descasei e joguei,
Investi, desisti,
Se há sorte eu não sei,
nunca vi.
Sou caipira, Pirapora, Nossa
Senhora de Aparecida,
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida.

Me disseram porém
Que eu viesse aqui
Pra pedir
De romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar, meu olhar.

Sou caipira, Pirapora, Nossa
Senhora de Aparecida,
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida. 

Sou caipira, Pirapora, Nossa
Senhora de Aparecida,
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida.

Sou caipira, Pirapora, Nossa
Senhora de Aparecida,
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida.


Você pode ouvir a canção acima na voz de seu autor, Renato Teixeira, clicando em http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/renato-teixeira/romaria/481704
Caso queira ouvi-la na interpretação de Elis Regina, clique neste link:



domingo, 29 de dezembro de 2013

Adeus ao ano que se finda e boas-vindas ao que chega



E eis que 2013 está perto do fim...
Terá sido um ano feliz? Certamente que não, pois, se alguns poucos podem rejubilar-se no final desta temporada, ninguém ignora que a grande maioria dos homens, aqui e no exterior, ainda espera o advento de dias efetivamente felizes, em que a paz reine nos corações e a consciência não mais se debata intranquila.
Há quem pense que a Religião é capaz de trazer-nos esses dias, sobretudo quando consegue mostrar-nos que a felicidade verdadeira não se encontra de modo algum vinculada às posses mundanas e nos leva a lembrar que a gente nasce nu e nu retorna ao plano espiritual.
A ideia de se colocar joias, ouro e outras relíquias de valor em nossa tumba, pensamento que acalentou os sonhos dos faraós, não passa de uma iniciativa vã, visto que esses bens, se têm enorme valor no plano em que estamos, nenhuma utilidade terão no outro mundo.
O homem milionário, que supomos extremamente feliz devido às suas posses,  certamente daria sua fortuna ou parte dela em troca da vida de um filho que a morte levasse.
Esse amor de pai e mãe, a amizade fraterna que cultivamos ao longo da existência, a paz interior que os familiares queridos nos inspiram, nada disso pode ser medido em termos monetários, o que demonstra que as aspirações humanas realmente legítimas são, em última análise, as que podem conduzir a criatura ao encontro do Criador, objetivo final da Religião.
Malgrado essas considerações, o certo é que vivemos em nosso orbe uma época de materialismo desenfreado. Não nos reportamos aqui apenas ao materialismo ideológico, mas ao materialismo prático, que encontramos até mesmo nos atos e costumes dos chamados religiosos.
O egoísmo é – não há como contestar – a raiz desse materialismo, que responde por inúmeras distorções que maculam a civilização do nosso tempo e gera essa febre mundial pela acumulação de bens.
O comportamento materialista é igualmente um atestado de ausência de fé e uma demonstração da falência das religiões, que não têm conseguido incutir nas cogitações dos homens, salvo esporadicamente, por ocasião dos cultos religiosos, uma réstia de luz que os norteie em sua jornada terrena.
“Nós vivemos, nós vivemos, nós – os mortos – vivemos...” – eis o recado dos Espíritos daqueles que já partiram para o além-túmulo.
Que sentido terá para nós esse aviso?
Sem qualquer cogitação de ordem filosófica, ele tem pelo menos este: que a morte não existe, que a existência terrena é uma faceta da vida do Espírito, que a alma é imortal e que nos importa desenvolvê-la com todas as forças do nosso ser, visto que é ela que sobreviverá no final desse processo.
Assim pensando, esperamos que 2014 nos leve a compreender melhor os apelos da crença que professamos e seja isso o início de uma vida de paz e de renovação de nossas existências.



sábado, 28 de dezembro de 2013

O Natal de Machado


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Este é um dia especial, é Natal e, como tal, todos os peitos palpitam de emoções, os abraços efusivos são constantes, juntamente com os votos de felicidade, saúde, paz e prosperidade, principalmente monetária, pois, se o dinheiro não lhe traz felicidade, amigo leitor, deposite-o em minha conta e seja feliz.
Rebusquei meus textos sobre a data e trago-lhe as duas únicas flores, dentre meus poemas e crônicas, que fiz desabrochar nesta data tão metafísica quanto os restos arrancados da terra que nos viu passar unidos, eu e Carolina.
Uma dessas pétalas raras em minha produção literária intitulei:

Soneto de Natal

Um HOMEM, — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno, —
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.

E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”

(ASSIS, Machado. Ocidentais (1879). In: _. Machado de Assis: obra completa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973, p. 167.)
     
Esse único soneto, que dediquei, segundo Manuel Bandeira (Op. cit., p. 14) à “melancolia de não encontrar mais, numa noite de Natal, as sensações da idade antiga”, parece ter-se tornado profético. Atualmente, o espírito natalino é substituído pelo excessivo consumo de bebidas alcoólicas e comilanças. Poucas famílias lembram-se de buscar a presença do aniversariante em sincera oração de agradecimento por sua incomparável exemplificação do amor entre nós.
À atual Sociedade protetora dos animais, faço um apelo para que oremos também em prol da alma de um leitão que foi sacrificado, no Natal citado em minha crônica publicada no periódico A Semana de 1893; ou seja, há exatos 120 anos. Mas o que são 120 anos, senão, por vezes, o tempo entre uma e outra reencarnação?
É bem verdade que alguns espíritos, como o meu, costumam ficar séculos ou milênios nesta outra dimensão da vida, observando e interferindo no orbe terrestre, buscando aperfeiçoá-lo; mas somos minoria. Talvez uns 0,00001% de toda a população terráquea atual.
Que mais dizer do leitão? Triste leitão, pobre leitor. Se desejar ler mais sobre o assunto, clique em www.dominiopublico.gov.br e leia, na íntegra, a crônica citada. Afianço-lhe, de antemão, amiga leitora, que, de tudo o que ali está, sobrou apenas esse parágrafo, que não vou reproduzir para não lhe tirar da língua o gosto do pernil.
O fato é que, de tanto comerem leitão e peru no Natal, essa pobre ave nem ao menos comemora o dia do advento do Senhor. Morre na véspera.
Não sejamos perus, amigos; ante os desafios da vida, ainda que venhamos a perecer, que o seja durante o combate.
Mas que também tenho um grande dó do peru, lá isso tenho. Pobre peru, triste ser penado.
É um dó que dá cada pena ou cada pena de dar um dó? Você decide...
Enfim... que o Natal nos traga a doce reflexão sobre a vida do Cristo, que trouxe consigo a “mensagem da verdadeira fraternidade e, revelando-a, transitou vitorioso, do berço de palha ao madeiro sanguinolento”.
Concluamos, pois, com a continuação desta mensagem de meu amigo Emmanuel:

Irmão, que ouves no Natal os ecos suaves do cântico milagroso dos anjos, recorda que o Mestre veio até nós para que nos amemos uns aos outros.
Natal! Boa-Nova! Boa-Vontade!...
Estendamos a simpatia para com todos e comecemos a viver realmente com Jesus, sob os esplendores de um novo dia. (XAVIER, F. C. Fonte viva. Ed. FEB.)

Feliz Natal, amigo, e não se esqueça de que cerveja cria pança; cuidado para não engordar, amiga... E que o espírito da tolerância, a fraternidade e o amor do Cristo possam nos tornar melhores e saudáveis, desde já.

Visite o blog Jorge, o sonhador: http://www.jojorgeleite.blogspot.com.br/


Pérolas literárias (68)


Petição a Jesus

Maria Dolores


Senhor!
Perante os que se vão
Sob nuvens de pó e rajadas de vento,
Dá-me o dom de sentir
No próprio coração
A chaga e o sofrimento
Que carregam consigo
Por fardos de aflição…
Faze, Divino Amigo,
Ante a dor que os invade,
Que eu lhes seja migalha de conforto
Na travessia da necessidade.

Agradeço-te os olhos que me deste,
Espelhos claros com que me permites
Fitar fontes e flores
Ante o céu sem limites…
Mas rogo-te, Senhor,
Ajuda-me a estender a luz em que me elevas
Cooperando contigo, embora humildemente,
No socorro constante aos que jazem nas trevas.

Rendo-te graças pela minha voz
Que te pode louvar
E engrandecer-te sem qualquer barreira
De inibição, de forma, de lugar…
Entretanto, Jesus, aspiro a estar contigo,
Em singela tarefa que me dês
No apostolado com que recuperas
Nossos irmãos atados à mudez.

Agradeço os ouvidos
Em que o discernimento se me apura
Ao escutar o verbo e a música da vida
Na ascensão à cultura.
Consente-me, porém, o privilégio
De repartir o amor com que me assistes
Revigorando a quantos se fizeram
Retardados ou tristes.

Agradeço-te as mãos que me cedeste
Para dar-me ao trabalho que te peço
Na atividade do cotidiano
Em demanda ao progresso.
Aprova-me, no entanto, o propósito ardente
De partilhar contigo o serviço fecundo
Com que amparas a todos os enfermos
Que vivem sob a inércia entre as provas do mundo!

Agradeço-te o lar que me descansa
No calor da ternura em que me aqueço,
Meu veludoso ninho de esperança,
Meu tesouro sem preço…
Mas deixa-me seguir-te, lado a lado,
No concurso espontâneo, dia a dia,
A fim de que haja abrigo a todos os que passam
Suportando sem teto a chuva e a noite fria!

Rendo-te graças, incessantemente,
Por tudo o que, em teu nome, o caminho me traz,
– A compreensão, a luz, o estímulo, o consolo,
O apoio, a diretriz, a experiência, a paz…
Não me largues, porém, no exclusivismo vão.
De tudo o que me dês, ajuda-me, Senhor,
A dividir também com os outros que te esperam
A mensagem de fé e a presença de amor!



Do cap. 14 do livro Na Era do Espírito, de autoria de Francisco Cândido Xavier, J. Herculano Pires e Espíritos diversos. 



sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O instante da morte é realmente fatal?


Um leitor radicado em Contagem (MG) pergunta-nos se uma pessoa assassinada, caso esse crime não fosse cometido, teria mais tempo de vida ou morreria, de qualquer forma, na mesma época. E no tocante à criança, morta, por exemplo, por uma bala perdida, deveria ela morrer na mesma época em que esse fato se deu?
São complexas as questões apresentadas pelo leitor e não nos cabe, em assuntos assim, expor o que pensamos mas, sim, o que aprendemos na doutrina espírita e nas obras subsidiárias firmadas por autores idôneos e dignos do nosso respeito.
O tema foi tratado objetivamente em duas questões d´O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, que adiante reproduzimos:
853. Algumas pessoas só escapam de um perigo mortal para cair em outro. Parece que não podiam escapar da morte. Não há nisso fatalidade?
“Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte o é. Chegado esse momento, de uma forma ou doutra, a ele não podeis furtar-vos.”
a) Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, se a hora da morte ainda não chegou, não morreremos?
“Não; não perecerás e tens disso milhares de exemplos. Quando, porém, soe a hora da tua partida, nada poderá impedir que partas. Deus sabe de antemão de que gênero será a morte do homem e muitas vezes seu Espírito também o sabe, por lhe ter sido isso revelado, quando escolheu tal ou qual existência.”
854. Do fato de ser infalível a hora da morte, poder-se-á deduzir que sejam inúteis as precauções que tomemos para evitá-la?
“Não, visto que as precauções que tomais vos são sugeridas com o fito de evitardes a morte que vos ameaça. São um dos meios empregados para que ela não se dê.”
Muitos anos depois – entre 31 de outubro de 1939 e 8 de março de 1940 –, em Pedro Leopoldo (MG), questão semelhante foi proposta a Emmanuel, como podemos ler na pergunta 146 do livro O Consolador, de sua autoria, psicografia de Chico Xavier.
Ei-la:
É fatal o instante da morte? ”Com exceção do suicídio, todos os casos de desencarnação são determinados previamente pelas forças espirituais que orientam a atividade do homem sobre a Terra. Esclarecendo-vos quanto a essa exceção, devemos considerar que, se o homem é escravo das condições externas da sua vida no orbe, é livre no mundo íntimo, razão por que, trazendo no seu mapa de provas a tentação de desertar da vida expiatória e retificadora, contrai um débito penoso aquele que se arruína, desmantelando as próprias energias. A educação e a iluminação do íntimo constituem o amor ao santuário de Deus em nossa alma. Quem as realiza em si, na profundeza da liberdade interior, pode modificar o determinismo das condições materiais de sua existência, alcançando-a para a luz e para o bem. Os que eliminam, contudo, as suas energias próprias, atentam contra a luz divina que palpita em si mesmos. Daí o complexo de suas dívidas dolorosas. E existem ainda os suicídios lentos e gradativos, provocados pela ambição ou pela inércia, pelo abuso ou pela inconsideração, tão perigosos para a vida da alma, quanto os que se observam, de modo espetacular, entre as lutas do mundo. Essa a razão pela qual tantas vezes se batem os instrutores dos encarnados, pela necessidade permanente de oração e de vigilância, a fim de que os seus amigos não fracassem nas tentações.”

*

Acreditamos que as explicações acima podem ajudar-nos a entender os diversos tipos de mortes que se verificam no mundo, esclarecendo, porém, que no tocante à criança – nesse período em que, segundo os instrutores espirituais, não existe ainda perfeita integração entre o Espírito e a matéria orgânica – possam ocorrer óbitos antes da época inicialmente programada por ocasião do processo reencarnatório.
Essa informação colhemos no cap. X, págs. 62 a 64, do livro Entre a Terra o Céu, de André Luiz, obra psicografada pelo médium Chico Xavier e publicada em 1954 pela Federação Espírita Brasileira, na qual o Ministro Clarêncio diz que uma criança pode, sim, desencarnar antes da época indicada para sua libertação.
Eis as palavras com que o Ministro explicou esse fato: “Em regra geral, multidões de criaturas cedo se afastam do veículo carnal, atendendo a serviços de socorro e sublimação, mas, em numerosas circunstâncias, a negligência e a irreflexão dos pais são responsáveis pelo fracasso dos filhinhos".
Dando sequência a essa informação, irmã Blandina acrescentou: "Aqui, recebemos muitas solicitações de assistência, a benefício de pequeninos ameaçados de frustração. Temos irmãs que por nutrirem pensamentos infelizes envenenam o leite materno, comprometendo a estabilidade orgânica dos recém-natos; vemos casais que, através de rixas incessantes, projetam raios magnéticos de natureza mortal sobre os filhinhos tenros, arruinando-lhes a saúde, e encontramos mulheres invigilantes que confiam o lar a pessoas ainda animalizadas, que, à cata de satisfações doentias, não se envergonham de ministrar hipnóticos a entezinhos frágeis, que reclamam desvelado carinho... Em algumas ocasiões, conseguimos restabelecer a harmonia, com a recuperação desejável, no entanto, muitas vezes somos constrangidas a assistir ao malogro de nossos melhores propósitos".



quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Pílulas gramaticais (83)


Veja esta frase: “Nosso colégio está melhor preparado este ano”.
Ou o correto é dizer: “Nosso colégio está mais bem preparado este ano”?
Sim, a segunda frase é que se apresenta correta. A norma diz que devemos empregar a expressão “mais bem” sempre que, após essa expressão, vier um verbo no particípio, a exemplo de preparado, organizado, vestido, desenhado, feito etc.
Exemplos:
•    Meu filho está mais bem preparado para as provas.
•    O desfile esteve mais bem organizado este ano.
•    Ana era a convidada mais bem vestida na festa.
•    De todas as redações, a mais bem feita foi a do João.
Fora do caso acima, devemos usar a palavra “melhor”.
Exemplos:
•    Meu filho saiu-se melhor na prova do que seu primo.
•    Ana veste-se melhor do que suas colegas.
•    Nosso colégio joga melhor do que as outras escolas.

*

Utilizada na letra de uma canção gravada por Roberto Carlos, a palavra furdunço existe? Se existe, qual o seu significado?
Sim, furdunço existe, e há também a forma paralela furdúncio.
A palavra significa barulho, desordem, festança popular.
Ela se origina do verbo furdunçar, brasileirismo que significa divertir-se com alarido; pandegar; promover furdunço, desordem.



quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O advento de Jesus, o aniversariante deste dia


O povo judeu aguardava ansiosamente o Messias anunciado pelos profetas da Antiguidade, o qual, em chegando ao mundo, pudesse libertá-lo do jugo de Roma, mas Jesus veio e não foi absolutamente entendido pelos israelitas. Os sacerdotes não esperavam que o Redentor procurasse a hora mais escura da noite para surgir na paisagem terrestre, pois, segundo a sua concepção, o Cristo deveria chegar no carro magnificente de suas glórias divinas e conferir a Israel o cetro supremo na direção dos povos do planeta.   
Houve, no entanto, muitos que o reconheceram como o Cristo anunciado pelos profetas da Antiguidade, embora tenha ele chegado humilde entre os animais de uma manjedoura e como filho de um simples carpinteiro. Entre os que o reconheceram devemos destacar aqueles que mais tarde se tornariam seus discípulos, apóstolos e seguidores, que puderam ouvir da própria voz de Jesus, em diversas ocasiões, ser ele o Enviado do Pai, como mostram estas passagens bíblicas: 
“Quem quer que me receba, recebe aquele que me enviou.” (Lucas, 9:48.)
“Aquele que me despreza, despreza aquele que me enviou.” (Lucas, 10:16.)
“Aquele que me recebe não me recebe a mim, mas recebe aquele que me enviou.” (Marcos, 9:37.)
“Ainda estou convosco por um pouco de tempo e vou em seguida para aquele que me enviou.” (João, 8:42.) 
Está bem caracterizado nas citações transcritas que Jesus falava em nome do Pai e foi por Ele enviado, fato que mostra uma dualidade de pessoas e exclui a igualdade entre elas, porque o enviado necessariamente é alguém subordinado àquele que o envia. Esse pormenor merece ser meditado por todos quantos pensam que Jesus e Deus constituem uma única pessoa, um equívoco que é igualmente contestado pelas citações seguintes: 
“Se me amásseis, rejubilaríeis, pois que vou para meu Pai, porque meu Pai é maior do que eu.” (João, 14:28.)
“Não tenho falado por mim mesmo; meu Pai, que me enviou, foi quem me prescreveu, por mandamento seu, o que devo dizer e como devo falar; e sei que o seu mandamento é a vida eterna; o que, pois, eu digo é segundo o que meu Pai me ordenou que o diga.” (João, 12:49 e 50.)  
Os apóstolos, evidentemente, acreditavam piamente ser Jesus o Messias aguardado, o que pode ser deduzido com facilidade das seguintes citações constantes de Atos dos Apóstolos: 
“Que, pois, toda a Casa da Israel saiba, com absoluta certeza, que Deus fez Senhor e Cristo a esse Jesus que vós crucificastes.” (Atos, 2:33 a 36.)
“Moisés disse a nossos pais: O Senhor vosso Deus vos suscitará dentre os vossos irmãos um profeta como eu. Escutai-o em tudo o que ele disser. Quem não escutar esse profeta será exterminado do meio do povo. Foi por vós primeiramente que Deus suscitou seu Filho e vo-lo enviou para vos abençoar.” (Atos, 3:22, 23 e 26.)
“Foi a ele que Deus elevou pela sua destra, como sendo o príncipe e o salvador, para dar a Israel a graça da penitência e a remissão dos pecados.” (Atos, 5:29 a 31.)
“Mas, estando Estêvão cheio do Espírito Santo e elevando os olhos ao céu, viu a glória de Deus e a Jesus que estava de pé à direita de Deus.” (Atos, 7:55 a 58.) 
Não é difícil compreender que a vinda de Jesus entre nós envolveu intenso trabalho por parte de todos aqueles Espíritos convocados a participar da sua gloriosa missão. Cada qual recebeu uma tarefa específica, de devotamento e amor, a fim de facilitar a vinda do governador espiritual da Terra aos planos inferiores. 
Inicialmente, Jesus enviou às sociedades do globo o esforço de auxiliares valorosos nas figuras de Ésquilo, Eurípedes, Heródoto e Tucídides e, por fim, a extraordinária personalidade de Sócrates, entre os gregos. Na China encontraremos Fo-Hi, Lao-Tsé e Confúcio; no Tibet, a personalidade de Buda; no Pentateuco, Moisés; no Alcorão, Maomé, de modo que cada povo recebeu, em épocas diversas, os instrutores enviados pelo Mestre.  
A família romana, cujo esplendor conseguiu atravessar múltiplas eras, parecia atormentada pelos mais tenazes inimigos ocultos, que, aos poucos, minaram-lhe as bases mais sólidas, mergulhando-a na corrupção e no extermínio de si mesma. A vinda do Cristo estava próxima e Roma, sede do mundo, parecia não se dar conta disso. A aproximação e a presença consoladora do Divino Mestre no mundo era motivo suficiente para que todos os corações experimentassem uma vida nova, ainda que ignorassem a fonte divina daquelas vibrações confortadoras.
As entidades angélicas do sistema, nas proximidades da Terra, se movimentam e várias providências de vasta e generosa importância são adotadas. São escolhidos os instrutores, os precursores imediatos, os auxiliares divinos. Uma atividade única registra-se, então, nas esferas mais próximas do planeta e, quando reinava Augusto na sede do governo do mundo, viu-se uma noite cheia de luzes e de estrelas maravilhosas. Harmonias divinas cantavam um hino de sublimadas esperanças no coração dos homens e da natureza. Cumpriam-se ali as profecias: nascia Jesus e iniciava-se para o globo terrestre uma nova era, cujo advento é recordado pelos homens, todos os anos, por ocasião do Natal.



terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Um Natal branco como o açúcar fininho

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR
     
Se alguém perguntasse a Giovanni seu sonho a alcançar, de pronto responderia:
– Um bolo no formato redondo coberto com açúcar bem fininho.
Em meio às ruas estreitas e de pedras de um país da histórica Europa, o menino Giovanni se encontrava. Encaminhava-se a um lado, depois a outra extremidade da cidade. Engraxava perfeitamente os sapatos ofertados para o trabalho. E quando a oferta era pouca, ele, então, atentava-se aos sapatos dos transeuntes e conquistava seus donos para a atividade realizar. A família dependia de seu ganho.
O frio era castigante no dia 23 de dezembro em meados do século XX. Eram poucos os corajosos caminhantes desse momento. Alguns buscavam suas encomendas e outros ainda se aventuravam nas compras dos últimos presentes caros e desejados.
A neve não se intimidava e preenchia todos os espaços encontrados. As lojas, quantas luzes possuíam; as casas, a maioria delas com calefação, exibiam, pelos vidros das janelas, moradores felizes e satisfeitos com toda fartura permitida.
E com a caixa de seu trabalho nas costas, Giovanni também seguia para sua longínqua casa, no entanto, seu lar. Não media a caminhada, os seus passos eram largos e rápidos, sua mãe o esperava. Mas passou no Panificio Supremo, nome dado à padaria, e pediu dois pães para levar.
As moedinhas separadas foram exatamente o preço pago, o restante guardaria em sua latinha.
E novamente neve e frio. Os olhos do menino não se congelavam, na verdade, eram vivos e brilhosos, assim, como seu coração. No caminho, em vez de pensar em sua dificuldade, ele seguia conversando. Para quem o observava até podia pensar que ele falava sozinho; no entanto, dia desses ele respondeu a um senhor curioso que fizera a pergunta:
– Falando sozinho, Giovanni?
– Não, senhor Paolo, converso com Jesus. Arrivederci!
E seguia com seus passos. E era muito feliz.
Finalmente, chegou à rua onde morava. Sua casa era a segunda; pequena, simplesmente um local para resguardar, descansar e abraçar a mãe tão amada por seu coração. Ficava bem pouco tempo, pois o estudo era matutino e a tarde e o início da noite eram tomados pelo trabalho que exercia desde os seus nove anos, o que já somavam quatro anos de trabalho em sua vida.
O casebre era acinzentado, pois em tempo algum recebera uma mão de tinta. Giovanni agora alcançou a única porta, estava somente encostada, como se mantinha em sua ausência.
Devagarzinho abriu. A luz do lampião iluminava com precariedade, mas mesmo mais fraca, era luz.
– Mamãe, já cheguei! – ele se anunciou com voz suave.
Encostou a porta, pois o vento trincava a pele e congelava os ossos.
Descansou a caixa de engraxate em frente à porta, forçando-a ainda mais a permanecer fechada; apenas o trinco não era tão confiável. Colocou o pequeno pacote de pão sobre a mesa.
Lavou suas mãos escurecidas pela graxa preta e marrom de seu ofício. Foi engatinhando para perto da mãe.
– Mamãe, aqui estou! Que saudade! – abraçou o corpo materno tanto e tanto.
– Meu filho! Minha única alegria!
Os braços do filho enlaçavam-na com o amor puro. Era a fortuna mais vultosa desta alma.
Sem muita força para falar ou se movimentar, devido à morte repentina do marido e pai de Giovanni que a abalara de forma incalculável, a mulher se encontrava débil e impossibilitada de reaver a vida dinâmica que tinha tempos atrás.
O menino, todos os dias, pedia em prece, junto da mãe, não a sua cura como mágica instantânea, mas ele pedia que a mãe compreendesse a situação, aceitasse o andamento e fortalecesse a verdadeira fé, que de fato, move montanhas.
– Que dia é hoje, meu filho? – com voz fraca, a mulher perguntou.
– Hoje é dia 23 de dezembro. Amanhã é a véspera do Natal, mamãe – o menino respondeu radioso.
– Não há nada para celebrar – respondeu a mãe, com secura.
– Mamãe, há muito para celebrar. Estamos vivos, oportunidade para o progresso. Temos um ao outro. Temos também onde morar e o que comer. E quanto mais empenho para a vida, com mais alegria ela nos retribuirá. Vida é presente de Deus, mamãe – o filho se encantava com o sentimento embutido em seu coração.
A mãe é que, pelo menos naquele momento, se encantou com as palavras proferidas por uma voz tão jovem; entretanto, o olhar era antigo.
E aquelas palavras tocaram o âmago materno. As lágrimas foram a consequência.
– Meu filho, nem o bolo que você tanto gostaria de provar, não lhe posso presentear.
– Mamãe, antes de provar o bolo do qual tenho tanta vontade, gostaria mesmo de te encontrar com os olhos felizes e com a gratidão de viva estar. Quem sabe na noite de Natal... – o menino preferiu não completar.
Deu um beijinho na testa da mãe e foi arrumar o jantar, talvez prepararia um caldo ralo para comerem com pão. E assim aconteceu.
Mais uma noite passara e o novo amanhecer era presente.
Logo cedo, o menino partiu para o trabalho; por aqueles dias não haveria aula. Então aproveitou o tempo para ganhar um trocado a mais. E muitos foram os sapatos a mais engraxados. O coração natalino, certamente, suaviza os mais sofredores. A vibração de sentimentos mais amorosos gira de forma mais rápida e naturalmente se eleva. Como sempre deveria ocorrer.
E Giovanni sabia disso, pois preservava o sentimento completivo no bem e no amor.
O dia findava e como passara depressa!
As moedas duplicaram no bolso do menino e com mais as que havia economizado poderia comprar o bolo redondo coberto com açúcar fininho. Foi isso mesmo que ele fez. Entrou na padaria e com sorriso largo e os olhos com a luz brilhante pediu:
– Por favor, quero comprar este bolo – apontou com o dedo sujo da graxa de sapato. – Vou comer com minha mãe agora na noite de Natal – o menino falou com a riqueza do reconhecimento de aqui poder se encontrar.
O bolo estava embrulhado e pagou-o com muitas moedas economizadas no ano corrente.
Com quanta alegria aquele pequeno buscava o caminho de casa!
Chegou à rua onde morava, aproximou-se de sua casa. Abriu devagar a porta e logo se anunciou. A mãe não respondeu.
O lampião estava com a luz mais fraca do que de costume. Com o bolo nas mãos, procurou pela mãe na cama. O leito estava vazio.
Seus olhinhos, apreensivos, agora, começaram a se inundar com a lágrima da surpresa desencantadora.
Percebeu-se sozinho na casa simples, segurando o grande desejo nas mãos. Tantos pensamentos, simultaneamente, visitaram seu coração e sentiu-se...
– Meu filho, você já chegou? – a mãe entrou perguntando.
O filho viu a mãe e suspirou de alegria ao percebê-la em pé, chegando à porta.
Devagar colocou o bolo na mesa e observou dois pratos, talheres e dois copos também sobre ela. Mais adiante avistou algumas panelas no fogão.
A mãe, com um pouco de dificuldade por tanto tempo sem energia para viver, aproximou-se do filho e falou:
– Fui buscar um pouco de sal, para o tempero, na casa da vizinha, pois não havia suficiente para a nossa ceia, meu filho – a mãe, emocionada, falou.
O filho abraçou a mãe querida como se houvesse apenas aquele tempo para estarem juntos; intensamente amoroso.
– Giovanni, filho querido, há momentos em nossa vida em que enfraquecemos, sofremos e fazemos sofrer; porém, a luz de Jesus sempre brilha, como você fala. E há os anjos para nos lembrarem disso e esses anjos não possuem asas, eles estão bem pertinho e convivem conosco. Obrigada, meu anjo querido – a mãe o abraçou e o beijou incontáveis vezes.
Olhando para cima, o menino agradeceu profundamente a oportunidade, sem se recordar, de encaminhar o filho, enfraquecido na fé espiritual, confiado no passado e transformado na mãe do presente.
E os dois enxugaram as lágrimas e se sentaram à mesa para a primeira ceia de Natal revigorada na fé. Comeram juntos a comida simples e pouco diversificada, mas com o bálsamo dos bálsamos: o amor.
Após o jantar, o menino desembrulhou o seu presente, na verdade, para a mãe.
– Olhe só, mamãe. Um bolo inteirinho! É para você.
– Não, meu filho. É um desejo seu.
– Não, mamãe. Há muito tempo, papai me contou que quando você era criança tinha o grande desejo de poder comprar um bolo assim... inteirinho e até agora você não pôde. E hoje, nesta noite de Natal, quero lhe presentear com este bolo redondo coberto de açúcar fininho com que tanto sonhou. É para você, mamãe – o filho, amoroso, falou.
– Meu menino, meu anjo, minha felicidade e meu incentivo para viver. Quanta alegria você me traz! – a mãe beijou a cabeça do filho.
O menino cortou o primeiro pedaço e colocou-o no pratinho amassado de alumínio das refeições diárias e ofereceu à mãe amada.
– Feliz Natal, mamãe!
E lá fora, a neve caía trazendo a brancura da paz em conformidade com o amor no interior do lar.


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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

As mais lindas canções que ouvi (67)


Então é Natal!

Versão brasileira da canção Happy Xmas (War Is Over)
Composição de John Lennon e Yoko Ono


Então é Natal, e o que você fez?
O ano termina e nasce outra vez.
Então é Natal, a festa cristã
Do velho e do novo, do amor como um todo.
Então bom Natal e um ano novo também.
Que seja feliz quem souber o que é o bem.
Então é Natal, pro enfermo e pro são,
Pro rico e pro pobre, num só coração.
Então bom Natal, pro branco e pro negro,
Amarelo e vermelho, pra paz afinal.
Então bom Natal e um ano novo também.
Que seja feliz quem souber o que é o bem.
Então é Natal, o que a gente fez?
O ano termina, e começa outra vez.
E então é Natal, a festa cristã
Do velho e do novo, o amor como um todo.
Então bom Natal e um ano novo também.
Que seja feliz quem souber o que é o bem.
Harehama, há quem ama.
Harehama, há...
Então é Natal, e o que você fez?
O ano termina, e nasce outra vez.
Hiroshima, Nagasaki, Mururoa...
É Natal, é Natal, é Natal.


Você pode ouvir a canção acima, na interpretação da cantora Simone, clicando em https://www.youtube.com/watch?v=_Lq1-uxnuX4
Se quiser ouvir a gravação original na voz de John Lennon, acompanhado pelo Harlem Community Choir e por Yoko Ono, basta clicar em http://www.youtube.com/watch?v=yN4Uu0OlmTg



domingo, 22 de dezembro de 2013

Por que Jesus veio ao mundo?


A resposta à pergunta que dá título a este texto podemos encontrar em Isaías.
Segundo esse extraordinário profeta, Jesus viria ao mundo para fazer raiar a luz aos que se achavam na região da morte, dar crença aos que não a tinham, guiar os que se haviam perdido e se achavam desviados da estrada da vida e, finalmente, apresentar-se a todos como o modelo, o paradigma, o enviado de Deus, o único capacitado a legar a nós um ensino puro e perfeito. É daí que surgiria mais tarde a conhecida frase que o evangelista João lhe atribuiu: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vai ao Pai senão por mim” (João, 14:6).
Descendo de Esfera Superior, Jesus surgiu entre os terráqueos, não entre sedas, mas em uma singela e tosca estrebaria.
Apresentando-se como o Messias anunciado pelos profetas da Antiguidade, foi recebido com desconfiança, até mesmo por João Batista, o precursor, que certa vez enviou dois emissários para saberem se ele era, realmente, o esperado Filho de Deus.
Iniciando a pregação do Reino do Céu, não conseguiu o entendimento imediato nem ao menos de seus discípulos, e desse modo exerceria seu ministério, entre incompreensões e desprezo, amargura e solidão.
Ninguém desconhece a extrema simplicidade, a completa humildade, a pobreza e a singeleza com que Jesus marcou sua presença em nosso planeta. Sem ter sequer onde reclinar a cabeça e sem nada possuir em termos materiais, cercou-se de pessoas incultas e reuniu em torno de si amigos rudes e iletrados de uma das regiões mais pobres pertencentes ao Império Romano.
Peregrino paupérrimo, sem bolsa nem cajado, jamais ocupou qualquer cátedra e, sem nada haver escrito, dividiu as eras terrestres em antes e depois dele, como ninguém jamais o fez, permanecendo para sempre como a maior presença, o mais alto marco, a mais elevada e imorredoura expressão de toda a história humana, em todas as épocas do mundo.
Um fato, contudo, digno de nota é que, apesar da resistência dos israelitas em reconhecê-lo como o Messias predito nas Escrituras, o povo que o escutava admirava sua doutrina porque percebia que ele ensinava como quem tinha autoridade, uma qualidade que não se destacava nas explanações feitas pelos escribas (Mateus, 7:28-29).
Com efeito, os escribas e os rabinos do mosaísmo costumavam ser muito minudentes na explanação dos cerimoniais e das práticas exteriores do culto, mas nunca haviam exposto verdades tão profundas nem lhe sensibilizaram os corações com tão expressivos apelos à retidão do caráter, à brandura, à caridade, à misericórdia, ao perdão, à tolerância e ao desapego dos bens terrenos, como Jesus fez no sermão do monte e em inúmeras outras ocasiões.
Como sábio educador que sempre foi, o Mestre recorria com frequência às parábolas a fim de melhor interessar e impressionar seus ouvintes. Esse recurso fez com que seus ensinamentos atingissem diretamente as mentes e os corações dos homens e, além disso, se perpetuassem na memória dos povos ao longo dos séculos.
Verdades transcendentais e importantes nos foram trazidas por Jesus e, assim, registradas nos Evangelhos.
O Mestre revelou-nos a amorosa paternidade do Deus Eterno, conscientizou-nos de sua onipotente bondade, de sua misericórdia e infalível justiça, de sua presença onímoda e perene, ensinando-nos a elevar até Ele a força do nosso pensamento e a confiar com filial devoção em sua infatigável providência.
Ao proclamar esta síntese da justiça que não falha  – “A cada um será dado segundo suas obras” –, o Cristianismo fiel às suas origens firma-se como a doutrina da moralização dos costumes e da ética em seus aspectos mais excelentes.
Longe de se constituir em uma nova seita ou um novo partido, é, em verdade, um código de moral que abrange o direito de todos e estabelece, ao mesmo tempo, a responsabilidade de cada indivíduo segundo as condições em que se encontra e a influência que exerce no seio da coletividade.
Para ser cristão, no verdadeiro sentido da palavra, é preciso, pois, acima de tudo, manter fidelidade a Deus, não apenas nos momentos de tranquilidade, mas sobretudo nas horas tormentosas, em que tudo parece desabar e perecer.
O divino legado de Jesus, que a Humanidade ainda não conseguiu entender, é o de um mundo feliz, de paz e de amor, sem injustiças nem opróbrios, sem miséria nem orfandade, sem crimes nem ódios, sem fratricídios e sem guerras.
No exercício de sua missão de amor, Jesus operou fenômenos considerados milagrosos; no entanto, as curas e os prodígios por ele realizados pertencem em sua maioria à ordem dos fenômenos psíquicos, ou seja, fenômenos que têm como causa primária as faculdades e os atributos da alma, razão pela qual muitos deles foram repetidos ao longo da história por indivíduos diversos, confirmando esta conhecida assertiva do Messias: “O que eu faço vós podeis fazer também, e muito mais”.
Espírito perfeito e sábio, Jesus operava prodígios aos olhos dos terrícolas ainda ignorantes, sem derrogar nenhuma lei da natureza. Manipulava os fluidos como lúcido conhecedor de suas propriedades e qualidades e, por isso, não há por que falar em milagres nas curas que operou.
O verdadeiro milagre de sua passagem pela Terra foi outro, ou seja, ter conseguido em pouco mais de três anos, sem nada haver escrito e vivendo numa das regiões mais pobres de sua época, modificar a face espiritual do mundo em que vivemos, o qual, desde então, divide a sua história em “antes” e “depois” do Cristo.